(A única certeza da vida é que ela é imprevisível)

6 anos depois

— Chegou cedo, Rafa. – Isabella abraçou e beijou o marido que entrava em casa com uma mochila nas costas e um rosto cansado.

— Eu tava cansado demais pra ficar até o fim da aula.

— Quem mandou fazer exatas? Agora você vive à base de café e números. Chega uma hora que cansa mesmo.

— Culpado. – Rafael levantou as mãos em sinal de rendição, sorrindo, e depois se ajoelhou na frente de Isabella e beijou sua barriga que já estava grande com o avanço da gravidez. – Como está nossa princesa?

— Está deixando a mãe dela com dor nas costas e com muita fome.

— Então está tudo bem. – Constatou Rafael, rindo.

— Você ri porque não é você que vai precisar se matar na academia depois de uma gravidez pra se manter bonita.

— Você não precisa disso, amor. – Rafael a abraçou mais uma vez e a beijou. – Eu amo você de qualquer jeito.

— Bobo. – Isabella sorriu. – Espera pra dizer isso daqui três meses.

— Mudando de assunto, o Lipe deu notícias? – Rafael se levantou e caminhou até o sofá onde se jogou deixando a mochila de lado no chão.

— Ainda não. – Isabella sentou ao lado de Rafael, que a abraçou. – Mas você sabe como ele é. Ele some pra investigar alguma coisa e só dá notícias depois que já estamos nos descabelando de preocupação.

— Eu sei. Mas dessa vez eu tô preocupado com a Kali. Eu ainda não me conformo de ela ter decidido se tornar detetive. Isso é tudo influência do seu irmão. Onde eu tava com a cabeça quando deixei que eles se casassem, hein?

— Eu sei, amor. Mas mesmo que você não deixasse eles se casariam. A Kali já era maior de idade e podia decidir o que queria da vida.

— Meu medo é que no meio de um desses trabalhos ela volte a ter outra crise de pânico.

— Já faz mais de dois anos que ela não tem nenhuma crise. E a médica já liberou ela. Ela tá bem, amor. Você não precisa se preocupar tanto. E o Lipe não vai deixar nada acontecer com ela.

— Ainda não confio tanto assim nele.

— Isso se chama ciúme. – Isabella riu. – Mas vamos parar de conversa fiada e vai tomar um banho pra você descansar.

— Tá, eu vou. Mas antes me dá mais um beijo?

Rafael a apertou mais em seus braços, fazendo-a rir e beijá-lo.

***

— É impressão minha ou a campainha tocou enquanto eu tomava banho? – Rafael perguntou, aparecendo na sala com os cabelos molhados vestindo apenas uma bermuda por causa do calor de fevereiro.

— Chegou um pacote pra você.

— Mas eu não tava esperando nada. – Rafael pegou o pacote marrom, analisando-o. – É da Kali! – Ele se alegrou, logo procurando uma tesoura para abrir o pacote.

— O que tem aí? – Isabella aproximou-se.

— Tem uma carta e um embrulho. – Rafael deixou a carta sobre a mesa de centro da sala e sentou-se no sofá, começando a abrir o embrulho de papel de presente colorido que tinha um formato retangular. – É um porta-retratos de vidro. Tem uma foto nossa aqui.

— Tiramos essa foto no dia do nosso noivado. – Isabella analisou. - Procurei tanto essa foto! Estava com a Kali então.

Na foto estavam Felipe, Kali, Rafael e Isabella, vestidos socialmente e abraçados. Sorriam felizes com o noivado de Rafael e Isabella.

— Já faz 4 anos, acredita? – Isabella disse, nostálgica. 

— Passou muito rápido o tempo.

— Abre a carta.

— É da Kali.

"Querido Rafa,

É assim que se começa uma carta, certo? Eu estou em um lugar tão isolado que as pessoas nunca ouviram falar de internet. Aqui ainda tem aqueles orelhões de fichas nas ruas, acredita? Nem sei usar esse troço. O fato é que esse parece um lugar que parou no tempo. A única forma de falar com você é por carta. E eu nem posso te falar onde estou, então você não vai conseguir responder. Mas fique tranquilo que eu estou bem e logo, logo eu e o Lipe voltaremos para casa. No máximo em dois meses estaremos de volta. Não podemos ficar mais do que isso por aqui. Vamos chegar antes da sua bebê nascer. Falando nela, está tudo bem com a Isa? Espero que sim. Ela deve estar linda grávida e você deve estar mais apaixonado. Sei que está porque te conheço mais do que a mim mesma.

Eu comecei a escrever esta carta porque a calmaria desta cidade me fez pensar na vida e em tudo o que nós vivemos. Às vezes parece que foi ontem e às vezes sinto que se passou tanto tempo...

O tempo é muito relativo. A única coisa certa é que o tempo não volta. E isso é bom, mas às vezes eu queria poder voltar no tempo. Se eu pudesse voltar àquele dia do acidente dos meus pais, será que eu conseguiria salvá-los ou apenas os veria morrer de novo? Mexer no passado mudaria o que no futuro? Se meus pais seriam assassinados, evitar aquele acidente talvez não mudasse nada, só adiasse as coisas e, talvez, nesse caso, eu estivesse morta. Tem hora que eu penso que vou enlouquecer pensando nisso.

Mas, lembrando do passado, eu vejo que tudo o que aconteceu nos tornou quem somos hoje. E eu gosto de quem eu sou hoje. Claro que teria sido mais fácil se nossa vida tivesse sido diferente. Mas o que seríamos hoje se assim fosse? Não consigo me imaginar de outra forma ou em outro lugar, com outra pessoa. Você me entende? Acredito que sim.

Mas, pensando no passado, eu vejo como a vida é difícil, porém, de vez em quando é bom viver. Porque a vida é imprevisível e se choramos hoje, amanhã poderemos sorrir. O mundo gira e tudo muda, sempre muda. E às vezes é tão bom mudar...

Já filosofei demais nesta carta, não é? Quem sabe um dia publico um livro? (Risos).

Até breve, meu irmão.

Te amo.

Ps.1: O Lipe mandou um beijo para vocês três.

Ps.2: Espero que você esteja preparado para ser titio!

(Fim)