Era mais um dia em Twinleaf Town, um grupo de três crianças brincavam alegremente entre as casas, eram dois garotos e uma garota, dois nativos dali, outro era cidade vizinha, de Sandgem Town, aqueles três eram os melhores amigos, não havia muitas crianças da sua idade nos arredores (muito menos em Twinleaf) então não tinham mais ninguém para brincar que eles os três.

— Ok, eu conto, vocês escondem, pode ser? – A garota de cabelo azul sugeriu.

— Ok! – Os dois garotos aceitaram em coro.

Esta garota era Platinum, nativa de Twinleaf Town, os seus cabelos eram azulados e usava um vestido até aos joelhos, era preto na parte de cima que terminava em pequenos triângulos, dando início a uma parte rosa para finalizar o vestido, possuía também uma echarpe vermelha bastante comprida e, como o clima era inconstante naquelas rotas, umas galochas rosa, Sinnoh era uma região muito fria.

— Prontos ou não, aqui vou eu! – Platinum mencionou dirigindo os seus olhos cor de platina para todos os lados.

Enquanto isso, os dois garotos se escondiam.

— Eh! Ela nunca me irá encontrar aqui! Ela é muito lenta para chegar onde eu estou! – Um dos garotos mencionou.

Este outro rapaz era o Pearl, ele tinha o cabelo loiro e as suas orbes eram cor de perola, um pouco alaranjadas, vestia um casaco às riscas alternadas entre laranjas e brancas, umas calças azuis e ao seu pescoço estava uma echarpe verde. Ele era vizinho de Platinum, vivia na casa mesmo ao lado, na mesma cidade de Twinleaf Town.

— Acho que este é um bom lugar! – O outro rapaz disse ao se colocar por trás de uma rocha.

Este último era o Diamond, um rapaz bastante ajuizado e simples, usava uma boina vermelha com uma Pokébola azul, um casaco preto e umas simples calças de ganga, a sua echarpe era vermelho, parecia ser um hábito daqueles três usar aquilo ao pescoço, o garoto também tinha cabelos azulados, um pouco escuros, e os seus olhos eram cor de Diamante.

— Onde vocês estão? Se podem esconder, mas não podem fugir! – Platinum disse divertida começando a procurar entusiasmada, mas isso não durou muito tempo.

— Menina Platinum, está na hora de vir para casa. – Um homem alto de cabelo azul-escuro, um chapéu da mesma cor mas mais claro do mesmo tom das suas vestes e com um ar misterioso chamou.

— Oh, Riley, mas ainda é sedo… - A azulada reclamava.

— Sua mãe está chamando faz tempo, já é hora de vir. – O senhor mantinha um tom de voz doce e amigável.

— Oh… Está bom… Pessoal! Eu tenho de ir! – Platinum exclamou para os outros um pouco desanimada.

Logo os dois garotos saíram de seus esconderijos e foram ter com a amiga e o maior recém-chegado.

— Oh, já vai ter de ir embora? – Pearl mostrou-se desanimado, tal e qual Diamond.

— Tem de ser, pequenos, já está ficando tarde. Vocês também têm de ir para casa. Você não mora na cidade vizinha, Diamond? Não era muito bom chegar só ao amanhecer, né? – Riley continuou com o seu tom doce e amigável.

— É, tem razão… - Diamond disse se pondo a caminho – Xau então, pessoal!

— Xau, Diamond! – Platinum e Pearl responderam em coro acenando de volta para o amigo.

Então, aos poucos, Diamond ia desaparecendo no horizonte.

— Então, menino Pearl, quer que eu o leve a casa? É bem ali, não é? – Riley perguntou simpático.

— Não é necessário, Riley, mas obrigado na mesma. – Pearl disse sorrindo e se dirigindo para sua casa que não ficava muito longe dali.

Então Pearl também se retirou, ficando apenas Riley e Platinum no local. Platinum olhava o chão e o outro olhava atentamente a pequena. Riley era encarregue de educar Platinum, sua mãe confiava nele plenamente para que a sua filha ficasse bem e que tivesse um futuro promissor. O senhor gostava do seu trabalho, poder estar sempre com a menina Platinum… Era um sonho… Ele adorava ajudar a menina a vestir-se, a pentear-se, a estudar… Só não gostava de uma coisa… Ele tinha de ajudar Platinum a escolher um bom noivo… Ele não gostava disso por vários motivos, mas o principal, era que ele se tinha apaixonado por ela… Ele sabia que era errado, pois a menina tinha apenas dez anos, enquanto ele próprio, já tinha quase vinte, não era correto ele gostar assim de uma menina tão pequena… Mas ele gostava, a amava imenso e fazia de tudo para ela ser feliz! Então, nunca forçou a garota a arranjar um noivo, ele apenas a deixou escolher…

……

— Platinum! Venha aqui, por favor! – A mãe da pequena a chamava do andar de baixo.

Platinum desceu as escadas, agora não era mais criança, tinha dezassete anos, era uma garota, herdeira de uma grande família, com dezassete anos… Para seus pais, estava na altura de arranjar um noivo… Isso doía para Riley, mas ele não ousava falar…

— Que foi, mãe? – A menina perguntou chegando na cozinha com seu celular na mão.

