E Depois do Sorriso... escrita por Dreamer N, Omoplata Errada, Mirella Vieira, T Phoenix, Majestar


Capítulo 1
Único - E depois do sorriso, o quê é que vem?


Notas iniciais do capítulo

Fanfic de obra coletiva de iniciativa do grupo "Fanfictions OUAT" do Facebook, onde decidimos dar uma continuação - mais que merecida - ao episódio 4x05.

Swan Queen ♥



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A loira sorriu desajeitadamente, e num misto de alívio e ansiedade trocou o peso do corpo de uma perna para a outra.

- É um começo. - disse ela, ainda sorrindo daquele jeito que chegava a ser até um pouco bobo.

A morena encarou-a em silêncio, naquele olhar intenso e profundo, logo após o revirar de olhos que tinha sido acompanhado pelo surpreendente "eu não quero-te matar" dirigido à loira. Sua ... amiga?

O contato visual foi quebrado, e sem se aperceber, Regina se deu conta que não mais encarava a loira, mas sim o chão. O que estava acontecendo com ela?

- Regina? - escutou mais uma vez, talvez naquilo que fosse a milésima vez naquele dia, o seu nome sendo clamado por Emma. - Você está bem?

Desviou os olhos do chão, obrigando-se a encarar as orbes verdes, vivas, intensas, inundadas de uma preocupação genuína. Sentiu vagarosamente a sua boca rasgar-se num sorriso tímido, quase como se aquele simples ato de sorrir para aquela pessoa implicasse a mais dura necessidade de valentia. Mas na verdade valente mesmo foi Emma que depois de ver o sorriso capaz de iluminar Paris disse:

- Que tal um gesto para celebrar nossa amizade? - disse Emma e a esperança do contato físico sem ter nascido do ódio ou da precaução brilhou nos olhos verdes.

- O que você quer? Um aperto de mão? - a morena retrucou nervosa, a expectativa do contato físico com a loira de forma deliberada a deixava com as pernas bambas.

A Xerife teve vontade de revirar os olhos nas órbitas, mas se conteve. Em seguida estendeu a mão direita para a Ex-Rainha esperando pela iniciativa de Regina.

Regina baixou os olhos para a mão estendida para ela. Alguns longos centímetros as separavam fisicamente uma da outra, mas isso não era barreira suficiente para que Regina sentisse que aquela proximidade a esmagava. A incomodava sinceramente também. Mas, ao invés dessa sensação a impulsionar ao afastamento, ela fazia precisamente o contrário. A morena queria atravessar aquela linha do incómodo para quem sabe mergulhar na alegria e conforto de ter uma amiga verdadeira. Uma semelhante, igual, como a loira apelidara. Viu, como se estivesse assistindo a uma cena de TV, a sua própria mão esticar, ao mesmo tempo que seu corpo avançava alguns passos na direção da outra mulher.

Suas mãos tocaram, mas foi Emma, reunida em sua valentia de Salvadora, a firmar o aperto das mãos.

- Mas , o que ... - a frase morreu na boca de ambas. As mãos se soltaram com o choque repentino, e as duas se encararam horrorizadas,

- Eletricidade estática. - balbuciou, forçando em jeito de piada, Emma.

- Talvez um aperto de mãos tenha sido demasiado para já. - revidou Regina, sem conseguir segurar o tom sarcástico. - Talvez ...

- Talvez você possa baixar a guarda comigo só por um minuto e aceitar ... hmm ... - ela se mexeu desconfortável no lugar por instantes.

- Sim?

- Ah .. jantar, talvez? - perguntou, mas apressou-se a acrescentar. - Henry ficará muito feliz.

Regina ao escutar sobre o jantar sentiu o seu rosto ruborizar. Sentia vontade de sumir dali ao mesmo tempo que o rosto cheio de expectativa de Emma lhe dava vontade de fazer o contrário. Não se sentia dessa maneira há muito tempo... Seu coração acelerava à medida que os segundos passavam, e aquele aperto de mão a deixou sem reação.
Ela sabia muito bem o que significava aquele choque. E ela que passou uma vida inteira achando que nunca mais o iria sentir novamente....

