Doce Fruto de um Passado Amargo escrita por XxLininhaxX


Capítulo 32
POV Hyoga/POV Milo


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoinhas!!

Senti vontade de postar mais um cap!!
Tô feliz que consegui voltar a escrever com mais frequência ^^

Espero q gostem!!

^^v



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Eu e Isaak subíamos as escadas em silêncio. Eu ainda estava extasiado com a chegada de Isaak. Sequer conseguia acreditar que ele estava ali comigo. E parecia até que ele sabia que eu precisava da presença dele ali, naquele exato momento. Não sabia como ele conseguira sair da Sibéria e estar ali. Isaak era muito mais esperto que eu. Diferente de mim, ele já tinha se acostumado com aquela vida e não tinha muitos problemas em se arriscar. Era como se ele soubesse o valor que possuía e conseguisse driblar qualquer tentativa terceira de lhe frear. E talvez por ser assim que ele acabou se aproximando de mim. Acredito que ele tenha se compadecido por eu ser tão ingênuo e emotivo. De alguma forma ele sabia que aquela vida não era pra mim. E desde então ele tem tentado me proteger a qualquer custo, mesmo que aquilo significasse dar sua vida, literalmente. Eu sabia que ele não via as coisas da mesma maneira que eu. Eu sempre coloquei muito mais peso nas coisas. Talvez por isso, jamais conseguira afastar a tristeza de mim. Se eu dissesse que devia a vida à Isaak, ele me repreenderia como já o fizera antes. De acordo com ele, eu teria feito o mesmo se a situação fosse oposta. Ele não estava errado, mas isso não diminuía em nada seu ato heróico.

De certa forma, senti meu coração se acalmar um pouco. As coisas estavam fora do que eu havia planejado. Tudo estava mais difícil do que eu imaginara. Como se não bastasse minha tentativa falha de me afastar, agora minha avó estava internada. E o que eu faria? Isso saíra completamente do meu controle. Já não sabia se conseguiria deixá-la em um momento como esse. Do jeito que meu pai falou, ela provavelmente já não tinha muita esperança. E novamente a culpa era minha. Se ela não tivesse assumido aquele compromisso estúpido com a minha mãe, ela poderia ter vivido o resto dos seus dias tranquilamente. Mas novamente o peso da minha existência estava afundando outra vida. Por quê? Por que eu tinha que estar ali? Por que eu não morri no lugar da minha mãe? Ela poderia ter voltado para meu pai e feito uma nova família. Por que ela escolheu morrer para que eu vivesse? Agora eu estava ali, sendo um estorvo para mais pessoas. Quanto tempo mais eu teria que agüentar aquilo? Quantas vidas mais afundariam por minha causa?

Senti meus olhos marejarem. Eu estava cansado. Eu estava esgotado. Entramos no meu quarto e eu fechei a porta atrás de mim.

— Caramba, Hyoga. Essa casa é muito to... – interrompi meu amigo, ao abraçá-lo repentinamente. Ele me abraçou de volta. – Você não agüenta ficar sem mim, não é?

Eu apenas o abracei mais forte, já me entregando às lágrimas. Eu não queria que ele fosse embora mais. Eu já não conseguiria fazer nada sozinho. Já estava praticamente entregando o futuro nas mãos do destino. Quem sabe Isaak conseguisse me dar forças para seguir com o que eu estava planejando.

— Hyoga, eu não gosto de te ver assim.  – ele se afastou um pouco para olhar em meus olhos. – Você está pálido, com olheiras e olhos vermelhos, está mais magro do que normalmente. Todo ano você fica assim. Achei que se estivesse com seu pai, talvez fosse diferente. Mas você não se permite ser cuidado por ninguém, não é?

— Você sabe que não posso. – falei, sentando-me na minha cama e limpando minhas lágrimas.

— Não te entendo. Seu pai te aceitou muito bem, pelo visto. Se você contasse tudo, tenho certeza que ele resolveria o problema. – Isaak jogou sua mochila no chão e sentou-se ao meu lado.

— Lembra que eu te disse que minha mãe falava que meu pai era uma pessoa super correta? – ele apenas acenou com a cabeça. – Parece que ela não exagerou em nada. Sendo assim, o que você acha que ele faria?

— Você acha que ele chamaria a polícia? Mas isso colocaria sua vida em risco. Mesmo que seu pai seja correto, duvido que ele faria algo assim.

— Mesmo que meu pai não chamasse as autoridades, você acredita que ele me deixaria ir assim tão fácil?

