O Sabor da Perdição escrita por Stephany Damacena


Capítulo 1
Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Algum segredo ela guardava naqueles lindos olhos verdes!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/593926/chapter/1

Trocava passos apressados pela rua escura, olhava para os lados, inquieto. Por baixo do capuz da velha blusa de moletom, suava frio; respirava fundo, tentando conter a fadiga. Virou a primeira rua a esquerda e, nesse momento, a luz piscou. Ele sabia que ela tinha chegado. Começou a correr, esquecendo para trás seu amuleto da sorte, o qual ele não largava por nada. Algo lhe empurrou o peito, impedindo-o de continuar; ele cambaleou violentamente para trás e caiu sentando no meio-fio. Sentindo uma dor lancinante e uma falta de ar insuportável, cogitou a hipótese de ela ter lhe quebrado algumas costelas. Logo os arrepios que sua presença causava em seu corpo surgiram, ele estremeceu e encolheu-se ao ouvi-la sussurrar em seu ouvido.

— Pensou que poderia se esconder de mim, baby? — Ele podia sentir a acidez de suas palavras, carregadas de magoa e raiva sendo lançadas contra ele.

Seus encontros com Thamy eram sempre conturbados. Quando ela aparecia, ele podia jurar que era só fruto de sua imaginação, mas depois de alguns minutos era como se ela se materializasse diante de seus olhos... Com aqueles belos cabelos negros caindo em grandes cachos por suas costas nuas, olhos verdes com cílios cheios, fartos lábios pintados de vermelho, corpo curvilíneo e rosto delicado, fazendo-a até, parecer um anjo... Simples aparência, meu caro, não se engane. No momento em que ela apareceu em sua vida, ele poderia garantir que não era verdade e que ela só podia se tratar de um belíssimo anjo.

Caio se lembra exatamente da primeira vez que a viu: ela estava sentada no meio-fio, embaixo de uma chuva forte; estava toda molhada e choramingava baixinho. Ele se aproximou dela e agachou-se a sua frente. Tentando não assustá-la, ele tocou de leve seu joelho para alertá-la de sua presença. Ela apenas ergueu aqueles incríveis olhos verde-esmeralda e limpou o nariz com a palma da mão, em um gesto que só a fez parecer ainda mais indefesa.

— Posso ajudá-la? — Ele pousou a mão em seu ombro e, sem responder, ela apenas se jogou em seus braços e chorou descontroladamente. Depois de muitos minutos assim, ela adormeceu.

Caio, sem saber o que fazer, pegou-a nos braços com cuidado para não acordá-la. Sua casa ficava a apenas quatro quadras de onde encontrou a garota. Chegando em casa, colocou a garota em sua cama e a cobriu com vários cobertores para mantê-la aquecida. Estava ciente de que ela precisava de um banho, mas não ousaria acordar a bela garota. Então encostou a porta do quarto, rezando para que ela ficasse bem. Dirigiu-se ao banheiro e depois de uma ducha foi para o sofá. Era sexta-feira e sempre passava sua série preferida na televisão aquele horário; ele ligou a televisão, mas cansado logo adormeceu.

 

***

 

Acordei com uma movimentação na cozinha. Senti cheiro de ovos, bacon e torradas. Respirei fundo, apreciando ainda com os olhos fechados. Foi quando me lembrei da garota misteriosa e levantei-me de sobressalto, sentindo-me um intruso em minha própria casa.

— Gosta de ovos com bacon, não é!? — Ela fitou-me por sobre os ombros e sorriu, acolhedora.

— Ah sim, adoro! — Passei as mãos nos cabelos castanhos, desconcertado, pois não me lembrava de ter comida alguma em minha geladeira. — Como conseguiu... É... Os ovos? — Indaguei.

— Pedi a sua vizinha. Ela é uma senhora adorável. — Ela voltou a atenção para o fogão e cantarolou algo que não identifiquei.

Fui incapaz de me conter e comecei a reparar em seu corpo. Ela usava uma camiseta minha que, obviamente, era maior que seu número, mas que ainda sim deixava a mostra suas curvas salientes. Ela movimentava o quadril no mesmo compasso que mexia a panela; me senti hipnotizado.

— Algum problema? — Ela estava com as bochechas coradas, claramente envergonhada com meu olhar.

— Ah, me desculpe. — Baixei os olhos. — Acho melhor eu tomar um banho.

— Não demore, já está quase pronto. — Ela aumentou o tom de voz para que eu a ouvisse, pois já tinha indo para o banheiro.

