My Songs, My Life escrita por Flame


Capítulo 4
Price


Notas iniciais do capítulo

Gente, mais um capítulo, sinto muito pela demora, mas foi porque eu estava sem internet em casa, agora eu pretendo adiantar a fic. Então, perdão pela demora e aproveitem o cap novo.



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Cara a cara com Len. Ele me pede meu preço e sinto o meu corpo derreter. Se você tivesse a pessoa que ama aos seus pés, dizendo que faz aquilo que pedes, o que farias?

Eu certamente tenho muitas coisas para pedir ao loiro em minha frente. Mas o que? Que ele me beije? Que ele seja meu? Que ele nunca me deixe? Pedir essas coisas geraria um monte de futuras explicações, o que acabaria na declaração dos meus sentimentos. Creio que não é hora certa para isso.

Mesmo assim ele está ainda parado em minha frente olhando seriamente para mim. Nunca o vi desse jeito. Enquanto a mim...não sei qual a minha expressão, a única coisa que sei é que sinto meu corpo trêmulo, minhas mãos suadas e minha cabeça confusa.

Mordo meu lábio e reúno meus pensamentos. Tenho que pedir algo simplório que ao mesmo tempo me satisfaça e deixe uma pista não muito óbvia sobre o que eu sinto por ele.

–Sabe Len, você pode...-tento dizer, mas um barulho no corredor nos distrai.

Olhamos ao mesmo tempo para a porta quando ouvimos algo parecido com um tombo. Kaito está sentado no chão com suas baquetas ao seu lado.

–Hehe, tropecei. –o azulado diz entre risos sem perceber que estamos olhando.

Logo que se levanta, ele dirige-se à nós com uma feição no mínimo surpresa.

–Eh... Rin-chan...Estou interrompendo alguma coisa? –Kaito pergunta coçando a nuca.

–Bem, na verdade não...-digo.

–É que você está atrasada para o ensaio. –diz o azulado.

–Desculpa Rin, parece que tomei seu tempo. –Len fala envergonhado.

–Não, não foi perda de tempo! –percebo que meu tom de voz parece estranho –Amanhã a gente resolve isso. De qualquer forma, obrigada Len!

–Eu que agradeço. –diz o loiro com um sorriso sucinto.

Sinto-me aliviada e ao mesmo tempo chateada. Eu realmente não lembro do que ia pedir à Len, mas poderia ser algo que nos colocasse em risco, quero dizer, nossa amizade. Se vou fazer algo assim, tenho que fazer direito.

Kaito está acompanhando-me até a sala de música. Passa a maior parte do tempo em silêncio, o que é raro. Geralmente quando estamos juntos ele sempre pergunta algo sobre minha guitarra ou algo que gostamos em comum, ou acaba fazendo alguma piada irritante. Mas agora ele está calado. Bem, pelo menos não por muito tempo.

–Rin-chan, você está gostando dele? –Kaito pergunta quebrando seu silêncio.

– O que você está dizendo? –pergunto trêmula de vergonha.

–Então você realmente gosta dele. –o azulado ri.

–N-N-Não é nada disso que você está pensando! Somos só amigos! –gaguejo.

–Rin-chan, você deveria saber que...todo mundo já percebeu. Você dá aberturas à ele que não dá à qualquer outro.

Bakaito!

–Que aberturas? Você está dizendo que eu o trato de maneira especial? –pergunto irritada no meio de uma escada.

–Claro que sim.

–Você está vendo coisas.

Ele então sobe no mesmo degrau que estou e se aproxima cada vez mais de mim.

–Você então me deixaria te abraçar assim? –ele pergunta maliciosamente agarrando minha cintura.

Sinto um arrepio na minha espinha e o empurro para longe de mim. Kaito sempre teve a mania de me provocar, de me agarrar de surpresa, dar sustos. Nunca gostei disso. Não o odeio, só odeio suas abordagens. O fato de sempre me deixar com vergonha e saber descaradamente das minhas fraquezas. Isso irrita-me em um nível inimaginável.

