Povoando Suas Páginas escrita por Daniela Mota


Capítulo 11
Capítulo 10 - MELéfica




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Melanie PDV

O Laurete me dizia palavras emboladas, talvez pelo fato de eu não estar prestando atenção. Eu ainda não sabia o que pensar, e muito menos o que dizer a ele. Eu estava tão surpresa que nem conseguia conta-lo que aquilo era apenas fofoca, que aquele mel estava preservadíssimo na colmeia.

–Sua... Sua meléfica! – Laurete riu, espalhafatoso – Agora, me conta: É uma régua de Arquitetura e Urbanismo, ou é uma reguinha do Prézinho?

É sério que ele estava me perguntando o tamanho do...? Esse era o Laurete, na sua maldosa essência.

Entreguei o celular à Cece, pedindo para que respondesse “reguinha do Prézinho”, numa zuera quase que inconsciente, porque estava totalmente dispersa. Ela não entendeu nada, mas reproduziu o que lhe foi dito, enquanto, ainda surpresa, buscava a minha reação que até agora era nada mais nada menos que uma cara de paisagem, enquanto era fortemente estuprada pelo destino. Afinal, não dava para chamar a polícia, porque o destino alegaria que fui eu quem quis.

Cece apontou para o seu notebook entreaberto que estava encima da sua cama, e eu dei uma corridinha, pulando no colchão, fazendo o notebook quicar alegremente e quase beijar o chão, se eu, por reflexo, não o abraçasse. Ela me repreendeu com o olhar. Ao focar nele, notei que um site já estava aberto. Ela acessava um site de “fofocas quentes” chamado Cospe Fora, e adivinha qual era o post destaque, e mais bombado...! Uma garota de classe média, saindo de uma suíte imperial. Até aí tudo bem. Assaltos existem. Agora uma garota sorrindo saindo da mesma suíte imperial do que um famoso... Isso é uma manchete. É tipo um: “Nossa, como foi perfeito, como estou feliz...! Ai, eu sou oficialmente uma bem comida, que emoção!”. Minha foto, a foto do Arthur, os números da porta circulados, e até um vídeo para provar o tal do tempo real. O jornalista desgraçado que estudou numa faculdade por 5 anos até se formar para chutar sua vida acadêmica se juntando a um site desses, ainda ousou supor que esse intervalo de tempo da saída dele para a minha foi meramente despistiva, e que as provas eram fortes para o indício de que estava rolando algo mais forte, julgando pelo meu sorriso. O desgraçado ainda linkou o vídeo da noite anterior, em que eu desmaiei nos braços de Dobrev, e descobriu que eu era nada mais, nada menos que uma fã, e que, ele tinha ficado à sós com essa fã após desmaio, e que foram agora flagrados num quarto de hotel. Tipo CSI. Abaixo, comentários revoltados de fãs, me xingando de todos os nomes chulos possíveis, me ameaçando de morte, e algumas dizendo desejar ter sido a fã premiada da vez. Premiada? Devem estar de brincadeira comigo... Cadê a porra das câmeras? Ah, aqui não tem, não é? Mas na merda do hotel que eu só queria passar a noite tranquila...!

A verdade era quase a mesma, só que pior: Eu me fodi à proporções desconhecidas até por aqueles que habitam os divãs de psicólogos voluntários.

Mas, ao invés de chorar sangue, eu dei um risinho baixo, ainda encarando a palavra “premiada”. Foquei na matéria, e a minha reação quase inconsciente foi desatar a rir. Não era um riso de nervoso, era um riso espontâneo, como se tivessem me contado uma boa piada que eu só fui entender depois porque sou lenta. Assistindo a reação assustada da Cece, comecei a ri mais alto ainda. Se eu estava rindo por que sou louca? Também. Mas a maior razão era o fato de que isso ia deixar o Arthur louco também. Ver essa foto minha sorrindo, somados com toda a encenação que fiz hoje, fariam com que ele quisesse me esfolar, esquartejar, pular encima, me triturar, jogar no mar, e quando eu fosse comida de tubarão, ele o mataria, só porque ele me abrigou em seu estômago; não importando a ordem desses fatos.

