Naked escrita por Hellscy


Capítulo 4
Farinha de trigo


Notas iniciais do capítulo

"Ninguém pode voltar no tempo e fazer um novo começo. Mas podemos começar agora e fazer um novo fim"
— Bob Marley



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Depois de ser beijada de uma forma nada menos do que surpreendente de tão repentina, qualquer um pensaria que Juvia não conseguiu dormir a noite. Entretanto ela dormiu. Acredite ou não como uma pedra nas nuvens. Algo que não vinha conseguindo fazer a muito tempo.

Claro, ela não tinha nem a mínima ideia do porque de Gray ter feito aquilo. Era um mistério, mas já fazia um tempo que a Lockser não conseguia entender o moreno direito. Por isso levou mais ou menos uma hora, apenas, para se recuperar da surpresa e pensar sobre aquele beijo até desistir e botar o assunto de lado.

Classificou o episodio como um capricho do Fullbuster.

Sua conclusão? Ele era louco. Simples assim.

Porém o que mais a incomodava eram as palavras finais dele.

“E é assim que um encontro deve acabar”

– Não era um encontro. - bufava toda vez que aquela voz soava em sua cabeça repetindo a mesma coisa sempre e sempre. E sempre.

Juvia imaginava se ele achava que tinha sido um encontro.

Se sim. Por quê? Pois tinha quase certeza de que ele não gostava dela tanto quanto ela não gostava dele.

Ou será que só ela pensava daquela maneira?

Se não. Então o que ele disse não passou de uma brincadeira?

Isso fez muito mais sentido para Juvia.

Por essa razão esqueceu rapidamente aquele momento para se concentrar em viver a vida.

Fez um trabalho tão bom que durante cinco dias tudo pareceu se estabilizar de novo e a Lockser pode viver normalmente como nunca queria ter deixado de viver.

Nos últimos cinco dias não falara ou encontra Gray Fullbuster. Nem por um segundo. Nem na rua, nem em dias de manifestação ou em qualquer outro lugar maluco onde o acaso poderia juntá-los. Nem na academia, único local que tinham conviviam em comum. Ela até tentou encontra-lo durante seus treinos, mas aparentemente seus horários nunca batiam, então acabou desistindo da ideia.

Na verdade, fora em seus pensamentos sem cabimento - como ela nomeou, nem ao menos ouvira a menção do nome do moreno, principalmente de qualquer um de seus amigos em comum.

Outra coisa que começava a contribuir para a normalização de sua vida, era que o assunto “vídeo” finalmente parecia estar dando os primeiros passos para o fim. Nos últimos dias as pessoas cansaram de rir, gradativamente, quando saia na rua. De fato alguns ainda a paravam, mas nada se comparando a antes. Quer queira quer não o vídeo ainda tinha seu sucesso no YouTube, apesar da contagem das visualizações ter diminuído ainda era bastante pessoa que via a cada dia. Algo normal para um viral. Uma semana não seria suficiente para aquilo parar por completo.

Porém era uma esperança sua repercussão estar diminuindo aos poucos.

Fazia poder respirar aliviada.

Juvia também havia seguido o conselho de Lucy, sobre não se importar, e isso ajudou bastante a ter cara de sair de casa, além de aguentar piadinhas. Fora ter paciência para esperar pacientemente que aquela tempestade passasse - a qual finalmente estava.

Aquela sexta-feira em particular estava sendo até monótona demais.

Acordara tarde e não tinha planos de sair, mesmo estando de férias. Erza e Mira não estavam de folga do trabalho, Lucy resolveu ter um dia de casal com Natsu e Gajeel mataria as saudades de Levy que voltava hoje da viagem de férias. Também não recebera convites para sair dos amigos da faculdade ou do estágio, então mal se prestou a tirar os pijamas.

Tomou café na sala assistindo desenhos e, preguiçosa, prolongou até o fim de semana sua ida ao mercado. A qual realmente estava precisando.

– Amanhã, sem falta - era a quarta vez que falava aquilo entre segunda e sexta.

Eram quase duas horas da tarde e seus únicos movimentos eram trocar de posição no sofá, nem a louça do café levou para a pia, largou na mesa de centro mesmo.

