Era apenas mais um dia cansativo, depois de uma longa noite cheia de sonhos perturbadores, sonhos não, pesadelos, horríveis que vos perseguia por muito tempo, há anos, anos que só lhe destruíam mais e mais.

Levantou lentamente da cama e se dirigiu ao banheiro, fazendo sua higiene matinal vagarosamente, saiu do quarto sem pressa, descendo as escadas, quem visse aquilo diria que não era mais uma garota, só uma alma presa a terra que vagava tristemente por ali.

Entrou na cozinha onde os olhares recaíram sobre si, sentou a mesa e com os olhos nublados ficou parada, olhando para o chão sem nenhuma expressão, Hermione sentiu o coração apertar enquanto colocava a comida a mesa, Ronald suspirou olhando para a filha preocupado, Hugo franziu a sobrancelha um tanto triste.

— bom dia, querida – Hermione murmurou depositando um beijo no topo da cabeça da filha.

Rose sempre tinha os olhos inchados e a pele branca, mais branca que o leite, não costumava comer muito e por isso os ossos já faziam uma aparição sobre a camada de pele, ela estava parecendo mais um cadáver do que uma jovem viva.

— bom dia, Rosie – Rony cumprimentou com a voz um tanto falha, ver a filha daquela maneira machucava seu coração, Rose assentiu timidamente e com os olhos ainda nublados levou uma garfada de panquecas até a boca, comeu lentamente, Hugo suspirou pesadamente e olhou com carinho para a irmã

— e então, Rose, quando terminar o ensino médio o que pretende fazer? – Hermione perguntou tentando quebrar o clima pesado que faziam suas lágrimas subirem até seus olhos

— não sei – ela murmurou em um fio de voz, um tom irreconhecível, sombrio e sofrido, puxou a manga do moletom cobrindo suas mãos

— como você gosta de ler, pensei em letras – Hermione comentou sentando-se à mesa para comer junto á eles, a ruiva não tinha comido nem metade de seu café da manha e afastou o prato para longe, pegando o copo com leite em sua mãos cobertas pelo tecido tomou dois goles e deixou ali se levantando para subir as escadas

— anh... Rose, faltam apenas dois dias para véspera de natal – Hugo anunciou timidamente e a garota assentiu subindo as escadas

— Hermione... Isso já deveria ter acabado – Rony murmurou preocupado

— eu sei, Rony, você acha que eu não percebo? – Hermione falou com os olhos marejados

— ela vai ficar melhor... Rose deve ser forte – Hugo falou com a voz embargada, os três se entreolharam esperançosos.

[...]

Com o cabelo preso para trás ela se ajoelhou e vomitou, o pouco que tinha dentro do estomago descendo para as correntes de esgoto, ao se olhar no espelho sentiu medo da alma que se refletia pelo espelho, olhos nublados, expressão impassível, quando fora á última vez que um sorriso passou por seu rosto?

Talvez há uns dez anos atrás, o último natal que passou sorrindo, onde tinha apenas nove anos, onde deu seu último sorriso, um dia depois havia acontecido na cantata de natal do colégio.

Com o olhar baixo se voltou para a cama se encolhendo mais uma vez e se perdendo em um mundo obscuro que só ela conhecia, tão sozinha, tão subestimada, tão machucada, fria, quebrada, qual o motivo de continuar a viver? O natal sempre lhe trazia a triste lembrança do que estragou sua vida.

Bobagem? Porque seria bobagem algo que a fechou? A machucou? Poderia ser considerada uma rosa, mas uma rosa fechada. Tornou a pegar no sono flutuando em mais um de seus pesadelos.

—-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Gina corria de um lado para o outro, com caixas de presente em mãos e um sorriso maior que o rosto, fitas espalhadas pela sala, papeis de presente de todas as cores, e claro, os presentes.

— mamãe, você precisa mesmo disso tudo? – Lily resmungou cansada se jogando no sofá ao lado do irmão mais velho que passava os canais como se fosse interessante

— claro, e venha cá me ajudar, temos presentes para embrulhar, James, você pode, por favor, ajudar seu irmão na cozinha? – Gina pediu carinhosamente e os irmãos se entreolharam suspirando e se levantando, Lily se ajoelhou do lado da mãe a ajudando com as fitas e James seguiu para a cozinha encontrando um Alvo indignado e com as mãos sujas de farinha

— o que é...!? – James exclamou tornando a gargalhar enquanto o moreno lhe lançava um olhar atravessado

