as coisas que ninguém mais vê escrita por Ironborn


Capítulo 1
as coisas que ninguém mais vê


Notas iniciais do capítulo

adoro todos os au com throbb, vou fazer todos ♥ a música da epígrafe é angels, do the xx



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você se move pelo quarto
como se respirar fosse fácil
se alguém acreditasse em mim
eles estariam tão apaixonados por você como eu estou

— the xx

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— Meu pai é um criminoso — Robb diz a Theon numa tarde de sábado, quando os dois estavam esparramados no quintal fazendo suas tarefas de matemática porque o calor insuportável do verão impedia que eles ficassem no quarto até que ele tivesse um ar condicionado só para si, assim como seus pais.

Também ficavam sempre por ali porque Theon adorava ficar do lado de fora, deitado com a barriga para cima enquanto o vento balançava seus cabelos e os deixava cheio de nós, e adorava rolar pela lama e se sujar para depois sujar Robb também — Robb com seus cabelos perfumados e suas roupas de menino rico que a mãe insistia para que ele usasse.

De qualquer maneira, ele não deveria ter contado nada a Theon. Não porque o moreno sairia espalhando a notícia por aí ou algo do tipo, mas porque sua mãe foi clara quando disse que a regra número um da família era não falar com ninguém sobre o trabalho do pai. Simples, prático, entendível até para uma criança de cinco anos, e Robb tem onze — e dois meses — então pressupõe-se que ele saiba guardar um segredo. Mas Theon lhe conta todos os segredos, então seria meio injusto que Robb escondesse isso logo dele, seu melhor amigo, que ele gostava tanto.

— E o que isso tem de mais? Você sabe que meu pai é um criminoso também — Theon respondeu, não dando muita bola para o assunto.

Todo mundo sabia que Balon Greyjoy era um criminoso, até mesmo a polícia. Ele fazia de tudo: pequenos furtos, tráfico de drogas, um roubo maior aqui e ali. Nada que renda dinheiro suficiente para que pintem as paredes da casa, tão descascadas que a única cor visível era o cinza do concreto barato do qual a casa era feita. Ele não ia lá muitas vezes — Theon raramente o convidava, com vergonha, e quando ele fazia isso Catelyn quase nunca deixava.

Ele sabia que Theon odiava o lugar — odiava o pai, os irmãos, os tios de vez em quando apareciam para o jantar. Era por isso que Robb sempre o chamava depois da escola, pedindo que Theon o ajudasse com algumas tarefas — quando ele nunca precisou de ajuda nenhuma. Ele gostava de ter Theon sempre por perto, sempre rindo e inventando alguma artimanha para fazer, mesmo que depois sua mãe fosse lhe dar uma bronca no jantar, junto com um pedido para procurar outras crianças para brincar.

Robb não diz mais nada, com medo que a mãe descubra o que ele fez. Também não tem mais nada de interessante para contar. Para ele, seu pai é um criminoso tão comum quanto pai de Theon — ele nunca vira as caixas carregadas de remédios contrabandeados, os sacos quase rasgando de tão cheios com dólares e euros e moedas de todos os lugares do mundo. Ele não sabe sobre a casa nas Filipinas, para caso eles precisem sumir do mapa. Ele não sabe que o pai espera que ele siga seus passos quando já tiver idade suficiente.

Mas ele sabe que Theon tem um rosto realmente bonito, com cílios longos e zigomas salientes e uma pele tostada de sol fica ainda mais escura durante o verão, porque ele aproveita esses momentos em que Theon dorme na grama de seu quintal para observá-lo.

E ele sabe que Theon sabe disso.

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Ele tinha 14 anos quando recebeu sua primeira aula de tiro. Seu pai disse seriam apenas algumas horas perdidas de vida, já que ele nunca precisou empunhar una arma durante todo esse tempo — Robb não acredita muito nisso. Seu pai anda metido até o pescoço em tudo quanto é tipo de situação perigosa, e ele não deixaria sua vida totalmente nas mãos dos seguranças.

A primeira impressão que ele tem da arma é que ela é fria. Foi exatamente isso que contou para Theon, à noite, quando os dois estavam sentados nos balanços do parque infantil, numa praça decadente perto de onde o moreno vivia. Pelo menos não fede, como acontece de dia, quando o cheiro de cocô de cachorro é tudo o que se pode sentir ali. Nesse horário, uma brisa está sempre soprando, deixando à mostra uma pequena cicatriz que Theon possuía no pescoço ao balançar seus cabelos.

— Tá, tudo bem, a arma é fria. Uau. Talvez porque ela seja feita de metal. — Theon disse, cheio de deboche. — Agora fala sério, OK? Como é atirar em alguma coisa?

— Mas eu não tenho o que explicar! — Ele não fazia ideia do que falar sobre aquilo. Depois de ouvir Theon suspirando, ele desistiu e começou a falar de tudo o que aconteceu, sem procurar algo que tivesse sido especial.

— Ele me ensinou, tipo, como se segura uma pistola. Porque você tem que segurar do jeito certo — e ele demonstrou com as mãos, lembrando-se de nunca cruzar os dedos — ou você não consegue aguentar o recuo da arma. E você tem que segurar ela na altura dos ombros, assim, com os braços estendidos, de preferência, para não acabar vacilando na hora de puxar o gatilho.

