Era mais uma manhã silenciosa, invadindo cada pequeno esconderijo, em meio a alguns lugares escuros, pequenas brechas, tudo coberto por neve. Eles pareciam bem escondidos em meio a vasta imensidão de neve na floresta, a floresta há uns 300 metros do Lago que ficava do outro lado da casa, onde uma árvore crescia e envelhecia ao lado.

Ela queria poder cobrir cada centímetro do corpo, o frio, que fazia o resto da família andar com três camadas de roupas, penetrava sua pele, fazendo os pelos se arrepiarem em todo seu corpo, ela voltou para debaixo dos lençóis e espremeu o lençol grosso entre os dedos. Sua vontade era gritar, tamanha era sua dor de cabeça, queria arrancar os cabelos pelas dores que vinha sentindo, em todos os lados. Um dia para o ano acabar e ela praticamente morria por dentro, tinha algo muito errado, ela sabia, e também sabia como acabar com aquela dor, de uma vez, algo que estava bem ao alcance de suas mãos, ainda mais agora que ela sabia, ela sabia qual deles.

Ela se incomodara com os olhares de Roxy e Lily, que pareciam observar cada movimento, mas por que olhar? Ela não podia fazer nada, ele não deixaria. E aquela aproximação de mais um final de ano lhe trazia lembranças inusitadas.

Flashback on

Ela tropeçou nos próprios pés, passou por debaixo de um tronco pesado, ela não podia correr, a perna sangrava mais atrás, e ele ainda poderia vir, se ele conseguisse se levantar. Se arrastou pela terra e agarrou um galho, que foi o apoio para suas pernas, arrancou com a força que ainda lhe restava e o usou como apoio, rasgou um pedaço de roupa das próprias vestes e passou por cima do ferimento, na tentativa de limpar, se agachou e enfiou o tecido sobre a terra entre as raízes da árvore. A luz no fim do túnel, a luz da estrada mais a frente, ela conhecia aquele caminho, estava próxima ao parque, onde há alguns quilômetros ficava a casa da prima mais velha. Ela caminhou, ofegante, suor misturado com sangue descendo por seu rosto, ela não tinha nenhuma noção do tempo, e havia sangue em sua boca, talvez ele não tivera sido muito legal usando aquela faca, no começo parecia inofensivo, só tirando um pouco de seu sangue do indicador, mas logo depois vieram a ser cicatrizes que permaneceriam uma vida inteira em suas costas.

Ela avistou o parque, não havia ninguém ali, apenas o vento seco do inverno, o Natal havia passado há alguns dias, suas pernas fraquejaram e ela tombou, caindo para frente, quando de repente algo a sugou, levando suas esperanças, seus sonhos, seus sentimentos, suas lembranças, seu coração, sua alma.

Ela abriu os olhos a lua já chegara ao topo do céu, ela piscou freneticamente, tentando entender alguma coisa, então se recordou da casa de Victoire, tão próxima e tão distante ao mesmo tempo, ela se ergueu com as mãos com o cuidado de não fazer contato do ferimento com a terra. Tudo parecia doer cada vez mais, ela parou, olhou para os lados, não havia ninguém ali, girou as mãos para cima e murmurou palavras, palavras que não se encaixavam em sua língua, mas uma vez vistas em um livro e nunca mais esquecidas, um livro de capa branca, com palavras preciosas. A dor sumiu, se esvaiu, ela pode apreciar o ferimento sendo coberto por pele, o sangue agora não visto mais.

Ela podia se lembrar da última vez que abrira os olhos... Ele tinha uma faca em mãos, dissera doentiamente que ela era só sua, nem que fosse para a eternidade, então ele se aproximou e a dor imensa foi sentida em seu coração, ela tentou respirar, porém sangue subiu-lhe a garganta e ela o observou mais uma vez, ele sorriu de maneira doentia e a beijara, e só então tudo escureceu.

— Rose! -Ela escutou o grito e ergueu a cabeça para uma loira de vestido longo e azul na porta de casa, com as mãos na boca, e em expressão de desespero, Rose não respondeu apenas sentiu sua visão estremecer e as pernas perderem o equilíbrio, ela temeu fechar os olhos mais uma vez, porém então os fechou pela tontura.

