Engrenagem escrita por SayakaHarume


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Não sei, não quero saber >.
A cada segundo minha confiança cai, mas ainda estou no xodó pelo Richard, me deixem.



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Richard nasceu prematuro, fraco. Por pouco não se tornou mais um filho que a Senhora Isobel Oakheart perdeu. Para Charles Oakheart, por um tempo, foi um alívio um garoto ter sobrevivido, mas com o tempo, veio a perceber que Richard nunca viria a ser o herdeiro que precisava.

Sempre com a saúde frágil, nunca conseguia acompanhar o pai nas fábricas que eram propriedade da família, responsável pelas peças utilizadas na maioria dos trens que cruzavam a Europa. Rick podia ter um intelecto que faria a maioria dos engenheiros corar de vergonha, mas era incrivelmente subestimado por Charles.

Porém, nunca pronunciou uma palavra que denunciasse algum desgosto ou desagrado, sempre respeitando o seu progenitor, mesmo depois da morte da mãe, quando ele foi praticamente abandonado na casa de campo da família.

Richard não disse nada nem mesmo quando no verão dos seus treze anos, quando ele desenhava um rascunho de um novo tipo de motor, seu pai trouxe Fernando Alarcón para casa.

E se alguém notou aquele brilho nos olhos verdes de Rick, não deu nenhum crédito.

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Foi Fernando que persuadiu o Senhor Oakheart a trazer Richard para a corte, depois de meses de súplicas. Porém, Charles acabou por perceber que nunca poderia negar nada a quem lhe entregava os mais elaborados projetos que prometiam mudar a direção e velocidade que a Revolução Industrial evoluía. Máquinas voadoras, bicicletas a motor, armaduras automatizadas. E o velho nobre nem ao menos desconfiava que o verdadeiro inventor por trás de tudo era o próprio filho.

― Rick, e se um dia ele descobrir? ― perguntou em uma tarde fria de inverno. Os dois jovens estavam próximos a lareira, onde Richard preferia ficar.

― E como ele descobriria? ― sussurrou, fazendo uma pausa para tossir segurando um lenço contra os lábios. ― Você é esperto e entende minhas explicações, então pode apresentar os projetos perfeitamente.

― Porém, você é quem merece o crédito. ― Fernando não desistiu. ― Por que você mesmo não mostra seus desenhos?

― Ah, para que? Já tenho tudo que preciso.

― Eu vou falar com o Senhor Oakheart para levá-lo a um novo médico ― disse com um sorriso. ― Ouvi falar que tem um novo pneumologista na cidade, ele pode ajudar você com essa tosse.

― Bem, não posso negar que isso seria ótimo. ― Rick acariciou o cabelo escuro e enrolado de Fernando, que se debruçava na poltrona em sua direção. Seus dedos pararam no rosto moreno, que agora exibia um sorriso ainda maior. ― Agora você deve ir. Sabe que meu pai não gosta que fique muito tempo aqui em cima. Não quero passar o que quer que eu tenha para você.

― Richard, se eu disser uma coisa, promete que não fica chateado?

― Não há nada que você possa dizer que possa me chatear, Fernando.

― Por não ver você... seu pai me parece bem estúpido ― sussurrou.

Richard teve que esconder um sorriso, e para Fernando, foi seu primeiro ato de rebeldia contra o Senhor de Oakheart.

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Anos passaram, e o tratamento experimental a que Richard vinha se submetendo vinha dando resultados, para o desgosto de Charles, que não tinha nenhum apreço pelo filho biológico. Preferia mil vezes o genial Fernando, que nunca parava de inventar, enquanto Rick não conseguia entrar na fábrica e ter uma crise de tosse que o deixava de cama por dias por causa da fumaça.

Porém Rick agora era forte o suficiente para sair de casa, e isso era o suficiente, como ele próprio sempre dizia. Fernando não acreditava.