Ela queria culpar a magia, a eletricidade estática por aquele eletrizar em sua pele, mas se acontecesse como da última vez ela certamente estaria perdida. Somente Swan era capaz de atingi-la daquela forma. Desde a guarda compartilhada de Henry, igualmente dessa vez, ela via o seu filho mais alegre. E por mais que as duas teimassem em usar Henry como motivo, ambas sabiam que a relação entre as duas passara de Prefeita e Xerife, para Charming e Mills, para somente Emma e Regina. O agora estava totalmente a mercê de sua resposta. E ela balbuciou um sim.

Na verdade, assim que chegou ao Granny's e viu Emma acenando numa das mesas ao fundo percebeu imediatamente que deveria ter recusado o convite. A loira exibia um sorriso ainda mais luminoso do que aquele que mostrara antes a Regina, ainda antes do convite. E pior, não havia sinal de Henry ali. O menino não estava sentado ao lado da mãe, pelo contrário, Emma parecia estranhamente confortável e natural por ser apenas ela naquela mesa.

- Miss Swan. - Regina cumprimentou em tom áspero ao se aproximar. Como resposta, a loira revirou os olhos e indicou a cadeira da frente para a morena.

- Qual é Regina? Acha mesmo que essa formalidade toda combina com o Granny's? - perguntou em tom de brincadeira enquanto via a morena se sentar à sua frente.

- E Henry?

- Ficou com meus pais. - informou.

Regina estava começando a ficar nervosa, e as palmas suando no vinco de sua calça.

- Me diga de novo por que você escolheu o Granny's para jantarmos?

- Quero formar novas lembranças aqui. Lembranças boas. Quero que esse seja realmente um recomeço para nós duas. - Emma estendeu a mão por cima da mesa com a palma aberta esperando a morena encontrá-la no meio do caminho. A morena, inquieta, desviou o olhar para a mão em cima da mesa.

- Emma ... - começou, vacilante, antes de voltar a encarar as esmeraldas expectantes. - ... não queira avançar demasiado depressa.

A loira levantou a sobrancelha pensativa, e, vagarosamente, deixou que a sua mão fechasse sobre o ar, antes de a recolher para si novamente. O clima pareceu dobrar de peso instantaneamente.

- Tudo bem. Eu lamento ... - havia um tom velado de decepção na sua voz que ela tentou disfarçar com um sorriso torcido nos lábios rosados. - ... a última coisa que eu quero é te fazer sentir mal.

Emma jurou para Regina que não ia desistir de tentar, porém teria que ir devagar nesse lance de amizade. Regina não tinha amigos, ou pior realizou Emma, Regina nunca teve uma amizade sincera antes. Não que ela fosse boa nesse negócio de amizade também, a loira acabou por namorar todos os seus amigos e amigas, mas isso era detalhe, por que isso não iria acontecer com a morena. Certo? Divagou por um instante antes de Ruby chegar à mesa com seus pedidos corriqueiros.

- Ruby, como você sabia o que íamos pedir? - questionou a Xerife.

- Você sempre pede a mesma coisa e Regina também. - respondeu com um sorriso. - Vou deixar vocês sozinhas para conversar mais a vontade.

O ar voltou a pesar na mesa assim que a garçonete se afastou. Regina fixou sua atenção no prato a sua frente e, por um longo momento, Emma acreditou que o jantar inteiro seria silencioso se ela não fizesse algo. No entanto, a loira foi pega de surpresa ao ouvir a voz de Regina.

- Não é educado encarar alguém enquanto come, Swan. - a morena não havia levantado o olhar nem por um instante, o que fez Emma rir ao notar que estava tão claramente observando os atos da outra mulher que esqueceu-se de si própria e de sua refeição.

- Desculpa. Eu só estava tentando pensar em algo para continuarmos o assunto. - Emma deixou um sorriso divertido escapar de seus lábios, enquanto via a atenção das íris castanhas voltando-se para si.

- Desde quando a salvadora pensa antes de fazer algo? - o tom cínico de Regina não tinha o mesmo tom de raiva das vezes anteriores. Mas sim um tom de deboche, com a sobrancelha direita sutilmente levantada e seguido de um leve sorriso que mostrava certo divertimento com aquilo. E foi esse sorriso que impediu Emma de sentir qualquer desgosto com o comentário.