Flashback off

Ela coçou os olhos, não se lembrava de ter saído de floresta alguma, não se lembrava de chegar perto de uma, lembrava-se apenas de quando decidira... Sua cabeça reclamou latejando, então ela fechou os olhos com força, ela precisava agir, sentia algo tomando seu mundo, estava errado, os pesadelos não lhe assombravam mais, só a lembrança de uma vida que não era sua, ela precisava, precisava da solução, ela teria que ir até ele? Esperava que não, sua dor não a deixaria prosseguir.

—-------------------------------------------------

Molly sorriu em meio às lágrimas enquanto os familiares e amigos colavam cartazes pelas paredes, cartazes que fizeram a ruiva derramar lágrimas teimosas. Todos em uma animação geral, mesmo que estivessem dentro de um hospital. Roxy se sentou na beira da maca enquanto os outros se distraiam, Lily sentou do outro lado e suspirou, Molly as encarou confusa.

—pegamos a boneca, quer dizer, ela quebrou - Roxy murmurou baixinho e Lily assentiu

— Rose não é Rose – Lily piscou freneticamente com suas palavras confusas

— Eu falei com Rose, Rose mesmo – Molly sussurrou se inclinando para frente, as primas arregalaram os olhos

— onde?

— foi em um sonho, mas não era realmente um sonho... Vocês entenderam!

— bem, a boneca quebrou, mas... – Roxy esticou discretamente o pedaço de papel para a ruiva, Molly leu as palavras atentamente

— o que isso quer dizer? – Molly voltou a encara-las agora preocupada – não a permita beijar aquele que não tem meu coração?!

— eu estou achando que se ela beijar... Anh, Alguém que Rose jamais beijaria, ela, enfim... – Roxy tentou explicar engolindo as palavras

— Se a... O que quer que seja aquilo, beijar o cara que Rose nunca beijaria, ela toma posse? – Molly perguntou e Lily afirmou gesticulando

— é tão estranho! Esse negócio de beijo, parece aquelas historinhas... – Lily começou e foi interrompida pela expressão de exclamação no rosto da prima mais velha

— é isso, isso Lily! A boneca é uma chave, beijos são de contos de fadas, é isso! – Molly abriu a boca surpresa e as duas primas franziram o cenho sem entender nada

— isso a gente já sabia – Roxy fez uma careta e Molly sorriu animada

— essa é a pista de Rose, ligue os pontos, ela não pode beijar aquele que Rose nunca beijaria, então ela provavelmente sabe quem é ele, ou que seja, mas é exatamente isso! Ela não pode beijar aquele que não tem seu coração, mas talvez aquele que tenha possa trazer ela de volta – Molly respirou fundo como se tivesse um idéia brilhante

— O coração de Rose... – Lily sussurrou estralando os dedos

— todas as pistas se encaixam em Rose, a boneca, contos de fadas, é como se ela soubesse que isso aconteceria, se todas as pistas se encaixam, a próxima é... – Molly piscou refletindo

— o que Rose mais gostava? – Roxy engoliu em seco

— a família já esta abalada... Rose prezava a família, e os amigos... Os amigos! Ela sempre cuidou dos amigos com sua própria vida – Molly suspirou e a expressão de Roxy clareou

— Rebeca morreu... Foi assassinada... – Lily murmurou prendendo a respiração e Roxy ofegou, claramente se lembrando da amiga

— Clarie ainda está conosco, e quanto a Lia? – Molly olhou ao redor garantindo que ninguém estivesse escutando a conversa

— eu não sei, nem me lembrava mais dela, ela gostava do Al... – Lily parou bruscamente – o Alvo! Cadê meu irmão? – Lily se levantou alertada olhando ao redor, James, Scorpius, Lorcan e Lysander estavam ali, os outros ficaram em casa.

— Alvo... – Molly sussurrou se engasgando

— Alvo! Rose jamais beijaria Alvo! Era sua melhor amiga que gostava dele – Roxy exclamou e avistou Gina do outro lado da sala, olhou uma última vez para Molly, a mesma sorriu encorajadora e a morena disparou para a tia, ela precisava chegar A’Toca, antes que fosse tarde demais.