As únicas vezes que se levantara foi para ir ao banheiro e a ultima foi há 1 minuto para botar a água esquentar. Água que seria usada para seu último pacote de miojo. Depois dos desenhos acabarem a TV ficou com cara de domingo, nada de bom passava prendendo-a em um movimento repetitivo com os dedos de trocar os canais pelo controle remoto.

Sentiu o celular vibrar próximo a perna e atendeu sem tirar os olhos da TV, atentos a qualquer programa interessante.

– Alô? - disse com o tom tedioso de quem não prestava atenção.

– Juvia. - se assustou. Passou a prestar atenção largando o controle. Não esperava ouvir aquela voz tão cedo, mesmo já fazendo uma semana.

– Gray?! - sério? Assim de repente?– Gray?! É você mesmo?

– Santo Cristo que não é! - ele parecia um tanto irritado e ela não entendia porque, mas sentia que estava prestes a descobrir - Claro que sou eu! Por que essa surpresa toda?

– Eu não esperava uma ligação sua. Na verdade eu não esperava nem mais saber que você existia. – não disse para irrita-lo, mas se não ouviu falar dele durante uma semana, não esperava ouvir pro resto da vida.

– Obrigado pela parte que me toca.

– Então… por que ligou? - não tinha certeza se devia perguntar, mas ficou curiosa. Devia ser importante para ligar logo para ela.

– Por nada. Eu só queria saber como você estava. - Juvia não percebeu, porém havia sarcasmo em cada palavra dita.

– Sério? - relaxou - E como vai a vida?

– Ah. Isso é algo bem interessante. Você vai adorar ouvir - naquele momento ela teve certeza de que não ia - Nos últimos quatro dias tudo estava bem normal, calmo. Como há muito não era. Eu estava ocupado ajeitando algumas coisas sobre um novo estagio que eu quero fazer e resolvendo uns assuntos antes da volta para faculdade, já que agora só falta uma semana para o fim das férias. - sim, ela sabia. Para a Lockser também faltava uma semana - Estava tudo tão de volta ao que era que nem pareceu que aquele dia fatídico aconteceu.- Juvia se sentiu um pouco ofendida, como se ele estivesse insinuando que a culpa era dela, mas ficou quieta pois o rapaz parecia bem nervoso. De um jeito bravo, só que muito mais desesperado. - Ai, ontem, minha mãe me ligou me convidando para almoçar na casa dela hoje para reunir a família. Eu aceitei. Sabe? Para relaxar.

Se cansou daquela ladainha, era direta e quem começava a ficar sem paciência era ela.

– Tá. E o que eu tenho haver com isso? Ligou só para contar da vida boa?

– Eu estou aqui na casa dos meus pais agora, com o Lyon, a namorada dele e minha irmã.

– E?

– Quer me explicar por que todo mundo, TODO MUNDO, aqui estar enchendo meu saco perguntando sobre onde a minha namorada, Juvia, está?

Juvia paralisou por alguns segundos com os orbes arregalados tentando digerir a informação.

– O que? - soltou involuntária e perplexa - Quer dizer… Como eu vou saber?

– Tem razão, como você, Juvia, iria saber, né? - o cinismo dele a encolheu. Procurava uma saída para aquela situação. Olhou para todos os lados da sala buscando inspiração. Porém nem um tapete ou um sofá pareciam fornecer boas ideias. - Então talvez você saiba o porquê de ter uma chamada não atendida da minha mãe no dia em que eu não estava com o meu celular!

Droga. Usou a pior desculpa que passou pela sua cabeça:

– Pode ser qualquer Juvia. E pode ter sido um erro do seu celular. - mesmo que seja um Iphone quase novo completou mentalmente, pois achou que essa parte mais a atrapalharia do que ajudaria.

– Tá de brincadeira com a minha cara? - achou melhor não responder - Como você explica então o fato de que minha família inteira, até a namorada do Lyon, ter uma foto dessa qualquer Juvia? Aliás garota que se parece muito com você. E apesar de que até onde eu saiba, você é a única Juvia que eu conheça.

Ela se xingou por seu deslize. No dia em que mandou aquela foto teve o cuidado de apaga-la logo depois junto com conversa com Ur no wpp, mas não esperava que aquilo pudesse acontecer. Foi um tanto ingênuo de sua parte.

