Naara escrita por yukinohime


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Nesse primeiro capitulo é mais uma apresentação de alguns personagem e o primeiro encontro de Akihiko e Naara.



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Algumas pessoas acreditam em destino. Para elas o destino está em um acontecimento incoerente que depois se torna uma lógica compreensível, como se desde o início tivesse o dever de acontecer. Destino, no entanto , para uns é maleável como um rio, segue um curso que pode ser desviado se as mãos humanas trabalharem nisso. Mas para o rio um desvio pode ser triste, poderia secar antes de desembocar no mar, ou poderia não ter um desvio e chegar no mar sem nunca ter conhecido outro caminho. Acreditando no destino ou não esses rios sempre procuram uma felicidade, às vezes encontram na sua própria correnteza, na determinação para chegar em algum lugar.E tinha aqueles que acreditam que a felicidade estaria no encontro de dois rios. Esses dois rios iriam se tornar um só para desembocar no mesmo lugar. Contudo, o destino gosta de brincadeiras as vezes.

Havia um navio deslizando calmamente nas ondas quase agitadas de um mar. Duas imensidões se misturavam e namoravam-se naquela noite. O céu escuro e o escuro do mar. A única coisa que identificava o céu eram as milhares e infinitas estrelas e a lua. A lua sorria na sua fase crescente o que fazia o mar confuso, o marujo já tinha dito ao capitão era “preamar”, maré cheia. O vento estava bom. Acho que vamos chegar de manhã, disse um dos marujos a serviço da frota do Império de Portugal. O capitão assentiu com a cabeça depois de ouvir as milhas náuticas e se virou para o seu imediato.O continente já era visto como algo mais escuro do que o mar e o céu no horizonte.

—Amanhã vamos entrar em um daqueles rios depois de aportar.

O marujo que era imediato do capitão não entendeu a mudança de rumo e disse :

—Não vamos para o porto dos Sá primeiro? Temos mui estrangeiros a bordo, precisamos encontrar com algum homem do governador para inspecioná-los.

— São estrangeiros das Índias Orientais a serviço de Vossa Majestade. Não acha que será um desconforto primeiro a burocracia? Deixem descansar, conhecer os planaltos, as matas de cá,deem as índias dos tamoyos.

—Mas vossa Senhoria...por que muda de ideia?

—Também não sei, vontade de ver essas matas verdes o quanto antes. Sede da água dum rio.

—Capitão, desculpe a grosseria. Perdoe esse empregado que vai contrariar o que a senhoria falou. Mas essas matas cheias de mosquitos, esses gentios nus sem religião, esses rios que não dão pra ver o outro lado, como pode gostar disso tudo?

—Tem a ver com a minha origem marujo, mas não quero contar o causo, não compreenderia.

— Pensei que era das terras de lá, onde nasceu el Rei.

—E sou.Nessas veias não tem outro sangue que não seja o de um reinol. Eu disse que não entenderia, e também não deve saber.

O marujo confuso continuou a olhar para as estrelas. Tinha aprendido com o pai as coisas do céu, a se orientar por esses pontos brilhantes. Mas de alguma forma entendeu o que o capitão disse. Nunca contaria também a ninguém de onde veio realmente esse conhecimento das estrelas, tinha dito antes de entrar na armada que era cristão velho, mas na verdade seu sangue era “sujo”. “Sujo” como todo descendente de mouro era visto nessa época. A guerra contra mouros permaneceria com o desprezo, nunca arranjaria trabalho bom, não conseguiria nem mesmo casar com uma jovem de família se soubessem. Nunca poderia dizer que seu bisavó era mouro. Escapara tantas vezes da “limpeza de sangue”, aquela investigação que fazem da sua ascendência, mentira e falsificara seus próprios documentos várias vezes. É claro que esse não era o caso da família do capitão, tão conhecida e cristã, provavelmente tinha a ver com algum índio dessas grandes terras além-mar, e nem o capitão teria certeza e poderia provar. Isso era o que o marujo divagava em seus pensamentos.