― Sabe, deveria revelar a verdade para o Senhor Oakheart agora ― disse uma vez, durante o chá da tarde. ― Não tem mais a saúde tão frágil, desde que tenha pessoas de confiança para supervisionar a fábrica, não vejo o porquê de não administrá-la.

― Fernando! ― Richard abaixou a xícara, aborrecido. ― Sabe que se contássemos, meu pai ficaria irritado e lhe mandaria embora e não tenho intenção de deixar isso acontecer.

O jovem ficou calado, então Rick continuou:

― Mesmo que eu não seja o favorito de meu pai, ele não pode simplesmente me deserdar, apesar de eu acreditar que ele vá deixar grande parte da fortuna e da fábrica para você, e não vejo problema com isso. Quando ele falecer, podemos cuidar da fábrica juntos, porém como estamos fazendo agora. Posso não sofrer mais com a doença como a alguns anos, mas estou longe de poder levar uma vida cansativa como esta. Será meu braço direito e não precisa se sentir nenhum pouco culpado, porque isso nada mais é que um favor que me faz.

Fernando sorriu fracamente, diante de... oh, nunca soube como qualificá-lo. Nunca se achou no mesmo nível de Richard, então não ousava chamá-lo de amigo. Rick tinha mudado nos nove anos que se conheciam. Não ficava mais parado placidamente diante as ofensas do pai, e tinha um dom natural de atordoar aqueles que lhe desagradava, sem nunca parecer estar os ofendendo.

Porém, ele continuava parecendo tão solitário quanto no dia em que chegara naquela casa de campo.

― Ainda não acho certo, mas não quero discutir. A tarde está agradável demais para ser desperdiçada com discussões em que nenhum dos dois sairá completamente satisfeito.

― Nunca me contou onde meu pai lhe encontrou, Fernando. ― Richard não tinha cuidado ao fazer perguntas pessoais e incisivas sem aviso.

― Ah... ― Como sempre, atordoado. ― Meu pai tem uma pequena fábrica no interior da Espanha, e eles se conheceram na Corte Espanhola. Não sou o filho mais velho, então meu pai concordou que eu fosse criado aqui.

― O Senhor Alarcón sabe que meu pai quer que você seja seu sucessor na nossa fábrica?

― Suspeita, talvez. Não sei ao certo, nunca conversamos sobre isso nas cartas. Porém, ele nunca faz perguntas sobre quando voltarei para casa.

― Você está em casa. ― Richard o encarou sem reservas fazendo Fernando ficar desconfortável, com a sensação de algo subindo por sua garganta.

― Sua família me recebeu de forma muito acolhedora, mas eu sinto falta da minha. ― Tentou ser o mais cortês que pode, embora ainda sentisse um formigamento em seus braços e mãos, como se eles estivessem esperando a ordem de irem até o jovem Oakheart.

― Então planeja voltar a Espanha? ― Não desviou o olhar.

― Sim. ― Porém, aqueles olhos não o abandonavam, e ele se viu dizendo: ― Porém não em breve. O Senhor Oakheart não é mais tão jovem e vem precisando muito da minha ajuda na fábrica. Aqueles motores que você desenhou, são difíceis de construir. Tem certeza que eles farão um trem voar? ― Foi a tentativa de mudar de assunto usando uma dúvida genuína.

― E depois que meu pai morrer, serei eu que precisarei de você ― Richard falou com a voz suave, ignorando a pergunta. ― Se realmente quiser partir, tem que ir agora.

― Está me expulsando? ― Fernando tentou gracejar, para aliviar um pouco a tensão, mas Rick não mudou sua expressão séria.

― Eu estou o avisando, caro Fernando. ― A sombra de um sorriso cruzou o rosto dele. ― Eu não tenho nenhum plano de deixá-lo escapar.

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Richard achou que ia enlouquecer se não chegassem ao maldito quarto logo. Tentou ver se alguém vinha pelo corredor, mas tudo que seus olhos viam era Fernando. Estavam naquele jogo perigoso alguns meses, mas podiam estar a anos em jogadas lentas que os trouxeram até aqui.

