My Songs, My Life escrita por Flame


Capítulo 15
Trouble


Notas iniciais do capítulo

EITA QUE A AUTORA MORREU, NÃO ATUALIZA A FANFIC FAZ QUASE TRÊS MESES!
Sim gente, eu quase morri, quase. O que significa que eu não cheguei a morrer. Muitas coisas aconteceram durante esse tempo, tive que focar no colégio, depois o meu computador quebrou, quando finalmente me encontrei de férias e com computador, estava doente e quase não pude dar continuidade aqui. MAS EU VOLTEI E VOU CONTINUAR PORQUE EU AMO VOCÊS! Não pretendo desistir da história e a prova disso é esse novo capítulo. Obrigada pelas mensagens e comentários perguntando sobre a continuidade disso aqui, então, sem mais delongas...
Aproveitem!!!!!



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Cabelos loiros presos em rabo de cavalo bem alto, olhos verdes e sem brilho, mas o sorriso da garota brilha. A irmã mais nova de Rinto, Lenka, agarrada ao braço de Len, sorri intensamente.

Sei que Rinto tem uma irmã mais nova, que se mudara juntamente com seu pai para Okinawa depois do divórcio dos pais. Rinto ficara com sua mãe e a irmã decidiu ir com o pai. Sabe-se que a família paterna deles é toda de lá, e que seu pai teria arrumado uma transferência no emprego na época da separação, mas o que os trouxe aqui de volta?

—Bem, vou explicar. –Rinto percebe que não estamos entendendo nada- A Lenka foi para Okinawa com nosso pai três anos atrás, quando ele se separou da mamãe. A maior parte da nossa família por parte de pai mora em Okinawa, mas nossa avó paterna mora aqui e está um pouco doente.

—Nosso pai pediu transferência novamente para cá e vamos ficar morando aqui agora. –Lenka completa.

—Nossos pais estão separados, mas eles ainda mantêm certo contato. Lenka vai voltar a morar na minha casa e estudará aqui na mesma escola que eu, enquanto o pai fica na casa da Vó.

Todos sorrimos para receber Lenka, afinal somos seus veteranos, seus Senpais. Neru sorri abertamente, mas quando seu olhar encontra o meu, seu semblante toma traços mais sérios. Tento entender o que ela quer me dizer com seus olhos, tenho apenas uma pequena noção, mas não é certeza.

—Eu me lembro da Haku! –Lenka exclama- Ela era a melhor amiga da Neru-chan.

—Era?- Haku pergunta ironicamente a Neru.

—Mas eu não conheço a garota do laço. –ela se direciona a mim.

—Essa é Kagamine Rin. –Rinto apresenta-me a sua irmã- Guitarrista do clube de música do qual Len faz parte. E também... A principal candidata a ser a namorada do Len.

Len e eu ficamos envergonhados com a afirmação, mas, por algum motivo, o rosto do loiro fica mais vermelho que o normal.

—Ah sério? –a expressão da garota muda um pouco, seus sorrisos oscilam, mas voltam para mim- Você até que é bonita, Rin-senpai.

—Obrigada, você também é bonita, Lenka-chan.

—Mas... Se o que o Onii-chan falou, que você é a principal candidata à namorada do Len-kun... Então isso nos faz rivais. –ela diz com um sorriso de ponta a ponta.

Então era isso que Neru queria me avisar. Apesar de eu ter percebido. Essa garota ama a mesma pessoa que eu, e o pior, é o seu primo. Não estou dizendo que relacionamentos entre primos é algo errado, muitas pessoas já paqueraram seus primos ou até casaram e tiveram filhos, mas eu sinceramente acho isso muito estranho e errado, não é porque gosto de Len e me sinto ameaçada por Lenka, mas sim porque realmente sinto que esse tipo de relacionamento é errado.

Voltando a declaração de rivalidade amorosa dada pela fedelha a minha frente. O rosto de Len fica ainda mais vermelho que antes, todos ficamos um pouco constrangidos, Rinto principalmente, já que ele sabe de meus sentimentos por Len e não quer deixar uma situação constrangedora. Mas o pior é que a situação já foi dada, não há como fugir dela. Mas tenho como contorná-la.

—Não dê ouvidos ao seu irmão. Bem-vinda Lenka-chan.