Arthur PDV

“FILHA DA PUTA!” – era apenas isso que eu conseguia pensar quando adentrei correndo a suíte com uma pílula que comprei de uma farmácia que aparentemente não tinha fila preferencial para famoso, e que eu não podia revelar, a fim de não ser atacado por fãs – afinal, eu não tinha nenhum segurança por perto –, fui contrariado também na estrada por alguma louca, para, no final, só dar de cara com um bilhete zombeteiro. Amaldiçoei todos os antepassados, atuais, e futuros parentes daquela doente mental crônica. Quem ela pensava que era para me enganar com uma coisa séria dessa? E pensar que eu fui otário de acreditar. Otário... Otário... O que essa droga de garota tem que fica fazendo com que eu me xingue? A culpa disso é toda dela, e se eu pudesse traduzir toda a raiva que sentia em atos, com certeza a mataria.

O que me fez não ter quebrado todos os moveis do hotel, foi, sem dúvida, a contestação de que eu estava certo, como sempre. Eu não teria relações com a lunática nem bêbado, porque até em coma alcoólico, ela seria repugnante. Eu tinha código de conduta e bom senso até em meio à quase-inconsciência. Por isso, apenas rasguei o seu bilhete o máximo que pude, e chutei os papeis por todo o quarto. Pelo menos agora eu estava livre.

Depois de ter que devolver os 2 cartões, e suportar o sorriso ao mesmo tempo malicioso e forçado do homem do balcão, dei às costas, ignorando a pergunta que fez sobre a minha estadia. O meu carro já estava estacionado em frente ao hotel, e fiquei satisfeito por isso, porque não precisaria brigar com outro manobrista, como fiz mais cedo. Ninguém toca nele. Enquanto dava a partida, acelerando o quanto quis, sem me preocupar se surgiria algum carro pelo caminho, pensava no que faria no dia que me restava. Sinceramente, eu precisava descarregar toda essa tensão. Mas antes, tinha assuntos pendentes para resolver, pelo o qual teria prazer de resolver pessoalmente.

“E, quem sabe, eu poderia fazer os dois ao mesmo tempo” – pensei, erguendo uma sobrancelha.

xxx

Contra à minha vontade, subi o elevador da empresa, depois de horas de viagem, – reduzidas pela minha velocidade – horas estas que nem me preocupei em verificar se a equipe que foi comigo ainda estava na cidade ou não. Quando cheguei ao andar, saí do elevador à passos largos, ignorando qualquer socialização ou indício da mesma. Quando cheguei perto da secretária loiraça, pude ver que estava bem concentrada, digitando algo. Pigarrei, e ela prontamente me encarou.

–Bom dia, senhor Dobrev. – ela continuava por me saudar, como se algum dia eu tivesse vontade de responder.

–Bom para quem, senhorita? – eu disse, firme. Toda uma ironia expressa na voz. Ela abaixou a cabeça, um tanto constrangida.

–Tem razão. – juro que a ouvi dizer isso bem baixinho.

–Então, veja bem... Vim deixar seu dia melhor: Você está demitida. – eu disse, sem cerimônia. Ela, a princípio, não pareceu acreditar no que ouvia. Logo depois, não sabia como reagir diante do meu declarar que soava tão decidido e inflexível. E bem, depois chegou a parte que mais odeio: aquela que você apela procurando calor no Polo Norte, e quando se dá conta, morreu congelada. Apenas esperei até que começasse a implorar.

–Por favor, senhor Dobrev... Eu preciso desse emprego. – eu já fiz tanto isso, que poderia dividir aquilo em fases. Fase 1: Egocentrismo. É marcante pelo uso da palavra “preciso”, como se perder o emprego hoje, principalmente esse que paga muito bem, fosse a fazer morar embaixo da ponte amanhã.

–Eu também precisava que fizesse o seu trabalho direito. – fiz questão de usar a palavra no passado, o que a fez ficar ainda mais desesperada.

–Eu te imploro... – ela disse, baixinho. Não me preocupei em verificar a sua expressão. Pessoas agindo assim, são, no mínimo, ridículas. Esta é a fase 2, que se vê sem argumento, diante do apelo negado da fase 1.

