Snow In The Dark

:: Capítulo Único: Forever Mine ::

Saltos. Suas belas sandálias de salto agulha produziam um som divino. Oh, sim, minha querida. Eu a observo. Hipnotizado, vi sua bela figura desaparecer ao virar a esquina de uma rua escura, apressada. Por que a pressa? Eu a amo. Mas não posso me aproximar. Oh, não, eu não posso.

Quando nos encontramos pela primeira vez, eu me apaixonei. Era um dia tão ruim, mas no parque, tudo se esclareceu. Certamente, quando algo de muito ruim acontece, algo de muito bom também acontecerá. Seu sorriso me cegou. Oh, eu estou cego de amor. Eu a amo. Mas você não pode me ver. Oh, não, você não pode.

Você foi aquela que me salvou, mas também, a que me destruiu. Por você, eu soube o que era a vida. Mas também descobri a morte. Sua doce voz foi a última coisa que eu ouvi. Seu rosto foi a última coisa que vi. E assim como eu a conheci, você desapareceu; tão doce, tão linda, tão mortal. Oh, minha amada! Eu a amo. Mas você não pode me ouvir. Oh, não, você não pode.

Você pôde ouvir o meu último suspiro? Pôde ver meu coração se partindo? Você pôde? De certo modo, eu a odeio. A odeio tanto quanto a amo. Por isso, junte-se a mim nesse último dia de inverno. Aqueça meu interior. Acalme meu coração que há muito não bate. Me ame. Porque eu a amo. Mas você não pode me notar. Oh, não, você não pode.

Eu a vejo caminhar em direção ao cemitério. Está de noite. É madrugada. Quem você visita? Suas mãos delicadas empurram o portão de ferro. Está frio. Você não está de luvas. Vai se machucar. O que pretende? Está me traindo? O portão se abre em um lamento. Quem você visita?

Lentamente você passa pelas lápides. Os mortos cobiçam a carne fresca à mostra; e imaginam o que há por trás dessas roupas soltas e de cores claras. Ah, eles não são os únicos. Sua saia se agita quando você se abaixa. Oh, não faça isso comigo, querida! Vou morrer do coração! Que ironia. Eu não posso morrer. Porque você já me matou. Mas eu a amo. Oh, sim, eu a amo. Mas você não pode me sentir. Oh, não, você não pode.

Seus dedos passeiam sobre a pedra cinza e fria. E caminham lentamente sobre o nome nela gravado. Oh, é o meu nome. Então, você veio me visitar? Oh, que gentileza! Mas agora, já é tarde demais!

– Porque eu a amo.

Vejo-a se sobressaltar. Assustou-se? Eu também. Mas não importa. Porque eu a amo. E logo, você se juntará a mim. Vejo o sangue descer por sua garganta espalhando-se sobre seu colo, manchando a blusa branca que você usa. Retiro o punhal de seu lindo pescoço. Seu sangue é uma delícia! Oh, como eu a amo!

Observo seu corpo chocar-se contra o solo com um baque surdo. Oh, minha querida, você está bem? Certamente que não. Seu sangue banha a grama verde, tornando-a vermelha. Oh, que delícia. Ouço você gemer. Não faça isso! Eu vou enlouquecer! Porque eu a amo.

Aproximo-me de seus lábios de forma torturante. Quero beijar-lhe. Porque eu a amo. Casar-se-ia comigo? Lentamente seus olhos perdem o brilho. Aonde você vai, minha querida? Não quer ficar comigo? A eternidade nos aguarda. As estrelas são nossas testemunhas. Fique ao meu lado nesta noite de inverno. Eu lhe peço. Não me deixe mais uma vez.

Ouço-a gemer meu nome. Oh, que delícia! Seus dedos manchados de vermelho tocam a lápide uma vez mais. Pintando-a com sua cor. Certamente, eu lhe amo. Agora você pode me ouvir? Pode me ver? Pode me notar? Você sente a minha presença?

– Eu o amo...

Meus lábios esticam-se em um sorriso. Oh, como isso é doce! Enfim, palavras de amor. Mas é tarde demais. Ergo minha mão ao céu. O metal brilha contra a luz da lua. Cravo-o em seu coração uma última vez. Ouço-o parar de bater. Sua mão morta agarra-me o tornozelo frouxamente, como se me prendesse a você. Oh, minha doce mulher. Agora você morreu. Junte-se a mim neste último dia de neve. Manchemos a eternidade com nossa presença. Pintemos a neve com a escuridão.

– Eu a odeio.