A noite que eu nunca esqueceria... escrita por Débora Chase


Capítulo 1
Capítulo 1




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Observei Rony e Harry desaparecerem pelo topo da escada e então as lágrimas ocuparam meus olhos, embaçando completamente minha visão. Sentei-me com dificuldade nos degraus de pedra que davam acesso ao hall do castelo, as lágrimas correndo por meu rosto e provavelmente borrando minha maquiagem. Mas aquilo não importava mais. Rony já havia destruído toda a minha noite.

Ele está usando você. Você está confraternizando com o inimigo...

As frases vinham aos montes em minha mente, me fazendo ficar ainda mais triste ao lembrar o tom de voz que ele utilizara. Confraternizando com o inimigo? Que absurdo! Quem ficara não cabendo em si quando Vítor Krum chegara aqui em Hogwarts? Quem faria de tudo por um autógrafo dele? Quando Rony dissera aquelas palavras, tive uma súbita vontade de lhe dar um tapa e fazê-lo perceber o quão idiota estava sendo. Talvez se não estivesse tão ocupado em convidar Fleur Delacour para o baile, teria percebido... Dei uma risada amargamente. Não, ele não teria percebido nada.

Escuto casais dando risadinhas quando voltam dos jardins, entre eles está Fleur e Rogério Davies. Ela tinha alguns fios do cabelo fora do lugar, mas rapidamente os ajeitou ao ver que eu a observava. Empertigou-se e caminhou imperiosamente com Davies de braços dados, retornando ao salão principal. O que Rony via de tão interessante naquela garota? Ela não parecia ter nada além de uma “casca” bonita. Todas as vezes que abria a boca, era para fazer comparações sobre algo entre Hogwarts e Beauxbatons, dizendo como lá era mil vezes mais interessante do que aqui. E Rogério parecia concordar com cada palavra que ela pronunciara, sem questionar. Como ele permitia isso, só pelo fato dela ser bonita? Francamente, nunca entenderia os garotos.

O que me fazia pensar em Vítor. O que ele vira em mim? Não fazia parte de seu fã-clube admirador – que por vezes incomodava o estudo de todos na biblioteca quando apareciam – nem era estonteantemente bela como algumas garotas daqui ou estrangeiras. Todas as vezes que ele me vira estava enterrada em livros na biblioteca para pesquisar mais sobre artigos que fortalecessem meus argumentos em favor do F.A.L.E. e se não fosse por isso, estaria ocupada com os deveres do colégio. Lembrava-me da primeira vez que ele entrara no lugar. Madame Pince o observara de cima a baixo com seu olhar inquisidor de costume, mas nada dissera. De fato, ela parecia até ligeiramente surpresa com sua presença ali. A maioria dos alunos de Durmstrang não tinha o hábito de sair do navio a não ser para dar voltas no jardim. Talvez Karkaroff quisesse que seu campeão tivesse amplo acesso aos terrenos e ao castelo, supus. E nas poucas vezes que eu percebia a presença de Vítor Krum na biblioteca (antes de seu fã-clube esganiçado aparecer), ele parecia pesquisar livros em estantes próximas onde eu me encontrava. Escolhia um livro aleatoriamente e então folheava as páginas com aparente distração e desinteresse. Na época eu me enfurecia com aquela atitude. Por que ele perdia tempo na biblioteca se não queria de fato ler? Mas eu nada dizia, apenas espiava por cima dos livros antes de voltar a atenção para meus deveres. Quando a histeria feminina começava a se fazer presente, eu arrumava minhas penas, pergaminhos e livros, dando as costas ao grupo que brotara rapidamente ali. Depois que fora anunciado o Baile de Inverno e a ansiedade se fizera presente por parte dos alunos, eu parecia ser a única garota que não estava excitada com a ideia de ser chamada por um garoto. Tinha esperança de que Rony pudesse me convidar, é claro, mas não ousei insinuar isso a ele. Gina também tinha esperanças de ser convidada por Harry, mas este e seu melhor amigo pareciam obcecados com a ideia de chamarem as garotas na qual estavam apaixonados – Harry chamaria Cho Chang, da Corvinal, e Rony pretendia chamar Fleur Delacour.

Em todo caso, em uma das vezes que estava na biblioteca terminando meu trabalho de História da Magia, Vítor Krum aparecera novamente na biblioteca e, novamente, ele rumara direto para a seção onde eu estava. Porém, diferente das outras vezes que eu o vira, ele se aproximou de mim o suficiente para que eu o escutasse:

—- Hermy-on? – seu sotaque búlgaro era forte e sua voz era um tanto grossa.

—- Sim? – ergui minha cabeça em sua direção, fitando-o diretamente nos olhos.