Na mesma sala estava Riley, ele sempre ajudava a senhora nas trefas domésticas, com a ausência de marido em casa, toda a ajuda era preciosa, tanto para educar a única filha como para cuidar da casa. Ele olhava Platinum com um ar de nostalgia, tinha saudades de quando ela era uma criança e corria pelas ruas de Twinleaf com os seu amigos Pearl e Diamond… E, no fim do dia, ela sempre corria para ele e o abraçava… Riley gostava desse tempo, parecia que podia estar bem próximo de Platinum, não tão próximo como ele queria, mas como deveria… Agora, como ela se tornara numa adolescente, pouco ou nada ligava para o homem mais velho amigo da sua mãe…

— Oi, Platinum. – Riley sorriu para ela com um sorriso simpático.

— Hum? Oh, oi, Riley. – Platinum disse desviando um pouco a atenção do seu celular para ele e logo voltando ao ecrã que observava.

Riley respirou fundo, ela tinha crescido depressa… E nunca havia ligado para ele…

— Platinum, amanhã é seu décimo oitavo aniversário. – A senhora que fazia o jantar lembrou.

— Eu sei mamãe. – Platinum não usava muitas palavras.

— Sabe, Riley contou para mim que você já tinha um namoradinho… - A senhora foi metida.

— Riley! Eu disse para você não contar! – Ela ficou meio brava meio com vergonha, gritando para o azulado.

— Desculpe, mas sua mãe disse que queria saber quem deveria ser seu noivo. – Riley sorriu um pouco com vontade pela reação da menor.

Riley não queria contar à senhora que a filha estava namorando um dos seus amigos de infância, mas era uma das missões dele de educar Platinum… Ele tinha de lhe arranjar um noivo não é verdade?

— Vamos, fofinha, me diga, é Diamond ou Pearl? – A senhora sorriu curiosa para a filha.

Platinum hesitou em dizer, ela olhava o chão, um pouco envergonhada e desconfortável. Riley observava tudo, um pouco triste, mas ele tinha de o fazer… Nesse momento, tinha-lhe vindo na memória o que se tinha passado na noite anterior:

Riley estava farto de ter de oprimir seus sentimentos, ficando decidido a se declarar quando entrasse naquele quarto… Ele realmente não sabia como Platinum podia reagir, ele era um homem feito, ela era apenas uma adolescente… Ela provavelmente iria achar que ele era um tarado… O seu bom censo dizia que o melhor para a menina era ele manter a boca calada, mas o seu amor falava mais alto, tão alto que gritava, querendo se livrar do peso que antinha há anos!

— É hoje. – Riley disse depois de abrir a porta.

Ele empurrou ligeiramente a porta, espreitando lá para dentro, quando viu algo que nunca sonharia ver! Do outro lado da porta, estava a sua preciosa Platinum… Mas não só! Estava também um rapaz que não via há muito tempo… Estava Pearl! E pior que, o garoto estava sem t-shirt! Eles estavam os dois sentados na cama, a t-shirt do rapaz estava jogada no chão, o que assustou o maior. Riley começou a soar frio, Pearl não tinha tocado na porta, como ele entrara!?

— Pearl… Eu amo tanto você… - Platinum disse abraçando forte o corpo do outro rapaz.

Riley sentiu um choque pelo seu corpo, ele tinha plena noção de que a garota não gostava dele, mas… Vê la assim no seu quarto com Pearl… E se declarando para ele… Uma lágrima escorreu pela sua face.

— Eu também a amo muito, Platinum. – O outro também respondeu, fazendo mais o coração de Riley saltar.

— Pearl… Me beija… - Platinum pediu.

Riley voltou a soar frio, como assim?! Platinum… Pearl… Era demasiada informação para o mais velho! Ele se sentia triste, desesperado… Sentiu várias facas traspassarem o seu coração… Mas quem era ele para sentir isso? Ele era só o tutor de Platinum, ele não tinha o direito de a amar… Mas se ele era tutor de Platinum, ele tinha a obrigação de a penalizar por aquilo!

— Que é isto, menina Platinum!? – Riley disse irritado abrindo a porta daquele quarto à força.

Pearl e Platinum olharam para o ser, ambos gelaram, era suposto ninguém os notar ali…

— R-Riley! – Platinum se separou do loiro, assustada e envergonhada, ambos baixaram a cabeça envergonhados.

— Algum de vocês me pode explicar o que se passa aqui?! – Riley insinuou com raiva.

Nenhum ousou dizer fosse o que fosse.

— Como Pearl entrou?! – Riley olhou bravo para Platinum.

Platinum estava quase a chorar, parecia embaraçada e se sentia julgada.

— Eu entrei pela janela, senhor. – Pearl disse.

— Pearl, eu sempre o achei um rapaz às direitas! – O azulado se virou para ele, também como quem julga.

— E eu sou, Riley! Você me conhece desde que eu era uma criancinha! – Pearl tentou se defender.

