Louça quebrada, móveis caídos, porta-retratos espalhados pelo chão.

A cama desarrumada, os livros rasgados.

E o coração, então... destruído.

Os sorrisos que antes traziam alegria e felicidade agora circulavam como veneno por sua mente; as juras de amor eterno ressoavam em seus ouvidos como gritos de dor. As lágrimas que derramava não eram mais de felicidade.

Jogada no sofá e encarando o teto, a pequena garota dos cabelos loiros relembrava os momentos que tivera com seu amado. Tentava traçar uma linha entre os acontecimentos, uma razão para ter chegado onde estava.

"Os dois amantes encontravam-se no parque, sentados sobre uma toalha, comendo sanduíches e observando o movimento. As crianças brincando nos balanços e escorregadores, os pais sentados, apenas cuidando das crianças e jogando conversa fora, os idosos fazendo uma breve caminhada... Tudo trazia um ambiente de paz e tranquilidade.

– Eu gosto desse lugar. Se pudesse, passava todas as tardes de todos os dias aqui. – falou a loirinha, dirigindo seu olhar para o namorado.

– Eu também. Gosto da calmaria, nem parece que estamos em uma cidade grande.

– Podemos voltar aqui amanhã?

Olhos se encontraram e sorrisos foram trocados. Era um dia bom, pois Lucy estava com Gray."

Naquele dia, Lucy não era capaz de imaginar que havia uma bomba relógio prestes a explodir, nem que seus dias de felicidade estavam contados. Os preparativos para seu casamento estavam indo bem, seus pais estavam na cidade – assim como os pais de Gray – e todos seus amigos mais próximos e queridos apoiavam essa união.

Costumava pensar muito no futuro que traçariam juntos, no estilo de vida que teriam e se formariam uma família. Desperdiçar tardes apenas para devanear sobre o que estaria por vir era algo natural e confortável para o casal.

" – Lucy? – chamou o garoto, enquanto brincava com uma mecha de cabelo da noiva, capturando sua atenção. – Você quer ter filhos?

– Hmm... Acho que sim. O que você acha de um casal? Um menino e uma menina?

– Parece ótimo pra mim."

Sorria triste lembrando-se da sensação de ter seu coração batendo forte contra o peito. Agora, um momento especial tomou-lhe a mente. A sensação de felicidade infinita, as lágrimas quentes e alegres, os sorrisos contagiantes, aquele dia fora mágico.

Perguntava-se se um dia seria capaz de sentir tudo isso novamente.

"Ajoelhado em frente à garota que amava, Gray levantava uma pequena caixinha de veludo preto. Aberta, revelava seu interior vermelho, mas não somente isso.

– Lucy... quer casar comigo?"

Realmente, o destino não fora nem um pouco amigável com o casal de apaixonados. Apenas dois meses antes do casamento, o dia tão esperado por ambos, Gray sofrera um acidente no trânsito: um motorista, bêbado, ultrapassara o sinal vermelho, atingindo o novo carro do rapaz de cabelos azulados.

A notícia de que seu noivo, infelizmente, não conseguira sair com vida do acidente foi demais para Lucy suportar.

A tão falada depressão pareceu tomar todo seu corpo, não sentia mais vontade de viver. Que motivo teria para isto, afinal?

Gray não voltaria para casa.