–Olha desculpa pela grosseria ao caminho daqui, é que eu detesto vir pra cá. –explicou.

–Com uma irmã igual a sua, eu entendo perfeitamente. –sorriu de modo amigável.

–Katherine Jones, você chega e nem cumprimenta o velho do seu pai. – o homem falou do outro lado da sala e ela riu para seu pai enquanto ele caminhava até ela.

–Oi pai – abraçou o homem de cabelos acinzentados e olhos castanhos iguais ao dela.

O pai de Katherine tinha um jeito engraçado de falar, calmo e lento, parecia um hippie com uma mistura doida de surfista, o que chegava a ser cômico, já que ele era chefe do departamento de polícia de Washington, totalmente diferente de sua mãe que andava sempre elegante, como se fosse a primeira dama.

Katherine gostava de seu pai, exatamente por ser como ele era, por ser um homem com um trabalho sério, mas que sabia que fora do seu local de trabalho tinha outra vida, cheia de adrenalina e diversão, uma vida que ele não era um cara sério e durão como era no trabalho. Katherine se identificava com seu pai, ela era alguém que levava seu trabalho a sério, mas que em seu tempo livre se divertia o máximo que podia.

Ela não se dava bem com sua mãe, que sempre quis que ela seguisse os mesmos passos de Amber, que tinham sempre notas boas, se formou em medicina e sempre se relacionava bem com as pessoas importantes. Katherine detestava querer dar uma de filha de “primeira dama”, porque detestava a ideia de ser aquilo que as pessoas queriam que ela fosse, detestava ser citada como “ a irmã de Amber Jones” ao invés por quem ela realmente era, suas notas na escola eram razoáveis, mas nunca boa o bastante para ser igual a Amber. Só para irritar sua mãe entrou na faculdade de artes, porque sua mãe não admitia artistas em sua família. E quanto a se relacionar bem com as pessoas, ela nunca conheceu alguém que fosse interessante para se tornar amigo dela, já que os amigos que havia tido no colegial não passavam de cobras.

–É bom ver a minha Lucy de novo – sorriu abraçando a filha.

(Lucy: nome do meio de Katherine dado por seu pai, em homenagem à sua música favorita dos Beatles)

–É bom te ver de novo também pai – falou assim que eles se afastaram.

–E você quem é? – o senhor Jones fechou a cara e usou sua voz de delegado.

Derek pigarreou um tanto nervoso.

–Derek Jones senhor – respondeu rapidamente um pouco mais nervoso – prazer em conhecer o senhor – estendeu a mão.

–Para você é capitão Jones – disse apertando firme a mão de Derek – você já foi preso Derek? Vou avisando que bom não mentir, eu posso puxar sua fixa criminal.

–N-não sen..senhor quer dizer capitão Jones – gaguejou Derek enquanto o pai de Katherine apertava ainda mais sua mão.

–Pai – Katherine o chamou com um sorriso brincalhão no rosto, e seu pai riu soltando a mão de Derek que ficou estático.

–É só uma brincadeira que eu gosto de fazer – o homem explicou rindo – não precisa ficar assustado meu jovem – deu um tapinha amigável no ombro de Derek – se você está com a minha Lucy, sei que é um bom rapaz – ele abraçou a filha, mas Derek continuou parado um tanto paralisado – eu realmente assustei ele – falou fazendo uma cara engraçada e Katherine riu – eu vou lá cumprimentar e aproveitar e ver se Steven tem a mesma reação e vai embora – deu um beijo na bochecha da filha e saiu.

–Acorda Hastins – estalou os dedos rindo da cara dele.

–O que seu pai faz? – falou rapidamente com uma cara assustada.

–Ele é chefe do departamento de polícia, mas não se preocupe ele gostou de você – deu de ombros e pegou um salgado da mesa.

–E se ele não gosta-se? – arregalou os olhos com uma expressão ainda mais assustada.

–Não se preocupe só tem uma pessoa nessa casa que ele não gosta e essa pessoa é...

–Cunhadinha – uma voz animada surgiu atrás dela, e ela revirou os olhos.

–Deus acerte um raio em mim agora – suplicou em um murmuro e se virou encarando o homem engravatado com um porte cheio de si – oi Steven – fechou a cara.

–Que bom que apareceu para o meu casamento – fingiu um sorriso – é bom te ver de novo – ele se inclinou um pouco e deu um sorriso amigável para Derek que franziu a testa.

–Não força Steven, eu ainda não vou com a sua cara – balançou a cabeça de forma negativa.

–Qual é Katherine, deixe o passado para trás, sua irmã seguiu em frente.

–Não, ela deixou um cara que era bom para ela, e ficou com você que só fez a se tornar esse porre de pessoa.

–Bom você gostando ou não vou casar com a sua irmã. – sorriu vitorioso para a garota - você gostando ou não bonitinha – piscou para ela.

–Você pode até se casar com ela, porque seus pais tem um acordo com a minha mãe, mas ela nunca vai gostar de você o tanto que ela gostava do Ryan, a proposito eu vou fazer questão de chamar ele pro casamento, quem sabe minha irmã não muda de ideia, e enfim você cai do seu cavalo – sorriu de modo diabólico para Steven que segurou forte o braço da garota.