- A gente aprende com a prática. - a loira fechou os olhos e encolheu os ombros, num gesto de conformismo, em seguida tornou a encarar a morena a sua frente e abriu um sorriso fofo para a outra.

-O quê houve agora? -Regina não se conteve a perguntar, vendo aquele sorriso mais uma vez estampado no rosto da loira, e ela nem sabia por quê ele teimava em aparecer em sua presença.

-Como assim o quê houve?

-Por quê ta sorrindo?

-Ué, estou feliz. Nós fizemos as pazes, podemos não ser melhores amigas ainda.. -estreitou o olhar como se isso dependesse de Regina, que segurou um revirar de olhos. -.. mas estamos jantando juntas, isso é mais que um começo. Você não acha?

-Posso dizer que sim. Mas ainda há um grande caminho a se percorrer. -arqueou uma sobrancelha enquanto voltava sua atenção para a loira e logo depois retornou à sua refeição, rindo por dentro da expressão de Emma.

A loira por sua vez, parou com os talheres em mãos e pensando no quanto teria de fazer para ganhar a confiança, a amizade e .. desviou o pensamento e voltou a comer, enquanto pensava no que poderia dizer para quebrar o clima tenso mais uma vez instalado, principalmente em si.

Por outro lado, Regina até que se tinha acalmado um pouco mais no seu interior. Ver Emma agindo feito uma palhaça meio que tinha ajudado. Sabia bem que ela estava tentando, como ela dissera antes ... "não vou parar de tentar". Apenas o simples pensamento fazia o seu coração aquecer, e por momentos, a morena conseguiu se sentir em paz consigo mesma. Não podia negar que era bastante agradável ver todo o esforço e comprometimento por parte da loira nessa busca exacerbada pela amizade de ambas. Mas então, porquê ela estava colocando limites tão rígidos aos avanços da outra mulher? Abanou a cabeça em silêncio por segundos, tentando se desfazer daqueles pensamentos bobos e sem sentido, e levantou o olhar do prato mais uma vez. Emma estava de cabeça ligeiramente tombada, parecia quase envolvida numa luta num campo de batalha com a comida. Os talheres faziam um barulho estridente e irritante contra o prato enquanto ela juntava o arroz num montinho pequeno.

Regina aproveitou então para quebrar aquele silêncio de palavras da forma que melhor conhecia:

- Faltou à aula de etiqueta e boas maneiras no orfanato, foi?

Emma subiu o olhar imediatamente até aos olhos acutilantes da morena, tão rápido que quase pareceu ter sido eletrizada.

- Você não tem o direito! - bramiu de rosto zangado. - Porque .... - ela abanou a cabeça como se estivesse negando algo para si própria. - ... porque se esforça tanto em me ferir dessa maneira?

- Por que enquanto você estiver afastada sei que não vou-me decepcionar colocando minha confiança em você. Por que se eu a ferir primeiro, você não terá chance de me ferir antes. - pronto, ela havia despejado a verdade ali em cima da mesa.

A partir daquele momento Regina havia perdido o apetite. Sabia que havia pegado pesado, porém era o seu mecanismo de defesa, hábitos antigos são difíceis de serem rompidos.

- Você acha mesmo que eu faria isso contigo? - Emma possuía uma descrença na voz que não lhe era característica e seus olhos antes esperançosos e cheios de sonhos, ficaram magoados como se uma cortina de desespero os cobrisse.

- Você já fez isso antes, por que agora seria diferente? - Regina queria respostas por que se Emma não estava agindo movida pela culpa algum outro sentimento a impeliu a propor esse jantar...

- Sério? Você vai mesmo ficar me atirando isso à cara pra sempre? - a loira rosnou, largando os talheres abruptamente. - Como você pode pensar que foi intencional me diz?! Eu que sempre procurei ver o melhor em você .... eu que sempre .... - sua voz falhou, saindo tremida no final. - Quer saber? - se levantou num sobressalto, acabando por chamar a atenção dos poucos clientes que ainda estavam no estabelecimento, e pior que isso, de Ruby que parara imediatamente de atender um pedido para observar as duas mulheres. - Eu vou embora. - finalizou. E ela realmente foi, logo após largar duas notas sobre a mesa para quitar a despesa do consumo que nem terminado estava.