O marujo deu a volta para fazer o aviso formal da terra próxima. Apesar de ter gritado como pode, decidiu ir avisar os que estavam no andar de baixo. O vento aumentou então é provável que eles não tivessem ouvido. Avisou também e aproveitou para pedir a benção a alguns padres jesuítas. Todos eram de idade avançada e alguns raros ainda pareciam ser mais jovens.Estavam sentados no chão conversando alegremente quando se aproximou.

— Deus abençoe. — Disse com uma voz forte um deles.

Não deixou de reparar que perto dos dois padres havia um homem com roupas negras e um chapéu triangular estranho. Ia se aproximar quando por medo mudou de ideia e achou melhor perguntar ao jesuíta mais novo.

— Padre, senhor que é de mui conhecimento, que homem é esse sentado ao seu lado?

E o jovem jesuíta deu uma leve risada.

— Ora que mostra que não conhece as Índias Orientais. Não direi quem é. Mas digo para compensar sua curiosidade que é um homem bom. Que presta mui bom serviço a Vossa Realeza de Portugal.

O marujo ainda queria perguntar seu nome de onde veio exatamente, mas o jovem jesuíta mudou de assunto para falar sobre vinhos. E a conversa se entendia pela noite. Enquanto isso o homem de preto pouco se mexia, parecia estar dormindo, o marujo quase tinha certeza que estava morto. E agora absorto pela conversa o ignorava. E estranhamente esqueceu que tinha alguém ali.

O navio seguia calmamente pelas ondas, elas pareciam levar o navio ao seu destino de maneira quase que forçada. Parecia que se houvesse um desvio por parte dos homens o mar com certeza recusaria.

A noite ficava de escuro a cinza. A lua já se recolhia, e as estrelas infinitas já diminuía sua quantidade. Havia uma leve claridade no leste do horizonte. E aos poucos a claridade aumentava e pequenos raios vermelhos se faziam no céu. O mar ficava colorido como só a natureza pintava.

A maré levava o navio para costa sem dificuldade. Ao ponto de terem medo de darem de cara com um recife. O navio aumentou a velocidade com o vento que agora aumentou e os marinheiros ficaram cheios de trabalho para abaixar as velas, iam parar em uma outra corrente se não apressassem. E foi o que aconteceu. Aportaram em matas desconhecidas perto de um rio estranho. Toda a tripulação estava cansada e não se importaram em dar uma parada para o navio beber água e tomar comida antes de irem ao porto. Na verdade o capitão preferia assim. Ele já estava com a intenção de parar antes do porto dos Sá.

— Parece designo de Deus. Viemos exatamente para perto da nossa missão.— Disse um dos mais velhos jesuítas chamado Mateus Lisboa.

— Tínhão que ir no porto primeiro. — Disse o mais novo Josué Rodriguez.

— Mas já que hão de estar aqui mui dias, aproveitemos para ir lá.— Falou Manuel Lisboa o mais velho.

Com a licença do capitão foram os 3 mais o moço de preto mata adentro.

— Tem certeza que sabes o caminho meu irmão? Nom precisamos de mais algum homem?— Disse Mateus Lisboa com a calma invejável de sempre.

— Ora se sei. E nom iria reconhecer minha própria missão?Hã... E temos um shinoubi para a guarda, esquecertes?— Com raiva Manuel retrucou.

— Shinobi, ora pois.— Corrigiu o calmo irmão.

— Mas que seja!— E Manuel virando-se para o jovem japonês disse:— Meu caro, nestas tuas roupas pretas nom há de estar calor?

Ele não entendia muito bem a língua, mas respondeu como pôde que sim.

E riram os padres. Acontece que o traje dos padres jesuítas é preto, mas por serem espécie de vestidos largos não dava tanto calor. E a roupa do jovem japonês também era folgada,era um kimono preto sem detalhes e uma calça reta preta também sem detalhes. Por não estar acostumado a umidade extrema e com calor extremo, estava suando litros.

Depois de uma caminhada acharam uma pequena vereda e seguiram nela.

— Seu chapéu serve para o sol meu amigo. — Disse Josué puxando assunto, mas o shinobi não respondeu dessa vez. E mesmo que tivesse entendido, guardaria forças para continuar andando.

Um pequeno barulho de algo estalando ao longe o deixou em alerta. Ficou com a coluna reta e com as mãos perto da espada katana. Como seus movimentos eram muito discretos os outros companheiros de viajem nada perceberam o seu estado de alerta, e continuavam falando sobre seus assuntos preferidos : vinhos e tortas de Portugal.