— Seu pai parece ter dinheiro, Hyoga. Mesmo que ele tentasse chantagear seu pai, não creio que isso seria um problema.

— E quando a chantagem ia acabar? Você acha que ele não faria meu pai refém dessa situação? Ele provavelmente ia extorquir até o último centavo que pudesse.

Isaak pareceu pensativo com a minha declaração.

— Eu entendo seu ponto de vista, mas não acho certo você excluir seu pai dessa decisão. Hyoga, pode não parecer, afinal a gente já viveu coisas que uma pessoa normal passaria uma vida sem vivenciar. Mas você só tem 14 anos! Você é quem deveria ser cuidado! Sinceramente, duvido que seu pai não faria de tudo pra te proteger.

— Mas a que custo? Eu estou cansado das pessoas se prejudicarem pra me proteger! Minha mãe morreu por isso, minha avó adoeceu por isso, você... – não consegui continuar, fazendo com que ele suspirasse.

— Será que dá pra esquecer isso? Já conversamos várias vezes e você continua se culpando.

— Mas eu sou culpado.

— Hyoga, o que as pessoas fazem por nós merece agradecimento e ponto. Sinceramente, você não pode controlar os sentimentos de outras pessoas. Mesmo que você acredite não ser digno de todos os sacrifícios que alguém faz por você, não lhe compete tomar essa decisão. Coloque-se no lugar dos outros. Por exemplo, você está se sacrificando para que seu pai não seja atingido. Você acha que ele ficaria feliz ao saber disso? – apenas neguei com a cabeça. – E você acha que seu pai é culpado de você se sacrificar?

Jamais! – falei categoricamente.

— Então por que você se coloca nessa posição de culpado por todas as tragédias que já aconteceram ao seu redor? As pessoas tomam decisões e sofrem as conseqüências. A vida é assim.

— Eu só não quero causar problemas pra mais ninguém. – ouvi Isaak suspirando.

— Sabe o que você precisa? – olhei para ele, confuso. – De um ataque de cócegas.

Mal tive tempo de reclamar e já estava sendo consumido pelas cócegas que meu amigo fazia. Ele sabia que aquele era meu ponto fraco. Eu sempre fui muito sensível a cócegas. Por isso estava rolando de um lado para outro em cima da cama, enquanto Isaak ria com a minha reação. Não tinha passado nem uma semana que tinha saído da Sibéria, mas fora tempo suficiente para que eu sentisse falta de Isaak. Ele era como um irmão mais velho. Ele sempre cuidava de mim, me protegia e me defendia de qualquer coisa que pudesse me atingir. Tê-lo comigo ali trazia certa segurança.

— O que está acontecendo aqui?

~~//~~

POV Milo

 

Camus havia ido para o hospital e me deixara com os meninos em casa. Eu ainda estava sem saber o que fazer exatamente. A reação de Hyoga no hospital ainda estava mexendo comigo. Como se não bastassem minhas suspeitas, agora tinha mais um ponto a ser pensado. Isaak era mais uma peça naquele quebra-cabeça. Mas sua presença ali não fazia muito sentido. Sua relação com Hyoga não fazia muito sentido. Cúmplice? Vítima? Qualquer um dos dois era possível. Mas também era possível que ele não tivesse nada a ver com o que Hyoga vivenciara. E talvez ele realmente estivesse ali de férias com os pais. Essa era a teoria que eu preferia acreditar, mas minha intuição dizia o contrário. Droga! A situação apenas se complicava cada vez mais. E a cada nova informação, eu me via mais distante de ajudar meu filho. Isso era o que mais me incomodava. Por mais difícil que fosse o problema, eu e Camus tínhamos recursos suficientes para resolver qualquer coisa. Pra falar a verdade, mesmo que todas as minhas intuições se confirmassem e Hyoga realmente tivesse medo de alguém que lhe fizera mal, isso não era muito problema pra mim. Eu tinha plena consciência do poder e influência que eu tinha em minhas mãos. Se havia alguém mal intencionado atrás do meu menino, eu poderia acabar com ele em um piscar de olhos. Não, eu não fazia parte de nenhuma máfia ou qualquer coisa nesse sentido. Mas eu tinha muitos contatos em todas as áreas possíveis. Políticos, empresários, autoridades e, em último caso, alguns poucos contatos que eu sabia que estavam envolvidos nesse submundo de tráfico, mercado negro e coisas do tipo. Eu nunca fiz nada por baixo dos panos, nunca mexi com nada nesse sentido, mas conhecia pessoas que o faziam. E não era qualquer pessoa, isso eu garantia. Então, quem quer que estivesse causando toda aquela perturbação no meu menino, se arrependeria profundamente. Mas a questão não era essa! A questão era o estrago que já tinha sido feito. Aquilo eu não conseguiria apagar! Eu conseguiria dar fim à existência de qualquer pessoa, mas dentro da cabeça de meu filho, essa existência ainda permaneceria em forma de ferida. E mesmo que a ferida fosse fechada, a cicatriz estaria ali. E só aquilo já poderia ser suficiente para que nossa convivência fosse prejudicada.