Regina não foi capaz de proferir uma só palavra durante todo o ataque da loira, mas como um filme, ela pareceu assistir à cena de fora, completamente perplexa e sem poder de intervenção na história que estava sendo contada.

- Você não vai atrás dela? - a pergunta soou vinda detrás da morena. Ao se virar viu que tinha sido a garçonete a autora daquela impertinência. Estava pronta para repreendê-la por aquilo quando se deu conta que Henry acabava de entrar na lanchonete.

- Mãe! - ele apressou o passo até à morena. - Vai atrás dela!

- Mas ... o que você tá fazendo aqui, querido?

- Você ainda pergunta? - o rapaz inquiriu como se fosse óbvio para maior confusão da mãe que franziu o sobrolho completamente a leste do teor daquela conversa ou mesmo da situação absurda. - Emma meio que se deu conta de algo .... - Henry disse, e acrescentou com um sorrisinho matreiro depois. - ... com a minha ajuda claro!

- Do que você tá falando?

- Sabe por que ela foi num encontro com o Hook? - a morena não sabia o por que do desvio de assunto do filho, ainda assim balançou a cabeça negativamente. - Por que eu a incentivei e quando eu perguntei à ela como foi o encontro, ela não estava animada e com cara de apaixonada como deveria estar. Mas quando eu perguntei se ela tinha falado com você, ela tinha um brilho diferente no olhar, como se a sua mera lembrança pudesse fazê-la mais feliz do que qualquer coisa nesse mundo.

- Henry?! - Regina sentiu o seu peito pesado, sua cabeça rodava e as palavras de Henry martelavam seu consciente a milhares de vezes por minuto.

- Mãe será que você não vê? - esclareceu ele.

- O quê...- ela ainda estava em estado de choque com as revelações.

- Ela te ama Regina - o tom masculino surpreendeu a todos os presentes no restaurante.

David não podia ignorar os olhares entre as duas mulheres, ou a insistência de sua filha em salvá-la, mesmo quando ele mesmo teve dúvidas se valeria a pena o sacrifício. Ele sabia que Hook era apenas uma mera distração, pois a primeira escolha de Emma sempre foi bem clara, ela escolheria Regina, mesmo de olhos fechados, mesmo se lhe custasse a sua segurança. E por algum tempo ele achou que a preocupação maior de Emma era proteger a Ex-Rainha por Henry, mas David sabia reconhecer True Love, afinal ele possuía um Amor Verdadeiro. Os sinais estão todos ali, mas elas não conseguiram decifrar por si só e precisavam de uma forcinha.

-Ela te ama, Regina - disse ele mais seguro da segunda vez. - E já faz algum tempo.

- Eu não... - a língua de Regina parecia um órgão anormal em sua boca. Sentiu-se como um inseto observado em microscópio com todos os clientes olhando para sua figura. Deu um passo para trás, de repente teve vontade de sumir, queria sair dali naquele instante. Contudo queria principalmente ir até Emma, queria saber da boca da Salvadora se aquilo tudo era verdade. A sensação de formigamento por seus membros começaram e prontamente sua magia respondeu aos seus instintos e sentimentos até que ela desapareceu do Granny's em uma nuvem de fumaça roxa.

Quando a fumaça roxa se desfez, Regina ainda parecia anestesiada, como se nada em seu corpo respondesse ao seu chamado, e ela tivesse sumido em sua própria magia, através de outra da qual ela acabara de descobrir, mas ainda tentava entender.

Tudo pareceu mais confuso ainda, quando ergueu o olhar e percebeu que estava em frente a porta do apartamento da loira. Como fora parar ali era um mistério, que em sua luta interior ela estava desvendando aos poucos. Uma luta que começou maçante e que aos poucos foi acalentando seu coração e fazendo ela entender coisas que sempre sentira e nem percebera. Principalmente por ela.

Chegou perto da porta e estendeu a mão para tocar nela, mas recuou. Aquela cena estava se repetindo de novo, ao contrário, cena que outrora serviu para afastá-la de Emma e que deu início a essa luta da Salvadora pela Rainha, e agora era ela mesma que estava li, preparada para lutar.