Rinto teme mais constrangimentos e leva sua chata irmã para a sala dela. O clima fica pesado entre nós. Antes que eu perceba, Neru agarra em um dos meus braços e Len agarra o outro e ambos dizem:

—Precisamos conversar.

Fico assustada e Haku também, o que faz a platinada entrar na sala de aula. Fico sozinha no corredor com Len e Neru.

—Você quer explicar a ela ou eu explico?

—O quê? –Len parece assustado. –Claro que eu lido com isso. Vá para a sala antes que comece a colocar minhocas na cabeça da Rin!

—Desde que você conte a ela a verdade. –Neru pede ao primo.

—E por que eu mentiria?

—Gente, sem problemas. –paro a confusão- Vocês não precisam me explicar nada. Len e eu não somos namorados.

—Mas vocês se gostam. –Neru fala bem alto, nos deixando envergonhados.

—Bem, que eu amo o Len é verdade. –falo isso direcionando meu olhar para o loiro, que desvia os olhos para o chão na medida em que seu rosto fica mais rubro- Mas enquanto ele não me der uma resposta, eu não posso cobrar nada dele, não no sentido romântico.

O rosto de Neru toma uma expressão de raiva misturada com surpresa. Ela prende Len contra a parede usando os dois braços, o que me assusta um pouco. Com um pouco de agressividade, ela grita:

—Por que você não desembucha?

—Não quero arrastar a Rin para o meu inferno pessoal. –o brilho nos olhos de Len simplesmente vai embora.

—Droga!- Neru usa a mão esquerda para socar a parede ao lado do rosto do primo, deixando o garoto assustado - Você não tem bolas?!

As pupilas de Len se contraem, seu semblante é de um menino assustado. Também estou assim, já vi Neru estressada diversas vezes, mas nenhuma desse jeito. Ela se constrange logo depois do soco e se afasta do garoto, sussurra um pedido de desculpas e o deixa explicar a situação. Mas antes que isso possa ser possível, nosso professor chega e somos obrigados a adentrar a sala de aula.

Durante a aula, faço o possível e o impossível para ficar focada, mas Len tenta chamar minha atenção diversas vezes, como costuma fazer quando está muito tagarela. Logo percebo um pequeno bilhete passando acima do meu ombro. Abro o pequeno pedaço de papel, nele diz “Desculpa pelo incômodo, eu sei que quer uma explicação”.

Para evitar problemas, escrevo no final do meu caderno e suspendo para que ele possa ler atrás de mim. O conteúdo diz “Está tudo bem, depois você me explica, concentre-se nas aulas, você sabe que não tem muito direito a falhar”.

Ele parece entender e fica quieto até as aulas da manhã acabarem, o que muitas vezes chega a ser um milagre. Quando finalmente o sinal toca, Len parece estar em agonia para me contar sobre seus casos amorosos com sua prima mais nova, mas acabo sendo surpreendida por uma visita inesperada a nossa sala.

—Kagamine Rin-san, você tem um minuto de sua atenção? –pergunta-me a presidente do conselho estudantil, Lily-senpai.

—Lily-senpai? –fico um pouco confusa com a presença da veterana. –Claro, tenho sim, em que posso ajudar?

Ela não fala nada do que precisa e me chama para fora da sala, e me leva até o final do corredor. Considero muito Lily, a respeito por ser uma aluna exemplar, além de ser uma garota muito simpática, mas agora, ela me parece muito estranha.

—Rin-chan... –é raro ela se dirigir assim a alguém com tanta intimidade- Na verdade, eu chamei você aqui para falar de algo meio pessoal, espero que não se incomode, é que eu estou um pouco incomodada...

Olho para todos os cantos e analiso minha situação. Estou conversando com a presidente do conselho estudantil no final do corredor, onde Len e eu trocamos um beijo intenso ontem. Ela valoriza muito as regras da escola e esse tipo de troca de afeto é proibido aqui. Claro que ninguém realmente se importa com essa regra e até alguns professores chegam a quebrá-la, mas não seria surpresa nenhuma para mim se eu fosse chamada atenção por isso.

—Eu não queria quebrar nenhuma regra, desculpe!- digo me precipitando.

—Espera, não estou falando nada sobre você. –ela parece um pouco constrangida e nervosa, mas ainda assim, ri sobre meu mal entendido.