— E você gostou? — Theon tinha aquele brilho nos olhos de alguém que estava criando seu próprio mundo com as palavras que Robb lhe dizia.

— Foi legal, eu acho. Mas eu espero nunca ter que precisar disso.

Theon provavelmente o acharia um idiota por falar aquilo. Theon que volta e meia assistia Scarface e tantos outros filmes americanos sobre 1930 e 40; Theon que ouvia tiroteios em seu bairro todos os dias, e sabia que um de seus irmãos estava envolvido neles, geralmente por causa das drogas que eles traficavam por toda a região. Tudo o que ele queria era ir com eles, ver as gangues lutando umas com as outras até a morte, sentir o peso de uma arma na própria mãos.

(era apenas uma criança que tinha acabado de completar seus quinze anos — depois de dois meses seus irmãos estariam mortos, banhados pelo próprio sangue, e os gritos da mãe soariam como música de fundo enquanto ele iria pensar em como pôde se deixar levar por tamanha ingenuidade)

Por enquanto, ele apenas sorri do rubor nas bochechas de seu melhor amigo e coloca a mão no bolso à procura de cigarros.

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Eles sempre jantavam juntos, todos sentados à mesa numa formação que era sempre seguida à risca, todos os dias. Catelyn e Eddard sentavam cada um em uma das cabeceiras. Do lado direito de Ned sentavam Robb — e Theon ao seu lado quando ele acabava por dormir ali, o que era frequente —, Bran e Rickon. À esquerda, Jon e as meninas, Sansa e Arya. Aquela tinha sido uma das exigências da mãe — que Jon sentasse o mais longe o possível dela. De preferência em outra mesa outra casa outro planeta, mas Ned cedia apenas o suficiente para aplacar sua fúria.

A hora do jantar também era a hora em que todas as coisas importantes eram ditas, quase sempre pelo pai. Catelyn apenas fazia isso quando Ned não estava em casa — quando estava resolvendo assuntos extraoficiais.

(ele devia ter vergonha, jon sempre dizia ao irmão mais velho, com um gosto amargo na boca)

Quando não há nada a ser dito, eles comem em silêncio — ainda vai demorar até que o pai decida que Bran e Rickon são maduros o suficiente para receber a notícia, como Robb e Sansa falam num tom de suspense, de que o Eddard Stark é algo além de um promotor de justiça.

Algumas horas depois, quando Robb e Jon estão jogando xadrez — Robb detesta, mas não consegue negar uma partida a Jon — é que seu irmão fala tudo o que queria ter dito antes, se ao menos tivesse a coragem.

— Você não acha ridículo isso? Como o pai consegue fazer todo mundo acreditar que ele é bom e como ele consegue enganar até os próprios filhos desse jeito, Robb? Ele mentiu para todos nós!

Robb não acha que o pai está tão errado assim. No final das contas ele está ajudando pessoas — ele acha. Ele só contrabandeia remédios que não são permitidos ali na Inglaterra. Remédios importantes, ele diz, que salvam milhares de vidas as quais o governo vira as costas.

Robb sabe que seu pai nunca superou os anos que passou vendo tia Lyanna definhar numa cama.

— Você sabe que ele faz isso por causa da tia Lya, Jon.

— Ele só usa ela como desculpa. Você sabe, Robb.

Ele não sabe por que ainda tenta convencer o irmão. Jon é a pessoa mais cabeça dura que ele já conheceu.

— E lembra daquele conversa que ele teve conosco, sobre o nosso futuro. Pois eu já me decidi. Eu vou caçar gente como ele, Robb. Eu vou ser policial. — E ele fala ido de um jeito tão orgulhoso, tão certo do que esta fazendo, que Robb reprime o calafrio que percorre sua espinha com medo de magoar o irmão.

Ele dá um pequeno sorriso e diz a Jon que ele é corajoso, sim, de desafiar o pai daquela maneira. Mas no meio da noite ele sonha com Jon caçando Theon por vielas escuras, atirando em sua cabeca por algo banal como uma garrafa de cerveja e acorda correndo para vomitar.

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Robb adorava o inverno — todos os Stark o adoravam, na verdade. Era a estação do ano ansiosamente aguardava desde Catelyn, que adorava ficar deitada no sofá enrolada em suas cobertas assistindo um filme com o marido, até Rickon, que passava a noite em claro com Bran para serem os primeiros a ver os flocos de neve rompendo o céu. Tinham toda uma tradição familiar — no primeiro dia em que a neve caía em Londres, Catelyn fazia gemada para todos, mesmo detestando tudo o que é americano, costurava novos suéteres ridículos para os filhos (e um para Theon também, porque ele não tinha muito o que vestir) e Benjen Stark aparecia na soleira da porta, cheio de presentes debaixo do braço.

Dessa vez ele trouxera seis filhotes de cachorro que encontrara, abandonados. Sansa achava que eram huskys, mas eles teriam que esperar um pouco para ver como iam crescer — não que isso importasse. Assim que eles ouviram os latidos, foi uma confusão total até que cada um terminasse com um filhote nas mãos, uma bolinha de pelos que só gania por causa do frio e que conseguira conquistar até Arya, com seu jeito rebelde.