-Emma ? -perguntou, mas não obteve resposta. -Eu sei que você está aí, posso ver a luz acesa. -sorriu ante a frase idêntica a da loira, que ela proferira sem nem perceber. -Eu conversei com o seu pai, no Granny's, e ele conhece bem os seus sentimentos.

Emma que estava do outro lado da porta, sentada no chão e encostada na mesma, sentiu uma súbita vontade de chorar, pois ela sabia bem do que a morena estava falando. Era dos seus sentimentos. Por ela.

-Eu não sei se você vai querer se vingar de mim não abrindo a porta como eu estive fazendo com você durante todo esse tempo, mas fique sabendo que eu não vou sair daqui e que eu tomei uma decisão sobre tudo o quê tem acontecido entre nós. -ela respirou fundo antes de continuar. -Eu entrei nessa luta junto com você Emma, e mesmo que você não queira, eu não vou parar de tentar.

E como se o tempo não importasse, se sentou no chão e se encostou na porta, esperando o momento em que ela se abriria para ela.

Do lado de dentro do apartamento a Salvadora tinha as mãos sobre os olhos. Respirou fundo e decidiu levantar-se. Era agora ou nunca. Regina estava ali do outro lado da porta, só o que faltava era deixar que a mulher entrasse. Emma desconfiava que seu pai sabia dos seus verdadeiros sentimentos, mas como ele podia saber se nem ela mesma via com clareza a dimensão do que ela sentia por Regina.

Emma queria ver Regina feliz, ela queria que a morena tivesse um final feliz e o que ela realizou na sua conversa com Henry depois do encontro com o Hook foi que ela queria ser a pessoa a proporcionar tudo aquilo para Regina. Porque ela agora tinha a confirmação verbal que não estava sozinha no sentir, que não estava sozinha na luta por uma nova relação. Então Emma abriu a porta com cuidado e não esperava ver a morena literalmente caída aos seus pés.

- Eu achei que você já tinha ido embora.

- Eu disse que iria ficar aqui até que você abrisse a porta - Regina estava com dificuldades de se levantar e mesmo sem graça por conta da situação olhava com ternura para os olhos de galáxias.

Emma prontamente a ajudou a se levantar e num salto a morena colocou-se de pé apenas para tropeçar em falso e cair nos braços da mulher de olhos verdes.

- Oi - Emma disse com a mesma ternura de dois anos atrás quando viu Regina pela primeira vez.

- Olá - respondeu Regina com um sorriso aberto que era capaz de fazer desaparecer a cicatriz do seu lábio superior.

- Não quer ... entrar? - a loira perguntou indicando com a cabeça o interior do modesto apartamento.

Houve uma hesitação na resposta, Regina não mais respirava. Emma estava demasiado perto e o calor do seu hálito esbarrava contra a pele de tez morena.

- Emma. - murmurou apenas, e mesmo assim foi um sacrifício para fazer a sua voz sair. A verdade é que a morena não queria ir embora, isso era tão mais palpável a cada segundo a mais que permanecia naqueles braços firmes e bem torneados, Mas, e por outro lado, sua hesitação recheada com um medo puro de ser rejeitada, magoada, traída, a deixava sem permitir que suas ações correspondessem à confissão que fizera momentos antes. Era uma batalha interna para Regina. Não, era uma guerra. Mas era tempo de vencer a primeira batalha. - Seus pais não vão chegar? - ousou perguntar com aquilo que se notou ser uma ponta de timidez adolescente.

Sem saber dera a resposta certa, porque assim que a pergunta saíra da sua boca, Emma abriu um sorriso rasgado como que proclamando a vitória no campo de batalha.

- Por favor .. - ela sussurrou se aproximando mais ainda do rosto da morena. - ... vamos pra outro lugar então. - seus lábios rosados e macios roçaram na pele na altura do osso temporal de Regina, estrategicamente trazendo arrepios a ambas as mulheres. - Eu tenho tanto pra te dizer. - acrescentou com a voz afetada.

Regina sem se aperceber acabou inclinando a cabeça ligeiramente para trás, permitindo o encaixe perfeito do rosto da loira na curva do seu pescoço de pele quente e ansiosa.

- Hm. - emitiu ao sentir lábios entreabertos cobrindo a pele do seu pescoço. - Isso ... é bem diferente de ter coisas pra me dizer, Swan.