Por alguns instantes, ele pareceu desconfortável, como se não soubesse quais palavras diria a seguir. Estava quase perguntando se ele queria ajuda quando as elas surgiram de repente:

—- Gostarria de irr ao baile comigo?

Foi quase inevitável arregalar os olhos diante daquela pergunta. Vítor Krum estava me chamando para ir ao Baile de Inverno com ele? Milhões de perguntas surgiam em minha mente, mas antes que eu pudesse fazê-las, ouvi risadinhas vindas de algumas estantes não tão longe de onde estávamos, resolvi responder apenas “Sim”. Ele sorriu e sua expressão naturalmente carrancuda pareceu se suavizar um pouco. Dando um aceno, Vítor desapareceu por entre as estantes antes que as garotas o encontrassem.

Eu estaria mentindo se dissesse que aquele convite não mexeu comigo. Enquanto terminava minha redação para o Prof. Binns, fiquei pensando no que eu estava me metendo. Eu aceitara o convite de Vitor Krum. Qual seria a reação de Harry ou Rony ao saberem disso? Provavelmente iriam caçoar de mim, dizendo que eu inventara tudo aquilo. Enquanto mergulhava a pena no tinteiro para finalizar meu texto, concluí que não contaria à ninguém sobre o convite. Enquanto esperava a tinta secar, Neville surgiu por entre as estantes, exatamente por onde Vítor sumira.

—- Olá, Hermione – ele me saudou.

—- Olá, Neville. – respondi educadamente. – Já fez sua redação para o Prof. Binns?

Ele coçou a cabeça, como se tivesse acabado de se lembrar.

—- É mesmo, ainda não fiz. Mas é para semana que vem, não é?

Assenti e comecei a arrumar minha mochila. Garotos e sua mania de deixar para depois.

—- Escuta, Hermione, eu... queria falar com você. – a voz de Neville era hesitante.

—- Diga, Neville. Dúvida em poções? – perguntei distraída enquanto organizava os livros cuidadosamente na bolsa.

—- Não, é que... – ele suspirou pesadamente. – Quer ir ao baile comigo?

Quase derrubei o tinteiro ao ouvir aquilo. Encarei Neville. Ele estava com o rosto suado e mexia as mãos de forma inquieta. Dei um sorriso amigável para ele ao responder:

—- Sinto muito, Neville, mas já irei com outra pessoa.

Os ombros dele caíram, como se ele tivesse sido derrotado.

—- Ah, certo. Não sabia que ia com outra pessoa. – o tom de tristeza em sua voz me fez sentir mal por um tempo, mas eu não podia mentir para ele.

—- Tente convidar outra garota. Que tal a Gina? Ela é uma garota legal, com certeza iria com você.

—- É, talvez...

Coloquei uma das alças sobre o ombro e recostei a cadeira à mesa. Neville me deu passagem e antes que eu me afastasse, apertei sua mão. Dando um sorriso confiante a ele, dei às costas, saindo da biblioteca.

—- Mione, você não vai acreditar! – Gina vinha pulando ao entrar pela porta de meu dormitório. – Eu vou ao Baile de Inverno!

—- Isso é ótimo – abracei-a e ela se sentou em minha cama. – Com quem irá?

—- Com Neville. Não era quem eu esperava, mas...

—- Você pretendia ir com Harry, não é?

Ela baixa a cabeça, um pouco triste, mas logo dá de ombros.

—- Se ele não fosse um babaca que não percebe uma garota esperando por seu convite bem ao seu lado, quem sabe as coisas dariam certo.

—- Sei como é. – respondo pensando no garoto que também agia como tal.

—- E você? Irá ao baile também, não é? – ela pergunta, animada novamente.

—- Sim, irei.

—- Com quem? Rony?

—- Não, não é com ele, mas peço, por favor, Gina, não comente com ninguém com quem irei, ok?

Gina assentiu, sentando-se mais próxima de mim.

—- Vítor Krum me convidou para o baile.

—- Não brinca! – Gina se surpreendeu. – Vítor Krum, o campeão de Durmstrang? Hermione, você ganhou na loteria dos bruxos!

Foi impossível não sorrir diante tanto entusiasmo dela. Gina pegou de um dos bolsos dois Sapos de Chocolate e entregou um para mim. Conversamos sobre muitas coisas em relação ao que faríamos para o baile, como conseguiríamos os vestidos até poções para melhorar a aparência, até que Lilá e Parvati entraram no quarto. Despedimos-nos e me arrumei para dormir.

Uma sombra pairou sobre mim e então a voz de Vítor Krum me retirou de meus devaneios.

—- Hermi-on-nini, o que aconteceu?

Limpo os trajetos que as lágrimas fizeram borrando a maquiagem em meu rosto e tento tranquilizá-lo:

—- Nada, estou bem.

—- Non, você non ecstá. Querr me contarr o que houve?