Theon só chegou mais tarde, e só porque Robb insistira para que ele viesse — como sempre acontecia. Aceitou sua gemada com um sorriso e deu risada de Rickon, que tinha decidido batizar seu filhote de Cão Felpudo. E mais uma vez ele fazia aquele ritual para que logo parassem de notá-lo e ele pudesse desaparecer com Robb, procurar confusão em um lugar por aí.

— A mãe fez isso para você — Robb disse a ele e entregou o suéter. Os dois estavam no quintal, Robb com casaco e mil blusas e Theon apenas com um moletom que o ruivo já tinha visto há vários invernos. Pelo menos dessa vez ele tinha algum agasalho, já que às vezes seu pai o proibia de entrar em casa e ele acabava passando frio do lado de fora.

— Pelo menos não é amarelo como o do ano passado. — Ele suspirou, resignado com o sentimento de pena que sabia que os Stark nutriam por ele. — Quando a gente entrar eu agradeço a ela.

O filhote gania nos braços de Robb, enrolado em um casaco velho, apenas com o focinho de fora. Ele observava Theon e latia, curioso com tudo ao seu redor, e o moreno não pode evitar debochar do amigo.

— E então, mamãe Robb, já escolheu um nome para seu filho?

— Eu não sei como aguento você. — Dizia aquilo há tanto tempo que Theon não ficava mais com medo de ele estar falando sério, usando aquele tom de voz irônico só como disfarce.

— Por favor, diga que não é Cão Peludo ou Lorde.

— Eu pensei em Vento Cinzento. Porque bem, ele é cinza né? — Sentia as palmas das mãos suadas e o coração batendo forte contra o peito. Talvez Theon nem percebesse, graças a ele ter se fingindo de idiota no final, mas ainda assim ele tinha medo.

Ou era ansiedade? Das primeiras vezes não fora daquele jeito. Tudo fluiu maravilhosamente bem quando ele estava com Jeyne — as piadas certas surgiam em sua mente; ele sabia a hora de falar, de elogia-la, de convida-la para sair. Mas agora era como se ele estivesse entrando em território desconhecido, logo com Theon, que ele conhecia como a si próprio.

Uma parte dele gritava tomara que ele não perceba tomara que ele não descubra nunca nunca tomara que isso passe logo theon é apenas meu amigo meu melhor amigo.

Mas uma parte pequena dele sussurrava, escondida, deixe-o saber.

E Theon olhou para ele com seus olhos verdes brilhando e seu sorriso maior do que Robb alguma vez e já tinha visto e sim, é claro que sim.

É claro que ele sabia.

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— Você já tem dezoito anos, não é hora de seu pai mandar você fazer algo?

— Bem, se você tivesse me deixado falar primeiro, ia ver que eu vim conversar exatamente sobre isso.

O quarto de Theon era talvez o cômodo mais limpo de toda a casa, e mesmo Robb não tendo visitado nenhum outro lugar da residência há muito tempo, ele tinha certeza que estava certo. Os anos só pioravam a situação dos Greyjoy, só deixavam Alannys cada vez mais doente e Balon cada vez mais alcoólatra. Asha tinha desistido daquela vida e saído de casa, flanqueada por seus dois namorados, e nenhum dos três nunca mais dera alguma notícia.

Agora era só Theon e seus pais, vivendo quase sem falar uns com os outros — Theon gostava de falar com a mãe, mas não era sempre que ela conseguia formar frases coerentes, então quando ele se sentia corajoso o suficiente para vê-la naquele estado, sentava ao lado dela na cama e começava a contar histórias sobre seu dia. Robb o escutara uma vez, por trás da porta, e doeu fingir que não sabia de nada.

Ele queria tanto ver os olhos de Theon voltarem a brilhar como faziam quando eles eram crianças, mas os dois sempre — sempre mesmo — souberam que o destino não seria gentil com Theon.

— Tá, diz logo então. Ou você veio aqui só pra olhar pra minha cara.

Às vezes ele se perdia olhando o rosto do amigo e sem perceber, já estava flutuando em um mundo distante, onde Theon não lhe tirava de seus devaneios com palavras bruscas, mas rindo de Robb e de como ele facilmente perdia a linha do que estava dizendo.

Theon parecia não se dar conta do que seus olhos verdes faziam com o ruivo.

(e talvez ele soubesse mas tivesse medo — medo de arriscar a certeza da amizade dos dois por algo maior e muito mais perigoso)

— Ah sim, claro. — Robb esperava que suas bochechas não estivessem tão vermelhas quanto ele achava que estavam. — O pai disse que já está na hora de eu realmente ajudá-lo. Mas ele não me falou nada ainda, foi mais tipo “Fique pronto que posso precisar de você a qualquer hora”.

— E você está animado? — Theon lhe perguntou e o ruivo já estava com um sim, claro na ponta da língua, mas sabia que mentir para Theon apenas faria com que ele revirasse os olhos, além de deixá-lo chateado. E Theon quando estava chateado era quase impossível de se lidar.

— Mais ou menos. Seria melhor se eu soubesse o que ele quer que eu faça.

— Você tá com medo? Acha que seu pai vai mandar você matar alguém ou algo do tipo? Você sabe que ele não faria isso.

