Ela pulou da cama calçando as pantufas, havia chegado o dia estonteante, ela varreu o quarto com os olhos, o papel rosa reluzia em cima da mesinha. Correu até a porta puxando a mesma animadamente, deu meia volta pelo corredor e chegou ao banheiro, entrou e se abaixou, puxando com as duas mãos a escadinha que havia ali, se ergueu esticando os braços e subiu nos degraus ficando de frente para o espelho, puxou a escova de dente de dentro do potinho de gatinho, passou o polegar sobre as pontas ainda macias da escova e procurou a pasta tateando pela pia, a encontrou e girou tirando a tampa, espremeu até ver o líquido gosmento descer pelas pontas felpudas de sua escova, ela fechou o tubo de pasta e colocou de volta no lugar, puxou o potinho para a torneira e o encheu, colocando mais ao lado, e então começou a escovar os dentes animadamente em frente ao espelho.

Penteava os cabelos tão rápido que parecia querer arranca-los da cabeça, ela puxou a mochila para cima da cama e vasculhou por dentro com uma mão, a outra penteando o cabelo, mexeu de um lado para o outro e não encontrado nada além de livros e seu caderno retirou a mão. Deixou o pente em cima da cama e saltitou até a escrivaninha no outro lado do quarto e pegou a presilha, prendendo a ponta de sua franja mais acima da cabeça, passou as mãos pela farda e suspirou. Finalmente focou nos cartões em cima da mesinha, cautelosamente ela os pegou, parecia ser algo muito valioso, que aos seus olhos, eram realmente preciosos, carregou-os até a mochila e os guardou no bolso da frente, pegou a mochila da cama e a colocou nas costas, ainda sorrindo. A boneca Mary também parecia sorrir para ela quando passou pelo espelho do corredor, seria um dia empolgante.

Chegou à cozinha encontrando sorrisos também felizes, subiu na cadeira e sorriu timidamente enquanto a mãe colocava as panquecas no prato a sua frente

— como está hoje querida? -A mãe perguntou beijando o topo de sua cabeça

— muito bem! -respondeu enfiando uma garfada dentro da boca

— e os cartões? -A morena se sentou em sua frente e a menina lhe encarou mais ansiosa ainda

— não sei se conseguirei entregar, será que vão gostar?

— deixa eu te contar um segredo, os garotos reclamam demais, porém alguns anos depois eles vão lembrar desses cartões e isso vai ser um dos motivos para ele te pedir em casamento - Hermione cochichou sorrindo carinhosamente

— ele? Não tem um "ele" - a ruiva sibilou corada

— uma desses cartões deve ser mais especial que os outros!

— Não, eu amo todos igualmente, somos amigos para sempre

— nunca cresça - ela riu se voltando para o fogão, Rose riu baixinho e pulou para fora da cadeira

— onde está o papai? - olhou ao redor curiosa

— não sei, Hugo deve estar... - Antes que pudesse completar Rony entrou na cozinha com a criança menor no colo

— vamos então? - Rony sorriu enquanto o pequeno bocejou, Hermione sorriu e atravessou a cozinha pegando o filho no colo

— eu vou pegar Lily e os deixo no Colégio- ela falou alegremente e Rony beijou sua bochecha, fazendo Hugo resmungar

— vamos! Vamos! -Rose exclamou correndo para fora da cozinha

— porque ela está tão animada? -Rony varreu o lugar com os olhos confuso

— adivinhe que dia é hoje? Cartões, flores... -Hermione começou sonhadoramente e foi interrompida pelo som de alguém se engasgando

— Não me diga que ela vai entregar...

— Rony! Ela já tem oito anos! Deixe-a fazer isso, ano passado você não surtou tanto assim...

