IV

Rachel abriu a porta de seu apartamento ofegante pela subida das escadas, mais uma vez o elevador do prédio tinha dado defeito e ela fez uma nota mental para falar com o síndico sobre isso na próxima reunião de condomínio. A morena largou a bolsa e as chaves em cima do sofá e rumou para o quarto. Trocou de roupa e abriu as caixas de recordações que guardava em baixo da cama, encontrou diários antigos e resolveu fazer uma busca na internet com os nomes de suas ex-namoradas.

A baixinha abriu uma garrafa de vinho tinto e a depositou na mesinha de centro ao lado da papelada que havia juntado no quarto, pegou o notbook e abriu o navegador no Google.

— Vamos ver... Emily Filds. — Rachel digitou o primeiro nome da lista que lhe veio à cabeça e suspirou desanimada ao se deparar com mais de oito mil resultados encontrados. — Que merda, isso vai ser mais difícil do que eu pensei. Muito bem, vamos deixar essa de lado por enquanto e ir para a próxima... Charlotte Agron. — A busca pelo facebook não foi tão mais eficiente e aquilo se estendeu durante toda a madrugada.

A judia acordou na manhã seguinte com uma dor insuportável no pescoço devido à posição incômoda na qual havia dormido. Enquanto preparava um pouco de café ouviu o barulho de porta abrindo no corredor e uma ideia maluca passou por sua cabeça. A morena saiu correndo da cozinha e abriu a porta bem a tempo de encontrar sua vizinha pegando o jornal como sempre fazia todas as manhãs.

— Bom dia, Quinn! — Rachel sorriu envergonhada com o olhar sacana que a loira lhe deu, aquilo era tão típico dela que Quinn não fazia por mal e sim por hábito.

— Olá vizinha! — A loira sorriu.

— Eu sei que esse não é o melhor momento porque você obviamente tem companhia, mas... Você me disse outro dia que seu trabalho é revirar a vida das pessoas?!

— Sim, e daí? — A loira elevou a sobrancelha desconfiada.

— E se eu te pagasse pra fazer umas pesquisas sobre certas pessoas pra mim?

— Tudo bem, mas eu vou precisar de mais informações que essas.

— É que eu estou procurando minhas ex-namoradas e...

— Olha, se você tem alguma doença sexualmente transmissível é melhor nem contar pra elas.

— Não, não é isso. — Rachel riu ao perceber que a outra brincava para aliviar a tensão. — Eu só acho que, sei lá, uma delas talvez possa merecer uma segunda chance?

— Uhmm, não. Eu me recuso a participar disso. Se elas terminaram com você deve existir algum motivo bastante óbvio e bem, eu preciso protegê-las de você.

— Isso foi bem rude, você sabe.

— É, eu sei. Mas então, como você mesma disse, eu tenho companhia... Foi bom falar de novo com você Rachel. — Quinn sorriu debochada antes entrar e bater a porta na cara da outra.

— Você é uma idiota. — A baixinha gritou furiosa voltando pra casa.

“Isso não vai ficar assim!” A judia pensou com um sorrisinho vingativo. Rachel pegou seu sobre tudo rosa pendurado no cabide e saiu de casa novamente.

—Quinn! Quinn! Abre a porta! — A baixinha deu um sorriso convencido para a loira quando a mesma abriu a porta com a sobrancelha elevada em sinal de confusão. Rachel entrou no apartamento sem permissão da mais alta em busca de um sapato, tênnis ou qualquer outra coisa que servisse para a outra calçar enquanto uma loira com cara de modelo se encontrava completamente perdida no sofá.

— Você precisa vir comigo agora, Quinnie. A vovó caiu no banho e bem, você sabe que a saúde dela não é nada boa. Além do mais, ela esta molhada e nua e nós não queremos que os paramédicos vejam essa cena traumática, queremos? — A morena acabou achando um par de All Star surrado e um casaco jogados em um canto qualquer, pegou os dois e atirou na direção da loira que parecia perplexa. — Olha, você parece ser uma garota muito legal e tudo mais. E eu garanto que ela vai te ligar depois, mas nós realmente temos que ir. Foi bom te conhecer, tchauzinho. — Rachel sorriu falsamente para a loira alta antes de arrastar Quinn pelo corredor abrindo a porta do seu apartamento em seguida e empurrando a loira para dentro.

— Olha, preciso dizer que estou impressionada com sua performance. — Comentou Quinn fazendo uma reverência debochada assim que a morena fechou a porta.

— Obrigado. E só pra constar, peguei o papel principal nas peças da escola durante três anos seguidos.

— Isso foi realmente impressionante, merecedora de um Oscar.

— Enfia sua ironia no... — A baixinha respirou fundo. — Pois muito bem, aqui vai o trato. Você me ajuda a encontrar minhas ex’s e eu te ajudo a se livrar das suas atuais. Feito?

A loira pôs a mão no queixo pensativa, considerando a proposta. — Vou poder me esconder aqui todas as manhãs? — As duas se encararam desafiantes.

— Tudo bem, farei uma cópia da chave. — Rachel cedeu.

— Então Rachel Berry, é um prazer fazer negócio com você. — Quinn sorriu confiante estendendo a mão, que a baixinha simplesmente ignorou.

