Acho que se eu fosse um meme eu seria aquele do 'Deus me criando' e ele falaria algo como ''agora um pouco de talento culinário.. Não.. Esquece o talento culinário e vamos por mais sono.. Opa entornou."

Naquela manhã minha mãe decidiu que não me amava tanto assim e por isso ia me abandonar em casa sozinha e sem nada pra comer. Na verdade tinha coisas pra comer, só não tinha coisas que eu soubesse preparar... E como Newton disse em sua Nona Lei : "Todo corpo que vai mal na cozinha tende a passar fome". Newton.. não erra uma! Quando eu coloquei o primeiro pedaço de carne na boca eu tive a certeza de que nem o meu cachorro comeria aquilo.

Desde que me entendo por gente, toda e qualquer experiência que tenho na cozinha é traumática. Um exemplo de situação traumática:

Fora que tudo que envolve cozinha pra mim é sempre traumático.

– Felipa? Cheguei!
– To aqui na cozinha mãe!
– Tá. Já to indo aí.
– Tira uma dúvida.. Quantas xícaras coloco no arroz? Acho que coloquei um pouco demais...
– Xícaras de que? Água?
– De sal mesmo...
– Sal?!
– É.
– Jesus! To indo aí agora!
– Tá.. Adivinha quem ligou?
– Deus!
– Não. A tia Maria. Ela queria dizer que o gato da filha do marido da prima Anástacia morreu de câncer. Ou seria o marido da filha da prima..?
– Você não tem nenhuma tia Maria!
– Ai meu Deus! Então quem me ligou?! E de quem era o gato?
– Você acha que estou ligando para gato?! Olha o estado dessa cozinha Felipa Augusta! E o que você está preparando nessa panela? Meu Deus! Isso boiando é...?
– Alho.
– E você não lembrou de tirar a casca?
– Precisava?

Sim. Hoje eu sei que devo tirar a casca do alho. Não. Nunca mais ouvi falar do gato da filha do marido da prima Anastácia... Ou seria marido da filha da prima? Enfim.

Talvez grande parte disso seja culpa da minha mãe, que nunca teve paciência comigo quando o assunto é cozinha. Isso quando ela não tem o disparate de dizer: "A filha de fulana tem só dez anos e já cozinha de tudo!''. Ótimo, adoraria ter a filha da fulana como cozinheira.

O lance é que: Eu tenho alguma coisa que quando coloco os pés na cozinha tudo dá errado. Coisas queimam, outras ficam cruas, tem ainda as que conseguem ficar cruas com partes queimadas.

Mas também.. A cozinha é uma coisa do mal! Aliás a indústria alimentícia toda é! Por exemplo:

Por que você acha que sua embalagem de ruffles só vem com vinte por cento das batatas que era pra vir? Exatamente! Estão sendo contrabandeadas, por crianças Avatar dobradoras de ar que preenchem o espaço vazio com vento!

E porque o Feijão Carioca tem esse nome se no estado do Rio se come em geral feijão preto? Mistério;

E o principal como a Danone contrabandeou aqueles mini esquimós pra fazer o comercial do Danoninho Ice?

Enfim.. Mas isso é assunto pra outro momento.

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Acho que outra parte do meu trauma de cozinha está ligado a louça. Porque sempre fui a responsável pela louça. E eu sempre tive a idea quando era mais nova de que eu deveria devolver os potes de acordo com como eles vieram. Ou seja, se uma vizinha mandou um pote com alface grudado do lado de fora eu deveria devolvê-lo exatamente com o mesmo alface. Não entendo porque minha mãe até hoje briga quando faço isso...

Fora que louça é aquela coisa bem filha da puta. Porque quando nossas mães estão lavando nós temos o maior cuidado para colocar algo na pia. A respiração é controlada, os passos cuidadosos, e sabe que qualquer movimento brusco a véia pode voar no seu pescoço!
Agora quando somos nós que lavamos, elas esperam até estarmos quase terminando, então chegam com uma pilha de potes engordurados, daquele tipo que a gordura não sai NUNCA! E jogam na pia, jogam o cabelo para o lado, dão um sorriso diabólico daqueles "Vai chorar quirida?'' e saem rebolando (e olha que minha mãe nem tem bunda!).

Bem.. o papo está ótimo. Mas agora tenho que terminar a janta. Minha mãe disse pra eu fazer uma massa folhada. Já botei o trigo, o leite e as claras, mas to em dúvida na parte da folha... Aqui tem alface. Será que serve?