—Então o que foi?

—Bem... É que o Kaito-kun me chamou para sair... Nós saímos esse final de semana... Num encontro em grupo sabe... Mas não sei se devo continuar. Vocês me parecem bons amigos, então eu queria te perguntar algumas coisas sobre ele.

—Nossa, com todo o respeito Senpai, fico até honrada que venha me perguntar sobre isso, mas por que não perguntou à Luka-senpai ou a Miku sobre isso, já que vocês são todas da mesma sala?

—Porque elas... Como eu posso dizer, elas parecem ter uma atmosfera diferente sobre ele.

—Como assim?

—O Kaito-kun, a Luka e a Miku são bem populares. Principalmente o Kaito, as meninas ficam loucas por ele. Só que ele parece chamar as garotas para sair aleatoriamente só para preencher algum vazio. Tanto a Miku quanto a Luka não parecem ser sinceras quanto a isso, até porque nunca as vi evitando as investidas do Kaito, só agora que a Miku está oficialmente namorando.

—Entendo... Então você meio que acha que elas têm certa obrigação de ajeitar você e o Kaito, não é?

—Sim.

—Lily-senpai, você acertou, eu e o Kaito somos amigos. Pode parecer que temos uma relação meio estranha, já que ele está sempre investindo em mim e eu sempre estou o agredindo e evitando, mas ele é um bom garoto. Não estou falando das notas ou da aparência, mas ele é uma boa pessoa.

Paro para pensar e lembro que Lily e Kaito têm um passado. Ela o queria e ele a rejeitou. O que torna estranho ela me perguntar tais coisas sobre o azulado, já que ela já o conhece bem. Além disso, no dia do festival do fundador, eles trocaram um beijo.

—Eu sei que ele é uma boa pessoa... Mas... Rin-chan, eu sou uma pessoa bem séria, o Kaito é bem brincalhão. Eu quero ter um namorado, alguém sério para ficar comigo por uma eternidade, mas ele só quer brincar por aí com as garotas. Isso é desde o primeiro ano, isso é ridículo!

—Lily-senpai, você e eu somos iguais em relação a isso. Apesar de o Kaito sair por aí com uma garota por semana, o que por sinal, tem um tempo que não ocorre, ele faz isso para esquecer um coração partido. Ele tenta encontrar nessas garotas, uma que o ame e seja do jeito que aquela garota costumava ser.

—Você acha que eu deveria tentar sair com ele novamente? Tipo, sozinha com ele dessa vez?

—Bem, tentar não mata. Vá a esse encontro com ele e o examine, experimente. Se ele te chamar para sair de novo, é sinal de que ele quer algo com você. Se isso acontecer, eu irei apoiar os dois com todas as minhas forças. Saia com ele sozinha dessa vez, mas não espere muita coisa, ele pode querer ficar com você para sempre, mas pode também ser só uma noite, então não se apegue logo.

—Nossa Rin-chan, você parece que conhece bem o Kaito. Obrigada por me ajudar com isso. E... Só uma última pergunta, você acha que eu consigo?

—Sendo sincera, acho que sim. Você e a garota que partiu o coração dele são muito parecidas. Em vários aspectos.

Não sei se Lily entendeu a indireta, não consigo perceber se ela conseguiu ver que era de mim que eu estava falando. Eu parti o coração de Kaito, o problema é que eu não me senti muito mal por isso. Provavelmente porque nós nos beijamos aquelas vezes, então sinto como se eu tivesse pago minhas dívidas.

Antes que eu volte para a sala, Len aparece na porta e puxa-me pela mão. Isso não me assusta mais, quantas vezes fizemos isso durante esses dias? A única coisa que faz meu coração acelerar é; será que ele vai me beijar de novo?

Se bem que...

Fui eu quem o beijou primeiro...

Acabamos indo para o telhado, Len primeiro certifica-se que estamos sozinhos e se encosta-se à porta. Depois de muitos suspiros ofegantes devido à nossa corrida, ele começa a falar:

—A Lenka... Nós nos beijamos quando éramos crianças. –ele diz coçando a bochecha- É meio patético não é? Ter o seu primeiro beijo roubado por uma prima...

