London Bridge is falling down escrita por Aislyn


Capítulo 1
Um país que deseja conhecer...




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Chuva e frio. Dois climas que Mikaru não gostava muito e assim que desceu do avião, notou que precisaria enfrentá-los de uma vez. Quando saiu do Japão, praticamente sendo obrigado a pegar aquele vôo, o clima não estava tão ruim, mas agora estava em Londres e sabia que as coisas não seriam as mesmas a partir daquele instante.

Suspirou fundo, puxando o cachecol para cobrir melhor o rosto, pegando a mala e arrastando-a consigo para fora do aeroporto. Devia esperar na entrada, pois foi informado que alguém iria buscá-lo.

Odiava esperar. E odiava mais ainda mudanças bruscas. Seguido do ódio de estar com os tênis, os pés e as meias, todos molhados.

Olhou-se no vidro das portas de entrada, notando então sua aparência deprimente. Os cabelos curtos e castanhos-claro, quase pendendo para o loiro-escuro, estavam murchos e sem vida, devido ao estresse e pressão que sofria em casa. As roupas também não lhe caíam bem, perdera peso demais e não tinha cabeça para se preocupar com isso, então apenas se deixou levar.

Após o término do namoro quando estava no colegial, o pai começou a vigiá-lo atentamente, vinte e quatro horas por dias. Ele não saía sozinho, não podia dormir fora, tinha hora para chegar em casa, não podia levar ninguém para lá, nem mesmo para fazer um trabalho escolar e não podia sair nem aos finais de semana. Se tivesse como colocá-lo em uma bolha ou impedi-lo de sair de casa pelo resto de sua adolescência, os pais teriam feito, mas como ainda não era possível, tratavam de acompanhar todos os seus passos.

Terminou o colegial pensando que a partir dali sua rotina seria mais fácil, poderia escolher sua faculdade bem longe e quem sabe continuar a vida de onde havia parado, porque aquilo que passava todos os dias estava longe de ser considerado uma vida, mas novamente seus planos foram frustrados.

Durante um jantar, comentou com os pais que havia se inscrito para tentar uma faculdade de arquitetura em Tóquio, mas o pai foi totalmente contra. Ele devia cursar administração, para que quando chegasse a hora, Mikaru estivesse preparado para assumir a empresa do pai. A briga daquela noite com certeza foi ouvida por toda a vizinhança. O rapaz se negava a fazer qualquer outro curso e o pai se negava a pagar a faculdade que ele queria. Mikaru não podia arcar com seus estudos sozinho, mas o pai não iria pagar se o garoto não iria estudar. O clima na casa ficou pesado por várias semanas, até que a inscrição chegou ao prazo final. Numa forma de amenizar a situação e favorecer ambos os lados, a mãe sugeriu que o filho fizesse os dois cursos, assim estaria se satisfazendo e também orgulhando o pai.

E era por isso que Mikaru estava ali, enfrentando aquele clima horroroso. Era outra das condições do pai: ele deveria sair do país. A desculpa de que a faculdade era a melhor do mundo não colou. Ele sabia que o pai queria afastá-lo do amigo e ex-namorado. Sabia que ele ainda alimentava aqueles sentimentos.

Mas precisava mandá-lo para um lugar tão distante, onde se falava uma língua que ele conhecia muito mal e onde tudo era tão cinzento? Teria um tutor para ajudá-lo, mas não parecia grande coisa. Nem queria imaginar a culinária. Diziam que a comida inglesa era péssima, fraca e sem tempero.

Os primeiros meses foram os piores. A cada dia ele retornava pra casa mais e mais perturbado. Tanta coisa para estudar, tanto para aprender e tão pouco tempo. Se afundava de cara nos livros, decidido a provar para os pais que ele conseguiria levar os dois cursos adiante. Sabia que a mãe interviu a seu favor apenas por acreditar que ele desistiria em breve, e caso isso acontecesse, teria que seguir com as ordens do pai e terminar o curso que ele escolhera. Não daria esse gostinho ao casal.

Para conseguir lidar com tudo, teve que sacrificar seu sono, contando com a ajuda de qualquer coisa que contivesse cafeína para mantê-lo desperto. Os cigarros, que eram apenas um sinal de rebeldia dos tempos de escola, agora faziam parte importante do seu dia-a-dia, como uma forma de se acalmar, os pesadelos antes atribuídos à imaginação das crianças, se tornou uma constante em suas poucas horas de descanso, fazendo-o temer o anoitecer, mesmo que no dia seguinte não soubesse dizer o que tanto o atormentava quando cerrava os olhos.

E assim se foram longos quatro anos, enfrentando o tempo úmido da cidade londrina, o calor ameno e o frio que tanto detestava, aproveitando os poucos momentos de paz para visitar museus e livrarias, sempre torcendo o nariz para a culinária, mas aprendendo a apreciar o chá da tarde.

Só conseguiu respirar aliviado quando desceu novamente do avião, encontrando enfim as belas sakuras de que tanto sentiu falta.


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