– Desculpa - se entregou - Você viu que horas ela ligou? Quando eu atendi nem estava acordada ainda.

– Ela te ligou as nove. As nove eu já levantei, tomei café e já percorri metade de uma pista de corrida.

– E a culpa agora é minha se você tem problema para dormir e seja hiperativo? - esbravejou - O caso é que depois de explicar que você não tinha morrido…

– Espera, você disse que eu tinha morrido?

– Não! Foi um mal entendido. De qualquer jeito, ela me pediu a foto e eu mandei, depois ficaram falando que eu seria uma ótima nora ou coisa parecida. Eu mal tive tempo de explicar que não tinha nada com você

Gray deu um suspiro tão longo e cansado que fez Juvia encolher os ombros.

– Tá bem. Eu vou tentar desfazer essa burrada. - ela quis se irritar, mas desta vez a culpa era dela.

Nesse momento ouviu o barulho irritante de água quente escorrendo no fogão. Saiu correndo e Gray pode ouvir o tumulto além da moça gritar “Minha água”. Ele ouviu bem? Juvia “queimou” água?

– Você queimou água? Além do Natsu eu nunca pensei que outro ser humano pudesse conseguir essa façanha.

– Cala a boca! - gritou irritada diminuindo o fogo e adicionando o miojo - Isso é culpa sua por ficar gritando comigo. - ele ficou em silêncio, porém com vontade de rir, enquanto ela preferiu esperar os três minutos ao lado do fogão. Depois de um minuto suspirou e corajosa sussurrou: - Desculpa. - seu tom era tristonho de quem se sentia culpada

– Por que esta se desculpando? A água é sua.

Uma veia saltou da testa da azulada.

– Estou falando do mal entendido com a sua família, idiota.

Levou um segundo, de desespero pelo que o moreno diria, antes de Gray responder:

– Não precisa se preocupar. A minha família também exagera nas coisas às vezes. - concluiu - Mas já que você mexeu no meu celular, deixa eu perguntar… - com aquele tom de brincadeira ela já soube que coisa boa não viria - Quem é Bora?

Um arrepio passou por sua espinha antes de deixar o garfo cair na pia. Nada de surpresa ou constrangimento, Juvia ficou estática por não sentir nada em uma seriedade que raramente demonstrava. Realmente coisa boa não veio, era coisa bem pior. Ela só pareceu acordar do seu transe quando ele a chamou preocupado.

– Ele ligou? – aquele tom distante e frio Gray não conhecia.

– No dia em que trocamos os celulares.

De repente não era preciso ser gênio para notar o clima tenso mesmo por telefone.

– E você atendeu?

– Não. - pensou em brincar dizendo que não era como ela, mas não achou que fosse o momento para isso.

– Bom. - ela demorou de novo para responder e ele pensou que estivesse escolhendo o que dizer - Não é ninguém. É só um conhecido distante que deve ter ligado para me irritar sobre o vídeo. Deixa pra lá.

Óbvio que Gray não acreditou em uma única palavra. Porém não iria força-la a falar sobre o que não queria. Não soube o que fazer para desfazer aquele clima de tensão, mas Juvia o ajudou

– Como você me ligou? - perguntou de volta com o tom normal e um tanto curiosa. O moreno pode perceber que ela comia alguma coisa, muito provável que macarrão pelo som que fazia.

– Com o celular?! - foi irônico. A Lockser esfregou os olhos, não se estressaria tão fácil, apesar de isso ser um dom que ele parecer ter sobre si. Perder a paciência.

– Eu quis dizer como você tem meu número.

– Eu gravei no meu celular. Tá aqui salvo como “Louca da praça” - agiam como se nunca houvessem tocado no nome “Bora”.

– Vai à merda. - desistiu de tentar ser educada.

– Nossa quanta brutalidade. Eu que deveria estar sendo grosso depois de você espalhar para minha família que estávamos em um relacionamento.

– Já falei que não foi de propósito. - esbravejou

– Assim vou pensar que esta apaixonada por mim. - aquela voz travessa fazia seu sangue ferver. Irrita-la era tão fácil assim? Para o Fullbuster sim.

