Sétima Lua escrita por Pamela S


Capítulo 1
Sacrifício


Notas iniciais do capítulo

As palavras dos encantamentos estão de trás pra frente, pra saber o que está escrito em cada feitiço basta ler cada palavra da direita para a esquerda...

Boa leitura!



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—Euq so sotnev od etron medum asson etros. Euq so sorierreug ad Ainâcil metorred éta a etrom. A etion ári es rartsom e a aul luza siam amu zev ári... —Elina teve seu encantamento interrompido por uma visão, Gabriel, morto pelas mãos de Dorian.

—Elina, por que você não está mais recitando o encantamento? Continue de onde parou ou a Lua não irá surgir. —Ivenna avisou assim que ela se calou.

—Eu não posso... Encontre Steffannel, ela irá terminar o encantamento por mim. —pediu Elina entregando o frasco com poeira de estrela e as pedras da lua para Ivenna.

—Elina, falta muito pouco para terminar o feitiço. Você não pode sair assim...

—Se eu não for Gabriel morre.

Sem mais palavras ela atravessou o campo de batalha em uma corrida desenfreada. Não se importava com os gritos dos guerreiros, o som das espadas á brandirem ou mesmo com o cheiro de sangue fresco no ar, a única coisa que a preocupava no momento era chegar á Gabriel o mais rápido possível e impedir que sua visão se tornasse realidade e seu marido fosse morto no campo de batalha.

“Se um lobisomem for mordido por um vampiro ele morrerá...” As palavras de sua tia Pandora ressoaram em sua mente, fazendo seu sangue gelar. Elina respirou fundo e limpou a mente o melhor que pode para tentar localizar Gabriel no campo de batalha.

—Você consegue Elina. Concentre-se... —ela fechou os olhos e então todos os sons a sua volta cessaram, apenas as batidas de seu coração eram audíveis, logo uma segunda batida, mais forte, mais rápida que a sua se fez presente e então Elina virou-se. Alguns metros além de onde se encontrava, viu Gabriel metamorfoseado em lobisomem lutando contra Dorian. Ela correu o mais depressa que pode, mas sentia como se estivesse andando léguas no lugar de metros. Viu Dorian investir com as garras afiadas como adagas contra a garganta de Gabriel, e também viu quando ele desviou do ataque e derrubou o adversário no chão pronto para desferir o golpe final.

Seu alivio foi passageiro, pois outro vampiro preparou-se para atacá-lo pelas costas. Elina queria gritar para Gabriel, mas mesmo que ele ouvisse seu grito em meio aos sons da batalha não poderia derrotar dois vampiros ao mesmo tempo, pelo menos não depois de ter lutado por tanto tempo. Então ela voltou á correr com todas as forças e apenas interrompeu-se quando sentiu a lâmina de uma espada mercenária cortá-la do baixo ventre ás costelas, a dor fez com que tombasse sobre os joelhos, seu grito abafado pelos sons furiosos a sua volta, ela teria sido atingida por um novo golpe se Khalid não tivesse chegado á tempo de abater o mercenário.

—Elina...! –ele chamou preocupado.

—Estou bem. —respondeu com voz entrecortada, pegando o arco que trazia nas costas.

Ela respirou fundo para controlar a dor, concentrando-se novamente na batalha, retirou uma flecha de sua aljava e posicionou rapidamente no arco sussurrando enquanto fazia mira na direção do vampiro desconhecido:

— Etreca o ovla! –O alvejado caiu deitado contra a terra, á centímetros de Gabriel, retorcendo-se de dor, a flecha envenenada com verbena logo fez efeito, e o vampiro parou de se mover, morto.

—Es-erepucer... —ela recitou passando a mão suja de sangue pelo ferimento que se fechou rapidamente. —Estou bem. —assegurou, embora o corte cicatrizado por magia doesse muito.

Gabriel desviou sua atenção por apenas um instante, mas o suficiente para Dorian contra-atacar lançando-se contra o lobisomem e cravando-lhe as presas afiadas no antebraço.

—Não... —sussurrou Elina em total desespero antes de levantar-se e ir até Gabriel, que sob o efeito do veneno vampírico caiu de joelhos não conseguindo controlar seus poderes e voltando á forma humana.

—Rod... —disse ela dirigindo as palavras para Dorian, e mesmo sem olhá-lo, o vampiro foi ao chão lutando contra a dor intensa.