—Não acho. –respondo tentando controlar uma ponta de ciúmes que surge em mim- Isso acontece com muita gente, principalmente se cresceu junto com primos e está naquela fase de querer descobrir as coisas... Tem gente que dá o primeiro beijo até no irmão ou na irmã.

—É... não é estranho exatamente, na época, a Neru tinha beijado o Rinto e a Lenka ficou com ciúmes do irmão e inveja da prima. Ela tinha uma quedinha por mim, aproveitou a chance que tinha e me beijou.

—Entendi, e quantos anos vocês tinham?

—Eu tinha uns doze, o que implica que ela tinha onze. Mas, aparentemente, os sentimentos dela por mim só cresceram depois disso. Nunca mais nos beijamos, até que num festival de verão, no ano que ela foi embora, ela me pediu um beijo. Eu disse que não fazia sentido aquilo se repetir, já que somos primos e não éramos mais crianças.

—E como ela reagiu? –fico cada vez mais curiosa.

—Ela saiu correndo e chorando. O Rinto queria brigar comigo depois, mas eu expliquei pra ele que aquilo não fazia sentido. Isso não é saudável para ninguém. Eu sei que existe muito casamento entre primos e que muitas vezes, os filhos nascem normalmente, então eu não via como um tabu muito grande, mas eu não queria. Não sentia nada por ela além de um sentimento que todo primo nutre pela prima. Ela era a irmã mais nova do Rinto, então era como uma irmã mais nova para mim também.

—Mas vocês ficaram de bem depois de tudo?

—Sim, fizemos as pazes e depois de um tempo ela se mudou para Okinawa com o pai. Eu espero que os sentimentos dela tenham mudado, que ela tenha se apaixonado por outra pessoa lá, ou que ela se apaixone por outra pessoa aqui. Não quero que ela coloque na cabeça que pode me esperar.

—Você não quer mesmo que ela ter espere? Vai mesmo ferir os sentimentos da sua prima?

Fico confusa comigo mesma. Entendo que Lenka era uma garotinha que se apaixonou pelo primo quando criança. Às vezes, quando temos um coração partido por alguém que amamos muito, tendemos a esperar por essa pessoa, para que ela abra os olhos e venha para os nossos braços. Isso é um excesso de esperança, que, ao mesmo tempo em que é bom, é nocivo. Talvez ela esteja esperando por Len, creio que ela anseia que ele a olhe como uma mulher e não como uma prima mais nova.

É bem triste e deprimente o fato dela esperar pelo próprio primo, mas ela seria uma ameaça para mim, mesmo que Len esteja decidido sobre não ter nada com ela. Lenka pode mostrar para seu primo, o quanto ela cresceu nesses três anos. Sua curva de moça, seu jeito mais avançado de mulher preso num corpo de menina, é até capaz de ela ser mais feminina que eu, o que me ameaça mais ainda.

Durante todo esse tempo em que estou apaixonada por Len, a única ameaça que vi foi Gumi, e logo depois confirmei que ambos são apenas bons amigos. Mas agora eu estou enfrentando uma ameaça difícil.

Porque acho que Lenka veio para tomar o que é dela por “direito”.

—Bem –Len põe as mãos nos bolsos ao responder- Ela tem que perceber que crescemos, amores de infância nunca dão certo. E também, não quero que ela me espere. Já tem alguém me esperando, alguém que eu quero levar a sério.

Ele olha para mim ao final da resposta. É óbvio que está falando de mim. Sei que ele está esperando as provas acabarem para que ele possa dizer o que sente por mim, mas ele bem que podia falar.

Eu bem que podia falar.

Ele continua olhando para mim e sorrindo. Seu rosto não fica vermelho e seu sorriso é confiante. Eu, por outro lado, sinto minhas bochechas arderem e minhas mãos suarem. Eu quero muito poder chama-lo de meu, quero namora-lo. Sei que terei que enfrentar muita coisa, ele é muito problemático, mas eu quero. Sou tão egoísta por querê-lo tanto, mas eu simplesmente não consigo evitar.

Eu te amo demais, não posso simplesmente deixar de te querer só porque você me faz esperar, mas o que você está fazendo comigo está me acabando. Eu sei o que você sente, então por que não diz logo?