— Então o que faz aqui com Platinum?! O que você está fazendo no quarto de Platinum? E porque está sem t-shirt? E porque não usou a porta?! – O azulado estava irritado, mas usava a façanha de “tutor” como desculpa, na verdade… Ele apenas se sentia atraiçoado…

— Eu estou aqui porque eu a amo! Sim, senhor Riley, eu amo esta garota, mais do que você pensa! Ela é linda… Eu apenas queria mostrar meu amor por ela. – Pearl parecia muito consciente das palavras que dizia, chocando Riley.

Riley pareceu ter perdido a fala, Pearl estava… Isso fez Riley cair em si. Ele não estava reagindo assim por ser o tutor de Platinum, mas sim porque ele estava com ciúmes… Era altura de erguer a bandeira branca, ele tinha perdido contra Pearl…

— Por favor, se vista. A mãe de Platinum não está cá hoje, pode usar a porta para sair. – Riley apontou a porta do quarto.

— Com licença. – Pearl olhou Platinum e se dirigiu na porta do quarto.

Parou para vestir a t-shirt.

— Mas senhor, não culpe Platinum, a culpa é totalmente minha. – O rapaz anteviu antes de sair.

— Tudo bem… - Riley mencionou com algum desprezo, mas não estava chateado, apenas triste…

Então Pearl saiu, deixando os dois no quarto. Ambos ficaram olhando o chão por momentos, até Riley falar.

— Platinum… Porque você não me contou que estava namorando Pearl? – Riley falou depois de respirar bem fundo.

— Riley… Eu não contei porque… Porque… Riley, eu sei que você gosta de mim. – Platinum disse soltando uma lágrima pelo olho.

Riley recebeu outro choque, como ela sabia?!

— Eu… Eu ouvi você chorando uma noite… Eu ia no seu quarto contar para você, mas… Quando percebi que você estava chorando porque eu não gostava de você… Eu perdi a coragem e vim embora… - Platinum explicou.

Riley não sabia o que dizer, apenas ficou olhando a garota… Ele estava sendo egoísta com a menina… Ele não o julgara por gostar dela e ainda se preocupou em não dizer nada para não o magoar… E ele ali com ciúmes do Pearl… Pearl era um garoto sensato, Platinum brincava muito com ele enquanto criança e… Eles tinham a mesma idade… Era mais correto eles estarem juntos do que Riley gostar dela…

— Desculpe, Platinum… Só não… Só não se chateia comigo… - O mais velho pediu para a garota.

— Não conte para a mamãe então… Se ela souber me vai querer noivar com ele… - Platinum pediu.

— Eu… Vou pensar nisso. – Riley disse se dirigindo na porta e pensando no que poderia acontecer se ele tivesse chegado um pouco depois.

— Riley, - Platinum chamou, o outro se virou para a ouvir – eu… Posso não amar você do mesmo jeito, mas… Eu confio muito em você, sabia?

Riley não conseguiu prender mais o choro, ele correu para a menor a abraçou.

— Certifique-se que Pearl a vai fazer feliz, ok? – Ele pediu.

— Não se preocupe, Riley… Eu vou ficar bem… - Platinum consolou abraçando o outro de volta.

……

E lá estava então na cozinha, olhando Platinum prestes a confessar tudo para sua mãe, ele estava triste sim, mas já tinha erguido a bandeira branca… Ele era muito velho para a garota, não podia competir com Pearl. O importante, era que Platinum estava feliz.

— É… É o Pearl, mamãe… - Ela respondeu, fazendo Riley sorrir para não chorar.

Uns cinco segundos de silêncio e reflexão até a senhora explodir.

— Oh! O menino Pearl! Sabe, eu sempre gostei dele! Vamos, vamos! Seu pai iria adorar ver esse noivado oficializado! Vamos na casa dele preparar as coisas! – A senhora puxou Platinum pelo braço para fora de casa.

Riley ficou ali vendo Platinum ir de encontro ao seu noivado, era triste sim, mas… Era triste apenas para ele, menina Platinum, menino Pearl e a mãe dela estavam felizes… Isso era bom, para além disso, a sua missão como tutor estava cumprida. Ele não precisava fazer mais nada por Platinum… Ele se sentia feliz por isso. Se levantou de sua cadeira e saiu pela porta também, olhou para a casa ao lado, Platinum e Pearl se olhavam um pouco constrangidos enquanto as duas senhoras falavam animadas sem parar.

— A minha missão está cumprida… Cumpra agora a sua, Platinum. – Riley disse antes de se colocar a andar na direção da rota mais próxima.

Depois disso, Riley nunca mais voltou, ninguém sabe o que é feito dele ou o que lhe aconteceu, ele apenas desapareceu, talvez procurando uma nova missão, quem sabe… Mas de uma coisa ele estava certo, nunca iria esquecer os anos que passou com a menina Platinum e o amor que sentia por ela.

“Muitas vezes o modo como mostramos o nosso amor pode não ser amando a pessoa de perto, mas sim, amando a pessoa a protegendo.”