–Bakaito! –grito após afasta-lo de mim.

–Eu sabia. Você não me deixa te abraçar assim. Mas eu vi vocês dois no terraço ontem.

–Como você nos viu?

–Vocês não estavam sozinhos. Eu estava lá, bem longe escutando música.

Tremo novamente. Kaito realmente tem uma natureza estranha. Não é porque ele gosta de mim que ele me provoca desse jeito. Ele só gosta de ver minhas reações. Agora, não sei qual a minha expressão, mas sei que não é das melhores. Tento então desviar o assunto:

–Você disse que eu estava atrasada, não disse? Vamos logo. –viro-me e volto a subir as escadas.

–Parece a época em que você namorava aquele cara. -o azulado diz.

Sinto meus dedos ficarem rígidos e fecharem-se, formando punhos cerrados involuntariamente. Ele acaba de tocar na minha ferida. Quando conheci Kaito, eu estava namorando um garoto. O azulado sempre vinha me provocando e perturbando até que falei que tinha um namorado, ele começou a se conter um pouco.

Kaito sempre subestimou meu relacionamento com meu ex. Costumava dizer que ele não me levaria a lugar nenhum, que eu deveria largar o menino, quando na verdade ele só tinha o visto uma vez e nunca teve a oportunidade de falar com meu antigo amado.

Mas eu não o culpo pelo fato de reclamar da minha relação, mas creio que ele acabou estragando-a indiretamente. Não estou dizendo exatamente que acredito em pragas ou desejo ruins, mas meu relacionamento acabou de uma maneira tão estranha, que cheguei a pensar que ele tinha jogado um feitiço para que desse errado.

Não gosto de tocar no assunto do meu antigo namoro por razões extremamente óbvias e pessoais. Geralmente, quando as pessoas que não sabem o que houve e me perguntam sobre isso, dou apenas uma explicação rápida. Admito que, por mais rápido que seja, tocar no assunto dói. Mesmo que já tenha passado quase dois anos desde o fim. Mas com Kaito falando sobre isso com todo o seu cinismo, fico tanta raiva que uma chama de ódio acaba alastrando-se por todo o meu corpo.

Por estar alguns degraus acima dele, acabo ficando mais alta a ponto de ver o rosto do azulado de cima. Apenas digo reprimindo minha voz:

–Nunca, por todo o respeito que você tem por mim, ou pelo clube de música, nunca, repetindo, nunca toque nesse assunto! –sinto meu rosto arder e meus olhos coçarem.

Viro-me e volto a subir, segurando minha saia por trás por lembrar que ele é um tarado. Ele aumenta o passo e sobe ao meu lado. Acaricia meu cabelo, mesmo eu sendo contra e sussurra um pedido de desculpas. Mesmo ele sempre me provocando e fazendo de tudo para me ver vermelha, sinto que ele ainda me respeita e trata-me com gentileza.

Idiota.

Chegamos no clube de música e vemos Meiko, Luka e Miku, conversando e lendo um certo papel.

–A melodia é boa, mas a letra é problemática. –diz Meiko. –Eu não vejo problemas em vocês expressarem suas ideias e sentimentos, mas tocar esse tipo de coisa na escola poderia causar problemas à vocês. E para mim também.

Pela expressão no rosto de Luka, deduzo que ela escrevera a letra que Meiko cita. Como falei anteriormente, nos revezamos para cuidar das letras e melodias, mas, na maioria das vezes o dever das letras ficam com Luka e eu, enquanto Miku e Kaito trabalham nos arranjos.

–Eu não vejo nada demais no que ela escreveu. –diz Miku.

–Mas eu vejo. –Meiko diz autoritária. –A verdade é que a letra pode falar de uma certa superação ou um ego poderoso, mas há mensagens nas entrelinhas que falam de assuntos meio polêmicos. Isso pode causar problemas se professores ouvirem.