Deixei aquilo de lado por um momento. Achava melhor começar a preparar o almoço. Estava pensando onde eu poderia levar aqueles dois mais tarde. Se eu ficasse com eles em casa, provavelmente ficariam enfurnados naquele quarto o dia todo. E eu queria me aproximar mais de Isaak. Eu precisava entender um pouco mais dele para definir se sua presença ali seria benéfica para Hyoga. Se ele fosse cúmplice de alguém, não ia querer que ele ficasse perto do meu loirinho. Mesmo que Hyoga fosse contra. E eu precisava ter mais atenção, pois Isaak parecia muito mais astuto que Hyoga. De alguma forma eu me identificava com ele, quando mais novo. Tinha que ter lábia pra me dar bem. Se esse fosse o caso, eu teria que prestar um pouco mais de atenção. De qualquer forma, provavelmente não seria problema pra mim. Se a questão era ser astuto, eu tinha anos de experiência à frente de Isaak. Era umas das coisas as quais poucos eram melhores do que eu.

Fiz um almoço rápido. Não estava com saco pra fazer nada elaborado. Assim que terminei, subi para o quarto de Hyoga, para chamá-los. Não quis bater à porta, entrei sem chamar a atenção. Surpreendi-me ao ver que Isaak fazia cócegas em Hyoga. De certa forma, aquilo aqueceu meu coração. Pareciam dois irmãos brincando. Esperava que Isaak fosse confiável, pois seria complicado se tivéssemos que afastar aqueles dois.

— O que está acontecendo aqui? – perguntei, interrompendo a sessão de cócegas. Hyoga parou de rir aos poucos, limpando uma lágrima que teimava em cair de seu olho. Isaak olhava para mim tentando entender como reagir.

— Estava tentando animar um pouco as coisas. – Isaak respondeu, como que tentando obter alguma reação minha, para entender se poderia continuar ou não. Aquilo apenas me fez sorrir.

— Bom, nesse caso... – falei, aproximando-me da cama. - ... acho que me juntarei a você.

— Na... Não...

Hyoga tentou, em vão, evitar o ataque seguinte. Tanto eu quanto Isaak fazíamos cócegas nele. Aquelas risadas enchiam meus ouvidos como música. Como eu sonhei com aquilo. Será que ainda poderia ter esperança de que as coisas seriam assim, dali para frente? Tudo que eu queria era proporcionar alegria na vida de Hyoga. Tudo que eu queria era que ele abaixasse a guarda e confiasse em mim. Confiasse de que a única coisa que eu faria era lhe proporcionar momentos de felicidade. Tudo que eu precisava é que ele entendesse que não tinha que se preocupar com nada, Camus e eu tomaríamos conta do resto. Ele só precisava viver, crescer, se desenvolver de maneira saudável.

Eu e Isaak paramos por um momento. Hyoga tentava recuperar o fôlego. Isaak também sorria. Ele parecia se deleitar com a felicidade do loirinho. Aquilo me dizia que provavelmente eu não precisava me preocupar tanto assim com Isaak. Pelo jeito que ele olhava para Hyoga, era perceptível o carinho que tinha por ele. Claro que isso não provava que ele era uma vítima, mas pelo menos já dava pra perceber que ele não queria o mal de Hyoga. Seria muito difícil que ele conseguisse fingir aquilo.

— Is-isso... foi in-injusto... – disse Hyoga, ainda recuperando o fôlego.

— Também acho. – respondi, ainda em tom de brincadeira. – O que você acha que pode fazer para mudar isso? – olhei divertido para meu menino, que prontamente entendeu o que eu queria.

— Revanche!