Quando finalmente entraram na suíte de Rick, este foi jogado na cama sem cuidado, e ele teve que orar para seja qual fosse a divindade que tinha criado aquele mundo que não permitisse que ele tivesse uma crise de tosse naquele momento. Não quando Fernando o olhava daquela maneira, com olhos de predador, os lábios vermelhos e o sangue quente.

Fernando Alarcón não tinha paciência para botões, amarras ou qualquer coisa que dificultasse tirar aqueles tecidos do corpo de Richard. Apenas puxava, rasgava, sem se importar em que desculpas seriam dadas aos empregados. Toda sua paciência e autocontrole tinham sido gastos nos anos que vinha negando aquele sentimento.

Apenas beijava, mordia e lambia cada centímetro de pele que ia descobrindo, enquanto Richard o despia com mais cuidado, já que Fernando teria que ir trabalhar em seguida.

― Rick ― chamou. Ou talvez tenha gemido, não fazia diferença.

Não houve resposta, não era realmente necessária. Richard apenas abaixou a calça de seu parceiro e tudo que estivesse junto e o puxou para que se reunissem na cama de mogno. Fernando, sempre mais vocal, gemeu ao contato entre as peles, enquanto Richard conseguiu rolar para ficar por cima e desceu sua boca pelo tórax e abdômen, até que, depois de uma mordida brincalhona abaixo do umbigo, tomou-o na boca. Apesar de esperar de todo o coração que os empregados não estivessem escutando todo o barulho que Fernando fazia, não podia conter o sorriso malicioso que dominava sua face quando ele se afastava um pouco para olhar o rosto dele.

― Fernando, Fernando, se você não se controlar, vou ter que amordaçar você. ― Se esticou o suficiente para chegar até os lábios do outro.

Te amo, te quiero ― sussurrava, sem estar certo se desejava saber se Richard compreendia sua língua-mãe, porém, ele desconfiava que sim. Não havia nada que Richard não soubesse.

E enquanto o possuía, ao sentir o quão apertado Richard lhe abraçava, ao ouvir os gemidos baixos que ele soltava perto de seu ouvido, Fernando tinha a certeza que do jeito retraído dele, Rick retribuía aquele louco sentimento.

E Richard só pensava o quão incrível seria descobrir as engrenagens que faziam Fernando existir.

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A Inglaterra assistiu boquiaberta a partida da primeira viagem do Expresso Anglo-Latino, que voava a pelo menos seis metros do chão, permitindo que todos vissem as hélices que estavam embaixo do trem, fazendo-o subir.

Richard Oakheart assistia tudo a distância, por causa da fumaça que ainda saia das chaminés. Ainda estudava mudar a forma de combustível, para que finalmente pudesse ver suas criações de perto, e vê-las sendo construídas em pessoa.

Alguns nobres chegavam até ele para oferecer suas condolências pela morte do velho Oakheart, e ele as aceitava sem muitas palavras. Quem alimentava as conversas era Fernando, enquanto Rick preferia olhar seu trem se afastando.

― Richard ― Fernando chamou quando os dois entraram na carruagem. ― Acho que você já se cansou muito para uma tarde, melhor ir direto para casa.

― Claro, eu estou mesmo me sentindo muito cansado. ― Não discutiu. ― Porém, podemos passar antes no Palácio. Não quero que se atrase para seu compromisso com sua majestade.

― Se quiser que eu fique com você, apenas precisa dizer. ― Fernando segurou a mão dele.

― Não pode recusar um convite da Rainha Vitória. ― Sorriu.

― Apesar de todo o respeito que tenho por sua majestade, rigorosamente falando, ela não é minha rainha.

― Oh, Fernando, você ainda será a morte de nós dois. ― Richard gargalhou, jogando a cabeça para trás. ― Vá. Me represente, por favor e me conte tudo depois.

