Nico andava de um lado para o outro perto da Casa Grande, o garoto fitava seus pés no gramado virente. Uma hora, ou outra, chutava uma pequena pedra. Ele podia ver meninos fortes lutando mais longe, Hazel e Piper conversando perto do lago e o pessoal de Hermes pregando peças nas filhas de Afrodite. Chovia fracamente, ele tinha certeza que fora da barreira do Acampamento Meio-Sangue devia estar caindo o mundo por conta de raios e tempestade, mas lá dentro, no clima mágico do mundo olimpiano, quase não dava para notar, e Nico estava curtindo o clima, não queria saber de voltar para seu chalé. Saberia que se voltasse, iria chorar. Chorar. Essa palavra incomodava Nico de tal maneira. Ele nunca chorava, já havia se acostumado com a sua suposta má sorte. Lembrou de Annabeth na época que Percy sumiu, ele visitava o Acampamento só de vez em quando, mas sempre via Annabeth chorando por toda parte ou no seu chalé, quieta e imóvel lendo um livro qualquer, embora os olhos entregassem que sua mente estivesse em outro mundo. Ele não se conformava, como diabos, a arrogante e cheia de si, Annabeth Chase, deixava os outros verem a sua dor. Ele sabia que só o amor deixava alguém assim. Nico não acreditava muito em amor, não depois da morte de Bianca. Por outro lado, sabia que se o amor existisse em algum lugar, ele seria capaz de conquistar tudo. Inclusive a arrogância e o orgulho. Nico não queria chorar, não pelos motivos que ele julgava como tristes, ele preferia andar por aí e aproveitar o céu ensolarado com gotículas de água caindo.
- Ei, oi. - Alguém o cutucou por trás. Nico reconheceu a voz e no mesmo instante uma sensação gélida percorreu por todo o seu corpo. - Você não vai mais na enfermaria me visitar. Eu disse, me visitar são ordens médicas, garoto!
Era Will Solace, o filho de Apolo. Will ria, balançando os cabelos loiros. Nico ficou embevecido quando notou o brilho em que os olhos azuis do garoto se encontravam.
- Ah, oi. - Nico acenou timidamente e logo recolheu sua mão para perto de seu corpo.
- Agora quero saber, por que não deu uma passada na enfermaria? - Will cruzou os braços.
- Não sei. - Nico suspirou. - Aposto que Tyler foi lá, então não tem problema.
Tyler Johnson era um filho de Hipnos. Não é de se estranhar, já que para Nico, era o seu pior pesadelo. Ele era consideravelmente bonito. Alto, musculoso, pele bronzeada e olhos cor de âmbar espetaculares. Competir com o italiano magrelo e nanico? Era piada. Will saia com ele às vezes, os dois passavam por Nico dando risos e falando coisas aleatórias. Di Angelo ficava morrendo de raiva. Will era seu único amigo. É, bem, amigo! Do mesmo jeito, Will parecia sair com Tyler só para irritá-lo.
- Tyler? Oh, sim. - Will sorriu. - Mas, enfim, vê se aparece lá. Precisamos treinar um pouquinho de luta juntos, não?
- Tudo bem, aliás, obrigado por aquele dia que você me ensinou um golpes novos. Foi um prazer passar o dia com você. - Nico disse, enrubescendo. - Digo, mesmo que só para questões das aulas do Acampamento.
Will assumiu um sorriso presunçoso nos lábios. Balançou a cabeça e trocou o peso de um pé para o outro, esperando Nico falar mais.
- É, valeu mesmo. - Nico completou.
Os dois estavam se entreolhando. Nico ficava cada vez mais ruborizado, enquanto Will alternava o sorriso confiante com a expressão nula.
- Está tudo okay com você, Nico? - Will perguntou.
- Eu te amo. - Nico simplesmente soltou. Ele levou a mão na boca, que por sua vez, estava aberta, se arrependendo da frase dita. - Di immortales! Me desculpe!
