Aquelas palavras foram como um choque para mim, eu simplesmente não conseguia acreditar no que Damon havia dito. Meu coração disparou, minhas pernas tremiam, minha respiração estava ofegante, e uma mistura de sentimentos começou à se formar dentro de mim. Como uma pessoa pode me fazer sentir tantas coisas ao mesmo tempo? Mas ele consegue. Eu queria sentir ódio, mas tudo o que eu conseguia sentir era nervosismo. Juntei toda minha força e depositei um tapa em seu rosto. Saí correndo dali o mais rápido que pude, não aguentava mais nenhum segundo perto de Damon, ele me fazia sentir coisas que eu nem sabia que existiam, e isso não era nada bom.
Olhei por cima do ombro, e, por incrível que pareça, ele não estava mais lá. Eu estou ficando louca? Já estava completamente escuro e a única iluminação que havia era a do shopping. Precisava encontrar Caroline à todo custo, eu estava com medo, muito medo.
Entrei no shopping e comecei a procurar pela loja em que eu e Caroline estávamos, em passos rápidos, quase correndo, até que, por fim, encontrei. Caroline estava sentada em um banquinho de madeira ao lado de um dos provadores, e a expressão em seu rosto não era nada agradável, muito longe disso.
– Katherine, eu espero que você tenha uma boa explicação, porque eu estou há horas te esperando, e a festa já deve ter começado há tempos! – Ela exclamou, irritada.
– Me desculpe. – Pedi, cabisbaixa. – Eu sei que você deve estar muito nervosa, e tem razão, mas é que eu-
– Tudo bem. – Ela interrompeu, puxando-me pela mão. – Vamos logo.
Sorri.
– Vamos!
Caroline e eu andamos por alguns minutos até finalmente chegarmos à casa dos Salvatore. Ela me deixou na porta e avisou que voltaria há uma hora para me buscar, nos despedimos e ela saiu correndo pela rua.
Ri.
Eu senti medo ao encarar a porta em minha frente, especialmente depois do que aconteceu com Damon. Eu não queria vê-lo nunca mais, mas é difícil tendo que morar com ele. Às vezes eu desejo que minhas memórias voltem logo, apenas para não ter que conviver com ele.
Abri a porta silenciosamente, e, por sorte, me deparo com Stefan lendo um livro em uma poltrona.
– Oi. – Cumprimentei-o, sorrindo.
– Hey! – Ele respondeu, se aproximando. – Onde estava?
– Eu estava no shopping com a Caroline. – Mostrei as sacolas que estavam em minhas mãos. – Comprando umas roupas para uma festa.
– Então você vai? – Ele perguntou, surpreso, mas com um sorriso nos lábios.
– Caroline me forçou à ir. – Respondi.
Stefan permaneceu pensativo por alguns segundos, e logo o sorriso que estava em seus lábios desapareceu.
– Elena! – Ele sussurrou para si mesmo, quase inaudivelmente.
– Algum problema? – Perguntei, preocupada.
– Nenhum. – Ele forçou um sorriso. – Nos vemos na festa.
Stefan pegou sua blusa de frio de couro e se retirou da casa às pressas, Ele estava me escondendo alguma coisa. Me senti mal com esse pensamento, mesmo sem saber o porquê. Olhei ao relógio em cima da mesinha, Caroline passaria daqui meia hora. Corri em direção ao meu quarto e tomei o banho mais rápido que pude, me sequei com a toalha, e, pela primeira vez, pude ver o vestido que Caroline escolheu para mim. Ele era lindo e ousado ao mesmo tempo. Era preto e muito justo, batia na metade da minha coxa e continha um decote não muito exagerado. Detalhava bem minhas curvas, e parecia ter sido feito especialmente para mim. Caroline escolheu também um salto alto preto, que combinava perfeitamente com o vestido. Ela me emprestou um pouco de maquiagem, e tentei fazer algo apresentável com o que ela me ensinou. Passei uma sombra branca com delineador por cima, rímel preto e um batom vermelho. Penteei os cabelos e deixei meus cachos ainda mais definidos. Estava pronta! Preferi esperar Caroline em meu quarto para não ter um encontro com Damon. Vou tentar evitá-lo o máximo que puder.
Depois de alguns minutos de espera, a campainha tocou, olhei pela janela de meu quarto e pude avistar Caroline que aparentava estar agitada. Desci as escadas com rapidez, não antes de verificar se Damon estava ali. Abri a porta e me deparei com Caroline, que estava com um sorriso invejável nos lábios.
– Você está perfeita! – Ela comentou.
– Obrigada. – Sorri. – Você está linda!