Praguejou altos palavrões para o céu. Desistiu. Para ter que estar passando por aquilo só se fosse uma maldição do diabo, então começou a pisar chutar o chão. Foda-se o vizinho chato do apartamento de baixo.

Dizia para si mesma que devia ir pro inferno para se vingar de quem quer que estivesse lá a fazendo passar por aquelas brincadeiras de mal gosto e rindo da sua desgraça.

Só parou quando o vizinho começou a bater com o cabo da vassoura em resposta.

– Poxa Juvia, só tivemos um encontro até agora.

Franziu o cenho.

Antes de desligar na cara do moreno, gritou alto o suficiente para incomodar o vizinho de baixo novamente:

– Não foi um encontro.

.#.#.#.

– É obvio que foi um encontro. - Levy exclamou animada do outro lado da linha.

Juvia suspirou. Era sábado, fim de tarde. Incapaz de ficar mofando mais um dia em casa reuniu coragem para ir ao supermercado. Estava no corredor dos laticínios com um pequeno carrinho ao seu lado, enquanto falava com a amiga pelo celular.

Assim que Levy ouviu as novidades de Lucy e Erza, logo após chegar de viagem e Gajeel largá-la, correu para ligar para Juvia.

– Você esta delirando - respondeu impaciente pegando o iogurte de frutas.

– Você é que esta delirando. Não quer aceitar que esteve em um encontro com o moreno gostoso e fica ai de doce. - Juvia se prestou a revirar os olhos escolhendo entre as marcas de leite. - Pelo que você me contou, tudo aponta para uma conclusão: En-con-tro. - sibilou

– Para de falar besteira - ajeitou o telefone no ombro e empurrou o carrinho para a ala dos biscoitos. - A gente só se viu para trocar as bolsas um do outro.

– Sei. Ele te convidou, não foi?

– Foi. Para um estacionamento.

– E depois vocês foram para o Fairy Hills comer?!

– É. Mas só porque a Erza praticamente nos obrigou - respondeu tentando se concentrar no sabor de recheio que deveria escolher.

– E ficaram conversando por quase uma hora?!

– Duas, na verdade.

– Conversaram o que?

– Sei lá. Coisas aleatórias - preferiu o de chocolate

– E foi legal?

– Sim, ele tem um bom papo até. Não é um chato sem conteúdo como eu pensei.

– Hmm. E depois ele te levou para casa?

– Depois de me encharcar com chá? - perguntou irônica - Sim.

– Isso. E depois de pagar a conta também.

– Não por que eu quis, mas sim, ele pagou e me deixou em casa. Não aceitou que o reembolsasse. Machista - grunhiu pegando alguns salgadinhos. - E ainda disse que não aceitava um “não” para a carona. - engrossou a voz tentando imitar o não de Gray.

– E depois…

Juvia se calou. Respirou fundo e após um suspirou profundo respondeu:

– Depois ele me beijou e disse algo como: “É assim que um encontro deve acabar” - Levy gritou um sonoro “HÁ” - Mas isso não quer dizer que tenha sido um encontro - se adiantou em concluir. Tarde demais.

– Até o moreno gostoso sabe encarar a verdade

– Para de chamar ele de moreno gostoso, o nome dele é Gray. Gray Fullbuster.

– Fullbuster. Gray Fullbuster. Juvia Fulbuster. Soa bem - comentou maliciosa e Juvia começou a esbravejar com ela - E não tem como eu não chamar ele de moreno gostoso, só com essa tatuagem das costas ele já me conquistaria. Não conta pro Gajeel - Até parece pensou vingativa

– Não acredito que você esta vendo esse vídeo.

– Pela terceira vez? Sim, estou. É hilário. Com você contando é melhor ainda.

Juvia bufou escolhendo pacotes de macarrão, miojo e cup lámem.

– Você deve ser a nona pessoa para quem conto essa historia com detalhes, fora os que o YouTube fornece.

– Não entendi. É para eu me sentir honrada? - gargalhou.

– Cala a boca baixinha.

– Mas a história é inacreditável. Parece até coisa que você só veria em filme. Tudo bem se eu usar como base para algum livro? - Levy estudava letras e sonhava em ser escritora, já tinha até um livro publicado. Seu gênero favorito era romance e a garota adorava usar a vida dos amigos como inspiração para suas histórias.