Mas diferente do que Emma poderia ter pensado, o tom de voz da outra não transportava uma crítica. Pelo contrário, estava tomado por um desejo que ela nunca pensara um dia escutar na voz de Regina, e acima de tudo, dirigido a ela, provocado por ela. O prazer e satisfação que Emma sentiu ao se dar conta desse simples acontecimento lhe trouxeram uma vontade enorme de conversar sobre muitas mais coisas com a morena.

- O que você faria se meus pais nos pegassem aqui? Ah, Regina? - provocou maliciosa, completamente impulsionada por aquela tensão sexual que as envolvia debaixo da ombreira da porta, sem estarem nem de um lado nem do outro. - Eles chegavam e ... - sua língua molhada e em brasa de tão quente envolveu o lóbulo da sua orelha, enquanto uma das suas mãos apalpava território desconhecido, mas demasiado ambicionado para ficar por desbravar. - ... e davam contigo assim à minha mercê. Suspirando o meu nome.

Regina prendeu o lábio inferior com os dentes, forçando-se a reprimir um gemido, e a muito custo, afastou-se, mascarando o rubor das suas faces com uma expressão snobe e superior.

- Você não pode ser tão ingénua assim a ponto de achar que sou eu que estou à sua mercê. - declarou, segura, fletindo uma sobrancelha bem desenhada em jeito de ataque.

A seguir, e sem deixar tempo para que a outra contestasse, já uma nuvem de fumaça roxa as envolvia às duas, fazendo-as sumir dali.

Elas apareceram na sala de estar da casa de Regina. O coração da morena acelerava apenas com o contato de seu corpo com o de Emma. Ela durante tantos anos quis se sentir desse jeito novamente, tanto que ela achou que não seria mais possível. Achava que teria que conviver para sempre com o vazio que existia dentro de seu coração. Perda de Daniel. Vingança contra Snow White. Maldição que a fez ter um vazio que parecia cada vez mais longe de ser preenchido. Até que Henry entrou em sua vida, e aos poucos aquele vazio começou a ser preenchido. Mas, a sensação de se sentir completa veio apenas quando Emma Swan chegou à cidade. Com aquele casaco de couro vermelho e um leve toque atrevido que a fez acordar para a vida novamente. Como ela não enxergou todas as evidências? As brigas, a tensão que existia cada vez que se encontravam... Tudo era óbvio demais quando ela deparava com o passado.

- Regina... Está tudo bem? – questionou Emma preocupada com a morena dispersa em pensamentos.

- Estava só pensando em tudo que nos aconteceu. Quase como uma volta ao passado. Como eu não fui reparar antes? – perguntou a morena pousando suas mãos sobre o peito de Emma, que tinha seu coração tão acelerado como o de Regina.

- Às vezes demoramos a perceber as coisas mais óbvias. Fico feliz que nós estamos aqui... Juntas. Mesmo que tenha sido preciso um empurrão do meu pai e do nosso filho.

- Tudo parece fazer sentido agora. Estar aqui com você. – disse Regina, e após um estalar de dedos a lareira da sala começou a crepitar. – Eu me sinto tão bem, como há muito tempo eu queria me sentir.

- Regina, eu preciso que me prometa uma coisa. – falou Emma de forma categórica.

-O quê ? -a morena sentiu seu coração se apertar por alguns instantes, enquanto a loira apenas parecia pensar no que ia dizer.

-Que vai confiar em mim, não importa o quê aconteça e nem o quê digam. Prometa que vai confiar em mim ? -o olhar de Emma era carregado daquele sentimento que há tanto tempo ela queria reencontrar. Que ambas queriam.

Regina confiava em Emma, agora mais do que nunca e ela sabia que a loira estava lhe pedindo aquilo, devido ao fato de ela não querer dar uma chance a Emma quanto a uma amizade. Ela não havia confiado nela e isso com certeza deixara Emma magoada.

Mas agora era diferente, a morena sabia que a loira só queria ajudá-la, só queria amá-la, e ela confiava em Emma, sabia que sim. Era como se seu coração tivesse respondido a pergunta para si mesma, e explicado os motivos desta, embora isso não precisasse de uma explicação.