–De que fala a letra? –pergunto curiosa.

Miku entrega-me o papel apenas com uma poesia relativamente quente. Não que ela fale diretamente de assuntos como sexo, mas essas coisas realmente estão escondidas em letras miúdas na música. Sinto que na verdade, o poema fala de conseguir fazer as coisas melhores que os outros, mas quando Luka escreve sobre “preços do que posso fazer por você” ou “posso fazer da maneira que quiser” ou algo do tipo, dá um ar de que ela fala de prostituição ou algo assim.

Alguns veteranos que passaram por esse clube no passado, tinham a fama de rebeldes sem causa. Eles falavam sobre temas polêmicos em suas músicas e iam de encontro à tudo o que o conselho estudantil e o corpo de professores os pediam de fazer. Comparados à eles, somos muito mais calmos e subjetivos. Esses veteranos costumavam ser bastante diretos em suas músicas e gostavam de gritar até palavrões o mais alto possível em seus microfones para elevarem suas críticas ao maior volume. Enquanto nós, costumamos fazer críticas indiretamente.

Assisti algumas gravações das apresentações desses veteranos. Não vou dizer que não gostei, porque, de certa forma eles chamaram a minha atenção. Gostei do jeito em que eles criticavam o sistema de ensino, os vícios dos jovens, a falta de liberdade ou até o excesso dela. Não é muito diferente do que fazemos. Só que não somos muito agressivos e nossas músicas não falam apenas de críticas ou ideias sérias, ou que deveriam ser sempre levadas à sério.

Gostamos de tocar e cantar os nossos sentimentos de jovens, como jovens que somos. As vezes fazemos uma ou duas letras que não querem dizer muita coisa, que falem de comida ou de relacionamentos, ou até da cor do céu no entardecer. Claro que o conteúdo das letras é muito importante e deve ser muito bem trabalhado, elas sempre devem passar alguma coisa útil. Mas eu não quero cantar apenas algo que exalte a raiva ou o desejo de lutar por algo violentamente.

Quero variar.

De volta à letra de Luka, percebo que como as coisas polêmicas estão nas entrelinhas, tenho uma certa ideia.

–Ei Luka, essa música já tem uma melodia definida? –pergunto.

–Ainda não Rin. Fiz apenas a letra. –responde a rosada.

–Bem, eu acho que podemos dar um jeito nisso sem necessariamente mexer na estrutura da letra. –digo.

–Ei Rin, onde quer chegar? –Meiko pergunta.

–Se incrementarmos a música com um ritmo contagiante, solos chamativos e uma batida que façam todos pularem, isso vai roubar a atenção da letra. E mesmo que alguns analisem a mensagem que passa, muitos vão apenas pensar que é só mais uma música.

–Mas e se os alunos começarem a cantar isso nos corredores? –Meiko indaga.

–Vai ser só mais uma música de sucesso que cairá na boca do povo naturalmente. Meus colegas vivem cantarolando músicas de bandas atuais que só falam de sexo, sadomasoquismo ou drogas e essas coisas e ninguém é repreendido. A Luka não está xingando ninguém em sua letra, não estamos ofendendo ninguém. E em nenhum momento estamos falando aqui que vamos encher a cara ou transar com quem virmos pela frente. Nada que viole o código de conduta da escola. Então não vejo problema. – explico para todos.

Eu não gosto de me gabar, mas eu tenho conhecimentos gerais sobre o que consideram certo e errado. Apesar de ter apenas dezesseis anos, reconheço meus limites e até como aspirante à artista, sei que tenho que falar do que me cabe nos lugares em que vou me apresentar.

Sei que existe liberdade de expressão, mas sei que também devo seguir as regras. E quebra-las não é a maneira de expressar suas ideias e sentimentos corretamente.