– Já não basta estar na internet?! Tem que virar livro também? – bufou - Bom... se não mencionar meu nome, para mim não tem problema.

– Nem se eu mencionasse seu nome iriam descobrir. É tão surpreendente que ninguém acreditaria se eu dissesse que foram baseados em fatos reais. – exclamou divertida já tendo mil ideias - Mas voltando ao assunto principal: Foi um encontro, sim, e você devia aceitar isso logo.

– Tá, vai nessa - comentou com descaso.

– Não me surpreenderia se começassem a namorar. Vocês vão namorar?

– Você tá louca? Bebeu?

– Qual é o problema? Você até conheceu a família dele.

– Eu não conheci a família dele, conversei com eles por telefone e por acidente, ainda por cima. – tentava se explicar começando a aumentar o tom da voz – E nós não vamos namorar, nunca. Nem acho que vou ver ele de novo.

– Ele é tão horrível assim? - Juvia suspirou.

– Não é bem isso. No começo ele parecia ser um babaca, mas depois do “não-encontro”... - enfatizou - ele não pareceu ser tão mal. Na verdade se mostrou bem legal de conversar e se ter por perto. Não pareceu ser o boçal que achei que fosse. As duas horas de “tregua” até que foram divertidas, admito. Mas não foi um encontro. - deu ênfase para que entrasse de vez naquela cabeça azul.

– Que honra escutar isso. - sentiu um bafo quente na base do seu pescoço, finalmente reparando na pessoa que invadia seu espaço pessoal sussurrando contra seu ouvido desocupado.

Com um de seus gritos agudos deu um pulo assustada se afastando ao mesmo tempo em que se virava para o motivo daquela conversa.

– Gray! - exclamou

– O que? Ele tá ai? Juvia?! - Levy a enchia de perguntas buscando sua atenção, mas Juvia desligou o celular sem desviar os olhos do olhar negro.

– Que coincidência, Juvia.

– Coincidência uma ova. Já falei para parar de me seguir.

– Tenho que repetir quem de nós dois tem mais tendência a ser um stalker?

– Eu não te stalkearia nem em um milhão de anos. Para sua informação estou fazendo compras - apontou para o carrinho praticamente cheio.

– Olha só que coincidência - começou travesso e aquela palavra começava a estressa-la - Eu também.

– Então até mais ver. - respondeu virando a cara e empurrando o carrinho para longe daquele corredor. O problema foi quando ele começou a segui-la. - Acabou de dizer que não era um stalker e agora fica me seguindo?

– Não estou te seguindo, só que o que eu vim comprar está para esse lado. - não a convenceu, mas também não o impediu.

– Mas olha só! – exclamou sarcástica – Não tinha reparado, mas você está completamente vestido.

– Alguns milagres acontecem

– Deve estar sendo difícil para você. – arqueou uma sobrancelha dando um sorriso de canto irônico

– Nem tanto, estou acostumado a ter que me vestir para faculdade. – apesar de dizer isso ele se abanou com a gola da blusa, estava calor e Gray realmente estava com vontade de tirar pelo menos a camisa. – Mas eu não posso dizer o mesmo de você. Deve estar sendo difícil não me ver sem camisa, acertei? – retrucou com um sorriso ainda mais irônico.

Ela não respondeu. Corou levemente já um tanto acostumada com aquele jeito sem vergonha do Fullbuster. Por dentro, bem por dentro, havia um pedaço dela que concordava com o que ele disse. Uma parte que Juvia preferia reprimir.

Com um bico entrou no corredor de grãos e cereais ainda sendo acompanhada por sua mais nova sombra. Passou a recolher sacos de açúcar, feijão e arroz, nada que passasse de 2kg. Mal almoçava, principalmente agora que a faculdade e o estágio iriam voltar, e ainda tinha que voltar de ônibus, por isso não pegou em grandes quantidades. Quando fazia compras mais pesadas contava com a ajuda de uma das amigas motoristas e seus carros.

Parou para escolher os cereais para o café da manhã. Cruzou as pernas e encarou as marcas com o dedo nos lábios, não reparou, mas o moreno ao seu lado achara uma graça. Encontrou seu cereal favorito na ultima prateleira.