Enquanto isso, Emma aguardava a resposta apreensiva. Regina resistira tanto a confiar nela durante todo aquele tempo, que ela tinha medo que mesmo depois de tudo que acabara de acontecer entre elas, a confiança da morena em si ainda estivesse abalada.

-Eu prometo ! -Regina enfim respondeu com um sorriso sincero no rosto, e Emma lhe sorriu verdadeiramente igual. Estavam tão felizes que o mundo inteiro poderia desabar sobre suas cabeças naquele momento, e elas nem perceberiam pois só tinham olhos uma para a outra, os olhos e qualquer outro sentido.

Um momento de silêncio se estendeu sobre elas e nenhuma das duas sabiam ao certo o que falar, talvez o motivo fosse que mais nada precisava ser dito e sim feito. Mas a duvida do que um simples gesto teria como consequência parecia atormentar em ambas as mentes, talvez por ser cedo demais ou por falta de coragem, no entanto, como elas saberiam se não se arriscassem? Emma por outro lado, parecia disposta a correr esse risco, ela vinha batalhando há bastante tempo por uma aproximação com Regina e tê-la ali na sua frente e tão próxima, com uma das mãos ainda sobre o seu peito, prometendo que confiaria nela e a ouvindo dizer que fazia sentido elas estarem juntas essa noite, a deixava ainda mais corajosa a fazer o que tinha em mente.

A loira levou uma das mãos a cintura de Regina, trazendo-a para mais perto de seu corpo em um termo de posse, enquanto a outra mão acariciava o rosto da morena, que estava surpresa e nervosa com esse novo contato, pois Regina sabia o que viria a seguir assim que Emma finalizou o carinho em seu queixo e começou a aproximar seus lábios de encontro ao seu.

Não foi intenção de Regina antecipar o beijo ou sequer denunciar a urgência na consumação das bocas juntas, pressionadas uma de encontro à outra, mas tudo caiu por terra ao entreabrir de lábios ansiosos. A morena deixou o ar suave acariciar por entre a pele rugosa dos seus lábios ao abri-los, mesmo antes de poder tocá-los nos de Emma. Sua visão ao descer para os lábios diante de si, ficou turva, quase como se ela estivesse sendo tomada por um estado repentino de embriaguez. E era nesse estado de jovialidade de alegre leveza que ela queria mergulhar de uma vez por todas. Assim foi feito.

A urgência era grande, mas, à vista de alguém de fora, aquele primeiro beijo não tinha aparência de urgente. Pelo contrário, era um roçar de leve, um primeiro, segundo, terceiro até, reconhecer de sensações novas e inatingíveis por um voyeur inexperiente. Foi tecido carnal, mucoso revestimento que molda os lábios e que os torna tão imensamente sensuais e convidativos. Emma não ousou perturbar este reconhecimento mútuo com a sua língua. Antes, deixou-a sossegada, dentro da boca, enquanto os seus lábios puxavam e se deixavam puxar e repuxar pelos lábios da morena. Esfregaram cada pedaço macio, rugoso, moldável entre fissuras labiais e deixaram que o toque se estendesse à pele dos rostos ferventes e acalentados. Assemelharam-se a duas gatas, no cio, roçando-se, esperando, estendendo no tempo aquele primeiro contacto que se avizinhava interminável.

- Re ... - a loira sussurrou aquela primeira sílaba, apenas para gemer guturalmente a seguinte. - Gina.

Levou os dedos suados ao lábio da morena onde delimitou com as pontas a fissura da cicatriz sobre o lábio superior. Regina não cerrou os lábios, pelo contrário, ela abriu-os mais, beijando os dedos de Emma, e pela primeira vez, dando comando à língua ao envolver dois daqueles dedos molhados pelas glândulas sudoríparas da loira.

Emma acompanhou com o olhar a cena, fraquejou das pernas, estremeceu, e quis morrer só para voltar a nascer para ter a certeza que aquilo era real. Regina estava chupando-lhe, sofregamente, dois dos seus dedos.