Luka sorri ao ouvir meu discurso. Miku repete a expressão e Kaito mostra seu polegar para cima para expressar aprovação. Apesar dos três serem os veteranos, sinto-me como a mais responsável por esse clube. Meiko então leva a mão direita à têmpora, o braço esquerdo envolto na cintura e deixa escapar um suspiro pesado. É típico dela fazer isso quando pensa que algo vai causar-lhe dores de cabeça.

–Tudo bem, tudo bem. Façam como quiserem, mas caso o diretor venha falar comigo à respeito, vocês vão ter que reproduzir tudo o que a Rin disse. Então mexam-se, seus moles! – Meiko diz no final triunfante.

Quando o ensaio termina já deve ser umas seis da tarde e está quase escuro. Kaito é o primeiro a sair. Ele sempre vai direto para casa estudar. Talvez ele seja a pessoa mais estudiosa que conheço. Com uma rotina de estudos durante o fim da tarde e noite e as madrugadas gastas com jogos eletrônicos online, Shion Kaito leva a sua vida.

Sobrando apenas as mulheres do clube de música, creio que Luka ainda queira ir para a residência dos Hatsune, ver o seu amado Mikuo. Mas, se estou certa, Luka chamou-me para ir junto com ela, pois sozinha ela não conseguiria ficar perto daquele que ama sem levantar suspeitas da irmã, que também é sua amiga.

Não tenho certeza se serei capaz de proceder com o plano.

Arrumando nossas coisas para sairmos, lembro-me de minha mãe mandar-me voltar direto para casa. Eu havia ido à casa de Miku na noite anterior, e minha mãe não suporta a ideia de ir dois ou vários dias seguidos para a casa de alguém. Ela acha que é uma tremenda falta de educação, ou algo do tipo. De certa forma, talvez eu também não queira uma pessoa todos os dias na minha casa atrapalhando a minha rotina diária, por mais que eu goste do dito cujo.

Se bem que, não seria má ideia se Len passasse todas as noites lá em casa.

RIN!

Afastando meus pensamentos levados à tona pelos hormônios em erupção, volto minha mente para as conversas na sala de música.

–Então Rin, vai poder ir lá pra casa hoje? –Miku pergunta.

–Não, infelizmente. Minha mãe disse para ir direto para casa hoje. E eu também não quero atrapalhar a rotina de estudos de vocês duas. –digo piscando para Luka.

A rosada cora levemente assustada. Miku não parece entender o que se passa, mas é melhor assim. Eu bem que queria contar à Miku tudo o que aconteceu hoje, mas não quero que outra pessoa saiba. Mesmo gostando e confiando em Luka. Só não pretendo contar a parte que diz respeito à Kaito. Sei que eles dois são muito amigos. Talvez a mesma relação de amizade que ela tem comigo, ela tenha com ele. Então não posso contar nada relacionado à ele para a esverdeada.

Caso ela conte algo à ele, ficarei mais fraca.

Meiko oferece então, uma carona à todas nós. Já que somos primas e moramos no mesmo bairro, ela sempre me leva para casa quando pode, e, já que Miku mora na mesma rua, ela as vezes vai conosco. Dessa vez com Luka no carro, as conversas variam bastante. Depois de deixa-las na casa dos Hatsune, na esquina da minha rua, fomos para minha casa. Ao que parece, Meiko jantará aqui.

Entramos em casa e avistamos meu pai sentado à vontade no sofá e minha mãe em uma poltrona com uma xícara de café. Os cumprimentamos e nos juntamos à eles na sala, informando nossa chegada e perguntando se o jantar está pronto. Minha mãe assente com a cabeça e voltamos a nossa atenção para a televisão.

O aparelho está sintonizado em um canal de notícias, onde é transmitido um telejornal do horário. Na tela, estão acompanhando ao vivo um velório de um garotinho de treze anos de Tóquio. Segundo meu pai, a notícia está correndo o dia inteiro.

–O que houve? Do que ele morreu? –pergunto.