E ele sabia, mas não era isso que o preocupava à noite, que fazia suas mãos suarem e seu estômago embrulhar. Era aquele assunto no qual ninguém em sua cada ousava falar.

— Eu tenho medo de encontrar Jon.

Theon ficou em silêncio — mesmo não sendo um Stark, ele sabia o quanto aquele assunto machucava Eddard e seus filhos. Jon sumiu no meio do inverno, sem dizer nada a ninguém além de Robb — que ainda se culpava por não ter conseguido pará-lo. Ele deixou apenas uma carta para o pai, no maior do todos os clichês, falando de como era ser a ovelha negra daquela família e de seus desejos de ser policial. Theon até pediu a Robb para lê-la, mas sua mãe já tinha jogado o papel na lareira, ávida de apagar qualquer traço de Jon de suas vidas.

Robb pôde ouvi-la sussurrando naquela noite. Eu avisei, Ned. Eu avisei que tudo o que ele traria para essa casa era desgraça.

Sansa descobriu a partir de Margaery Tyrell, uma amiga próxima (até demais) que ele tinha se juntado à Patrulha de Noite — o apelido que os contrabandistas deram à divisão que investigava casos com tráfico de drogas, contrabando e tudo o mais com que os Stark se envolviam. Arya passara uma semana chorando, desolada, mas Jon tinha renegado-os completamente e não havia nada que pudessem fazer.

— Mas tem outra coisa que o pai me disse também. Me mandou fazer, na verdade. — Theon olhava para ele com seus olhos atentos a todos os gestos que ele fazia. — Ele é um contrabandista, certo? Isso quer dizer que ele tem tantos amigos quando inimigos. E esses inimigos, bem, muitos deles não têm coragem de aparecer no meio da noite e explodir a cabeça de Eddard Stark, mas talvez eles não tenham a mesma cautela com seu filho. — Theon sorria abertamente, justo como Robb queria. Ele já sabia onde aquela conversa iria chegar, ele sempre soube que Robb recorreria a ele quando mais precisasse. — Então, o pai acha que eu não deveria fazer certos trabalhos para ele sem ser acompanhado por alguém, como se eu tivesse um segurança particular.

— Alguém que saiba manejar uma arma?

— Sim, esse é um dos requisitos.

— Alguém que entenda como o sistema funciona? Que já tenha visto várias pessoas morrerem na sua frente? Que nem sabe como ainda está vivo depois de tanta coisa que já lhe aconteceu?

— Ora Theon, você parece conhecer alguém com que reúne todas essas condições.

— Elementar, meu caro Robb. Eu tenho o homem perfeito para o seu caso.

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Dois dias depois, quando Ned pergunta ao filho se ele já achou alguém para acompanhá-lo, Robb apenas acena afirmativamente com sua cabeça.

Por favor não pergunte quem é por favor por favor, e as palmas de suas mãos estão suadas e ele está a ponto de gritar é Theon! antes mesmo que Ned abra a boca. Mas seu pai apenas sorri, bagunça seu cabelo e desaparece no corredor em direção a seu escritório.

Robb odiava guardar segredos.

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Theon foi dirigindo o pequeno Ford azul, o carro mais discreto que Ned Stark tinha em sua garagem, até o ferro velho onde o encontro fora marcado.

— Um ferro velho? Sério mesmo? Isso é tão 1930. Me sinto até um ancião. — ele dizia troçando, mas sua mão apertava o volante do carro com força, como se ele tivesse medo que algo fosse acontecer.

Robb estava morrendo de medo também — seu pai tinha sido bem simples em suas instruções, e Robb tinha passado-as na cabeça centenas de vezes. Receba o dinheiro, conte, entregue o saco, espere até que eles confiram, apertem as mãos, volte para o carro. Era tão simples — e Robb sabia disso — mas ainda assim ele temia o momento que Theon estacionasse o carro. Arrependia-se de ter dito ao pai que estava pronto — e olhava para o porta luvas, onde a arma que seu pai lhe dera estava, e rezava pra que o moreno não tivesse que usá-la.

Theon parou o carro num lugar relativamente escondido, entre duas montanhas de carros que pareciam prestes a despencar. Robb não queria descer e Theon não queria que ele descesse. Mas seus compradores já aguardavam no local combinado.

— Eu tenho uma visão ótima deles aqui — o moreno disse, mais para tranquilizar a si mesmo do que ao ruivo. — Eles não vão conseguir encostar em você antes que eu atire, então não tem o porquê de ter medo.

Robb apenas acenou e abriu a porta do carro. Fechou-a atrás de si com um baque alto, que fez Theon cobrir as orelhas com suas mãos.

Eles provavelmente vão rir de mim se me virem desse jeito. Ele respirou fundo, checou sua mochila para ver se tudo estava no lugar e tentou imitar a expressão séria que Ned fazia toda vez que entrava em assuntos mais importantes. Só esperava que ninguém percebesse o suor escorrendo por sua testa — ou que pelo menos acreditasse que era culpa do calor.

Duas mulheres esperavam por ele, vestidas com jalecos brancos como se fossem médicas ou, Robb adivinhou, farmacêuticas, devido a natureza do pedido. Ele abriu a mochila e deixou que elas vissem o conteúdo, esperando a hora em que o dinheiro seria entregue.