— ano passado ela achava os garotos nojentos

— pois bem, nossa menininha está crescendo querido, você aceitando ou não

— Quer saber? Vou levá-la para o Colégio- ele murmurou com a cara amarrada e saiu em direção à garagem, entrou no carro e a menina parecia estar pulando de felicidade no banco de trás

— você pode ir rapidinho hoje? -Ela perguntou com a voz mais aguda que o normal, Rony cerrou os olhos

— Rose, não entregue essas coisas, eles vão cuspir e jogar fora logo depois, meninos são maus- o ruivo falou entre dentes e ela liberou uma gargalhada sonora

— papai, não precisa ter ciúmes, mamãe já me explicou muita coisa, e não se preocupe, você sempre será meu papai- ela exclamou naturalmente e o pai a encarou por alguns minutos orgulhoso e emocionado

— você é tão brilhante quanto sua mãe- ele sorriu e ela retribuiu, girou a chave dando partida no carro.

O Colégio ficava a alguns quarteirões, facilitando a chegada, Rose abriu a porta e pulou animada para fora do carro sem nem olhar para trás, Rony riu erguendo uma sobrancelha e partiu desconfiado. A ruiva adentrou o grande Colégio, olhou ao redor esperando encontrar um rosto conhecido, provavelmente estavam no pátio, ela correu pelos corredores, achava divertido quando seu cabelo flutuava atrás de si ao vento. O pátio estava cheio de alunos, as conversas eram sobre o mesmo assunto, ela avistou outra ruiva baixinha, sorriu abertamente e caminhou até a amiga, tocou em seu ombro fazendo a mesma se virar

— Rosie! -Lucy sorriu em meio às milhares de sardas

— onde estão as...

— ROSE! - o grito ecoou por suas costas e ela sabia perfeitamente quem era a dona da voz afinada

— Clarie! -Rose exclamou recebendo o abraço atrapalhado da amiga

— Eu e Roxy fomos perturbar o Al- ela sorriu amarelo e a ruiva riu

— de novo? Vocês só sabem mexer com ele? Deixaram a Lucy aqui sozinha! - Rose murmurou encarando a prima

— Não a deixamos sozinha, cadê a Lia? - Clarie franziu o cenho se referindo a amiga de cabelo rosa e Lucy mordeu o lábio inferior

— Adrian apareceu do nada e a levou, ele parecia triste- Lucy suspirou

— Lia disse que ele estava com problemas com a namorada

— ela não é a namorada dele, Rose! Aliás, ela tem três problemas, bem... - Clarie começou e coçou a cabeça confusa

— você a conhece?

— quando fui à casa da Lia com a Beca, ela estava lá, hey, ela se parece muito com você- ela comentou dando de ombros e então paralisou, olhando por cima do ombro da amiga

— o que está olhando? -Rose comprimiu os lábios seguindo seu olhar

— você vai entregar o cartão?! -Lucy sorriu animada olhando para o mesmo ponto

— claro! Alvo disse que ele recebeu doze cartões ano passado!

— Nós só temos oito anos! Não olhe desse jeito, mamãe disse que homens são ótimos, mas quando crescem - Rose murmurou assentindo e Lucy riu

— o que está dizendo? Está tão na cara assim?

— se você parasse de babar seria melhor – Rose gargalhou e correu os olhos pelo resto do pátio, encontrando um Alvo e um Scorpius com as caras amarradas se aproximando das garotas

— brigaram? – Lucy perguntou curiosa

— ele disse que garotas são estranhas, só porque recebeu um cartão com um chiclete...

— mastigado! – Scorpius esbravejou cortando o amigo

— para mim você está exagerando, não tinha saliva nem nada – Alvo deu de ombros e Rose segurou a risada

— mas tinha marcas de dentes! E não estava embrulhado, estava grudado lá – o loiro fez uma careta e Rose soltou uma gargalhada fazendo os dois a encararem confusos

— o que? – Alvo franziu o cenho

— vocês são tão bestas! Vai que ela queria que vocês compartilhassem a mesma saliva – ela argumentou sem parar de rir e os dois fizeram uma careta de nojo

— Ela usa óculos maiores que a cara, e tem uma juba! – Scorpius reclamou levando um cutucão de Alvo – O que?