Limpo minhas mãos em meu uniforme e fico de frente para Len. Respiro fundo para acalmar meus batimentos cardíacos. Assim que acalmo minha mente, digo:

—Eu amo você.

O rosto do loiro fica rubro instantaneamente e por inteiro. Ele desvia o seu olhar e coça novamente a bochecha. Chega a sussurrar alguma coisa, mas não consigo entender. De repente, seu semblante muda, seu cabelo cobre os seus olhos e não consigo mais ler sua face, até que ele puxa-me pelo braço e me abraça dizendo:

—Droga... Você não precisa falar essas coisas assim tão de repente.

—Eu só quero que você lembre.

—Apenas... Espere as provas acabarem, certo?

—Certo.

—E, por favor, nunca comente com a Neru que eu te falei sobre o primeiro beijo dela ter sido com o Rinto.

—Seu segredo está seguro comigo. –digo entre risos.

Depois de algumas risadas, descemos juntos de volta para a sala, mas antes de chegarmos lá, ele decide ir ao banheiro. Converso um pouco com Teto sobre as provas e coisas aleatórias até os professores voltarem.

O clima nas salas de aula fica cada vez mais tenso, já que as provas estão chegando. Na sala do clube, nos juntamos todos para tirar nossas dúvidas, já que a maioria do clube está no terceiro ano, Len e eu acabamos por ter uma grande ajuda. A única parte chata de tudo isso é o fato de Kaito estar por perto para jogar em nossos rostos todo o seu intelecto avançado. Recuso-me a tirar qualquer dúvida com ele, pergunto tudo à Miku e Luka, quando ambas não sabem e apontam para ele, decido pesquisar algo em casa.

Ao perceber meu comportamento, Kaito joga um caderno em minha direção. Pego o material e o observo. Aparentemente, não há nada além de equações e gráficos, mas, quando decido olhar melhor, na parte inferior da folha esquerda tem um pequeno recado.

“Você me conta seus segredos, angústias, até me deixa te beijar, mas não me conta suas dúvidas, subestimei seu orgulho, Rin-chan”.

Fico extremamente aborrecida com o que leio e sequer me atrevo a olhar novamente para ele. Simplesmente apago o que ele escreveu e passo o caderno para a minha esquerda, onde Luka está sentada. Ouço uma pequena risada do azulado, o que faz minhas orelhas queimarem, mas tento não reagir mais que isso e me esforço para voltar o foco para a matéria.

Os dias seguem assim. Estudos em casa, na escola, no clube, nas casas dos colegas. O grupo de estudos que formamos entre eu, Neru, Teto, Haku, Rinto, Len e Gumi está dando certo. Cada um parece estar fazendo progresso, e pode ser que isso nos ajude muito. Todos nós temos que manter nossas notas na média ou acima dela por razões de clubes ou de conduta, como Neru, que além de manter as notas boas para o clube de literatura, também tem que segurar as médias perfeitas para continuar sendo representante de turma.

Durante o final de semana, decido descansar e só revisar um pouco na noite de domingo. Já que estou de folga, passeio com meus cachorros e ajudo meus pais com algumas tarefas em casa. Haku liga para mim no final do sábado perguntando se eu quero descarregar o estresse. Aparentemente, ela conhece um lugar onde você pode quebrar coisas para aliviar tudo que faz sua pressão subir. Decido passar dessa vez, mas penso que pode ser um bom lugar para levar Len quando ele estiver estressado com seus problemas familiares.

Seria um tipo engraçado de encontro.

É muita antecipação de minha parte pensar que logo poderei ter encontros com Len. Eu sei que ele prometeu me dar uma resposta quando as provas terminarem, mas antes disso, temos que ir bem em todas as disciplinas, para que possamos ficar logo de férias.

O sol nasce em outra manhã de segunda, mas não é uma manhã de segunda qualquer. É uma manhã de prova! Biologia, inglês e estudos sociais, três disciplinas que considero extremamente fáceis, então não temo muito os resultados. Realizo as avaliações tranquilamente, mas demoro ao realiza-las, já que sou bastante metódica em relação as minhas provas. Não que eu seja perfeccionista ou cuidadosa, isso é um tipo de controle de ansiedade. Se eu não tiver certeza que respondi tudo, fico louca e não consigo dormir.