Fernando apertou a mão dele suavemente, sabendo que se Rick lhe pedisse, se jogaria no fogo.

O que ele não sabia era que Richard não teria medo de fazer o pedido.

.

Ele não notou no começo. Não tinha como notar, sempre trabalhando na fábrica. Porém, quando chegava em casa, sempre o mesmo jovem rapaz estava saindo, acompanhado de uma senhorita. Cumprimentavam-se, mas nunca conversaram mais que o necessário. Fernando sempre estava com pressa para chegar ao quarto de Richard. Até que um dia, enquanto os dois estavam na cama, aproveitando o calor que vinha da lareira, ele fez a pergunta.

― Quem são os dois que sempre vem lhe visitar? ― perguntou casualmente, sem se preocupar muito. ― Sempre os vejo saindo daqui.

― Ah, os irmãos Griffiths? ― Richard estava sonolento. ― Os conheci durante uma corrida de cavalos, lembra que não pode ir por causa do incêndio na fábrica do interior?

― Oh, sim. ― Fernando franziu as sobrancelhas. ― Não comentou que havia ido sem mim.

― Achei que tinha falado, desculpe.

― Não, tudo bem, é bom que tenha amigos. Às vezes acho que você é solitário demais. Só estranhei que não tenha comentado comigo.

― Não sabia como entrar no assunto. Não gosto quando você fica todo emocional.

Às vezes Richard falava coisas assim, que obrigavam Fernando a não ficar magoado. Sabia que ele não tinha essa intenção.

― Por que diz isso?

― Porque eu propus casamento a Charlotte.

Fernando sentou-se, empurrando Richard, que antes estava deitado em seu peito.

― O quê?

― Por que essa cara? ― Rick apenas se ajeitou nos lençóis. ― Sabe que vamos ter que nos casar em algum momento. Apenas aconteceu de eu encontrar uma noiva adequada antes de você.

Fernando não disse nada, apenas se levantou e pegou suas roupas, se sentindo tolo por ter achado que Richard desse a mesma prioridade que ele àquele relacionamento.

E mal sabia ele que não havia descoberto o pior.

.

Descobriu no mesmo dia que foi jogado no vagão daquele trem, sob os olhos impassíveis e duros de Richard. Mesmo amordaçado, fez o melhor que pode para deixar Rick saber todos os palavrões que ele tentava pronunciar.

― Deixe-nos ― Richard disse aos outros dois capangas, que sumiram de vista. ― Desculpe por isso, Fernando ­― puxou a mordaça para baixo ―, apenas pensei que você não aceitaria ir para casa por bem.

― O que pensa que está fazendo? Enlouqueceu? Não há razão para fazer isso!

― Eu não preciso mais de você, tenho uma forma de seguir com a fábrica sozinho. Estou cansado de desenhar trens, recentemente estou mais interessado em armas, tem uma infinidade de possibilidades ― falou, consultando o relógio de bolso. ― Quando chegar a fronteira, vão tirar você daqui, e você seguirá com os outros passageiros. Logo estará em casa.

Mil perguntas, mil pensamentos passaram pela mente de Fernando, e só uma se transformou em palavras:

― Então, desde o começo foi mentira?

― Não. ― Foi a resposta simples. ― Apenas foi... passageiro. ― Richard desceu do vagão. ― Tem que entender, Fernando. Nunca vão acreditar que eu sou o verdadeiro inventor enquanto você estiver por perto. Nunca me viram enquanto você estava por perto.

― Eu vi!

― Eu sei. ― E por um momento, Richard deixou que a emoção voltasse a sua voz. ― E eu queria que isso tivesse sido o suficiente.

E o portão se fechou, deixando Fernando na escuridão.


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Notas finais do capítulo

Então, podem tacar o pau, preciso disso.
Mas com carinho, tá? ;)

E deixar review não cai o dedo, garanto :D