— Como você sabe meu sobrenome? — A morena perguntou colocando as mãos na cintura e encarando a loira.

— Sei mais coisas sobre você do que você imagina. — Quinn respondeu enigmática com um sorrisinho torto, a judia resolveu dar de ombros e voltou a ignorá-la.

[...]

— Obrigado Ann. — Rachel agradeceu a atendente depois de pagar pelos dois cafés e pelos bolinhos. A morena olhou para Quinn que tomava um gole da sua bebida enquanto piscava sedutoramente para uma mulher próxima ao balcão.

— Você é uma cretina. — A baixinha deixou escapar balançando a cabeça incrédula.

— Vou tomar isso como um elogio. — Quinn sorriu cafajeste.

— Olha só, eu fiz uma lista com o nome das garotas e eu preciso que você siga a ordem, ok? Descubra quais ainda estão solteiras, vivendo em LA e com um trabalho fixo.

Sem esperar por uma resposta a judia saiu do estabelecimento deixando a loira com uma folha de papel nas mãos para trás.

— Ei, espera. Eu ainda não entendi porque você está correndo atrás das suas exs. Figurinha repetida não costuma completar álbum, sabia disso?

— Eu não te devo satisfações da minha vida e quem é você pra falar alguma coisa? Aposto que sua relação mais duradoura foi com esse copo de café ai. — A baixinha parou na calçada de frente para Quinn e cruzou os braços impaciente tomando um gole da bebida fumegante em sua mão.

— Ei, pega leve comigo baixinha. — A loira levantou a mão em rendição.

— Só faz o que eu te pedi, ok? — Rachel revirou os olhos quando Quinn bateu continência sorrindo.

— Sim, capitã.

[...]

O aparelho celular de Rachel vibrou no bolso da calça jeans que ela usava enquanto esperava Brittany sair do provador após ter feito a penúltima prova do vestido.

— Eu não acredito que ela conseguiu achar Alison DiLaurentis.

— Quem? Aquela loirinha pirada que bancava a mágica? — Mercedes questionou tentando se aproximar da morena para olhar a mensagem que ela recebera.

— Por que diabos você está desenterrando suas ex-namoradas? — Quis saber Sugar. — Não acho que essa seja uma boa ideia e digo por experiência própria. — Complementou.

— Eu sei, Santana me disse isso também. Mas é tão óbvio meninas, se eu dormir com uma ex não terei ultrapassado o limite da solteirice e ainda posso ter a sorte de redescobri-las.

— Rachel, você terminou com todas elas por um motivo bem simples... Nenhuma era boa o suficiente. Por que você acha que dessa vez vai ser diferente? — Tina perguntou encarando a amiga.

— Eu não sei, mas não custa nada tentar. — A morena sorriu otimista dando de ombros. — Preciso ir agora, Quinn vai me deixar no endereço do bar aonde Ali trabalha.

— Quem diabos é Quinn? — Brittany, que ouvira toda a conversa, perguntou assim que saiu da cabine.

— Minha vizinha, ela está me ajudando com tudo isso. B, você não se importa de voltar com a Tina, não é?

— Não Rae, vai fundo nessa. Só tome cuidado pra não se machucar, ok? — Rachel sorriu para a cunhada antes de salpicar um beijo estalado em sua bochecha e sair saltitante da loja de noivas.

[...]

— Eu realmente não acredito nisso. — Comentou Rachel depois de dar um longo gole em sua cerveja.

— O que foi? — Quinn perguntou seguindo a direção do olhar da morena.

— Ela ainda continua sendo a mesma garota metida a Don Juan que eu conheci há seis anos, ou seja, ela não amadureceu nem mesmo um pouco. E o pior disso tudo, é que eu já esperava por isso.

— Então porque colocou o nome dela no topo da lista?

— Porque ela foi a melhor transa da minha vida. — Respondeu simplesmente antes de jogar algumas notas em cima da mesa e sair.

— Você diz isso porque nunca transou comigo. — Brincou a loira com um sorriso sacana quando conseguiu alcançar a baixinha.

— No dia em que eu transar com você, avise minha irmã. Vou precisar de uma avaliação mental minuciosa, porque né?

A loira ignorou o sarcasmo da baixinha. — E porque não curtir essa noite com a loira gostosa em nome dos velhos tempos?

— Mesmo que isso não fosse aumentar meu número, não quero mais perder meu tempo com esse tipo de mulher.

— Ah há. Então é disso que se trata? É por isso que você não quer dormir comigo, só pra não aumentar seu número?!

— Não exatamente, existem muitos outros motivos pelos quais eu não quero dormir com você. E eu até listaria eles pra você, mas não temos tempo o suficiente nessa vida.

— Ah, fala sério Rachel. Por que você liga pra isso? Quem é que se importa, em pleno século XXI, com o número de pessoas com as quais você transou?

— Mulheres decentes? — Debochou a judia com um sorriso.

— Touché! Essa doeu lá na alma... Por que você adora pisar em mim desse jeito, estrelinha? — Rachel parou de caminhar no instante em que ouviu um de seus apelidos de infância sair dos lábios de Quinn. Não qualquer apelido, um que somente duas pessoas usaram durante toda sua vida. — Por que parou de andar? — A loira perguntou preocupada.

— Não é nada, só vamos pra casa.