No primeiro momento, ele quis devolver — Catelyn dizia que as vendas do marido já salvaram a vida de muitos, então não fazia sentido receber por estar ajudando alguém. E então ele se lembrou do pai dizendo que ele só deveria entregar o pedido se tivesse exatamente a quantia que foi acordada, nada mais e nada menos. Uma das mulheres ia tirando cada vez mais notas de dentro do bolso, amarrando-as de cem em cem com um elásticos.

Robb parou de contar aos dez mil euros.

Ele então colocou todas as notas dentro de um saco de pano e entregou a ele, que conferiu por precaução. Pela expressão que as duas carregavam, sabia que elas não se arriscaram a trazer menos que o combinado e sair dali de mãos vazias. Robb tirou a mochila dos ombros e passou a elas. Uma foi correndo até o carro enquanto a outra, que contou o dinheiro, estendeu a mão para ele.

Robb apertou-a, notando que estava tão suada quanto a dele. A descoberta lhe rendeu um alívio quase que instantâneo, e ele foi andando até o carro enquanto cantarolava e sentia o peso de vinte e cinco mil euros sobre suas mãos.

Theon olhou para ele e deu risada, como quem não estava tão preocupado tanto.

— Ah, como é bom quebrar as regras. — Ligou o som na pior rádio da cidade e engatou a marcha ré, cansado de ver aquele cenário decadente ao seu redor.

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Eles não andaram muito até que Theon decidiu parar no acostamento. Robb tinha mudado a estação de rádio assim que seu amigo passou a prestar atenção no trânsito e a voz de Freddie Mercury fazia as caixas de som tremerem. Theon batia os dedos no volante de acordo com o ritmo de música e Robb olhava para seu rosto sempre que o outro estava concentrado demais para perceber. Robb gostava de comparar o Theon criança com o Theon quase-adulto, gostava de saber que esteve ao seu lado durante tantos anos e que por mais que Theon sempre lhe dissesse que um dia ele não aguentaria mais carregar todo o peso da amizade das dois, Robb nunca tinha desistido dele, mesmo sabendo que Theon não iria culpa-lo por isso.

— A gente vai fazer isso mais vezes? — Theon perguntou, e Robb não sabia dizer se o tom de sua voz era ansioso ou assustado.

— Eu acho que sim, já que deu tudo certo. — Seu pai provavelmente ficaria orgulhoso dele, daquele seu jeito discreto mas que seus filhos conseguiam ver. — Mas eu vou conseguir uma arma para mim também, só por precaução.

— Está bem então. — Theon mexia as mãos de um jeito estranho, como se ele quisesse fazer outra coisa mas se forçasse a pegar o volante e voltar para a pista. Robb ficou observando-o, vendo seu pomo de adão subir e descer quando ele cantarolava junto com a música e imaginando como seria colocar as mãos em seus ombros e dar-lhe um beijo na boca, ali mesmo na estrada.

Mas ele ficou só na imaginação mesmo.

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Diferente de Theon, que mal parou o carro no primeiro sinal vermelho em que passaram e puxou Robb pelo braço, saindo quase completamente de seu banco para colar seus lábios nos dos ruivo. Suas mãos tremiam quando ele as colocou sobre os ombros de Robb, que também tremia — mas por motivos totalmente distintos.

Theon até tentou parar o beijo, com medo de que Robb o achasse maluco ou algo assim, mas o que o ruivo fez foi segurá-lo pela gola da blusa e juntar suas bocas mais uma vez, abrindo os lábios para que a língua do moreno pudesse entrar. Ele nunca pensara que Theon se sentia assim sobre ele — parecia tão irreal que ele ainda não sabia se aquilo era devido à adrenalina do que acabaram de passar.

Os dois pularam de susto quando ouviram as buzinadas e os xingamentos dos motoristas atrás deles. O sinal já tinha ficado verde há alguns segundos, mas eles estavam um tanto quanto ocupados para prestar atenção naquilo. Theon sentou-se direto e pisou fundo no acelerador, rindo da situação que tinha acabado de passar.

Robb respirou fundo para tentar acalmar as batidas de seu coração, mas o som das risadas do moreno só fazia aumentar o que ele sentia dentro de si.

Robb esperou até que Theon colocasse a mão no câmbio para mudar a marcha para colocar sua mão sobre a dele, e deu risada do tom vermelho que coloriu as bochechas do amigo.

Ele nunca tinha se permitido pensar que aquele sonho tomaria vida própria.

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Robb acabou conseguindo uma pistola para si mesmo depois, mais por não aguentar ver a expressão preocupada no rosto de Theon toda vez que se permitia dar uma espiada nele durante uma negociação do que por medo que ele falhasse quando fosse necessário.

— Ridículo. Você tem segurança pra que então? — Theon perguntou quando o ruivo lhe falou sobre arma. Pelo tom de sua voz, ele pareceu achar aquilo um ultraje, mas Robb o conhecia desde seus sete anos.

E sabia que, se Theon conseguisse se libertar da armadura que criou desde cedo, estaria suspirando aliviado.

— Ei, desde quando isso é motivo para você ficar bravo comigo? — Robb perguntou-lhe, com um sorriso estampado no rosto, e aproveita que Theon pensando em uma resposta a altura para lhe roubar um beijo.