— cale a boca e venha me ajudar – Alvo bufou com a cara amarrada

— Alvo, você fica lindo de avental – James zombou voltando a gargalhar, Alvo pegou um punhado de farinha e lançou na cara do irmão, James piscou entre a farinha e tossiu

— você fica delicioso com farinha – Alvo debochou e se voltou para a massa

— o que mamãe te obrigou a fazer dessa vez? – James bocejou limpando o rosto

— um bolo, você sabe como se faz um bolo? – Alvo perguntou mexendo em alguma gororoba

— o que você fez? Você chama isso de bolo? – James falou amarrando o avental

— me diga se você sabe fazer melhor – Alvo fez uma careta

— passa a farinha, quatro ovos, 150g de passas... – James falava enquanto o irmão lhe entregava os ingredientes

— como você sabe de tudo isso? – Alvo perguntou curioso

— Clarie me ensinou – James deu de ombros começando a bater a massa

— estou dizendo, você um dia casa com ela – Alvo afirmou sorrindo enquanto aquecia o fogo a comando do irmão

— assim como eu confirmo seu casamento com Alice – James abriu um sorriso maroto

— ah, você acabou de assumir... – Alvo falou assentindo

— e você também – James fez uma careta e os dois riram

— o que me diz do último ano? – Alvo perguntou passando os ingredientes

— anh... O momento em que você decide o que vai fazer da vida, os caminhos que vai traçar, o destino é seu, está em suas mãos – James explicou limpando as mãos e passando a massa para a forma

— isso soou tão gay! Onde aprendeu isso? Ah me deixa adivinhar, Clarie – Alvo brincou abrindo o forno e passando a forma para dentro coberta por alumínio

— acertou, mas bem, eu ainda estou preso ao colégio, estou usando o sótão do colégio – o moreno franziu o cenho e sentou a mesa

— então quer dizer que mesmo que você tenha terminado os estudos, ainda tenho que te suportar? – Alvo passou a mão no cabelo como se fosse inacreditável e sentou em frente ao irmão

— não se preocupe, não estou de olho em você, e sim na Lily, já pensou o que os caras pensam sobre ela? – James reclamou enojado

— não acredito que você tem todo esse ciúme... Claro que tenho cuidado por ela, mas Lily sabe se defender – Alvo revirou os olhos

—ela continua sendo um bebê para mim – James murmurou erguendo uma sobrancelha

— esse natal realmente tem que ser bom, Clarie passara o natal na Toca, assim como todos os amigos da família – Alvo falou empolgado

— veja pelo lado bom, juntos com nossos primos somos a destruição da Toca – ele sorriu marotamente

— temos primos loucos... Bem, temos a Rose... – Alvo instantaneamente ficou sério

— ah... Rose, sabe de alguma noticia sobre ela? – o jovem encarou o irmão curioso

— não, pra falar a verdade ela está na mesma, só sai do quarto para comer e passa o dia todo trancada sem fazer nada – Alvo murmurou em um tom de voz preocupado

— isso é tão estranho... anh, isso começou no natal, não foi? – James se forçou a raciocinar

— não, foi depois, acho que na virada ela estava assim, teve uma cantata não foi? Naqueles dias seguintes Rose estava praticamente desaparecida – Alvo pensou aflito

— você acha que alguém... Fez isso com ela? – ele perguntou um tanto tenso

— Jay, acorda! Claro que sim, Rose está traumatizada... – Alvo sussurrou a última frase e suspirou

— você acha que ela... Volta? – James cruzou os braços

—ela ainda tem uma chance, não tem? Rose não se foi por completo – o moreno franziu o cenho – isso vai soar gay, mas acho que Rose ainda está aqui porque o destino dela tem alguma surpresa, talvez não só ela, mas alguém possa a puxar de seu mundo – ele explicou fazendo gestos

— há quanto tempo não a vemos hein? – o moreno engoliu em seco

— desde o natal passado – Al murmurou estremecendo

— você acha que esse ano ela volta para o colégio?

— provavelmente sim

— você vai ajuda-lá, não vai, Al?

— eu não sei o que fazer, Rose era minha amiga...

— tenho certeza que ela está em algum lugar perdido dentro da sua própria mente

— eu espero que ela ainda esteja lá – Alvo respirou fundo e sentiu um cheiro gostoso

— parece que já está pronto – James sorriu vitorioso e foi em direção o forno, tirou a forma de dentro com luvas, e logo depois tirou o papel alumínio, era um bolo bonito e cheiroso

— já pode cozinhar pra mim quando quiser – Alvo falou sentindo o cheiro

— aprenda a fazer alguma coisa que não sejam gororobas – James gargalhou e o irmão o acompanhou.