–Foi suicídio. –diz meu pai. –A família disse a imprensa que ele estava com um comportamento estranho, algo devido às cobranças da escola. Ele acaba de entrar no ginasial e não estava acostumado ao ritmo de estudos. O garoto costumava tirar apenas nove e dez no primário. Com a carga de estudos maior e as matérias diferentes, ele não conseguia acompanhar como antes, e começou a tirar notas ruins.

–E por isso ele se matou? –Meiko pergunta.

–Alguns parentes disseram que os pais eram muito exigentes por conta do garoto estudar em um colégio particular. –minha mãe explica. –Ele faz um monte de cursos e atividades extracurriculares e ele era bastante cobrado. Era tudo tão trágico para ele no colégio, que ele começou a se fechar no quarto, isolar-se de todo mundo e chorar bastante. Algo diz que isso o levou à depressão.

–O que o fez cometer suicídio...-completo o que minha mãe diz.

–Exatamente. –meu pai termina o assunto.

Muita gente fala que o ensino do Japão é muito rígido, mas, para ser sincera, já foi bem pior na época em que meus pais ou avós estudavam. Não diria que é um tipo de ensino conservador, mas ainda é algo difícil. Eu ainda me lembro de quando foi a minha entrada no ginasial, eu também baixei minhas notas. Foi a partir daí que eu comecei a tirar notas vermelhas. A verdade é que toda mudança de nível no ensino é complicada. Todo mundo sente dificuldade quando sai do primário e vai para o ginásio e do fundamental para o médio, do segundo grau para a universidade.

A questão é como cada pessoa enfrenta suas dificuldades. Muitas pessoas são psicologicamente ou espiritualmente fracas, e não conseguem seguir em frente com seus problemas. Nessas horas, a pessoa precisa de família e amigos. Segundo a reportagem, os pais cobravam do garoto notas excelentes, afinal eles são pais, e é natural que exijam ou queiram isso dos seus filhos, mas não se sabe até que ponto ia essa exigência familiar. A mídia também informou que o menino isolou-se do mundo afora, então tecnicamente, ele não se esforçou para fazer amizades. Tradução: ele não teve para onde ir, à quem recorrer e escolheu a morte.

Mas por que a morte de uma pessoa que nunca conheci me comove tanto? Vemos pessoas morrendo todos os dias, os índices de suicídio crescendo cada vez mais em nosso país, mas por que isso mexe comigo de tal forma? Talvez seja pelo fato do defunto ser apenas uma criança que mal experimentou as verdadeiras dificuldades que um estudante enfrenta.

Ou talvez porque as razões dela serem parecidas com as de alguém conhecido.

Lembro-me de Len dizendo mais cedo sobre sentir-se sufocado pelos estudos. Isso acaba arrepiando meu corpo. Ao mesmo tempo que me assusto, fico aliviada de uma certa forma. O garoto que morreu certamente tinha ambições e ligava para os estudos, o contrário de Len, que nunca se esforçou para tirar uma boa nota e passa apenas estudando na véspera de uma prova.

Sufocada por esses pensamentos, peço licença à todos presentes e subo para tomar um banho.

Depois de uma ducha gelada, entro na banheira com água relativamente morna. Algo como uma melodia nova vem à minha cabeça. Creio que isso é mais que natural, já que as minhas melhores ideias vêm quando estou tomando banho.

Saio correndo da banheira quando percebo que já passei tempo demais por lá. Ainda de toalha, pego um pequeno caderno disposto em minha mesa e escrevo todas as cifras que vieram em minha mente. Liguei o pequeno aparelho de som do meu quarto e coloquei um CD aleatório de minha estimada coleção. A música é de uma banda americana de rock pop alternativo. Escolho à dedo a faixa e começo a escuta-la. Visto minhas roupas enquanto aproveito o som animado para livrar-me da notícia desagradável que vi anteriormente. Logo meus pés descalços tomam o ritmo contagiante da música e começo a dançar seguindo cada batida. Ao tentar aumentar o volume, ouço a voz de minha mãe chamando-me para jantar.