Eles demoraram. Demoraram porque são poucos os momentos em que podem se dar ao luxo de compartilhar um beijo de verdade e não aqueles selinhos que eles sempre trocam quando parece que ninguém está olhando. Eles estão sozinhos, na dispensa, onde qualquer barulho que façam vai ser abafado pelas grossas paredes ao seu redor; estão sentados em cima de caixas cujo conteúdo eles nem pensam sobre, porque tudo o que importa são os pequenos gemidos que Theon deixa escapar quando Robb coloca a mão por baixo de sua blusa. Tudo o que importa são eles dois, escondidos de tudo e de todos, e o que se passa entre seus lábios enquanto se beijam.

E Theon realmente suspira depois dessa.

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— Como vão indo os negócios, Robb?

Eles estavam todos sentados, jantando, a perfeita família Stark, a inveja da vizinhança. Robb fingiu pensar um pouco enquanto comia mais uma garfada de macarrão.

— Está tudo ótimo, pai. A maioria dos encontros termina bem, e quando alguém começa a sair da linha, nós geralmente conseguimos fazer com que ele se acalme. — Pareceu-lhe uma boa resposta, o tipo de coisa que ele gostaria de ouvir caso estivesse no lugar do pai.

— Nós? — Sua mãe entra na conversa.

— Eu e meu segurança, Will. — Ele inventou um nome qualquer para deixar sua mentira mais convincente. Tudo correria bem se ninguém perguntasse como os dois tinham se conhecido.

Se Theon estivesse ali, conseguiria criar a história de Will desse o seu nascimento até hoje, incluindo seus momentos heroicos e as grandes ações cometidas que lhe levaram a ser digno tornar-se o segurança particular de Robb Stark. Havia certas coisas que ele falava que nem Robb sabia se eram verdades, de tamanha facilidade com que Theon mentia. Mas Robb era péssimo para contar mentiras, e sua família sabia disso.

(tudo por causa do dia em que Robb decidiu visitar Theon, que estava doente e sem poder sair de casa, mesmo sabendo que sua mãe tinha medo de que ele andasse por aquele bairro sozinho. Mas ele não ia deixar de visitar seu melhor amigo quando ele estava de cama, de jeito nenhum, então ele disse que ia brincar com Jon Umber a tarde inteira, e ela acreditou.

Mas perto do final da tarde ela e Ned decidiram sair para jantar e Cat achou melhor ligar para os Umber e pedir que mandassem Robb para casa logo, para que eles não tivessem que se atrasar.

E Robb não estava lá)

Ned deixou por isso e virou seus olhos para a filha mais velha. Perguntou como estavam seus estudos e ela foi rápida em responder — Sansa sempre livrava o irmão das enrascadas. Robb suspirou aliviado.

Mas com o canto dos olhos sua mãe continuava lhe olhando, e Robb sabia que ela não tinha ficado satisfeita com sua resposta.

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— Não é hora de seu pai lhe passar algo um pouco mais complicado? — Theon perguntou, com um cigarro pendurado na boca.

Ele adorava ficar desse jeito, sentado no balanço da praça, tentando soltar a fumaça em círculos, como faziam os personagens de desenhos. Robb, que apenas dava algumas tragadas em seu cigarro antes de enjoar daquilo, observava Theon segurando o cigarro entre seus dedos indicador e médio, balançando-o para cima e para baixo antes de dar mais um trago, exalar a fumaça tentando inutilmente moldá-la em um formato qualquer que não um simples jato fino; algo que ficasse gravado na memória como lembrança daquele silêncio.

E então ele suspirava e olhava para Robb e sorria (de verdade). E Robb sorria de volta.

— Por quê? Você quer morrer ou algo do tipo? — Robb queria poder ficar o resto da vida com aqueles trabalhos simples, que ele até gostava de fazer. Ele estava ajudando pessoas, apesar de ter que agir fora da lei, fornecendo remédios para quem precisava.

(theon nunca tinha dito nada a ned stark, mas sua mãe melhorou consideravelmente depois que eles conseguiram contrabandear o medicamento que ela precisava, e isso deixava robb mais feliz que tudo

faria tudo para ajudar theon)

— Sei lá, Robb. — ele suspirou, observando a fumaça que sumia em sua frente. — Eu queria fazer algo diferente de vez em quando. Eu sei que é loucura, mas… Queria ir embora daqui. Queria correr pra longe, só eu e você, e a gente podia fazer qualquer coisa pra se sustentar. — Robb não se lembrava da última vez em que Theon esteve tão sonhador. — Mas esquece, é idiotice minha.

(seu pai continua batendo em você?, ele queria perguntar, mas sabia que theon, com seus vinte anos, sairia dali pisando fundo para só aparecer semanas depois)

— Não é idiotice, Theon. Você sabe disso.

Mas parece que ele não ouve aquilo, feliz como está por finalmente ter feito um círculo com a fumaça do cigarro, como tantos homens que ele sonhou ser faziam na televisão.

Sempre soube que nunca seria um deles.

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Não era a primeira vez que Robb se encontrava sentado, de frente para o pai, em seu escritório. O lugar sempre lhe parecera especial com suas estantes cheias de livros e medalhas e certificados, mas uma das primeiras coisas que as crianças Stark aprendiam era que o escritório do pão estava fora dos limites de onde eles podiam explorar.