–E eu não ligo. – eu disse, firme. E não ligava mesmo.

–A minha mãe está doente. Perder esse emprego significaria não poder pagar mais o tratamento que ela tanto necessita... Ela é tudo que tenho. – Fase 3: Nessa, você supostamente sai do egocentrismo, para despertar compaixão. Geralmente, a doença de outrem é usada como significância da sua justificativa de inutilidade diante do seu chefe, para que emocionalmente ele seja envolvido no seu drama.

–Me poupe. – eu disse, colocando as mãos nos bolsos da calça, e a expulsando do lugar com o olhar.

Ela começou a chorar, e eu lutei contra o reflexo auditivo de querer acabar com aquele barulho, porque, fala sério, aquele maldito choro eu queria assistir. Eu poderia me retirar da sala, conforme já fiz em várias ocasiões do tipo. Mas eu a tinha aqui, disponível para descontar todo o estresse que ela me fez passar. E aquilo me divertia.

–Eu não sabia que isso ia acontecer, me perdoa... – ela disse, e em seguida assisti ela vir até a mim, e se ajoelhar à minha frente. Ah, chegou a fase que ela admite o erro? Que interessante...

–Olha... – tentei me lembrar o nome dela, mas falhei miseravelmente. Mesmo assim, sem o mínimo constrangimento, resolvi continuar – Eu até gostava de você, sabe... Você era até... – a encarei rápido, de cima até em baixo. – Competente. – Minha mão passou pelo seu rosto pálido e borrado de maquiagem, seguindo a trajetória do que não estava molhado por suas lágrimas medíocres. O meu carinho, parecia afetuoso, mas só eu conhecia o caráter do mesmo. Em seguida, passei a mão pelo seu pescoço, e ela ergueu o seu olhar à mim. – Mas você errou feio, docinho. Que desperdício. – meus olhos, por instinto, enquanto a tratava com enorme ironia, foram direcionados ao seu belo par de seios. Ah, droga. Eu estava em abstinência.

–Eu aprendi a lição, senhor Dobrev. Por favor, eu preciso desse emprego... Eu faço qualquer coisa! – voltamos ao Eu da história. É exatamente aí que eu queria chegar.

–Qualquer coisa? – ergui uma sobrancelha, enquanto passei a mão pela sua nuca e a assisti tremer. Observando o seu braço, notei que havia se arrepiado. Xeque mate.

Tudo o que fiz foi olhá-la daquele jeito, até não notar nenhum tipo de resistência nela. Logo depois, andei calmamente até a porta, e tranquei-a. Ela era uma loiraça, e a única razão pelo qual evitei fazer isso com ela durante esse tempo, foi a de que relações com empregados podem gerar envolvimentos, e não gosto de avistar as mulheres que me relaciono novamente. Muito menos todos os dias. Mas aquele caso era especial: 1- Ela estava desesperada emocionalmente; 2- Eu estou desesperado carnalmente; 3- Eu não preciso de motivos para querer passar o rodo; Ver ela todos os dias não seria um problema, até porque não o faria, sumiria daquele lugar, conforme meu empresário me prometeu. Faria uma longa viagem para bem longe, e quando voltasse, despediria ela como se não lembrasse do seu agrado. E, veja bem: Provavelmente não lembrarei.

–Isso não é certo... – ela disse, o seu tom dizendo totalmente o contrário.

–Errar assim pode, docinho. – foi tudo o que eu disse, e então fui até ela, com a cautela, e, ao mesmo tempo, a sede de um caçador.

(...)

–DOBREV! – ouvia a voz do meu empresário gritar, com repetidas batidas na porta, e a secretária se inibiu, vestindo suas roupas às pressas. Revirei os olhos. A anta não via a porta trancada?

–Ele tem a chave na sala dele. – ela disse baixinho, como se lesse o que eu pensava. Então, quando ele parou de bater na porta, tratei de me arrumar também. Isso só incluía vestir a camisa e fechar o zíper.

