Saímos antes do alvorecer e antes de qualquer viking sensato acordar. Eu e Banguela não podíamos correr nenhum risco. Eu deixei as cartas para os seus respectivos destinatários. E nós, sem nenhuma palavra, seguimos para o norte.

E eu fui obrigado a pensar em cada uma das minhas palavras. E esperava que eles entendessem verdadeiramente os meus motivos...

Querida Astrid,

Você é a primeira pessoa a quem devo essas explicações. Talvez a quem eu mais as deva. Por isso quando peguei este pedaço de papel, as palavras “Querida Astrid” saíram automaticamente. Era você que devia saber de tudo. Eu devo isso a você.

Sei que está brava comigo. Não adianta dizer que não. Na verdade eu sei que você quer me matar. Você tem todos os motivos para estar brava. Eu te entendo perfeitamente.

E eu acho que a justificativa “eu precisava fazer isso” é infantil demais para esse caso. Para essa atitude que eu tomei.

Não podia arriscar a vida de mais ninguém. Pode ser bobo e idiota, mas eu sinto que devo cuidar de todos vocês. E não é isso que o meu pai sempre diz? Um líder protege os seus.

O Furioso odeia a raça humana. Não quero nem pensar no que ele faria com eles se eles fossem comigo. Eu estou protegendo os meus.

Ninguém poderia saber. Ninguém pode saber Astrid.

Eu nunca perdoarei você se alguém vier atrás de mim. Por isso eu peço para você Astrid: não diga aos outros que eu fui atrás dele. Isso só vai piorar tudo. Não confio no Furioso e nunca confiarei nele.

Por favor, atenda o meu pedido. E assuma Berk por mim. Sei que é muita responsabilidade. Mas confio em você. E meu pai irá ajudá-la.

Isso é importante. Não só para mim. É importante para todos nós. E eu tenho certeza que você tem consciência disso.

Caso haja dúvidas, eu repito. Eu te amo mais do que tudo nessa vida. Você é o meu mundo. Meu sonho. Meu tudo. Permaneça calma. Tudo dará certo.

Confie em mim milady. Isso é o que o meu coração diz.

Cuide do nosso pequeno tesouro. Antes que pense eu estarei aí com você. Eu te amo para sempre Senhorita Strondus.

Do seu, Soluço.

Ela era a única a quem dei as explicações corretas. Aos outros eu dei um pequeno texto mentindo os motivos pelos quais eu estaria fora. E eu espero que tenham verdadeiramente acreditado.

De qualquer forma eles entenderam. Aquela era a minha batalha. A minha luta. Mas minha consciência não gostava de mentiras. Muito menos eu.

Queridos Einar e Ágda,

Desculpe não avisá-los. Eu tive que ir às pressas à Ilha dos Beserkers com o Banguela. Alguns dragões selvagens estão causando alguns problemas por lá. Prometi ontem que eu iria o mais cedo possível para auxiliá-los.

Não se preocupe. Sua mãe assumirá a liderança e tudo dará certo. Amo vocês meus tesouros. Cuide bem da sua mãe.

Eu amo vocês demais. Repito para que vocês nunca se esqueçam.

Com muito amor e carinho,

Papai (Soluço Spansitocus Strondus III).

Tive que repetir a mesma história dos dragões selvagens para todos os outros para quem eu escrevi essas cartas. Eu escrevia com as lágrimas rolando em meus olhos. A consciência estava me castigando.

Queridos papai e mamãe (Valka e Stoico Spansitocus Strondus),

Precisei ajudar Labor hoje. Ele pediu urgentemente a minha ajuda. Alguns dragões selvagens estão causando problemas e saí cedo para a Ilha dos Beserkers para ajudá-los.

Astrid cuidará de Berk por mim, mas peço que a auxiliem. Desculpa não ter avisado. Mas amo vocês e espero que fiquem bem.

Com amor,

Soluço Spansitocus Strondus III.

A última eu colei na parede da Academia de Dragões de Berk. Foi mais um aviso do que qualquer outra coisa. E às vezes peço que a minha consciência seja mais dura comigo...

Pilotos,

Eu não estarei por Berk hoje e nem o Banguela. Partimos para a Ilha dos Beserkers e não deu tempo de avisar a ninguém ontem. Recebi o pedido de ajuda muito tarde ontem à noite.

Mas são apenas alguns dragões selvagens um pouco mais rebeldes. Não se preocupem. Eu só peço que vocês façam a segurança da Ilha. Embora ache que estejamos em paz por enquanto.

Até mais,

Soluço Spansitocus Strondus III.

Nada era verdade. Apenas a carta de Astrid era a que valia entre todas elas. Mas e se aquilo fosse a última lembrança que eles teriam de mim?

Mas o meu amor e o meu carinho por todos era maior do que a consciência dizendo que eu estava mentindo. Para a segurança deles eu mentia.

Quem mandava era o coração. Ele sempre manda. Eu devo obedecê-lo.

E por causa dele, eu entrava na densa névoa da Baía Assombrada do Coração Partido...