A Chegada Dela escrita por Kam_ted


Capítulo 2
Capítulo 2




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Usei um microscópio que ganhei do meu tio para espiá-la da janela, se estava em compania, mas estava sozinha. Vestia uma cueca preta. Em meu corpo sensações retrocedeu-se. Queria ter com ela novamente. Me imaginava indo bater a sua porta e ela abria e voltávamos a nos beijar.

Esperei todos irem dormir e apagar as luzes então saí descalça na ponta dos pés. O ar frio bateu em meu corpo enrijecendo os mamilos. Cachorros denunciavam minha fuga latindo. Meus pés molhados de orvalho deixaram pegadas na madeira.

Ela me olhou curiosa e divertida. Os cabelos negros solto contrastava sua pele branca sardenta. Olhou meus mamilos rijos sob minha camisola. Um homem cantava na vitrola and it's a hard, and it's a hard, rain's a-gonna fall. A casa era muito clara, almofadas no chão, uma poltrona de veludo verde com um livro aberto marcando uma página, uma estante cheia de livros, outra empinhado de discos, incensos queimados, guimba de cigarros, tudo em seus devidos lugares, uma bagunça organizada. Me ofereceu café e aceitei. Ela cantarolava junto com o homem que cantava na vitrola. Sentei-me na poltrona, lendo ligeiramente o título do livro Pergunte ao Pó, John Fante. Algo relacionado a drogas?, pensei. Ela sentou encostada à parede com as pernas curvadas. Ainda refletia se era uma drogada ou não quando perguntou-me se literatura me interessava. Os raros livros que li não passavam de histórias passivas sobre animais que falavam, crianças que conversavam com fadas madrinhas mas certa vez abri um livro escondido debaixo do travesseiro de meu irmão que falava de meninos que se tocavam no começo da puberdade. Me sorriu algo como quem olha para uma criança inocente, o sorriso sagaz.

- Você usa drogas?

- Se álcool e cigarro for considerado drogas para você, sim, sou drogada.

Sabia razoavelmente sobre drogas lícitas e ilícitas, expliquei a pergunta.

- O livro. Pergunte ao Pó...

- Ah! não. O pó citado é pó de Los Angeles, poeira.

Enxerguei novamente uma menina ingênua que está morando sem os pais por algum motivo.

- Por que está morando aqui?

Me sentia inferior outra vez fazendo aquelas perguntas, mas havia necessidade de respostas que formulei durante muito tempo. Dor. Então era isso, estava doente e vinha se curar.

- Não! Pior que qualquer doença. É dor que arde sem se ver; é ferida que dói e não se sente. Declamou melancólica as últimas frases olhando Zoé sonolenta nas almofadas.

- Camões.

- O quê?

- Isso que declamei, é Camões.

Não compreendi o porquê dos versos na resposta para minha pergunta. E ainda não entendia o motivo da sua chegada.

- Você mudou muitas pessoas por aqui e.

- Não mudei ninguém. Fui uma chave para a porta trancada dessas pessoas.

Levantou ligeiramente aborrecida. Vi-a tomar duas doses de uma bebida amarelada, fez careta.

- E você, quando vai mudar? Como todas as pessoas dessa cidade, deve ter algum desejo que reprimi.

Parecia masculina mascando algo que pôs na boca enquanto me olhava arrogante. Continuou:

- Uns viados se comem em suas casas agora, sujando os lençóis de gozo do parceiro, agora eles tem coragem de chupar outro cara sem nenhum pudor. Não se escondem mais. As sapatões me desejam agora, umas me mandam cartas de putaria. Você achou que fosse falar De Amor? Não! Elas querem me chupar, querem que eu as lambe. Descobri uns pais de família comendo as bundas desses rapazes que frequentam minha casa. Uma hipocrisia imunda! Sexo. O cheiro de sexo, é o que eles transpiram. Trepar, é o que eles pensam o dia inteiro no trabalho. Sua mãe deve tocar siririka no banheiro enquanto seu pai come a mulher de algum cara que fingi ser amigo. E o amor, sabe onde eles enfiam o amor? No c.

Saí correndo. Ela parecia outra pessoa, transtornada por causa do álcool que se servia, andava de um lado para o outro com os olhos vermelhos, algumas vezes achei que uma lágrima desceria, mas ela não deixaria, se mostrava orgulhosa demais para derramar alguma gota. Aquelas palavras xulas pulsavam em minha cabeça, coisas que nunca havia escutado. Minha mãe tocando siririka? Meu pai comendo a mulher de alguém? Mas do que ela estava falando? Não tinha direito de falar sobre meus pais sem os conhecer. Eles eram fiéis, sempre foram, juraram amor e fidelidade eterna na frente de um padre. O que fiz de errado para ter ouvido aquelas coisas? Chorei desconsolada debaixo da árvore além da cerca da minha casa. As costelas tremiam do frio. Ouvi os galhos amassando com passos de algum animal mas era ela de sobretudo vindo sentar ao meu lado. Enrolou-me em uma coxa grossa e ficamos em silêncio ouvindo os sapos-martelos enquanto vagalumes brilhavam feito estrelas pelo ar. Estava magoada demais para começar algum diálogo.

- Desculpe.

A voz parecia sincera. Um peso derrubou-se nas palavras. Sentiu-se obrigada a continuar. Eu não estava interessada em saber mas queria tê-la em compania.

- Desculpe. Joguei sobre você sentimentos reprimidos. Eu, como moradora dessa cidade, também tenho sentimentos, desejos reprimidos. Você me lembra o motivo pelo qual fugi da cidade para vir me esconder aqui. Um amor. No final só restaram mágoas e mágoas e mágoas. Quando não nos dão o valor necessário. Você se sente digna de viver um amor mas esquecemos que não estamos no livre-arbitrio do outro lado, a outra pessoa.

- O que aconteceu? Seu rosto estava pálido fitando algum canto escuro do chão.

- Hoje meu bebê faria um ano. faria um ano que eu seria mãe. De repente ela não quis mais. Abortou nosso bebê no quarto mês. Ela não me amava mais. Estava apaixonada por outra pessoa. Abortou uma criança que seria dela, se me abandonasse. Mas não queria lembranças minhas. Ela matou um sonho que carregava que era mais meu do que dela. Depois parecia querer-me novamente. Não havia perdão ao crime que cometeu contra mim. Matou meu amor no mesmo ato que matou uma futura criança. Tínhamos roupinhas... - sua voz chorosa abalou-me profundamente. Mamãe havia perdido um filho no parto quando ainda não tinha meu irmão e eu. Ela, ao contrário de minha mãe, desistiu de ter filhos. Era um sonho completo: ela, sua amada e um filho, seriam um tripé e uma perna só não haveria coragem.

Encostei-a no meu ombro, passando meu braço para tê-la mais próxima. Beijou-me ternamente no rosto. Num encontro inusitado, beijei-a na boca sentindo o gosto de suas lágrimas. Beijava-me com amor, diferente de como o primeiro beijo.


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