Suas bochechas estavam queimando em um tom escarlate há quase uma hora, pela conta mental que Davina estava fazendo. Se ela parasse para pensar, de todos os momentos que havia sentido vergonha na sua vida, esse ocuparia o primeiro lugar. Honestamente, ela achava que seu rosto deixaria de ser levemente bronzeado para uma cor definitiva por algo entre rosa claro e vermelho escarlate.

Não que a morena não estivesse feliz de – finalmente— conhecer a Rainha, mas ela só esperava fazer isso em um momento em que as coisas não estivessem tão… Complicadas, por falta de uma palavra melhor.

Loki havia desaparecido para dentro do castelo depois de cumprimentar sua mãe, e Hope o seguiu para conhecer o castelo, como um cachorrinho atrás do próprio rabo, deixando uma Davina nervosa e assustada para trás, que fez uma nota mental de bater nele por isso mais tarde. Não que a garota normalmente batesse em qualquer pessoa que vê-se pela frente… Mas ela achava socar o moreno um hobbie mais do que divertido. E ele basicamente pedia para apanhar na maioria das vezes que abria a boca.

Até agora, Frigga não havia perguntado nada que envolvesse o acontecimento que envolvia sua quase morte, ou todo o desastre que ela e seu filho haviam causado, surpreendentemente, todas suas perguntas envolviam apenas Hope ou sua infância. Em todas suas respostas, Davina sempre ouvia a própria voz sair levemente trêmula, apesar de estar se esforçando muito para não deixar isso acontecer. Sua voz finalmente parou de tremer quando ela se colocou no automático e deixou apenas metade do seu cérebro responder as perguntas, enquanto a outra metade pensava em maneiras de não passar mais vergonha do que já estava passando.

Tudo estava ocorrendo bem, até que uma pergunta que a Rainha fez finalmente pegou sua atenção, apesar dela não ter ouvido.

— Oi? — questionou, esquecendo que estava se dirigindo à uma Rainha, percebendo seu erro logo depois — Q-Quer dizer, pode repetir, Majestade?

Para seu alívio, Frigga riu — Acalme-se, Davina. Eu não mordo. E me chame de Frigga, por favor. — Davina assentiu, esperando a mesma continuar — Eu perguntei o porque do nome “Hope”.

— Ah… É uma história engraçada, na verdade. — respondeu, coçando a sobrancelha, dando um riso envergonhado pela quinta vez durante o tempo que estava com ela — Eu não sabia que nome dar. Meu amigo queria Jayden, e eu queria Laire. Estávamos brigando por causa do nome quando ele falou que eu era um “caso sem esperança”. Então eu decidi que ela se chamaria Hope. Uma constante memória de que até as coisas que mais parecem perdidas ainda tem esperança. Sempre há esperança.

Frigga sorriu — Agora eu posso ver o porque de meu filho escolheu você. — comentou, fazendo Davina abaixar a cabeça envergonhada. — Loki sempre foi o tipo de pessoa que precisava de alguém que tivesse algo que ele poderia arrancar para seu próprio beneficio. Até que ele achou você, uma das poucas que não deixa ninguém pegar algo sem que você se beneficie também. Talvez você pense que é um caso perdido, Davina, mas não se esqueça de que se ele se importa com você, você tem algo de especial. Como você mesma disse… Sempre há esperança.

— As vezes eu me pergunto se isso não é apenas mais um truque dele… Só para tirar algo de mim. — Davina não conseguiu impedir as palavras de escaparem de sua boca.

— Talvez. É impossível saber; a mente de Loki é algo que ninguém nos Nove Reinos é capaz de desvendar. Ele pega o que ele quer, e te deixa com nada mais além de um coração quebrado e uma mente confusa. É seu jeito de ser. Ele é cruel e manipulador, e nunca irá mudar. Nem por você. — a morena ouvia atentamente as palavras da mesma, enquanto brincava com a barra do seu vestido, sem a coragem de olhar nos olhos da mulher — Mas você sabe tudo isso, não é? E ainda está aqui. Loki tem mais defeitos do que qualidades… E você continua ao lado dele. Você tem uma beleza extraordinária, Davina, poderia estar com quem quisesse, mas mesmo assim, todas as vezes, você continua escolhendo meu filho.