Emma tinha palavras na ponta da língua, mas o beijo seguinte a interrompeu de professa-las. Quando começou a beijar Regina, não foi de modo apressado ou puramente sexual, beijou-a lenta e carinhosamente como se aquilo fosse tudo o que quisesse dizer. A resposta da morena foi agarrá-la pelos cachos loiros entranhando os dígitos nos cabelos amarelos. Emma por sua vez apertou a cintura fina de Regina com força do tamanho de seu desespero por estar mais perto.

- Eu quero você, preciso de você - disse Emma com a voz entrecortada.

A ex-Rainha sentia-se da mesma maneira, mas não estava firme ainda em suas convicções. Poderia ela dizer o mesmo? Acovardou-se mas da falta de palavras deixou que seu corpo expressasse aquilo que nem uma das duas poderia expressar. Regina respirava completando Emma, e a loira suspirava entre os beijos transbordando a morena. Cuidado, amor, carinho eram substantivos que Emma queria transformar em ação. Cuidar, amar e acariciar Regina, verbos para praticar com o objeto direto de sua afeição. Os beijos trocados eram casualmente passionais, mas sempre gentis.

- Eu pensei sobre esse momento mais vezes do que eu posso contar. - Emma não queria mais dizer meias palavras. - Sempre foi você, desde o primeiro instante. Os seus olhos intensos e provocadores acordaram o meu coração adormecido. E me fizeram acreditar em finais felizes, de maneira mais específica, um final feliz contigo. - declarou de coração aberto à espera da reação de Regina que tinha paixão brilhando nos olhos dançantes.

O coração de Emma não podia se sentir mais feliz, e ao ver um sorriso enorme se abrir no rosto da morena, ela teve a certeza de que era, daquele momento em diante, a mulher mais feliz do mundo. Se Regina quisesse isso também, mas o sorriso denunciava tudo. Um riso saiu dos lábios da morena enquanto permanecia nos braços da loira que a olhou curiosa.

-O quê foi ? -a loira quis saber, ao escutá-la rir após sua declaração cheio de amor.

-É que o quê você me disse mais cedo faz tanto sentido agora. Você disse que nós éramos únicas, especiais, que éramos parecidas e agora eu percebo que inclusive os nossos sentimentos são iguais. Eu me neguei a enxergar Emma, mas é você, sempre foi você, desde o primeiro instante, seus olhos verdes cheios de vida e de mistério despertaram algo há muito tempo adormecido dentro de mim. -seus olhos castanhos brilharam cheios de lágrimas conforme o sorriso aumentava em seu rosto. -Eu só não acreditei em um final feliz com você no mesmo instante, porquê era bom demais pra ser verdade, e coisas boas não acostumavam acontecer comigo. -Emma a acompanhou com outro riso, enquanto enxugava uma lágrima solitária que lhe escorria o rosto.

-Mas agora ... -a loira juntou toda a sua coragem e o seu amor para perguntar aquilo. - ... agora você acredita em um final feliz ? Comigo?

Regina apenas assentiu de leve com a cabeça, sentindo algo entalar em sua garganta, um choro guardado há muito tempo, mas não de tristeza, nem de muita alegria ou pura emoção, um choro carregado de amor, um amor que ela sempre quis dar e receber, mas achou que jamais seria possível, até então, até aquele momento, até Emma.

O sorriso que Emma abriu após o gesto da morena bastou para que Regina se sentisse completa de novo, completa e pronta para dar e receber aquele amor, um amor que só a loira poderia compartilhar com ela.

Regina então lentamente segurou o rosto da loira e encostou sua testa na dela, para só então falar, olhando em seus olhos cheios de amor, o quê já não podia mais guardar:

-Sim Emma, agora eu acredito em um final feliz, ao seu lado. Eu quero ser única e especial com você. -sussurrou as palavras antes de Emma tomar seus lábios em mais um beijo cheio de cuidados e de amor.

Só foram capazes de interromper aquele ato de amor, quando o ar se fez necessário, e as palavras não. Se olharam sabendo que agora eram únicas e especiais, uma para a outra e juntas. Regina segurou na mão da loira e a guiou até a escada, sem nunca quebrar o contato visual e sem nunca deixarem o sorriso desaparecer de seus rostos enquanto subiam sem pressa, e elas sabiam para onde e para o quê.


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Notas finais do capítulo

Merecemos reviews? Então os deixem, por favor. Beijos e Obrigada! ♥