Saí da casa dos Salvatore e tranquei a porta com uma chave que Stefan havia me dado. Mas uma coisa me incomodava profundamente, e eu não conseguia evitar, por mais que eu tentasse.
– Caroline. – Chamei. – Quem é Elena?
Ela arregalou os olhos, surpresa com a pergunta.
– Uma amiga. – Ela respondeu, e, deu para perceber em seu tom de voz que estava mentindo. – Por que?
– Nada demais. – Respondi, tentando disfarçar a mágoa em minha voz. Por que eles estão me escondendo algo?
Caroline estava tão animada, e eu não queria estragar isso. Ela dizia que era a primeira grande festa do ano, e que seria perfeita! Mas, com toda a certeza, quando essa festa acabasse, eu iria fazer Stefan me contar. Só de pensar em Stefan, meu coração disparou. Eu queria muito poder vê-lo, abraçá-lo, ouvir sua voz... Por que estou pensando isso? É tudo tão confuso.
– Katherine! – Caroline me despertou de meus pensamentos.
– O que foi? – Perguntei, sem entender.
– Chegamos! – Ela exclamou, apontando em direção à uma gigantesca mansão que estava ao nosso lado. Realmente, estava lotada! A música estava muito alta, de modo que tínhamos que gritar para conversar. Algumas pessoas estavam bebendo e se divertindo na piscina, outros estavam se beijando, outros estavam dançando. Havia muita bebida, e até drogas. Eu me sentia uma estranha ali, porque quando entrei, vários olhares se voltaram para mim, a maioria masculinos, fingi não perceber. Um garoto moreno, muito musculoso veio andando em minha direção.
– Hey Elena, que bom que veio! Você está uma gata, mais do que o normal! – Ele piscou e saiu andando atrás de uma loira que estava passando por perto.
– Caroline, por que ele me chamou de Elena? – Sussurrei em seu ouvido.
– Ignora! É porque você se parece muito com ela. – Ela respondeu, sorrindo. – Vou pegar uma bebida, já volto.
Umas pessoas que nunca vi na vida vieram me cumprimentar, outras acenaram para mim. Achei estranho de início, mas acabei me acostumando. Tentei avistar alguém familiar, e já estava quase perdendo as esperanças quando meu olhar se cruza com o de Stefan.
Ele sorriu quando seu olhar encontrou o meu, e eu pude sentir minhas bochechas ferverem. Me recompus, afastando qualquer tipo de pensamento. Dei um passo em sua direção, e iria falar com ele, mas parei ao perceber que ele estava falando com uma garota, muito bonita por sinal. Aquilo me incomodou, mesmo sem saber o porquê.
Caroline se aproximou, ela já estava bêbada e falava coisas sem sentido, o que me fez rir. Ela me ofereceu um copo transparente com uma bebida colorida dentro.
– Não, obrigada. – Recusei gentilmente. - Não estou afim.
– Ah, Katherine! – Ela resmungou, revirando os olhos. - Você tem que se divertir um pouco.
– Não, Caroline. – Recusei novamente. – E se eu fizer alguma besteira?
– Não vai acontecer nada. – Ela respondeu, estressada. – O Stefan está aqui para te ajudar.
Ela me lançou um sorriso malicioso.
Tentei negar, mas ela insistiu tanto que acabei aceitando, mesmo sem saber qual bebida era. Virei o copo e engoli tudo, até não sobrar mais nada. Minha garganta ferveu de inicio, mas logo o álcool fez efeito. Tomei uma, duas, várias doses, até perder a conta. Eu já estava soluçando e fazendo coisas da qual com certeza me arrependeria depois. Umas garotas estavam chamando Caroline, ela avisou que voltava logo e saiu. Pedi uma bebida qualquer ao barman, quando senti alguém sentar ao meu lado.
– Katherine? – Ele riu. Eu conhecia aquela risada, a risada mais doce e calmante que existia, e que eu denominava como minha preferida.
Me virei para ver de quem se tratava e tive uma grande – e boa – surpresa.
– S-Stefan? – Perguntei em resposta, sorrindo boba.
– Você está bêbada? – Peguntou, me ajudando à levantar.
– N-Não! – Respondi, fingindo estar irritada.
– Ok, calma! – Brincou.
– Ei, Stefan... Vamos dançar? – Perguntei, tentando, ao máximo possível, parecer fofa.
– Eu não sou muito de dançar, e você está bêbada! – Ele riu.
– Por favor... – Pedi, fazendo bico.
– Tudo bem... Mas só uma música! – Ele se deu por vencido, puxando-me pela mão e me levando até a enorme pista de dança, onde vários casais dançavam uma música lenta.