Com um resmungo se pôs na ponta dos pés para alcança-lo sem sucesso, mesmo se esticando o máximo que podia. Então sentiu ser pressionada por trás e alguém segurar sua cintura com a ponta dos dedos com uma leve pressão, porém gentil. Prendeu a respiração. Seu corpo todo esquentou com aquela proximidade repentina, que iniciou como uma pequena descarga elétrica, ainda que, como da primeira vez, a fonte não exalasse calor. Em seu campo de visão uma mão de um braço maior que o seu alcançou o cereal com facilidade. Depois de notar que se afastara, virou-se receosa para encara-lo com um sorriso cafajeste segurando o cereal.

Espremeu os lábios com vergonha e pegou a caixa agradecendo.

Colocou o cereal no carrinho e correu para pegar a farinha de trigo por último.

Finalmente tinha a tão desejada farinha para fazer seu bolo. Mesmo que depois de tanta coisa acontecer e uma semana tão calma não sentisse mais a misera vontade de assar um bolo.

Foram para o caixa e Gray puxou assunto.

– Então, o que achou da minha família?

Juvia ponderou um instante o que responder.

– Gostei deles, eles parecem ser legais. - respondeu sincera - Tem certeza de que não é adotado? - ele apenas revirou os olhos em resposta - Gostaria de conhecê-los melhor… - concluiu inconsciente e pensativa, entretanto com um sorriso meigo nos lábios.

– Gostou de alguém em especial?

– Não sei se posso responder isso, não conheço todos direito - a fila andou um pouco - Mas acho que se fosse para escolher alguém… acho que diria que me senti mais a vontade conversando com seu irmão.

Uma ruga de confusão apareceu na expressão do moreno.

– Irmão?

– É. Lyon eu acho. - Gray então pareceu entender

– Ah. Ele não é meu irmão - agora Juvia ficara confusa - Bom, é meu irmão de consideração. Mas se for para classificar de forma certa ele esta mais para vizinho-irritante-da-porta-ao-lado. Na verdade ex-, já que me mudei do apartamento dos meus pais.

– Irmão de consideração?

– É. Eu conheço o Lyon desde os oito anos que era a idade dele também quando se mudou com o tio para o apartamento da frente. Frequentávamos diariamente a casa um do outro e do nado já nos considerávamos da mesma família. Quando o Lyon tinha 16 anos o tio dele, Deliora, morreu em um acidente de carro, ele não quis voltar para sua cidade natal e os pais aceitaram emancipa-lo. Consequentemente a convivência aumentou e hoje ele se acha praticamente um Fullbuster, assim como também o consideramos um de nós. - explicou - No inicio ele até pensou em se mudar, achava o apartamento grande demais para uma pessoa só. Então passou uma temporada lá em casa. Agora voltou pra lá e divide com a namorada, Chelia.

– Sinto muito. Pelo Deliora, quero dizer.

– Ele não era meu tio, mas assim como Lyon era como se fosse meu irmão, Deliora também já fazia parte da família. Foi um choque, mas isso já faz sete anos. - ela assentiu e preferia mudar de assunto.

Perguntava-se se era certo ficar sabendo de coisas tão intimas de quem nem ao menos conhecia. No caso, agora, se referia a Lyon, alguém com quem conversou apenas por telefone uma única vez.

– Não se preocupe. Ele não se importa que falem do assunto - Gray disse como se tivesse lido seus pensamentos. Um pouco surpresa achou melhor dar aquele assunto como encerrado de qualquer maneira.

– Afinal, você não disse que também veio fazer compras? - se referiu a ele não carregar nada consigo.

– É. - sorriu escondendo alguma coisa.

– Próximo. - o caixa anunciou.

Antes de conseguir empurrar o carrinho foi impedida por Gray que entrou na sua frente. Ele pegou o pacote de farinha e com um sorriso de canto tão sensual quanto encantador e falou:

– Eu estou te devendo. Afinal eu desperdicei um desses no seu cabelo.

Juvia arregalou os olhos, perplexa. Viu que ele tirou do bolso da calça dez dólares. Balançou a cabeça acordando e se virou para a pessoa atrás de si pedindo, por favor, que guardasse seu lugar na fila. Correu para onde encontrou o moreno com uma lembrança mínima em mente.

