Nem Todo Mundo Odeia o Chris - 3ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 12
Episódio Extra - Todo Mundo Odeia Surpresas - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

E aê, seus bonitos?! Parabéns para mim, né? Estou postando regularmente... Merecia o Nobel da pontualidade... #sqn
Feliz que as ideias estão vindo logo recentemente, principalmente porque esse capítulo é todo original...
Como eu tinha dito antes, as tretas profundas começarão agora... Espero que gostem e me deixem saber ^^
Enjoy! o/

P.S.: Para os Potterheads que acompanham minha história, ergamos nossas varinhas pelo nosso querido Alan Rickman, eterno Professor Severo Snape... o_/*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/594075/chapter/12

POV. LIZZY (Brooklyn - 1986)

Uma das várias coisas que eu e o Chris tínhamos em comum era o mês de aniversário: fevereiro de 1969. E só não dividíamos o mesmo dia por uma pequena diferença de cinco dias. Ele era do dia 22, e eu, do dia 27. Ele me zoava me chamando de novinha e eu chamava ele de idoso. Era hilário ele imitando um velho. Eu chorava de tanto rir. Mas em 1986 foi o meu aniversário mais estranho e confuso. A partir daquele ano, minha vida mudaria muito e de um jeito que não tinha volta.

Tudo começou na tarde anterior ao meu aniversário. Meus pais continuavam com aquelas saídas estranhas, mas eu nunca mais havia perguntado nada e nunca imaginei que tinham algo a ver comigo até aquela tarde.

Eu tinha ido ao cinema com o Chris e tava entrando no meu quarto, quando ouvi as vozes dos meus pais pela porta entreaberta de seu quarto.

“Não podemos mais esconder isso”, dizia a voz do meu pai, aparentemente nervoso. “Ela já está quase na idade.”

“Que bom que esse segredo vai acabar, Arthur. Não suporto mais esconder isso dela.” Morrendo de curiosidade, não resisti ao impulso de empurrar a porta e entrar no quarto.

“Esconder o quê? De quem?”

Eles me olharam como se eu tivesse descoberto o segredo macabro deles, e essa era exatamente a situação. Seus olhos se encontraram, e eu vi apreensão neles. Cautelosamente, os dois se aproximaram de mim, como se eu fosse um animal ferido que eles não queriam assustar.

“Bem… ah…” meu pai começou, “Lizzy… Nós temos escondido algo de vocês por um tempo e nunca pudemos lhe contar o que é até agora.”

A hesitação dele me fez lembrar da conversa que havia tido com o Chris sobre esse assunto há algum tempo. Eu havia suspeitado que fosse alguma doença do meu pai, mas Chris me fez pensar melhor, dizendo que se fosse algo realmente grave eu saberia logo. Aquele medo voltou com toda força enquanto eu via meu pai olhar para minha mãe, buscando apoio.

Mas ele logo continuou:

“É algo sobre o seu passado, mas que também moldará seu futuro. E também sinto dizer que você não vai ter muita escolha a respeito…” Ele me olhou penalizado e eu franzi as sobrancelhas. Apesar de bastante aliviada por não ser nada com ele, fiquei bem confusa.

Como assim eu não tenho escolha sobre algo que diz respeito a mim?????

“Podem me dizer logo o que é? Isso não está fazendo sentido.”

Dessa vez, minha mãe pôs as mãos nos meus ombros e me fez olhar para ela.

“Minha filha, como você bem sabe, você é adotada.” Assenti e ela continuou. “Você também sabe que seu pai biológico morreu quando você ainda era bem pequena.” Assenti novamente, já ficando apreensiva. O que meu pai biológico tem a ver com isso? “O que você não sabe é que ele... “, sua voz tremeu e ela respirou fundo para continuar, “ele… deixou um testamento em seu nome.” O QUÊ????????????????

“Um… um testamento? Que testamento?”

“São as últimas vontades dele. Ele determinou ao seu advogado que o testamento só fosse aberto quando você completasse 17 anos.” O quê? Meu aniversário é amanhã!

“Vocês sabem o que tem no testamento?” Eles negaram.