Faço que não com a cabeça. Não fazia sentido contar a ele sobre a discussão que tivera com Rony, ainda que o incluísse. Não iria bancar a fofoqueira.

Um grupo de garotas do terceiro ano surgiu e uma delas, de cabelos louros e cacheados, estava com uma pena na mão.

—- Vítor Krum, você poderia me dar um autógrafo? – perguntou, o rosto corando violentamente.

Vítor me olhou por um segundo, como se perguntasse se estaria tudo bem atender a uma fã. Fiz um gesto para ele ir. Não tinha por que ele não dar atenção à elas por minha causa, mas talvez fosse uma atitude um tanto educada de sua parte. Observei-o pegar a pena e assinar seu nome em um rabisco no pergaminho que a garota trazia. Logo em seguida ela o agradeceu e saiu, suas amigas cercando-a de frases entusiasmadas.

—- Querr irr a um lugarr mais quieto?

Acabo concordando e ele me estende a mão. Tomando minha mão na sua, rumamos em direção aos jardins. A noite estava gélida e alguns flocos de neve caíam. Um arrepio percorreu meu corpo e Vítor percebeu:

—- Ecstá com frrio? – pergunta.

—- Um pouco. – admito e ele retira a capa e a coloca sobre meus ombros. É incrivelmente pesada.

—- Obrigada. – agradeço.

—- Vamos ficarr perrto de um lugarr com chamas – sugere e assinto. Caminhamos até um dos corredores iluminados por archotes cujas labaredas brilham intensamente. Sentamos-nos em um dos bancos de pedra que, por estar perto dos jardins, está um pouco frio.

Vítor observa as chamas dançarem conforme lufadas de ar frio passam pelo corredor. Ao longe, a música que toca no Salão Principal é um leve ruído de onde estamos.

—- É incrrível este castelo – ele diz. – Possui uma aurra diferrente de onde venho.

—- Durmstrang é mais sombrio?

Ele assente.

—- Acho que erra o que devemos esperrar de uma escola que ensina Arrte das Trrevas, non?

—- Acho que isso deve infelizmente influir diretamente no ensino de vocês.

Vítor vira o rosto para mim. Seus olhos me encaram como se ele quisessem me questionar algo, mas ele aparentemente desiste. Ele procura minha mão perdida por entre a pele de sua capa e então a leva aos lábios.

—- Você é ton diferrente das outrras meninas – comenta ainda me fitando. –Semprre perrdida em livrros da biblioteca.

A forma como ele diz aquilo não é ofensiva, mas como se admirasse isso em mim. Sinto minhas bochechas queimarem e espero que ele não perceba à luz do fogo.

—- É, eu acho que sim – respondo, não conseguindo pensar em outras palavras que pudesse usar para responder.

Ele se aproxima de mim e apenas a capa está entre nós. Erguendo a mão, acaricia meu rosto com gentileza com seus dedos grossos e ásperos. Me viro em sua direção e sua mão desliza para minha nuca. Não consigo escutar nada além de nossas respirações agora.

—- Vítor... – murmuro.

—- Sim?

—- Me beije. – digo e me surpreendo com a convicção que carrego na voz.

Fecho os olhos e inclino meu rosto na direção do dele ao mesmo tempo em que Vítor vem na direção do meu.

Seus lábios são duros no começo, mas conforme nos beijamos se torna suave. Ele toca minha cintura por debaixo da capa e me puxa levemente para si. No começo tenho medo de sermos apanhados por algum professor, mas estar entre os braços de Vítor Krum parecia afastar qualquer medo que eu sentisse. O ar parece estar mais quente do que antes e não sei se é o fato de estarmos tão envolvidos no beijo ou por conta da neve parar de cair. Toco os seus cabelos e eles são surpreendentemente macios. Quando nos distanciamos, acabo tendo um sorriso nos lábios.

—- É esse sorriso que querro verr em seu rosto, Hermi-on-nini. Você é bonita demais para ficar trriste.

Dessa vez, não me importo de estar corando ou não. As palavras de Vítor eram sinceras, eu podia perceber.

Ele se levantou de repente e estende novamente o braço em minha direção.

—- Acho que irrão tocar a última música da noite. Vamos?

Pego seu braço sem nem ao menos hesitar. Estou com um pouco de sono (já são onze da noite), mas não me deixo ser vencida pelo cansaço. Andamos de volta ao interior do castelo, onde o movimento ainda é grande de casais e professores.

Parecia que minha discussão com Rony fora há séculos, pensei enquanto retornava à pista de dança. Estar com Krum me fazia bem de alguma forma. Enquanto dançávamos uma melodia um pouco mais lenta sob o olhar de todos que estavam no salão, deixei-me levar por aquela noite que nunca esqueceria.


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Notas finais do capítulo

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