Chegando lá encontrou uma cesta no canto do corredor com um pacote de seis garrafas de cerveja. Não era de beber, mas tinha experiências com compras, suficiente para saber que deveria custar no mínimo 10 dólares.

Sorriu. A Lockser também tinha seus momentos de gentileza.

Pegou o pacote e voltou para a fila.

Gray a esperava curioso sobre o que ela tinha ido fazer. Para adiantar a vida dos outros clientes passava as compras da moça para o caixa. Ela então se aproximou e adicionou a cerveja.

– Tinha me esquecido disso. - ele ficou surpreso por saber que Juvia bebia, não parecia que ela era disso, porém deu de ombros.

Depois de pagar as compras a ajudou com as sacolas.

– Vai com tudo isso de ônibus? Não prefere uma carona? - ofereceu fora do mercado.

– Não acho que moto seja melhor que ônibus.

– Não estou de moto hoje - resmungou - Lyon roubou de mim para levar Chelia em algum “lugar especial” - fez uma careta - Me deixou com o carro dele. - mostrou as chaves.

Juvia também não era boba, aceitou sem pensar duas vezes.

Guardaram as sacolas no porta-malas, menos duas.

– Aqui. - ele lhe estendeu a farinha de trigo. - Agora não pode mais ficar reclamando de que eu derrubei farinha no seu cabelo. - brincou

Juvia sorriu e estendeu para ele a sacola com as cervejas

– Toma. Deve ser duro não ter dinheiro suficiente para comprar farinha e cerveja. - sorriu irônica – Agora me deve uma. - piscou um olho travessa

O Fullbuster pegou a sacola de sua mão com um pouco de receio. Um tanto surpreso, verdade, não esperava isso da garota, porém sorriu agradecido e ameno, justamente por não esperar isso justo dela. A garota que não gostava dele tanto assim. Só porque caiu pelado em cima dela, vê se pode.

Mas todas aquelas brigas e desgosto pareceu sumir como se nunca tivessem existido. De repente tudo parecia bem. Apenas um momento agradável entre os dois, onde em vez de trocarem implicâncias ou gritos, retribuíam sorrisos.

Aquilo parecia estar se tornando bem mais comum e ambos até gostavam disso.

Gray ia fechar o porta-malas quando um intruso se aproximou sumindo com aquele clima amistoso.

– Juvia?

Era um homem relativamente alto que parecia ser uns dois ou três anos mais velho, usando roupas um tanto formais que pareciam ter sido escolhidas para demonstrar superioridade. Ele tinha cabelos azuis escuros em um corte jovial demais para sua idade, havia uma tatuagem estranha sobre um dos olhos pequenos e pretos, envoltos por um brilho arrogante - tal como sua pose. Quando Juvia se virou para ele assustada este abriu um sorriso nojento de tão prepotente.

Gray não soube por que, talvez fosse apenas por causa da formava como ele se portava ou fossem seus instintos falando, mas involuntariamente, cerrou os olhos já demonstrando antipatia pelo sujeito.

Com um fio de voz ela pode matar sua curiosidade sobre quem o estranho era.

– Bora?


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Notas finais do capítulo

Hola Panda-chwans!

Eu ia postar esse cap ontem, mas a luz aqui em casa saiu e só voltou um segundo antes de eu ter que sair. Sad Story. =c
E mesmo sendo uma festa de criança de 3 anos eu só voltei depois das onze (tá certo que o lugar tbm era longe, mas nossa durou muito). Imagino a festa de 15 anos dele.
Eu peço desculpas pela demora, mas o caso foi: escola.
O feriado acabou as aulas voltaram e tomaram quase meu todo meu tempo. E eu já tenho prova no sábado. Viva. o/
¬¬
Terceiro ano é foda.

Sobre o cap: A inicialização de um possível relacionamento.
Perceberam que quase não teve brigas? Senti falta de escrever um gritando com o outro, mas em compensação eu adorei escrever cenas um tanto românticas Gruvia. u-u
A frase no inicio do cap representa exatamente isso: Não importa se começaram se odiando e se conhecendo no acaso, pois não é preciso que acabe assim.
E se depender a Hell aqui não vai acabar.

Tenho que agradecer aos reviews (que eu vou responder >.



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