“Continua lacrado, em poder do advogado dele, desde sua morte. O que eu e seu pai tanto tentávamos resolver com todas aquelas audiências era a quebra do sigilo do testamento. Queríamos que ele fosse aberto logo, para você tomar mais conhecimento do que teria que fazer, mas o pedido foi negado.” Assenti, não sabendo o que pensar sobre aquilo.

“E… quando vão abrir o testamento?”

“Amanhã mesmo”, meu pai respondeu. “Ele exigiu que fosse no dia do seu aniversário de 17 anos.” Exigiu?

“Onde será?”

“Na antiga casa dele, mas não sabemos onde fica.” Assenti, pensativa, e minha mãe afagou meu rosto.

“Sabemos pouco sobre a vida dele, querida. Ele deixou muita coisa em segredo, para que apenas você possa saber.” Nossa… Apesar da apreensão, eu senti um calor no peito. Ele lembrou de mim até o fim… Obrigada, pai…

 

Não consegui dormir direito naquela noite. Rolei de um lado para o outro da cama sem conseguir nem ao menos um cochilo. Eu tinha tentado falar com o Chris sobre a história do testamento - afinal eu precisava desabafar com alguém -, mas quando eu ia contar a ele, Drew entrou no quarto. Se ele tivesse ido dormir, tudo bem, mas ele inventou de ler HQ, então eu fiquei sem esperanças. Pensei até em escrever em um papel, mas era algo muito sério para isso.

O tempo todo que fiquei acordada, o mesmo pensamento rondava minha cabeça. O que meu pai achou tão importante para esperar esse tempo todo para me dizer? Ele poderia ter simplesmente me deixado uma carta. Por que todo esse mistério?

 

Na manhã seguinte, não ouvi “feliz aniversário”. Eu estava sem clima e havia pedido isso aos meus pais. Sabia que o Chris só viria me desejar “feliz aniversário” depois do trabalho; então ele me daria o presente e sairíamos para comer em algum lugar. Sorri levemente ao lembrar que nessa ansiedade não havia sequer tentado adivinhar qual seria o meu presente.

Como eu, teoricamente, iria para uma audiência, resolvi me vestir mais a caráter. Pus uma calça jeans sem rasgos, uma camisa preta manga longa com um leve decote em V e uma bota mais feminina. Como meu cabelo já estava bem grande - quase na cintura -, fiz uma trança sobre meu ombros esquerdo.

Me olhei no espelho e senti meu estômago embrulhar. Eu tenho que me acalmar… Mas como eu posso me acalmar com todo esse mistério?! O que ele deixou para mim?

 

“Lizzy, você tem que comer.”

Ergui os olhos do meu prato para minha mãe, que me olhava preocupada. Verdade, eu não havia tocado nas minhas torradas, embora elas tivessem geleia de amora, minha preferida.

“Estou sem fome.”

Meu pai insistiu:

“Você não jantou bem ontem. Coma um pouco.” Para evitar seus olhares preocupados, eu me forcei a comer as torradas e tomei o suco todo.

“Pronto. Podemos ir agora.”

Eles se levantaram e tiraram a mesa.

“Temos que esperar, Lizzy”, meu pai disse. “Um dos carros do tribunal virá nos buscar e nos levará ao local da abertura do testamento.”

Assenti, mas um frio intenso tomou conta do meu estômago. Eu estava muito ansiosa. Minha vontade de falar com o Chris não havia passado, mas ele já devia estar no Doc’s àquela hora. E eu não podia sair de casa agora; o carro do judiciário chegaria a qualquer momento. Resignada, sentei-me no sofá e esperei. Inquieta até para assistir TV, embora eu a tivesse ligado.

Quinze minutos depois que meus pais haviam terminado com a louça e sentado junto a mim no sofá, ouvimos uma batida na porta. Meu pai ergueu-se para atender, e as batidas do meu coração aceleraram. Após alguns segundos, sua cabeça apareceu na sala.

“Hora de irmos.”

Desligando a TV, levantei, juntamente com minha mãe, e seguimos o oficial, que nos guiou até um carro grande e preto, parado junto à nossa calçada. Olhei para o fim da rua, desejando que o Chris estivesse lá comigo, mas logo entrei dentro do carro e o motorista partiu.