Lembro-me então que tinha esquecido completamente da realidade. Desço as escadas em direção à cozinha e jantamos junto à Meiko. A refeição é proveitosa, macarrão tradicional de quinta feira, de longe o meu favorito. Conversamos enquanto saboreamos o delicioso prato e depois de mais ou menos uma hora e meia após o jantar, minha prima se despede de nós e vai para sua casa.

Quando dou por mim, já são dez da noite e minha mãe me manda ir para cama. Só que todos sabem que ainda é cedo para ir dormir. Tranco-me em meu quarto com as luzes apagas, pego meu aparelho celular e ponho meus fones no ouvido. Se minha mãe aparecer, eu tenho a desculpa de estar fazendo exatamente o que ela mandou. Estou na cama.

Antes que eu perceba, já é manhã novamente. E manhã de sexta! Eu deveria amar esse dia, se não fosse dia de educação física. Mas não reclamo tanto. As aulas seguem tediosamente pela manhã, e, ao bater nas onze nos trocamos e corremos para a área externa do colégio. Hoje os garotos jogarão futebol e as garotas irão correr.

–Isso é machismo! –Haku protesta. –Eu sou melhor que todos esses garotos de todas as turmas jogando bola. Eu não acredito que em pleno século vinte e um temos que ter segregação sexual nas escolas!

–Haku-chan, eu entendo como se sente, mas por favor, concentre suas energias na corrida. – Teto diz tentando consolar a amiga feminista.

–É sua tonta, temos mais é que agradecer pelo fato de hoje ser sexta! –Neru comemora alongando-se. –Você sabe o que isso significa? Que você não vai ter que olhar para a cara desses machistas por dois dias.

–Tem razão. Sagrado seja o fim de semana! –Haku grita.

–Deveríamos fazer algo no final de semana qualquer dia desses. –sugiro –Não saímos desde que o ano letivo começou.

–Verdade, que tal comer uma pizza depois da aula? –Haku pergunta.

–Não vai estar meio tarde? –Teto pergunta –Vocês sabem o quanto meus pais são rígidos em relação à horários.

–Calminha princesa Teto. –Neru diz tentando tranquiliza-la –A gente volta antes do seu toque de recolher.

Após uma série de risadas com minhas amigas, tento esquecer de todas as presenças ao meu redor. A questão é que eu só péssima correndo. Já cheguei até a tropeçar nos meus próprios pés. Na época do ginasial, eu costumava me isolar e chorar quando acabava a aula de educação física, pois todas as meninas riam de mim e quanto os garotos, era constrangedor vê-los assistindo-nos correr e tropeçar e cair, muita das vezes, com a bunda para cima.

A garota que está na marca ao meu lado é Gumi. Uma integrante da orquestra da escola. Ela tem curtos cabelos verdes, da mesma cor de seus olhos. Toca violoncelo e está na mesma turma que Rinto. Não sei muito sobre ela, apenas sei sobre sua posição no clube que faz parte e também sei que tem um irmão mais velho já universitário.

A professora atira para cima com uma arma de bala de borracha. O tipo de coisa que serve apenas como sinal na escola e algo para machucar pombos inocentes. Ao ouvir esse som, Gumi e eu partimos correndo uma ao lado da outra. Não tenho postura alguma para correr e saio completamente desconjuntada. A garota ao meu lado é um pouco mais cuidadosa quanto a seu jeito na pista, só que mais lenta que eu.

Como alguém consegue ser mais lenta que eu?

Ao fim da linha estamos ambas mortas, e nem corremos tanto assim. Eu caio no chão de propósito e ela cai ao meu lado.

–Rin-san, não é? –a esverdeada pergunta –Posso chamar pelo primeiro nome, não posso?