Sorri, colocando as mãos em sua nuca, enquanto as mãos dele apertavam minha cintura, colando nossos corpos. Dançávamos conforme o ritmo da música, nossos olhares permaneciam fixos um no outro, e pude sentir minha respiração falhar.
– Você está linda. – Sussurou em meu ouvido, fazendo meu corpo inteiro se arrepiar.
Stefan foi se aproximando lentamente. Eu estava com medo, mas ansiava por aquilo. Queria a todo custo sentir seus lábios nos meus. E nossos lábios estavam quase se encontrando quando, de repente, tudo ficou escuro.
A escuridão era tanta que eu não conseguia enxergar mais nada ali, as pessoas gritavam desesperadas, tão assustadas quanto eu.
– S-Stefan... O que está acontecendo? – Perguntei, com a voz trêmula.
– Eu não sei, Katherine... Mas eu estou aqui, e vou proteger você. – Ele respondeu, me abraçando apertado.
O abraço dele era tão reconfortante que por um segundo eu me senti como se nada nem ninguém pudesse me machucar. Eu me senti segura como nunca me senti antes.
– Stefan! – Exclamei, saindo de seus braços. – A Caroline!
Eu estava tão distraída com Stefan que havia me esquecido completamente de Caroline. Eu não via ela desde quando umas garotas que nunca vi na vida chamaram por ela. “Será que ela está bem?” “E se aconteceu alguma coisa?” as perguntas me torturavam, e o sentimento de culpa também. Se alguma coisa aconteceu à Caroline, a culpa é minha.
– Calma, Katherine. – Ele me confortava. – Eu tenho certeza de que ela está bem, Caroline sabe muito bem se defender sozinha.
Sorri sem mostrar os dentes, tentando acreditar em suas palavras.
Uma luz forte invadiu o palco que estava em nossa frente, e, quando meus olhos se direcionaram para essa direção, pude avistar um homem loiro, muito bonito por sinal. Mas estávamos distantes do palco, e eu não conseguia enxergar muito bem seu rosto.
– Ah não! – Stefan exclamou, em desespero. – Katherine, saia daqui!
– Por que? – Perguntei, sem entender.
– Eu explico depois. – Ele respondeu. – Apenas corra!
– M-Mas e você, Stefan? – Perguntei, apavorada.
– Eu sei me cuidar, Katherine. – Ele aumentou o tom. – Vá para casa!
– Olá a todos! – O homem no palco anunciou, com um sorriso irônico nos lábios. – Vocês devem estar se perguntando o que eu estou fazendo aqui, não é?
– Corra, Katherine! – Stefan ordenou.
Eu queria muito ficar e ouvir, saber o que está acontecendo, mas Stefan me mandava correr, e eu estava com muito, muito medo. Então, obedeci, mas não antes de ouvir umas palavras do homem que estava no palco.
– Eu quero Katherine Pierce! – Ele exclamou, com ódio no tom de voz. Minhas pernas tremiam e eu não sabia o que fazer. Corri com toda a velocidade que eu tinha no momento, o que não era muita. Muitas pessoas estavam ali, o que dificultava minha passagem, mas o medo me consumia de uma forma que eu nem dei importância para isso, e assim, depois de muito correr, finalmente saí daquela mansão.
Me apoiei em um muro ao lado da mansão para descansar, minha respiração estava ofegante e meu coração batia a mil. A rua estava completamente vazia, a não ser pelo homem que estava sentado na calçada de uma casa gigantesca, do outro lado da rua, que segundos depois reconheci ser Damon.
– Damon! – Chamei, em uma mistura de felicidade e desespero. Por mais que ele tenha feito o que fez, nada disso importa agora.
Corri em sua direção, com lágrimas nos olhos. Ele se levantou e olhou no fundo dos meus olhos.
– Veio se desculpar pelo tapa? – Riu, em deboche.
Fitei-o com indignação, ele viu minhas lágrimas, viu o desespero estampado em meu rosto, e é isso o que ele diz? Respirei fundo, procurando por um pouco de paciência, tenho que contar à ele sobre tudo.
– Klaus está vindo atrás de mim. – Fui direta. Eu ouvi Stefan falando algo parecido, provavelmente esse deve ser o nome dele.
– Klaus? – Sua expressão mudou para sério. – Então Stefan te contou?
– Me contou o quê? – Perguntei, curiosa.
– Esquece. – Segurou minha mão com força. – Vou te levar para casa, rápido.
– V-Você sabe o que está acontecendo? – Perguntei, com medo da resposta.
Damon assentiu.
– Você está em apuros, Katherine.