 

Qual surpresa não foi a minha quando o carro fez seu caminho por um dos bairros mais luxuosos de Nova York: SoHo (South of Houston). Só os mais ricos moravam lá. Fiquei mais chocada ainda quando o motorista parou em frente a um casarão muito bonito na esquina de uma rua. Eu e meus pais descemos do carro e observamos melhor a casa.

Por trás de uma cerca alta de barras de ferro, estava um jardim lindo, cheio de rosas brancas, vermelhas e jasmins coloridos. O motorista nos conduziu por um caminho de pedras no meio do jardim que levava à porta principal. A casa devia ter pelo menos três andares e era tão grande na largura quanto na profundidade. O externo tinha um tom bege que eu gostei bastante; combinava com a leveza do jardim.

A porta de madeira se abriu quando chegamos perto, e uma mulher negra de meia idade sorriu para mim e para os meus pais. Seus olhos se demoraram um pouco em mim, como se procurassem reconhecer alguém, mas logo ela os desviou. Nós a cumprimentamos de volta e ela pediu que entrássemos, fechando a porta logo depois. Ela nos guiou por um corredor à direita que dava em uma escadaria grande. Subimos dois lances de escada, chegando ao segundo andar, e ela nos indicou uma porta de deslizar dupla.

Entramos em um cômodo bem iluminado, com muitas prateleiras cheias de livros. Meus olhos deviam brilhar nessa hora, tenho certeza. Mais uma vez, pensei em meu pai com admiração. Você tinha tudo isso, pai… Não consigo nem imaginar como você era inteligente…

Minha atenção logo desviou-se para uma mesa redonda que estava no meio do cômodo. Três homens, - um senhor com cabelos brancos, um homem já com seu cabelo grisalho e outro que usava óculos -, todos de terno, estavam sentados à mesa. Meus pais se adiantaram para falar com o homem de cabelos grisalhos.

“Dr. Barker, como vai?” O homem apertou as mãos do meu pai e da minha mãe.

“Muito bem, obrigado.” Seus olhos me encontraram e ele sorriu levemente, acenando para que eu me aproximasse. Dei alguns passos em sua direção. “Então, você é a Lizzy?”

“Sim, senhor. É um prazer.”

“Digo o mesmo. Sou o advogado dos seus pais adotivos e espero ter ajudado nesse caso.” Dirigindo-se ao demais, ele continuou: “Sentem-se, por favor. Agora que todos estão aqui, creio que não precisamos mais esperar, afinal, esse testamento já ficou guardado por muito tempo.”

Com um murmúrio de concordância, nós sentamos, e o homem de óculos - provavelmente o advogado do meu pai biológico - passou um documento lacrado para o juiz.

“Esse é o testamento do sr. Danilo Rodriguez, meu cliente já falecido, que se manteve em poder da justiça até o dia de hoje, como era a vontade do meu cliente. Juiz Strauss, por favor.”

O juiz tomou o documento nas mãos e checou o lacre, assentindo logo em seguida.

“Dou início, agora, à abertura do testamento do sr. Danilo Rodriguez.” Fiz uma careta discreta diante de toda aquela pompa. Muito formal, mas eu suponho que seja necessário...

Rompendo o lacre, o juiz leu em voz alta:

Ao vigésimo terceiro dia do mês de abril do ano de mil novecentos e setenta e dois, eu, Danilo Ávila Rodriguez, em meu perfeito juízo e entendimento, livre de qualquer coação, induzimento ou sugestão, deliberei fazer esse meu testamento cerrado, escrito e assinado de próprio punho. Deixo, a seguir, para serem reconhecidas e realizadas, as minhas vontades.

É meu desejo que:

1. minha filha, Lizzy Rodriguez Johnson, seja deixada aos cuidados de meu pai, Diogo Rodriguez;

2. toda a assistência possível seja dada à minha filha, à distância, e nada lhe falte;

3. 25% do dinheiro adquirido pela venda de minha empresa seja destinado à uma entidade que cuide de crianças órfãs;

4. minha filha só saiba da existência deste testamento no dia do seu décimo sétimo aniversário;

5. a partir da abertura deste testamento, ela seja considerada maior de idade, consequentemente emancipada, e livre de qualquer documento de adoção que a prenda a uma família, assim como qualquer vínculo que a prenda à casa dessa família;

6. também, a partir da abertura deste testamento, ela tome posse de todos os meus bens, que, então, serão dela sem qualquer restrição;

7. após informada sobre tudo, seja entregue à minha filha, a carta que deixei juntamente com este testamento e que também está em posse do meu advogado.