Will apenas encarou Nico.
- Eu te amo. - Nico riu, surpreendido com a falta de noção de si mesmo. - Ops, fiz de novo! Eu te amo, Will. Caramba! Caramba!
Nico abaixou a cabeça e murmurou para si mesmo algo como "Droga, Di Angelo, cale essa boca".
- Eu não consigo me controlar. Desculpa! - Nico riu novamente, nervoso. - Eu te amo, cara! Eu só consigo dizer isso! Eu não durmo bem quando você sai de noite com Tyler, eu não consigo comer te olhando do outro lado do refeitório sabendo que você não pertence a mim. Eu só.. Eu te amo!
Will permaneceu calado. Ele havia congelado no lugar onde estava. Nico ainda não acreditava no que tinha falado. Ele ia ser atormentado o resto da vida pelas próprias palavras.
- Sei que talvez você vai usar Percy como algo para me atingir. Todo mundo já sabe o que eu disse sobre ele. Mas passou, eu estava cego, ele era como um modelo de herói para mim. Ele tem Annabeth, os dois vão para a faculdade juntos na Califórnia e eu acho ótimo. Eu estou bem, ele.. ele não foi feito para mim. Prometi esquecer ele e fiz isso, realmente. Não foi difícil, porque apesar de ser um grande cara, eu não o amava. Aí, então, você apareceu e.. eu estou apaixonado por você. Eu não ia contar para ninguém, ia guardar para mim e esquecer, como fiz com Percy. Mas não dá. Você não é Percy. Você é.. simplesmente você. Eu penso em você vinte quatro horas por dia, eu só consigo ver seu rosto. Eu.. Will, de todo meu coração, eu te amo.
Will ainda sim não disse nada. Ele desviou os olhos para outro lugar. Nico se amaldiçoou em grego antigo.
- Já que é você é uma espécie de médico, por favor, me cure. - Nico quase gritou. - Me cure dessa doença chamada paixão incondicional por Will Solace.
Will se voltou para Nico, agora. Ele deu um riso nasal, como se já esperasse tudo aquilo vir à tona algum dia. Ele segurou a mão do Nico, que imediatamente formigou.
- Di Angelo, Di Angelo. - Sorriu com o rosto travesso. - Essa doença infelizmente não tem cura. Mas tem tratamento.
Nico estava queimando por dentro. Will se inclinou para perto dele, fazendo-o esquentar mais.
- O tratamento consiste em - Will o beijou, e o mundo pareceu girar apenas para os dois. Nico estava torcendo para não fazer nada errado, até que, rapidamente, acabou. Os dois se separaram e Will retomou o fôlego. - muitos beijos.
Will olhou para o rio, onde agora estava Calipso gritando brava e desesperada por Leo ter se escondido enquanto apresentava o Acampamento para ela. Não demorou nem um instante para ele se aproximar de Nico de novo e desta vez, o abraçar. Nico teve certeza que aquele era o abraço que ele ia querer de manhã, dali em diante, como se fosse um bom dia personalizado.
- Muitos abraços. - Will se separou de Nico. - E por fim, visitas exageradas e constantes na enfermaria.
Nico não acreditava no que estava acontecendo. Tudo que ele achava ruim sobre contato físico havia desaparecido, era como uma vaga lembrança, ele só queria grudar os lábios em Will e abraçá-lo como se sua vida tivesse a dependência daquilo. Todos os conceitos errôneos sobre o amor também tinha se limitado a volatilizar. Ele finalmente entendeu os choros escandalosos de Annabeth pelo desaparecimento de Percy, o ciúme de Piper por Jason conversar com Drew de vez em quando e a possessão exorbitante de Calipso por Leo. Ele estava amando. Era isso! E por mais doloroso que fosse acreditar nisso, ele estava gostando. Se sentiu uma pessoa melhor apenas por querer o bem eterno de Solace.
- A propósito, eu também amo você, garoto do submundo. - Will deu uma risada calorosa e alastrante.