Hyoga partiu pra cima de Isaak, também fazendo cócegas. Esse, por sua vez, também se demonstrou bem sensível. E, claro, eu acompanhei o loirinho. Já que Isaak estava brincando, eu não via problemas em entrar no jogo. E ele não pareceu ter algum problema com isso. Não vi desconfiança, nem relutância com a minha aproximação. Achei isso ótimo. Isso significava que ele não via ameaça em mim. Era um ponto a mais para acreditar que ele realmente não era o vilão nessa história. Mas ainda faltavam mais informações pra que eu pudesse confiar nele. Ainda existiam algumas coisas que não faziam sentido. Entretanto, não me preocuparia com elas agora. Até porque, com um pouco mais de tempo, elas se revelariam.

— Ch-chega... – Isaak pedira e Hyoga e eu paramos. Sentei-me na cama, junto com Hyoga, vendo Isaak se levantando.

— Vocês dois parecem bem próximos. – falei, puxando assunto.

— Isaak é como um irmão pra mim. – Hyoga falava com um brilho de admiração em seu olhar.

— É verdade. Desde que conheci Hyoga, sabia que ele seria como um irmão mais novo. – Isaak tinha o mesmo brilho.

— Mais novo? Quantos anos você tem? – perguntei.

— Sou só um ano mais velho que Hyoga, tenho 15. Mas quando conheci Hyoga, ele parecia ser muito mais novo que eu. Aí me apeguei como se ele realmente fosse um gatinho assustado. – Isaak riu ao ver Hyoga o cutucar por aquela fala.

— Pra você falar desse jeito, quer dizer que é filho único, então?!

— Sou sim. Sempre quis ter um irmão, mas meus pais não animaram. Por sorte, eu encontrei esse daqui por conta própria. – Isaak passou o braço pelos ombros de Hyoga, em um meio abraço.

— Fico feliz por vocês dois. É bom saber que Hyoga tinha um amigo assim onde morava. Só foi uma surpresa pro Camus e eu, porque a avó de Hyoga não nos falou nada sobre ele ter amigos. Ela até disse que ele sempre foi muito recluso e quase não saía de casa. – sim, agora eu estava “jogando verde pra colher maduro”. Vi que minha afirmação deixou Hyoga um pouco desconfortável, mas não pareceu abalar muito seu amigo.

— De fato, eu quase não via o Hyoga. Era mais nos dias que ele aparecia na cidade pra comprar comida e remédios pra avó dele. Eu morava na cidade e ele em uma vila um pouco mais distante, então o contato era mais difícil. Mas de um jeito ou de outro, a gente conseguiu se aproximar um do outro. Lembro-me que a gente se viu pela primeira vez na biblioteca da cidade. Você lembra, Hyoga? – ele virou-se para meu loirinho, como que querendo que ele confirmasse a história.

— Lembro sim. – respondeu meu filho, sem muita confiança. Isaak começou a rir.

— Do jeito que você fala, não dá pra acreditar que lembra não. Mas, enfim, eu lembro direitinho. Ele tava encolhido em um canto, lendo um livro que parecia muito maduro pra idade que ele aparentava ter. Eu achei aquilo engraçado e fui puxar assunto. Foi muito difícil fazer ele conversar comigo. Ele era muito tímido. No fim das contas, acabamos nos encontrando lá mais vezes e fomos ficando mais amigos.

Se Isaak estivesse me contando aquela história, sem que Hyoga estivesse por perto, provavelmente eu teria acreditado. Mas Hyoga era um péssimo mentiroso. Ele claramente não parecia nem um pouco familiarizado com aquela narrativa. Provavelmente tinha algumas pontas de verdade ali, mas eu não saberia dizer exatamente o que era.  De qualquer forma, aquilo me confirmou que realmente Isaak era muito mais astuto que Hyoga. Ele falava com confiança, sem nenhuma sombra de dúvida no que dizia. Sua postura não dava espaço para qualquer questionamento. E isso só me fazia ter mais certeza de que seria muito difícil obter qualquer tipo de informação de Isaak. Como eles pareciam ter uma relação muito forte, provavelmente Isaak diria e faria exatamente o que Hyoga quisesse. E se tinha uma coisa que Hyoga não queria era nos permitir saber toda a verdade do que aconteceu na Sibéria depois que sua mãe falecera. Eu teria que forçar um pouco mais as coisas, mas não naquele momento.

— Por que não descemos pra almoçar e vocês me contam mais sobre essas coisas? Eu já preparei o almoço. Estão com fome? – perguntei com um leve sorriso no rosto.

Os dois me afirmaram com a cabeça e eu me levantei para sair do quarto.

— Então não vamos esperar a comida esfriar.

Continua...


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