Sentiu que havia algo na mata e que se aproximava rapidamente. Com certeza era um humano e não um animal. Começou a achar que era uma emboscada e desconfiar da tripulação quando claramente uma pequena pedra veio em sua direção para interromper seus pensamentos, esquivou. Então viu de onde vinha, alguém que se escondia de cima de uma árvore próxima. Outras pedras vieram numa velocidade incrível e ele desviava, percebeu que as pedras vinham não só para ele mas para os padres, tinha que protegê-los. Eles nada percebiam a confusão e continuavam sua conversa feliz sobre tortas, vinhos e agora peixes e diferentes formas de salgá-los.

Rapidamente o ninja escalou a árvore em direção aquela pessoa que em resposta fugiu. Ficou com raiva, e pensou em quem poderia ser. E foi atrás, pulando de galho em galho.

— Rapaz das índias? Ele é tão depressa que só tenho certeza que esteve aqui! — Manuel tinha acabado de interromper a conversa sobre o bacalhau e suas formas de salgar.— Será que viu alguma coisa? Algum animal?Alguém quis nos atacar?! Jesus que nos Salve!

— Calma meu irmão! Meus olhos não me enganam e vi ao longe aquela criança travessa!

— Fala de Naara? Só pode ser ela! Que a virgem permita que seja só ela!

—Creio que seja a nossa criança, estamos perto da aldeia, só pode ser ela que tentou nos atacar.— concordou Josué sorrindo ao lembrar da primeira vez que vira Naara. E sua testa também lembrava da pedra lançada de uma zarapatana que levou e como doeu.

— Vamos, se for mesmo ela já sei para onde o levará! — Josué disse isso meio apreensivo, mas não queria mostrar incerteza para seus companheiros e os outros acompanharam.

Enquanto isso o jovem shinobi se surpreendeu com a velocidade de seu alvo. E como mesmo correndo e saltando pelas árvores atirava ainda pedras. Como nunca tinha visto uma zarapatana achou que a pessoa estava tacando com as mãos. Finalmente pararam as pedras e tudo ficou silêncio. Só o barulho de um rio. Não sentia a presença de ninguém e o pior, os padres deveriam estar bem longe. Ao pensar nisso se enfureceu, alguém levou ele para um lugar longe e agora demoraria para localizar os jesuítas de novo. Tinha caído numa armadilha como um genin ou iniciante faria. O orgulho havia deixado ele com mais raiva do que preocupação de que havia acontecido algo.

Olhava para o topo das árvores e não enxergava o céu dali. Era uma mata fechada e escura. Abaixando o olhar voltou a sentir a presença de alguém, e pegou sua katana pulando para trás. Viu quando saiu de trás da árvore os olhos negros de alguém que devagar se aproximou. Nessa hora ele jogou as shurikens (pequenas facas circulares pontiagudas). E uma delas atingiu o alvo. O alvo só foi atingido porque a pessoa em questão ficou maravilhada com aquelas coisas voando em sua direção, apesar de não ter atingido em cheio provocou um arranhão no seu rosto. Ele achou estranho o inimigo não ter mudado de lugar ou fugido com um ataque direto. Achou que o inimigo era mais fraco como aparentou.

De novo ele jogou mais uma ou duas shurikens até que a curiosidade, como sendo a pior forma de pegar alguém, foi maior e fez com que essa pessoa tentasse pegar com as mãos aquelas coisinhas voando no céu! Serão borboletas? Um pulo e sua identidade foi revelada. Naara era uma bela índia mestiça de cabelos ondulados longos e olhos claros esverdeados. Sua pele era de um vermelho intenso, assim como os índios são. Ao tentar pegar uma daquelas “borboletas” acabou sofrendo um grave corte nas mãos.

O shinobi que levou um susto ao ver uma moça pular e tentar pegar a shuriken com a mão, não deixou de reparar na falta de roupas que ela mostrava. Num primeiro momento teve um pequeno choque, num segundo não conseguiu desviar o olhar logo que ela era muito bonita em todos os quesitos. Apesar da cor vermelha (nunca tinha visto pele vermelha) possuía olhos verdes e puxados assim como os seus. A garota olhou rápido em sua direção e voltou a se esconder.