—Es-erepucer, Es-erepucer... Es-erepucer... Recupere-se Gabriel. Pelo amor dos deuses... Não morra. Não morra... —pediu ela abraçando-o, suas lagrimas lavando o torso nu do lobisomem.

—Inferno... O que aconteceu? —indagou Rafe parando ao lado de Elina, estava nu e com o corpo coberto por sangue.

—Ele foi mordido por um vampiro. Está morrendo.

—Não, ele não está. Vou leva-lo para o castelo, ele precisa ser tratado antes que o veneno se espalhe. Precisamos de você Elina, termine o encantamento. Eu cuidarei de Gabriel. —Disse Rafe aproximando.

—Eu não posso deixá-lo. Se eu não fizer nada ele morrerá... —as lagrimas dela lavavam o peito desnudo do marido.

—Me ouça, Elina. Ele não vai morrer. Irei levá-lo para o castelo e os alquimistas cuidarão dele, mas você tem que permanecer aqui e terminar o encantamento, ou todos nós estaremos perdidos... Confie em mim feiticeira.

—Confio em você Lobisomem...

—Não irei decepcioná-la... —Rafe prometeu antes de se metamorfosear em lobisomem, pegar o irmão nas garras e disparar em uma corrida desenfreada para o castelo.

Ela limpou uma lágrima inconveniente que escorria por sua face e tentou ir á procura de Ivenna para terminarem o encantamento, mas suas pernas fraquejaram e ela tombou sobre os joelhos.

Sentiu mãos fortes envolverem-na pela cintura, olhou para cima e viu o rosto sujo de sangue de seu guardião.

—Khalid. Preciso encontrar... Ivenna. Agora.

O berserk apenas assentiu. Sua espada em punho, abrindo passagem com um braço e carregando-a com o outro...

—Nada do que fizemos surtiu efeito, Lady Elina, e fizemos tudo que era possível por ele. Sinto muito, mas não é provável que Gabriel sobreviva por mais que uma noite... —disse Laurence mais como um pedido de desculpas do que como explicação.

—Laurence... Poderia impedir que o veneno se espalhasse pelo corpo dele? —Indagou Elina, sua voz exprimia uma calma resignada, completamente oposta á seu comportamento habitual, ela acariciava a mão esquerda de Gabriel enquanto falava.

—Não posso parar o veneno, mas talvez com a ajuda de Grigoire eu possa atrasá-lo por algumas horas. —declarou Laurence depois de refletir por um instante.

—Elina... Você não entende. —Grigoire rebateu aproximando-se de Elina e pondo a mão em seu ombro. —Gabriel só irá sofrer mais, as poções que podemos dar á ele retardarão o veneno por seis ou sete horas, mas serão horas de sofrimento. Não podemos fazer mais nada por ele. Entendo seu sofrimento, mas não seria justo...

—Apenas faça o que estou pedindo. —interrompeu a feiticeira soltando a mão de Gabriel e levantando-se de sua cadeira ao lado da mesa de jantar onde Gabriel fora amarrado para evitar que se debatesse por causa da dor. —Eu volto antes do alvorecer, mantenham-no vivo até lá.

Sem mais palavras Elina deixou o salão de jantar, sendo seguida por Megara, que a fez parar segurando em seu braço.

—Não tenho tempo para perder com você, não agora. —declarou a feiticeira sem voltar-se para Megara, puxando o braço e desvencilhando-se do aperto da rival.

—Afinal, qual é o seu problema? —gritou Megara pondo-se entre Elina e as escadas. —O que você ganha prolongando o sofrimento de Gabriel?

—Ganho tempo. Tempo para salvar a vida dele. —respondeu Elina depois de se certificar que ninguém as ouvia.

—Você só pode estar louca... Dois alquimistas experientes não conseguiram encontrar uma cura e você acha que pode fazer isso sozinha?

Elina não respondeu, apenas enfiou a mão no bolso da camisa e retirou de lá um pesado anel de prata com um grande diamante negro no centro e mostrou para Megara.

—Esse anel... Já o vi antes, mas não lembro onde.

—A ultima vez que você o viu foi na mão esquerda de Bóreas, ele me deu o anel antes de partir, durante o festival da primavera. Disse que eu iria precisar de seus préstimos, e quando esse momento chegasse tudo o que teria de fazer seria usar este anel.

—Ele não vai salvar Gabriel gratuitamente, e o que você pode dar á ele que valha tanto quanto a vida de Gabriel vale para você?