–Claro, qualquer um que vê minha forma constrangedora de correr tem o direito de me chamar pelo primeiro nome. –digo sorrindo.

–Mas mesmo assim você chegou antes de mim. Sou Gumi.

–Eu conheço você de nome. Mesmo assim, prazer.

Puxo a garota pela mão e ambas voltamos à fila que estávamos. Ela se encontra com as meninas de sua turma e eu vou até onde estão minhas amigas.

–Você foi horrível como sempre. –Neru diz batendo no meu ombro.

–Eu ainda tive um tempo melhor que você. Larga do meu pé. –empurro-a de leve para o lado.

Olho para a quadra e percebo que a aula dos garotos também já acabou. Persigo Len e Rinto com meus olhos indo em direção às torneiras que ficam perto dos vestiários.

–Ei Rin, vai lá falar com o Len. –Neru fala em meu ouvido.

–O quê? Por que? –pergunto nervosa.

–Ele não chegou a lhe agradecer ontem, não foi?

–Neru, eu não vou cobrar nada dele.

–Você não vai, mas pode chama-lo para comer pizza conosco. – ela diz num tom de voz alegre.

–Mas era o programa das garotas. A noite das garotas. Sem garotos. – digo balançando os braços.

–Vou chamar o Rinto também. Eles não vão como garotos estranhos. Vão como meus primos. Rinto sempre me leva em casa e geralmente Len nos espera. Qual seria o problema nisso?

–Tá, eu vou. Mas você tem que ir comigo.

Vamos então na mesma direção dos garotos. Neru vai direto falar com Rinto e eu fico com a tarefa de falar com Len.

Mas eu não quero falar com ele com o short curto da educação física.

Aproximo-me do loiro, que está a lavar seu rosto numa torneira virada para cima. Ele percebe minha presença e levanta a cabeça sorrindo. Seus cabelos estão soltos. Não é a primeira vez que os vejo assim, mas é a primeira que vejo de perto. Não é tão longo quanto pensei que fosse, na verdade é mais curto que o meu. As pontas dos fios apenas encostam nos ombros, mas não chega a tanto.

Percebo que ele havia molhado o cabelo, as pontas estão pingando. Ele então faz algo que enlouquece meu subconsciente. Leva uma das mãos à franja e joga seus cabelos para trás.

Isso é ...sensual...

–Oi Rin! –ele diz depois de sacudir a cabeleira e prendendo novamente.

–Oi Len. Como foi a educação física?

–Legal. Eu gosto de jogar bola. E você?

–Foi legal também. Encontrei alguém mais lenta que eu. Isso é uma vitória.

Rimos um pouco e depois uma expressão meio séria toma seu rosto.

–Rin... sobre ontem...Eu acho que soei meio estranho, mas você me motivou. Não ache ou pense coisas erradas, mas eu queria apenas agradecer a você por me dizer coisas legais enquanto eu sou um completo vagabundo que não faz nada por ninguém.

–Não ache isso, seu idiota. –digo cruzando meus braços. –Se você quer agradecer algo a mim, pode me pagar uma pizza hoje depois da aula.

–O quê? –ele pergunta confuso.

–É disso que Neru está falando com Rinto agora. Vamos sair para comer pizza depois da aula e ela pensou em chamar vocês, já que vocês três sempre voltam para casa juntos. Só que há um problema; eu não trouxe dinheiro algum. Já que você é tão grato à mim, por que não me paga uma pizza? –digo sorrindo.

–Ah tudo bem então. –ele diz cruzando os braços também. –Mas não coma muito, eu não estou com muita grana.

–Então tá! –digo sorrindo.

Tento segurar meu próprio coração tentando convencer a mim mesma de que isso não é um encontro de casal. Eu não estou saindo com Len como um casal, estou saindo com amigos e Len é meu amigo, como Rinto é, como Neru e Haku são, como Teto também é.

Ele só é um pouquinho mais especial...

...

Continua.


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