Ele se lembrava de que suava frio sempre que o pai o chamava até lá, porque se o pai te chamou para ir ao escritório é sinal de que você fez algo muito errado e vai ficar de castigo — e todas as coisas muito erradas que Robb fazia eram na companhia de Theon Greyjoy, o que não servia para aplacar o humor de Ned. Até porque seus incontáveis avisos para que Robb se afastasse desse menino pareciam cair em ouvidos surdos. Eu não posso ter meu filho andando com um Greyjoy, Robb Stark. Robb sempre respondia com Tudo bem, pai e abaixava a cabeça para parecer arrependido, mas no outro dia já estavam os dois na rua subindo nas árvores e assustando os vizinhos.

O cômodo tinha perdido aquela aura assustadora ao longo dos anos, e o que incomodava Robb agora era a espera — era ouvir o tic tac do relógio enquanto ele esperava seu pai chegar e sentar em sua cadeira pra tratar do porquê chamou o filho até ali.

A porta se abriu algum tempo depois e Robb tratou de sentar-se direito na cadeira, imitando a postura ereta que seu pai sempre mantinha. Ned andou até seu lugar sem dizer uma palavra sequer e nem mesmo olhar para o rosto do filho. Robb tentou recordar se tinha feito algo que o pai pudesse considerar como ruim para os negócios — mas ele sempre fizera tudo como lhe fora pedido, e não via motivo para o pai estar se comportando daquele jeito.

— Como vão os negócios, Robb? — ele lhe perguntou como quem estava apenas curioso para saber a resposta.

— Acho que ele nunca estiveram melhores, ou pelo não depois que eu passei a fazer parte disso tudo. — Ele tentou soar o menos convencido possível. — Nós recebemos pedidos todos os dias e de diversas partes da nação e inclusive dos países vizinhos. Os lucros aumentam a cada cálculo que fazemos e nossos informantes na polícia continuam a dizer que ninguém de dentro desconfia da autoria desses crimes. — Também não gostava de chamar aquilo de crime, de se admitir um criminoso, alguém que ele detestou durante tanto tempo, mas agora era tarde para conversas sobre honra e justiça.

— Exatamente, Robb. É bom saber que você se interessa pelo bem estar de nossos negócios. — Nosso império, ele queria dizer, mas o pai não lhe sorriu ao fazer aquele elogio. — Mas eu temo que algo precise ser modificado para que tudo flua como deve.

Robb esperou, porque sabia que não deveria contrariar as palavras de seu pai — e seu chefe. Ele só esperava que a responsabilidade dos erros dos outros caísse sobre seus ombros, já que ele era algo como um vice-chefe de uma empresa. Às vezes ele achava que Ned passava coisas demais para que ele pudesse fazer tudo.

Isso é porque ele confia em mim, uma parte sua dizia. Então ele nunca reclamava.

— Agora que chamamos a atenção de outras organizações fora do país, é hora de aumentar a segurança caso ocorra um atentado contra nossa família. E você, que trabalha na linha de frente, é o mais vulnerável. Eu irei trocar seu segurança por dois homens de minha confiança, que diferentemente desse Will que você arranjou, dão conta do recado.

Theon precisa do dinheiro foi a primeira coisa que ele pensou — além do mais, seu pai nunca se meteu nesse tipo de coisa, e de onde ele tirara essa ideia de atentado?

Sem o salário que recebia dos Stark e que era o único dinheiro que entrava em casa, Theon ficaria sem alternativa que não ir para a rua. E Robb prometera ao moreno que não deixaria aquilo acontecer.

(ele ainda se lembra de como aqueles olhos verdes brilharam quando ele disse isso)

— Eu agradeço a preocupação, pai, mas Will já se mostrou mais do que capaz—

— A única pessoa na qual Theon Greyjoy é capaz de atirar com uma arma é você. Ou achava que poderia me enganar com essa farsa de Will até o resto da minha vida?

Robb não lembrava o que tinha de fazer para continuar respirando. Durante todo esse tempo ele teve o cuidado de nunca citar Theon quando estava falando do trabalho, de andar com ele apenas quando não havia ninguém por perto, de beijá-lo apenas dentro do carro com seus vidros escurecidos onde ninguém podia vê-los. Mas ele devia saber que seu pai um dia descobriria tudo e jogaria sua fantasia no chão, porque de todos os amigos que ele poderia ter no mundo, foi Theon Greyjoy o que seu coração escolheu para si, e por aquilo Ned nunca o perdoara.

— Eu não duvido que você tenha contado a ele tudo o que sabe sobre nossos negócios. É uma pena que você foi se amarrar justamente com o filho de nosso antigo inimigo, Robb, mas você já cresceu demais para deixar isso no seu caminho.

— Pai, Theon não é Balon. — Mas ele sabia que não adiantaria discutir com o pai sobre aquilo, nem agora nem depois, quando os dois estivessem mais calmos.