— Chotto matte kudasai! b-b-boku wa... — Não sabia mais o que dizia, e nem em que idioma estava falando e qual idioma deveria falar para ser compreendido.

—Gomen...— Ele só queria pedir desculpa por vê-la quase nua. Então se perguntou por que ela estava nua... Começou a colocar culpa nela, como uma mulher aparece para um homem que nunca viu daquele jeito?! Não poderia ser ela o inimigo de agora a pouco! Com certeza ela apareceu depois, o alvo deve ter fugido!

Naara estava em cima de uma árvore vendo o ninja. Ele tinha cabelos longos com a metade amarrada, e um chapéu em cone. Era forte e esguio, tinha olhos pequenos e repuxados, eram pretos como os olhos dos seus primos. Sua pele não era branca como o dos odiáveis jesuítas, mas era como se fosse da cor de uma laranja, um pouco mais clara, parecia estar com o rosto vermelho por causa do efeito da corrida e do sol. Uma cor rara por aqui, reparou. Percebeu o quanto era alto e como seus músculos marcavam aquela roupa estranha. Como estava de preto, deveria ser um jesuíta, pensou. Preparou a zarapatana mais uma vez silenciosamente. E os olhos do ninja vieram de encontro aos seus. Como ele conseguiu? Ela parou por um momento, porque aquele olhar apesar de estar distante parecia estar perto. Apesar de ser de um jesuíta ela gostava daquele olhar. Mesmo assim o atacou e pulou para outra árvore, imitando os saguis que um dia viu.

— Omae!— Ele estava surpreso e com raiva por ser atacado por uma mulher. E pulou para a árvore para persegui-la.

A perseguição durou mais algum tempo, o ninja xingava em japonês, enquanto ela só tacava escondida mais pedras e pedrinhas rindo. De alguma forma estava se divertido com aquele homem que parecia jesuíta.

Por saber que era uma mulher ele receava de tacar shurikens ou de querer ataca-la frontalmente, vergonha também porque ela estava seminua... Naara, porém, não fazia cerimônia para tacar pedras e mais pedras. Ele desviou até ser atingido em cheio. Seu objetivo agora ficou sendo imobiliza-la, mas alcança-la era difícil.

Naara não estava mais se divertindo, já viu que não podia ser alcançada. Só queria fugir da aldeia, mas só havia distraído um deles, precisava deixá-lo inconsciente agora e fazer o mesmo com os outros três. Pegou uma pequena flecha, colocou-a na zarapatana e mirou no seu ombro. Ele ,no entanto, desviou. Desistiu dele e foi ao rumo dos outros três. Mas o ninja ainda perseguia. Depois de um tempo encontrou com os jesuítas a passos lentos. O shinobi correu primeiro na frente e colocou-se em guarda.

— Ora que voltou! Estava eu e meus irmãos em nervos. — disse o padre Manuel.

— Há uma... mulier nox perseguindo. — O ninja disse isso, mas seu orgulho ainda estava ferido nessas palavras.

— Era uma criança de olhos esverdeados e cabelos longos enrolados? Se for é nossa criança Naara da missão.— Apontou Josué.

— Axim era.

— Ai que estou mais aliviado!— Disse Manuel.

— Não se preocupe não tem perigo, só temos que ter cuidado com sua zarapatana.

— Sarapa...tama?— Ele imaginou algo maligno como demônios e espíritos.

— Não, não, meu jovem. Za-ra-pa-ta-na.

— Zarapatana...— ele ficou repetindo.

Ela começou a tacar as pequenas flechas envenenadas. Mas o shinobi bem treinado ajudou os seus companheiros a desviarem delas com shurikens. Ao ter acabado as flechas um dos padres disse:

— Ana! Por favor!

—Naara não gosta de padre!

E continuou tacando pedras agora.

— Vamos para a aldeia, sim? Não vai querer ficar longe de seus primos e irmãos vai? Nós voltamos, não fica feliz?

— Noonm!

— Ponha uma roupa criança...


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Notas finais do capítulo

Espero que , deixando a preguiça de lado, nós possamos fazer mais capítulos....



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