Saio da sala e deixo Len, Teto e Haku fazendo a prova. Penso em procurar por Neru nos corredores, para discutir um pouco sobre as avaliações, mas meu estômago fala mais alto. Corro para uma máquina de vendas e compro um pacote de chocolates coloridos. Ando comendo e dirijo-me até a área externa do colégio, onde sento em baixo de uma árvore. Percebo que o tempo está um pouco quente e abafado, muitas nuvens escuras acumulam-se no céu. Imagino que vai chover.

Entre um confeito e outro que ponho em minha boca, meus pensamentos oscilam. E falando em pensamento, sinto uma presença peculiar. Levanto minha cabeça e vejo Lenka parada em minha frente com um enorme sorriso em seu rosto.

—Rin-senpai, já terminou a avaliação? –ela pergunta.

Não idiota, eu estou aqui porque sou uma aluna extremamente especial e não preciso fazer provas.

—Já sim. –tento forçar uma simpatia, realmente não gosto dessa garota- E você?

—Terminei também, acho que consegui fazer uma boa prova.

—Está tendo alguma dificuldade? É difícil se transferir para uma escola justamente em época de provas.

—Bem, os métodos aqui não são muito diferentes da minha antiga escola. Também, eu tenho meu irmão e meus primos a meu favor.

—Ah, isso deve ser de grande ajuda. Quer um confeito?

—Não, muito obrigada Rin-senpai. –ela senta na minha frente. –Eu gostaria de tratar de um assunto contigo, pode ser?

—Claro, se estiver em meu alcance... –fecho o saco dos doces, seguro com uma das mãos e limpo minha boca com uma das mãos, acompanho com um semblante mais sério.

—Bem... Qual a sua relação com o Len-kun?  -o sorriso não sai do rosto dela.

—Eu e o Len somos bons amigos, colegas de sala e de clube.

—Nada além disso?

—Não exatamente... Isso tem a ver com o que seu irmão falou naquele dia?

—Mais ou menos. O Len-kun também fala bastante de você, vocês sentam perto, estão sempre juntos, almoçando juntos, indo para o telhado juntos. Muitas pessoas da sala de vocês pensam que estão namorando.

—Você sabe o pessoal não pode ver uma boa amizade entre um garoto e uma garota que já sai falando o que não sabe. –rodeio a conversa.

—Mas, eu não falo de qualquer pessoal. Meu irmão e a Neru-chan demonstraram que você é uma pessoa especial para o Len-kun, e que ele também é para você. A Neru-chan até disse para não implicar com você por causa dele.

—Bem... –desvio o olhar porque sinto uns pingos de chuva.

—Rin-senpai, vou te perguntar mais uma vez. Você tem algo com meu primo?

—Eu tenho. –digo ao me levantar- Eu tenho um grande sentimento pelo seu primo. Talvez não só um, mas vários. Você tem algum problema com isso?

—Tenho. –ela também se levanta- Porque eu também tenho muitos sentimentos por ele.

Quero morder meus lábios, apertar meus dedos, cruzar os braços, fechar uma faceta de raiva. Também quero bater nela, mas acho que isso deixaria Neru, Rinto e Len bravos e tristes comigo, também a violência não é a melhor maneira de resolver as coisas. Passo milésimos de segundos pensando no que fazer, quando finalmente decido dizer:

—Ah, tem mesmo? Azar o seu.

Sai de baixo da árvore e ando alguns centímetros para me distanciar dela. Os pingos de chuva ficam mais intensos. Não vejo sua face, mas com a resposta que dei, ela deve estar uma pilha de nervos por dentro.

—Ah é? –sua voz parece um pouco trêmula- Saiba que eu estou nesse território há muito mais tempo. É só uma questão de tempo até que ele passe a me ver como uma mulher. Eu também farei de tudo para que ele note que eu não sou mais a priminha que ele conhecia.

—Bem, pouco me importa o que você vai fazer para que ele te note. Não é da minha conta e eu também não ligo, mas seja lá o que foi que você tente fazer, boa sorte. Vai precisar.

Não olho para trás, apenas ando em ritmo normal em direção à parte interna da escola. A chuva passa a ficar realmente forte, mas meu uniforme molha pouco. Quando já estou dentro do prédio novamente, olho para fora, Lenka não está mais lá.