Nomeio como meu testamenteiro, meu advogado e amigo de longa data, Dr. William Hanson. Deste modo, dou por concluído este meu testamento cerrado, e espero que seja cumprido o que nele há, e que expressa minha livre e última vontade, pelo que tenho como bom, junto e valioso.

Danilo Ávila Rodriguez

 

Encerrando a leitura, o juiz ergueu os olhos. Eu estava paralisada. Meu corpo adormecia mais a cada instante. Eu podia não entender muito bem a linguagem jurídica, mas aquilo foi escrito pelo meu pai e eu entendia perfeitamente bem o que queria dizer. Porém, aquilo não me fazia feliz. Nada ali me fazia feliz.

Despertei do meu devaneio, quando o juiz dirigiu-se a mim.

“Lizzy, como única herdeira citada no testamento de Danilo Rodriguez, você deve ficar de posse de todos os bens dele, como era sua vontade. As vontades 1 e 2 já foram cumpridas antes mesmo da abertura do testamento. Isto está correto, Dr. Hanson?”

“Sim, juiz Strauss. Eu tive todo o cuidado para que…”

Eu apenas ouvia murmúrios no fundo da minha cabeça. Meu corpo estava naquela sala, mas minha mente não. Eu queria correr, ir embora e nunca mais aparecer naquela casa. Uma poderosa onda de raiva começou a surgir em mim quando meu cérebro meio adormecido e chocado começou a tomar consciência de todas as consequências que aquele testamento  teria em minha vida.

Quem ele pensa que é para dizer que eu não posso mais morar com meus pais?! Que eu tenho que morar sozinha?! Era essa a vontade do meu pai?! Me isolar de todos os que me amam?! Minha família, meus amigos?! Para me manter trancada nessa mansão?! Até quando?! Não! Nunca! Eu não aceito! Eu não quero isso!

Enchendo-me de coragem, me ergui da minha cadeira. Todos fizeram silêncio para  me olhar, mas eu só encarava o juiz. Apesar da raiva intensa, minha voz saiu controlada, e minha expressão estava mortalmente séria.

“Obrigada pelo seu trabalho, juiz Strauss, mas creio que isso não será necessário. Eu não quero nada do meu pai. Nem esta casa, nem o dinheiro e muito menos essa carta que ele deixou. Não tenho interesse nenhum no que ele tinha a me dizer. Eu consegui sozinha uma coisa que ele nunca me deu: uma família. E eu não aceito que ele queira me tirar isso agora, depois de 14 anos de morte. Com licença.”

Dando as costas à mesa, segui em direção à porta. Antes de sair, ainda escutei os meus pais me chamando e o seu advogado falando algo com o juiz, mas não dei atenção. Saindo, fechei a porta atrás de mim e encostei-me nela. Respirei fundo, fechando os olhos. De repente, comecei a correr sem direção certa pelo grande corredor. Senti meus olhos arderem, e as lágrimas começarem a rolar. Prendi um soluço na garganta antes de chegar à última porta. Não sei bem o porquê, mas entrei no cômodo escuro e tranquei a porta atrás de mim.

Com as costas apoiadas na porta trancada, escorreguei o corpo por ela até sentar no chão e abracei meus joelhos. Os soluços começaram a sair e ficaram cada vez mais fortes até que eu chorava sem conseguir parar. Ouvi as vozes dos meus pais e suas batidas na porta, mas não me movi. Eu queria ficar sozinha, e aquele quarto me fazia sentir confortável. Era um lugar desconhecido e escuro, mas o aroma daquele quarto aliviava minha dor. Algo familiar que eu não entendia.

Ainda soluçando e chorando, escondi o rosto entre os joelhos e desejei com todas minhas forças que o Chris estivesse ali.

 

Continua...

 

***





Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aê? Gostaram das tretas?
Vocês devem ter sentido falta, então aviso logo que POV do Chris está na parte 2. ^^
Reviews ^^