– Katsu-kun? Não acha que é um apelido íntimo demais pra alguém que você mal conhece? Quantas vezes já se encontraram sozinhos? – Mikaru estava furioso. Suas mãos tremiam de raiva e ele gritava sem se importar que algum vizinho o escutasse.

– Mikaru-san… você está exagerando. Eu realmente não o conheço bem. Só estava sendo educado, afinal de contas é seu amigo…

Katsuya tentava acalmar o namorado, mas cada palavra sua parecia ter o efeito contrário ao que queria. Se antes ele estava apenas furioso, agora parecia possesso.

– Ele não é meu amigo! Nunca foi e nunca vai ser! Você não tem noção do quanto eu desprezo aquele idiota!

– Eu não sabia… Quando ele te chamou, parecia que eram velhos amigos… Desculpe…

– Desculpar? Você é mesmo tão ingênuo quanto finge ser? Ou gosta de se fazer de idiota pra rir de mim depois?

– Eu nunca riria de você, Mikaru-san. – Katsuya ficou cabisbaixo, suspirando longamente para se acalmar. Se Mikaru soubesse o quanto aquelas palavras ofendiam e machucavam… Ele não queria brigar. Só queria desfazer o mal-entendido, abraçá-lo e dizer que não entendesse errado, que não estava olhando para o outro rapaz com nenhuma outra intenção além da amizade.

– Você aceita aquele idiota te chamando por um apelido, mas não consegue me chamar só pelo nome… – Mikaru rosnou as palavras em tom furioso e baixo – Nós parecemos estranhos!

Como fazer uma pessoa tão insegura perceber que era especial? Por mais que Mikaru tentasse parecer forte, Katsuya sabia que aquela parede não aguentava uma grande pancada. Sabia que o namorado já havia perdido alguém que gostava e sabia que ele tinha medo de ser trocado. Mas como provar pra ele que não tinha essa intenção?

– Eu te chamo assim porque te respeito… e admiro… – confessou baixinho, coçando a nuca num ato de timidez, desviando o olhar para um ponto qualquer na parede – Você sempre enfrenta tudo de cabeça erguida, mesmo quando não alcança seu objetivo. Você sabe ser forte, mas também sabe ser gentil… Eu realmente te admiro muito.

Katsuya conseguiu se aproximar aos poucos de Mikaru, estendendo a mão até sua face, mas sendo afastado com um tapa.

– Você pode ter descrito qualquer pessoa com essas características, mas com certeza não sou eu! Você quer alguém gentil? Quer ficar com o amiguinho que fez na rua? Devia ir atrás dele! Aposto que ele não pensaria duas vezes antes de ficar jogando charme pra cima de você. Se bobear, do jeito que o namorado dele é, até aceitaria um romance entre vocês três!

Enquanto Mikaru continuava gritando consigo, uma ideia passou pela cabeça de Katsuya, fazendo-o duvidar da sua sanidade. Mikaru estava com ciúmes dele com o rapaz que encontraram mais cedo? Será? Parecia absurdo demais…

Mikaru ainda não dissera com todas as letras que gostava dele e estavam juntos há poucos meses. Várias vezes chegou a pensar que o relacionamento se mantinha graças à carência de Mikaru ou porque ele tinha pena de si e de suas investidas. Mas aquela discussão começava a abrir seus olhos. Mikaru estava certo, ele ainda era ingênuo. Não havia notado aqueles pequenos sinais. O namorado não diria que gostava de si tão facilmente e talvez nunca dissesse em voz alta, mas ele demonstrava com atitudes, com pequenos toques, com um cafuné em seus cabelos, pegando sua mão e entrelaçando os dedos, o tom de voz que usava quando estavam apenas os dois, o modo como o olhava quando pensava que ele não estava prestando atenção.

Os sentimentos de Mikaru estavam impregnados em cada pequeno gesto e ele não havia notado antes. Como fora tão idiota?

Não conseguiu evitar uma risada baixa, voltando à realidade quando Mikaru gritou novamente consigo.

– Você disse que nunca riria de mim! – os olhos de Mikaru brilhavam pelas lágrimas que ele impedia de cair, o orgulho subjugando sua tristeza.

– Mi-ka-ru… – pronunciou seu nome com um sorriso gentil nos lábios, segurando sua face entre as mãos para impedi-lo de se afastar – Você está com ciúmes de mim?

– Ciúmes? De você? – e como esperado, Mikaru tentou se afastar, mas foi empurrado contra a parede – Você não era tão convencido assim, garoto. Ter conseguido a atenção daquele babaca te subiu a cabeça…

– Eu não quero a atenção daquele rapaz, Mikaru. – Katsuya sussurrou o nome do namorado bem devagar, roçando seus lábios nos deles – Eu quero a sua. O que eu preciso fazer pra ter sua atenção toda pra mim?

– Pare de brincar… – Mikaru resmungou baixinho, sentindo o rosto esquentar e seu corpo se arrepiar. Aquela proximidade mexia consigo e só a voz do rapaz quase o fazia gemer. Fechou os olhos para tentar colocar as ideias no lugar. Não podia se deixar levar apenas por sua voz.

– Não estou brincando. Eu gosto de você, Mikaru. E saber que sente ciúmes de mim, mesmo que só um pouco, me deixa muito feliz. – apoiou sua testa contra a do outro, os dedos que antes estavam em sua face desceram por seu pescoço até os ombros, massageando-os antes de envolver o namorado num abraço.

Mikaru não precisava dizer o que sentia, nem confessar que estava com ciúmes, estava claro agora ele correspondia. Podia não ser na mesma proporção, mas era melhor ter um pouco do que não ter nada.