–Mas que cheiro de sex... – ele disse, logo após rodar a chave na fechadura, mas não se deu ao trabalho de terminar a frase ao nos encarar. A loiraça sentou na sua cadeira na mesma hora, fingindo mexer no computador, e eu apenas cruzei meus braços e o encarei. – Eu preciso falar com você... às sós. – ele se referiu a mim, e questionei a sua ousadia prontamente. Como parecia algo sério, me limitei a fechar cara, e o acompanhar. Dei uma piscada para a loiraça antes de fechar a porta.

Em sua sala, adentrei sem vontade. Ele não disse nada durante o curto percurso, parecia irritado. Agradeci mentalmente, porque não gostava mesmo de conversar com ele.

–Eu não acredito que deixou isso acontecer agora. Tanta mulher no mundo! – ele falou, depois de uns segundos de silêncio, andando de um lado pro outro, enquanto passava a mão nos cabelos grisalhos.

–Sou eu quem paga ela, e tenho direito de fazer o que me der vontade. Aliás, não te pago para ficar com inveja. – bufei.

–Não estou falando da secretária. Não a quis porque todos sabem que ela é soro positivo. – petrifiquei – Brincadeira.

–Filho da puta. – balbuciei.

–É a isso que me refiro, e à isso que te chamei aqui. – ele virou a tela do Mac.

Observei, curioso, a foto da capeta sorrindo. Mas o que que... PUTA MERDA, CARALHO DO INFERNO! Quem foi o ser humano satânico que havia tirado aquela foto e feito aquela matéria? Eu não acredito que todos pensavam que eu estava comendo e me envolvendo com esse lixo. Tão de sacanagem comigo... O meu empresário inventou isso como lição para eu não comer meus subordinados. Mas por que ele estava sério como nunca antes?

–Puta que pariu. – quase gritei, e ele virou a tela do Mac antes que eu a socasse.

–Eu te aconselhei tanto sobre! Você tem noção do que fez? Ela é uma fã, aparentemente adolescente... Isso virou um viral! – Peraí, ele realmente acreditava que eu tinha...? – Só você pode dar um jeito nisso.

(...)

Pedi para que a minha secretária ligasse para a pirralha, pedindo para que ela mudasse essa história, desse um jeito. Dez minutos depois, ela me anuncia o fracasso, dizendo que ela pediu que eu que a contatasse. Fiquei mais que puto, e me recusei a fazer isso, negando quase o resto do dia. Por mais que meu empresário dissesse que eu precisava, e eu sabendo que deveria. Mas estava com muita raiva. Foi então que ele me convenceu com a história de que as fãs ficariam incontroláveis com essa possibilidade, e depois de muito hesitar, eu resolvi ligar.

Ah, como o mundo tinha sorte que eu tinha acabado de afogar o ganso com uma loira gostosa.

“Olá!” – a vagabunda atendeu, alegremente.

“Olá o caralho, viu o que fez?” – sua alegria diante do problema me irritou mais, e isso ficou expresso na minha voz.

“Calma, Tutuzinho.”

“Você vai desfazer essa merda agora... Tá ouvindo?”

“Não.”

“Vai sim, se não...”

“Se não o que?”

“Nem queira saber.”

“Não ligo. Era só isso? Tchau.”

“Tchau uma porra, pirralha. Você vai se declarar na mídia, afirmando que é tudo mentira.”

“Fale comigo direito, seu babaca. Você não manda em mim.”

“Você vai sim!”

Ela desligou. Exaltado, quase esmaguei a tecla de rediscagem.

“Sim, desliguei na sua cara. E só falo com você se se comportar.” – ela disse calmamente.

“Foda-se.” – resmunguei.

Ela desligou novamente.

“Quer parar de fazer isso?”

“Não. Deve ser por isso que continuo.”

“O que quer que eu faça?”

“Peça, não mande. E talvez eu farei.”

“Engraçado.”

“Ok.”

“Espere... É... pode fazer isso, inferno?”

“Isso o que?”

“Dizer a porra da verdade.”

“Você não sabe ser educado, Tutuzinho. Quando estiver disposto à marcar algo para conversar comigo pessoalmente, num lugar público, e sem porte de arma, me contate novamente. ”

“O único convite que quero fazer pra você sair, é da minha vida.”

“Para sair da sua vida, tenho que primeiro sair das suas páginas de revista.”

Continua...


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