—A caixa de Anore. O legado da primeira feiticeira. Ele já foi um de nós, sabe como aquela caixa é valiosa, seja o que for que tenha dentro dela, Anore teve o cuidado de manter protegido por toda a vida. O feitiço que lacra a caixa é mais poderoso do que qualquer um que eu tenha visto. Bóreas é vaidoso, sempre quis provar que seu poder é mais forte do que o de Anore foi. Ele vai querer quebrar o feitiço. —disse Elina, tentando manter-se convicta, a esperança de que Bóreas aceitaria a troca era tudo o que lhe restava. —Mas vou precisar de sua ajuda.

—Faço qualquer coisa por Gabriel. —concordou Megara prontamente, não gostava nem um pouco de Elina, mas reconhecia que a feiticeira seria capaz de tudo para salvar o Lobisomem.

—Você só precisa dizer á todos que eu fui procurar tio Barnabas, ele é um mago ancião que vive nas estepes de Anturis, mas que às vezes some por uma década ou duas, minhas tias talvez não creiam que eu seria capaz de me afastar de Gabriel estando ele nesse estado, então tome cuidado, diga apenas que eu acredito que irei encontrá-lo e que ele irá nos ajudar...

—E se você não retornar até o amanhecer? —indagou Megara, sentindo algo próximo á simpatia pela outra.

—Então você saberá que meu plano não deu certo... —murmurou a feiticeira, guardando o anel no bolso novamente e descendo as escadas.

—Elina. —chamou Megara quando Elina estava ao pé da escada.

Ela virou-se.

—Boa sorte...

Elina assentiu com a cabeça depois andou apressadamente para fora da mansão, precisava de um lugar tranquilo, longe das tias para colocar o anel, não podia correr o risco de ser surpreendida. Para sua sorte ninguém estava prestando muita atenção á seu passo naquele dia. Mas não era algo de se admirar, depois da batalha havia muita gente ferida ou morta, todos estavam ocupados de alguma forma.

Andava tão rápido que nem sentiu que percorria o caminho do bosque dos salgueiros até estar diante do salgueiro chorão sob o qual Gabriel e ela passavam horas sem conta namorando.

A árvore era grande e consideravelmente afastada da mansão, provavelmente não poderia ser vista dali. Ela pegou o anel do bolso e o colocou no anelar direito, uma fumaça azul marinha começou á sair do anel e circular seu corpo em forma de espiral, depois de alguns instantes a fumaça se tornou tão densa que escureceu sua visão e então se dissipou. Elina não estava mais diante o salgueiro e sim em frente á uma grande janela que dava vista á um reino completamente devastado, nem mesmo a lua cheia que brilhava no céu contribuía para amenizar o impacto daquele cenário de destruição.

—Este é Loriah, o reino de Elíria. Ele já foi um prelúdio do paraíso, mas quando ela foi traída e depois derrotada o reino sucumbiu... —comentou Bóreas postando-se ás costas de Elina, ele colocou cada uma das mãos recostadas ao parapeito, aprisionando-a entre seu corpo e a janela.

—Por que me trouxe até aqui? —Elina perguntou, sentindo um arrepio percorrer seu corpo, sentia que algo ruim iria acontecer em breve...

—O momento é propicio... —retrucou o Necromante dando de ombros. —Foi neste castelo que tudo terminou e será nele que tudo recomeçará. Mas vamos ao que interessa. Sei o que você quer e tenho um preço á cobrar, nem perca seu tempo barganhando, a caixa de Anore não tem valor algum para mim. Ou você paga meu preço, ou vai embora á tempo de acompanhar o cortejo fúnebre de seu querido lobisomem.

Elina não deixou de notar que Bóreas havia dito que tudo iria recomeçar, mas não queria perder tempo com perguntas fúteis. Seu coração parou por uma fração de segundo quando ele disse que não queria a caixa de Anore, mas ainda restava uma esperança, ele estava disposto á aceitar outra coisa em troca da vida de Gabriel.

—O que tenho que dar em troca do antídoto?

—A única coisa que vale tanto para você quanto a vida daquele lobisomem. —Bóreas sussurrou bem perto do ouvido esquerdo de Elina, sua mão direita acariciava suavemente o antebraço que ela mantinha paralelo ao corpo. —Seus poderes, minha cara... Todos eles, incluindo sua imortalidade...


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Notas finais do capítulo

Gostou? Então se puder comente. Eu vou ficar muito feliz.