— ela é filha da diretora – Alvo indicou com a cabeça a diretora que adentrara o pátio alegremente

— aquela coisa é filha da diretora? Não era de se esperar algo diferente! – Scorpius sussurrou cruzando os barcos, Rose se inclinou para frente de tanto rir

— pare de rir – Alvo pediu alertado vendo a diretora chegar mais perto

— não dá – Rose ofegou puxando ar para os pulmões

— você acha que ele vem para cá? – Clarie perguntou esperançosa e se virou, só então notando a cena, Alvo tinha a expressão desesperada e Scorpius estava de cara amarrada, Rose a frente ria incontrolavelmente e Lucy sorria divertida

— se você está esperando que... Ele adivinhe sua esperança... Está perdendo tempo – Rose murmurou em meio às risadas

—Rose, respire, você precisa viver muito ainda – Lucy brincou colocando a mão no ombro da amiga, a mesma tomou postura e respirou fundo, encarou os meninos e voltou a rir

— Bom dia, segundo ano – a diretora cumprimentou e Rose parou de rir instantaneamente, sorrindo amarelo para a mulher, a mais velha lançou um sorriso carinhoso para todos e saiu dali a passos lentos

— parou? – Lucy perguntou abanando a mesma

— parei, vejam só a cara da Clarie – Rose zombou e os meninos desmancharam a cara olhando curiosamente

— o que ela tem?

— Clarie ama o...

— Eu ainda estou aqui! – Clarie interrompeu a ruiva corando

— ama quem? – Scorpius perguntou abrindo um sorriso malicioso

— o seu irmão – Rose deu de ombros desviando do tapa da amiga

— eu não tenho ir...

— ela ta falando de mim, bocó – Alvo reclamou revirando os olhos e o loiro assentiu entendendo

— James? James o que colocou fogo na sala de aula ou o Sirius? – Scorpius girou a cabeça procurando pelo mesmo

— esse é o mesmo James, só existe um James no terceiro ano – Alvo olhou para o amigo como se ele fosse incrivelmente burro

— já entendi – o loiro mordeu o lábio inferior enquanto um James e uma Rebeca animados se aproximavam

— vocês não vão acreditar! – a morena exclamou fazendo Clarie fechar a cara instantaneamente

— o que foi dessa vez? – Clarie perguntou abrindo um sorriso falso, ela amava a amiga, mas seu senso de paixonite de infância não permitia qualquer afeição nesses momentos

— mal-humorada, Clarie? – Rebeca perguntou torcendo as mãos

— ciumenta, isso sim – Rose murmurou levando um tapa da morena

— cala a boca, Rose – Clarie lhe lançou um olhar atravessado e a ruiva sorriu brincalhona

— ciúmes de mim? Oh não, espere... – Rebeca parou franzindo o cenho e arregalou os olhos

— já recebi cinco cartões, e ainda nem entrei na sala – James exclamou sorrindo vitorioso

— acha que isso é uma competição? – Alvo perguntou incrédulo

— bem, sim – James riu – aposto que você ainda não recebeu...

— errado! Recebi um na entrada – Alvo mostrou a língua para o irmão

— tinha coraçõezinhos brilhando! – Scorpius zombou – alguma dessas cartas foi de amor, Jay?

— uma ou duas – o moreno deu de ombros sem se importar, Clarie fungou e girou a bolsa, abrindo-a e procurando algo lá dentro

— quando vão entregar as suas? – Alvo perguntou as meninas

— eu já entreguei – Lucy levantou a mão envergonhada e Rose arregalou os olhos, se agachou e abriu a mochila, puxando de lá cartões em um rosa claro

— Ah, Rose, você sempre entrega cartões para todos, não tem graça – Rebeca fez beicinho

— esse ano eu fiz frases diferentes – Rose revirou os olhos se levantando e fechando a mochila