— Todos sempre disseram que eu sou viciada em perigo. — Davina comentou, em uma falha tentativa de aliviar o clima, finalmente olhando para a loira — Eu prefiro pensar que gosto de desafios, e Loki foi o mais difícil que já encontrei. E ainda não estou pronta para entregar as cartas.

— Não entregue. — aconselhou, piscando para a mesma, fazendo-a rir de leve — Quem sabe você não consegue ganhar dele? Todos tem que começar de algum lugar.

— Você vai acabar fazendo-a sair correndo se continuar falando, mãe. Ela está tão vermelha que seria capaz de explodir. — a voz ácida de Loki veio de algum lugar do jardim que ambas estavam, fazendo Davina pular e Frigga simplesmente sorrir de leve, se virando para trás, enquanto se levantava, passando as mãos pelo vestido.

— Bem, já que agora você tem companhia, vou deixá-los sozinhos. É ótimo finalmente poder conhecer você, Davina. Nos vemos pela manhã. — antes que Davina pudesse protestar da parte de deixá-los sozinhos, Frigga se retirou, passando por Loki, que estava encostado confortavelmente em uma pilastra. Nenhum dos dois falou algo por alguns minutos, mas Davina podia sentir o olhar do deus queimando em sua nuca.

— O quê? — rosnou, irritando-se com ele encarando-a como se ela fosse a paisagem do lugar.

— Estou genuinamente surpreso que não tenha saído correndo. Você parecia prestes a ter um ataque de pânico. — respondeu, o sorriso sarcástico de sempre enfeitando seu rosto pálido.

— Ah, me dê um tempo. — resmungou, levantado-se do banco também, indo em direção a ele — Sua mãe é bem melhor que você, se quer que eu seja sincera.

— Você tem consciência de que ela não é minha mãe biológica, certo? — perguntou, seguindo a morena pelos corredores do qual ela não conhecia.

— Isso não muda o fato de que ela é uma pessoa mais agradável do que você! — retrucou, parando de repente, percebendo que nunca havia estado ali e acabaria se perdendo se continuasse andando — Onde está Hope?

— Dormindo. — disse, dando de ombros. Davina o olhou como se ele fosse a coisa mais entediante do mundo.

— Aonde? — foi mais especifica, esperando que o mesmo decidisse que a cota de irritá-la já havia estourado pelo dia, mas a sorte realmente não estava ao seu lado.

— Em um quarto. Deitada em uma cama. Onde as pessoas dormem, sabe? Soa familiar ou quer que eu desenhe para você? — seu humor negro parecia mais afiado que nunca em Asgard.

— Eu não vou nem tomar meu tempo para responder isso. — decidiu, erguendo as mãos em derrota — Agora onde diabos está minha filha, Traquinas?

♬

Depois que Davina ameaçou quebrar seu nariz de novo, Loki finalmente a levou até o quarto que seria de Hope enquanto eles estavam ali, e depois a levou ao quarto que ambos dividiriam.

— Eu não gosto dessa ideia, só para deixar claro. — re-afirmou pela décima vez, sentando na cama coberta com lençóis de um material que ela tinha medo de tentar pensar qual era, se referindo a ser obrigada a dividir um quarto com ele — Realmente não gosto d–

— Sim, Davina, já deu para perceber isso com você resmungando desde que colocamos o pé aqui. — rosnou, finalmente irritando-se com o tanto de vezes que a garota reclamou, o que arrancou um sorriso vitorioso dela.

— Olha, parece que o senhor “eu sempre estou irritado, mas deixo meu humor negro cobrir isso” finalmente deixou algo transparecer! — provocou, sorrindo igual uma idiota, recebendo um olhar mortal do moreno — Não está mais aqui quem reclamou, irritadinho.

O mesmo reclamou algo que ela não entendeu, mas preferiu deixar quieto; estava cansada demais para puxar outra briga, mesmo que fosse com ele. Ela se permitiu deitar na cama, encarando o teto. Vir aqui parecia uma ideia assustadora no dia anterior, mas agora ela estava disposta a brincar de casinha por mais um tempo. Parecia que essa fantasia de casa de bonecas não seria tão horrível quanto ela pensava.