Suspiro aliviada, mas meu cérebro está muito dividido. Acabei de dizer coisas muito seguras, o que me fez sentir muito bem. Atuei para parecer confiante, apesar de estar desesperada e me sentindo ameaçada, tive que dar boas respostas para passar esses sentimentos indecisos para a minha rival. Se ela estiver mais insegura do que eu, ela pode desistir mais rápido. E caso eu me mostre mais segura que ela, posso conseguir meu sucesso mais rápido.

Apesar de estar um pouco abalada com isso, tento não deixar que tal situação atrapalhe meus estudos, afinal, eu preciso muito passar. A cobrança em casa é grande. Como se não bastassem meus pais com toda a sua rigidez tradicional, ainda tenho Meiko, que além de ser minha prima, é minha professora.

Sou boa com a disciplina de Meiko, logo, pedir ajuda a ela é algo muito raro. E mesmo que seja algo que eu tente fazer, ela sempre coíbe tais atos. Minha prima acha injusto o fato de tirar dúvidas minhas em casa, enquanto seus outros alunos sofrem estudando. Respeito esse pensamento, e até chego a concordar, já que muita gente me questiona e acha que tenho acesso às provas de inglês só porque sou parente de Meiko.

A semana de avaliações passa bem apertada. É sexta-feira, penúltimo dia de avaliações. Temo duas provas hoje, matemática e física. Duas disciplinas que possuo dificuldades, minhas notas anteriores em ambas foram bem próximas da média. Luto para alcançar o suficiente agora, para não ter que ouvir sermão, ou me afastar do grupo, ou perder metade e até minhas férias inteiras em aulas de verão.

Acabo sendo uma das últimas pessoas a terminar a prova e sair da sala. Len também é uma dessas pessoas. Meu coração bate mais rápido, mas não pela presença dele, mas sim pelos testes que acabamos de fazer.

—Você acha que consegue? –Len pergunta um pouco nervoso.

—Talvez, e você?

—Talvez... Você acha que eu tenho que dar adeus ao clube se pegar meio verão?

—Está falando de quatorze dias de aula de verão?

—Sim.

—Creio que não, só se afaste um pouco para se concentrar e passar, para não pegar o mês inteiro.

—Ah, logo agora que consegui aquele trabalho de meio período na lanchonete!- o loiro reclama.

—Relaxa, confia em você! Pode ser que você passe.

—É, vamos saber amanhã. Até lá, boa sorte.

Desejo boa sorte para ele também. Len vai para lanchonete e eu sigo para a estação, onde pegarei o trem para ir para casa. O tempo volta a ficar pesado e percebo que choverá.

Na estação, compro uma lata de refrigerante numa máquina de vendas e procuro abrigo na parte coberta do lugar, já que começa a chover forte. Penso muito sobre tudo que anda acontecendo. E se eu perder para Lenka? E se ela fizer Len mudar de ideia e acabar conquistando-o de verdade?

Pode ser também que Lenka não consiga e eu Len e eu comecemos a namorar. É capaz de que namoremos por um tempo e terminemos quando chegarmos ao final do último ano do colegial. Talvez ele se apaixone por outra pessoa durante o nosso relacionamento, alguém mais completo que cobrirá todas as suas necessidades. Ele também pode se cansar de mim.

Ele pode simplesmente me abandonar...

Sequer tenho certeza que os sentimentos de Len são recíprocos e já começo a questionar meu hipotético relacionamento. Talvez isso se deva pelo fato de que eu não tenha muita sorte com namoros...

Meu trem chega com o som de um trovão e um gole no meu refrigerante. O transporte está lotado e as pessoas saem de lá como se estivessem transbordando. Fico olhando o trem esperando que ele esvazie, mas algo chama a minha atenção; um par de olhos verdes.

O dono desses olhos sai do trem puxando uma mala, um garoto de estatura mediana, com os cabelos prateados e headphones azuis. Meu coração sobe a garganta e minhas mãos começam a suar.

Não pode ser...

O garoto sai completamente do trem e me encontra com o olhar. Ele para e fica me encarando, como eu faço. Seu semblante é de surpresa, acho que o meu também.

Não é possível...

Quando ele anda em minha direção, eu passo a ter certeza. Ele é Utatane Piko...

Meu ex-namorado...

...

Continua...

 


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