–Se você tentar arruinar o nosso casamento Katherine você vai se ver comigo – disse ríspido.

Derek balançou a cabeça negativamente, ficou do lado de Katherine e então disse:

–Olha cara você parece bem valentão, por isso não vou tentar brigar com você, até porque você é mais forte que eu e possivelmente eu não aguentaria nem um soco seu, mas não acho que o senhor Jones vá gostar de saber que você está ameaçando a filha dele – deu um sorriso ameaçador, segurou o braço de Steven fazendo com que o mesmo solta-se o braço de Katherine – agora porque o senhor não sai por ai bancando o bom samaritano para essas pessoas pateticamente formais, em vez de ameaçar uma garota que tem um pai com uma possível arma de choque que não vai dar a mínima de usar em você no meio de todas essas pessoas.

–Você é bem corajoso garoto – arqueou a sobrancelha com uma expressão séria – ou talvez burro já que eu posso provavelmente quebrar a sua cara – e ficou furioso pela risada sarcástica de Derek.

–Eu vou arriscar a minha vida mais uma vez, com o que eu vou falar, já que você é o dobro do meu tamanho e talvez pela força que você use para bater no meu rosto, eu acabe indo pro hospital – falou rapidamente com algumas expressões engraçadas – tenho certeza que por trás dessa grosseria toda – gesticulou - tem uma possível alma de uma bela borboleta querendo se libertar, então cara diga sim a paz – levantou a mão direita em sinal de paz – e seja uma pessoa melhor.

Steven lançou um olhar ameaçador para ambos e se afastou indo até sua esposa.

–Olha eu não sei se você é burro ou corajoso, mas se não tivéssemos na casa do meu pai, ele provavelmente teria literalmente quebrado a sua cara.

–Eu tenho vantagem – sorriu orgulhoso.

–A é? E qual seria? – quis saber com um sorriso divertido.

–Seu pai gosta de mim – respondeu com uma piscada e ela sorriu – mas enfim, fale sobre Ryan?

–Ryan era o ex namorado da minha irmã, ele é o braço direito do meu pai.

–E por que eles terminaram? –quis saber.

–Os pais de Steven são amigos da minha mãe, minha irmã e ele praticamente cresceram juntos, o que é um porre já que eu tive que aguentar ele o tempo que eu vivi aqui, a família da minha mãe sempre quis um tipo de união assim, e minha mãe sempre quis associar suas filhas ao nome da família Steven que são de uma grande elite de advogados, juntou o fato da minha mãe não gostar do Ryan, e a família do Steven abençoar a união, Amber sacrificou seu namoro e possível casório com o único cara que realmente valia a pena, pra ficar com um cara babaca – deu de ombros seguida de uma cara feia – por isso que ela é tão chata assim, eu digo coisas do tipo “ não sei como Steven quis casar com você” – fez aspas com os dedos – pra ver se ela se toca e enfim para de fazer o que minha mãe quer, e começa a seguir o próprio coração.

–Ei, espera ai, eu já vi isso em algum lugar – falou pensativo.

–Escrevi um livro sobre isso –sorriu de lado e pegou um salgado na mesa - a diferença é que a personagem não chegou tão longe e foi atrás do grande amor da sua vida – mordeu um pedaço do seu salgado- se isso foi uma possível indireta para a história da minha irmã? – falou de boca cheia e apontou para ele afirmando com a cabeça – com toda certeza, mas ela é perfeita demais para não fazer o que quer fazer.

–Nossa você se importa com a sua irmã, mesmo ela te tratando do jeito que trata – comentou surpreso.

–Ela nem sempre foi assim, ela só seguiu a razão ao invés do coração e de brinde virou uma vadia insuportável – deu outra mordida – e também ela é minha irmã, eu tecnicamente sou obrigada a gostar dela.

[...]

Steven ficou a festa fuzilando Katherine que estava ocupada demais conversando com seu pai e Derek, que se sentiu mais a vontade de conversar com o homem, sem medo de uma possível ameaça caso fizesse algo ruim para sua filha.

Katherine de fato não gostava de voltar para casa, mesmo que fosse apenas uma visita, não gostava das lembranças que haviam sido deixadas para trás, mas nada a deixava mais feliz do que passar um tempo com seu velho pai, que a ensinou a ter um bom gosto musical, e ter coragem de ser exatamente o que ela queria ser. Talvez esse fosse o motivo de sua mãe Megan e seu pai Bruce, brigarem tanto no tempo que ela vivia com eles, simplesmente porque ele queria que suas filhas seguissem seus próprios caminhos, e ela queria que ambas fossem aquilo que ela já havia decretado, no entanto cada uma seguiu a escolha que achava certa. Katherine ainda se espanta em como seus pais continuam juntos com seus modos de pensar tão diferentes, talvez fossem que no meio daquilo tudo o sentimento que um sentia pelo outro fosse tão grande que nem todas as diferenças do mundo mudaria isso.

A festa enfim tinha chegado ao fim, todos haviam ido embora, e Katherine e Derek já estavam cada um em uma cama do quarto de hospedes.

–Boa noite Hastins – falou numa voz sonolenta.

–Boa noite Jones – deu um pequeno sorriso e fechou os olhos lentamente até apagar.