Tomei um banho demorado, tentando crer que aquilo era mesmo verdade. Nunca fui um cara de sucesso com as garotas, e agora, tenho uma gata em minha cozinha. Ri baixinho, incrédulo.

Saí com a toalha enrolada na cintura, esquecendo-me por um segundo da garota. Corri para o quarto e troquei de roupa, colocando o mesmo jeans surrado e uma camiseta preta social. Quando faltava alguns botões para fechar, ela apareceu na porta.

— Vai demorar? Esta esfriando e não tem o mesmo gosto quando estão frios, sabia? — Ela brincou sem abrir a porta por completo, deixando só o rosto a mostra. Eu congelei. — Precisa de ajuda?

Ela entrou no quarto e começou a abotoar minha camisa. Parecia distraída e eu não me permiti interrompê-la.

— Prontinho! — Ela deu um largo sorriso, orgulhosa com minha aparência. — Vamos? — Disse pegando minha mão e me puxando pra a cozinha.

Comemos em silêncio. Assim que terminei, tomei um grande gole de café. Eu tinha que saber o nome daquela mulher.

— Gostaria de saber seu nome! — Disse colocando a xícara na mesa.

— Que falha minha! Me desculpe, me chamo Thamyla. — Ela corou. — Mas pode me chamar somente de Thamy.

— Ok, Thamy. Eu me chamo Caio. — Estiquei a mão por sobre a mesa para cumprimentá-la. Ela sorriu e retribui meu aperto de mão. — Se me permite a pergunta... O que aconteceu com você ontem?

Ela se endireitou na cadeira e terminou de comer sem me responder. Eu encostei as costas na cadeira para esperá-la, mostrando-me paciente. Ela evitou meu olhar, levantou-se e levou a louça até a pia, só então voltou a atenção para mim.

— Quem sabe outro dia te conte, Caio. — Ela apertou minha bochecha, brincalhona. — Porque agora tenho que ir.

Depois de tomar banho e se arrumar, ela apareceu no corredor. Estava com um vestido preto justo que mostrava as costas, com a maquiagem feita e os lábios vermelhos.

— Como estou!? — Ela deu uma voltinha para que eu pudesse avaliá-la de todos os lados e sorriu ao ver minha expressão.

— Esta... É... — Pigarreei, nervoso. — Maravilhosa. — Retribui o sorriso.

— Obrigada! Você é muito gentil, Caio. Agora, podemos ir?

— Claro. — Abri a porta do apartamento e em uma breve reverência, mostrei com a mão o caminho. — As damas primeiro. — Brinquei.

Ela desfilou até mim, dando gargalhada, pegou as barras do vestido e imitou uma reverência, flexionando os joelhos.

— Obrigada. — Passou pela porta com um floreio e me fitou por sobre o ombro.

Andamos pela cidade movimentada com meu velho carro, enquanto ela me guiava para o caminho que queria seguir. Paramos em frente a um apartamento pequeno de três andares; rosa claro, estilo antigo, janelas de madeira em formato arredondado e flores da estação na soleira. Uma senhora idosa regava as flores e fitou-nos curiosa, por causa do carro.

— Aqui é minha casa. Apareça quando puder. — Ela esticou-se no banco, até depositar um beijo em minha bochecha, e colocou um pequeno papel na minha mão. — E obrigada por ontem à noite.

— Não foi nada. — Senti uma vontade incontrolável de puxá-la e beijá-la.

Virei no banco, ficando de frente para ela, fitei seus olhos verde-esmeralda que sabiam exatamente o que eu iria fazer. Mirei seus lábios, coloquei dois dedos em seu queixo, a puxei em minha direção e a beijei. Primeiramente foi leve e depois mais violento e faminto; ela mordeu meu lábio inferior sorrindo, eu passei os braços por sua cintura e, tentei aproximar seu corpo do meu; ela bateu o joelho na marcha e riu entre nossos beijos. Depois de muitos selinhos amorosos, eu me afastei devagar, temeroso em soltá-la.

— Obrigada, novamente. — Ela abriu a porta e saiu. Olhou para mim enquanto fechava o portão e me mandou um beijo.

Arranquei o carro com o coração acelerado, troquei de marchas com as mãos tremulas. Quem era aquela mulher e o quer queria comigo, eu não sabia. Essas perguntas ecoaram em minha mente, durante todo o dia, intensificando uma sensação de falta que tomou o meu ser assim que a deixei partir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Sabor da Perdição" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.