— Não, mas ele é deu filho e eu duvido que ele tenha esquecido a vida de príncipe que levava enquanto Balon comandava estava região, antes que de nós termos destruído seu reinado e ele ter se afogado em álcool. Eu sempre lhe disse para ficar longe dos Greyjoy, Robb, mas você prefere esperar pacientemente pelo dia em que Theon lhe enfiará uma faca entre as costelas. — Vendo que Robb estava sem condições de reagir, ele continuou. — Eu quero que você se livre dele. Os pormenores disso em deixo a sua escolha, mas eu não quero ouvir mais uma palavra sobre Theon Greyjoy enquanto eu viver. Fui claro?

— Sim, pai. — Foi a única coisa que ele conseguiu dizer. Claro como cristal.

Ned levantou-se e saiu do cômodo, mas Robb continuou ali, olhando o dia que passava pela janela do escritório. Ele deveria estar esperando que esse dia chegasse há muito tempo, mas para e que se pai tinha mais esperança nele do que ele merecia. Ele até tentou explicar Theon para a família uma vez, mas como ele poderia dizer que a única vez no dia em que Theon deixava que um sorriso verdadeiro escapasse por seus lábios era a sua preferida? Que toda vez que os dois chegavam em frente ao mar ele enchia os pulmões de ar como se ele aroma da água salgada e da areia queimando sob o sol fosse o melhor que ele já tinha sentido em toda a vida? Que toda vez que Robb o convidara para passar o dia na residência dos Stark ele agia como se algum príncipe de uma terra distante houvesse lhe chamado para visitar o paraíso?

Eles nunca entenderiam — nunca viram como os dedos finos de Theon se entrelaçavam nos cabelos de Robb, como apareciam covinhas em suas bochechas se ele sorrisse daquele jeito certo, que geralmente acontecia quando Robb fazia cócegas em seus pés, como ele deitava a cabeça na barriga de Vento Cinzento e dormia ali mesmo no chão enquanto os dois assistiam Scarface pela décima vez. Nunca sequer tentaram ver algo além do filho de Balon Greyjoy, da criança abandonada que ele era e da vida medíocre que o aguardava no futuro.

(castelos sempre acabam caindo, robb

o nosso vai durar para sempre, eu juro)

Seu pai realmente não o conhecia se achava que ele ia se livrar de Theon.

x

— Robb, aconteceu alguma coisa? — Theon lhe perguntou assim que o viu chegando na casa minúscula em que ele morava, correndo por aquelas vielas escuras que faziam parte de seu bairro. O ruivo ofegava como se tivesse acabado de completar uma maratona e dava para ver que seu rosto estava vermelho devido ao esforço.

Mas Robb não tinha condição de falar nada. Theon correu até a cozinha, desviando com a sabedoria que só vem da prática de todos os obstáculos que havia no caminho, como as caixas de papelão e todas as coisas velhas demais até para sua família. Ele alcançou o único copo de vidro que não tinha a borda quebrada, o encheu com água e foi até Robb, sentado nos degraus da porta. O ruivo olhou para trás quando ouviu o barulho de Theon esbarrando em alguma coisa, logo antes de deixar um ai! escapar de sua boca.

Ele entornou toda a água que o moreno lhe ofereceu em quatro rápidos goles. Talvez ele não devesse ter vindo — quem sabe se seu pai não mandara alguém para vigiar tudo o que eles estavam fazendo. Podia estar até mesmo colocando Theon em perigo, mas há dias que ele não pensava em outra coisa senão vir visitá-lo em sua casa.

— Um monte de coisa, na verdade. — Ele finalmente respondeu, quando Theon já havia esquecido que lhe fizera uma pergunta. — O pai descobriu que você é meu segurança, então ele finalmente tomou coragem para dizer que quer que eu me livre de você, nas palavras dele.

— E foi isso que você veio fazer aqui? — Theon sempre suspeitara que aquele momento chegaria, quando Robb iria perceber que tudo o que o moreno fazia era puxá-lo para baixo, para o seu universo cheio de incertezas e de decepções. Ainda assim, doeu saber que os Stark sempre o detestaram, por mais que ele tivesse feito tudo para agradá-los.

Mas Robb pareceu genuinamente indignado ao ouvir aquilo.

— Claro que não! — Ainda bem que não havia ninguém na rua para ouvi-los conversar ali. — Theon, você sabe que eu nunca vou desistir de você, não é? Eu já disse para você parar de pensar tão mal de si mesmo.

Theon ficou quieto depois daquilo. Ele queria ter coragem para dizer isso não vale a pena, Robb, você não pode abrir mão da sua família por minha culpa, mas sabia que não conseguiria viver se Robb o abandonasse à própria sorte. Ele não era nada até que o ruivo apareceu em sua vida, e voltaria a ser nada assim que ele o deixasse.

Mas pelo jeito, deixar Theon não estava em seus planos.

— Então o que você vai fazer?

— Eu não sei, droga! Eu só sei que não vou largar você de jeito nenhum.

E então ele segurou o rosto de Theon com suas mãos macias de alguém que sempre teve tudo o que quis e encostou seus lábios (não tão macios) nos dele. Ele parou uma vez para dar uma leve mordida no lábio inferior de Theon, mas fora isso, foi tudo calmo como o mar em dia ensolarado e Robb traçava o interior da boca de Theon com sua língua como se quisesse fazer aquilo pelo resto de seus dias.

E Theon queria o mesmo.


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Notas finais do capítulo

OBRIGADA POR LER A NOIR-NÃO NOIR GENTE
amo vocês ♥