— tipo “Eu estou gostando de você”?! – Lucy perguntou animada e Rebeca sorriu acompanhando a animação da amiga, Rose corou violentamente

— não, tipo “não se intrometa na minha vida” – Rose cortou entre dentes e as meninas sorriram maliciosas

Clarie respirou fundo e esticou a carta para o moreno, James franziu o cenho, encarou a carta, depois a garota, depois a carta de novo e assim sucessivamente

— é sua – Clarie mordeu o lábio inferior antes de corar e sair em disparada dali, as meninas riram baixinho enquanto um James confuso abria a carta e lia com atenção

— espere, eu também tenho uma pra você – Rose murmurou mexendo entre as cartas e puxando uma com um laço vermelho – eu acho que você combina com vermelho – ela deu de ombros e o entregou, ele fez uma careta e pegou também

— James, vai ter de fazer uma caixinha para essas coisas – Rebeca comentou

— pra quem você entregou? – Lucy a encarou

— Alvo – ela respondeu simplesmente e então corou – hey! A carta não era minha, quero dizer, eu entreguei uma carta, mas não era minha – ela se enrolou e Alvo começou a rir

— Era da Lia – o Potter de olhos verdes respondeu sorrindo

— então quer dizer que aquela vaca não me contou? – Rose exclamou colocando as mãos na cintura

— não contou o que? – Scorpius riu da expressão típica da ruiva

— que estava gostando do besta aí – Rose apontou para o primo que amarrou a cara, James se aproximou do irmão com um sorriso sugestivo

— ei mano, não recebeu uma da Lice? Eu acho que ela não te ama – o irmão mais velho cantarolou e Alvo torceu o nariz

— eu não me importo – Alvo respondeu fazendo uma careta e James sorriu mais abertamente ainda

— Alice me entregou uma carta...

— O que? Onde? Cadê? – ele encarou o irmão curioso e James gargalhou

— a carta é minha, maninho, fica pra próxima – ele olhou desafiador para o irmão e o mesmo retribuiu o olhar

— o que ta pegando? – Rebeca sussurrou para Rose vendo a cena

— eles amam se desafiar, espere – Rose explicou e elas aguardaram, James gargalhou e bagunçou o cabelo do irmão, fazendo o mesmo reclamar entre risos

—E você, Lucy, pra quem entregou? – Scorpius falou chamando a atenção de todos, Lucy sorriu petrificada

— não é da conta de ninguém, onde a Roxy foi parar? – ela perguntou desviando o assunto, lançou um olhar para Rose e saiu, deixando apenas as duas amigas

— eu não sou de entregar cartas, meninos são para zoar, não para namorar – Rebeca exclamou como se fosse à coisa mais óbvia do mundo e os três garotos sorriram concordando

— se algum de vocês magoar uma delas mato os três em uma só patada – Rose desafiou e os sorrisos murcharam

— Rose, ainda tem cartas aí! – Alvo incentivou a prima, Rose sorriu animada e revirou as cartas na mão

— a sua tem a fita verde – a menor esticou a carta para o primo que a pegou alegremente – e a de Scorpius...

— Eu tenho uma carta também? – o loiro perguntou desconfiado e Rose o olhou com expressão de tédio

— não só pra você, tem pro Lorcan, Louis, Fred, Lysander, não fiz uma para o Frank porque ele é mais novo, ele jogaria fora – ela estalou a língua

— mas é só... – Scorpius parou ao receber a própria carta, com um laço prata

— preciso encontrar minhas amigas – Rose sorriu timidamente e girou nos calcanhares

Antes que pudesse ir embora lançou um olhar para trás, vendo a amiga entregar uma carta para seu primo mais velho antes de vir correndo até ela. As duas atravessaram o colégio chegando à outra extremidade, onde ficava a sala. Rose não imaginava que o ano seguinte pudesse ser tão assustador, e se lembraria daquele dia como a última vez que viu sua melhor amiga de madeixas rosas.