Anjo De Cristal escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 40
Amianto




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POV Daniela

Despertei aos poucos sentindo minha mãe acariciar o meu rosto com suas mãos delicadas e falando algo repetidas vezes até que este mesmo algo perca todo o sentido. Minha visão foi incomodada pela luminosidade excessiva do local onde estou, sinto que estou prostrada em uma cama macia, porém o cheiro ácido faz com que eu sinta um enjôo muito forte e uma irritação que me deixa insuportável.

—Eu não morri? —Pergunto assustada ao ver meus pais me observando com tensão no olhar.

Vagamente me lembro de Leandro. O que terá acontecido com ele? Eu não faço a mínima ideia de como estou viva, não sei como consegui escapar da morte. Eu lembro que a dor foi insuportável, me lembro de ver sangue espalhado por toda a sala da mansão Santisteban. Sinto que algo de ruim aconteceu com Leandro, pela primeira vez, depois de anos, sinto a necessidade de ver Leandro. O amor fraternal que eu tinha por ele parece estar voltando, parece que foi preciso toda essa tragédia para eu entender o quanto é importante perdoar as pessoas. E eu preciso perdoar Leandro antes que seja tarde demais.
Pensei que nós dois iríamos nos encontrar com Amara, pensei que finalmente nós três iríamos nos encontrar. Mas nem saber o resultado do exame de DNA, eu não sei. Não sei de Angélica é Amara, ou a minha Regina. Que falta me faz chamar a minha irmã de Regina, que falta eu sinto de nossas conversas. Sinto falta de tantas coisas...

—Daniela, minha querida, por que não nos contou? —Meu pai pergunta e sorri para a minha mãe. Contar o que?

—Nem ela deve saber ainda. —Minha mãe fale acariciando o meu rosto.

—Saber o que? —Pergunto assustada.

—Que você está grávida. —Meus pais falam em coro. O meu susto foi de tamanho impacto que pensei que estivesse delirando, mas não, meus pais repetiram novamente até que a notícia fosse assimilada.

—O que vai ser de mim com uma criança? —Pergunto. Meus pais se olham preocupados com a minha reação. —Vocês não contaram para Henrique, não foi?

—Maite e Lorenzo vão dar a notícia para ele, com certeza. —Minha mãe fala me deixando desapontada. —Pode me explicar o motivo de você ter se separado de Henrique?

—Orgulho. —Meu pai responde por mim. —Nossa filha terminou com Henrique por causa desse orgulho que sempre faz com que ela perca tudo o que o mundo tem para oferecer.

—Eu não poderia ceder a chantagem de Henrique.

—Ele te chantageou? —Minha mãe pergunta assustada.

—Não exatamente... —Falo e faço com que meus pais me olhem com reprovação. —Ele estava reclamando por quê estávamos noivos fazia muito tempo e que era estranho eu não...

—Realmente é estranho. —Meu pai me interrompe mais uma vez. —Mas agora terão que se casar.

—Por causa dessa criança? —Pergunto indignada. —Eu não preciso dele para cuidar de um filho.

—Letícia também não precisou, Daniela. —Minha mãe me chama a atenção. —Você não será mãe solteira.

—Nunca aconteceu isso na nossa família. —Meu pai me faz perder o controle. E então eu resolvo rebater diante do seu "preconceito".

—Nunca antes história da nossa família uma mulher tomou a frente dos negócios da família, papai. Nunca antes uma mulher, jovem, sem auxílio de um marido, foi capaz de tornar a empresa da nossa família a maior e mais produtiva da América, ganhando até das poderosíssimas empresas e indústrias européias. —Falo plena de raiva, todavia sinto orgulho de mim mesma. —Se eu sou capaz de tudo isso, pai. Eu também poderei ser capaz de ser mãe e pai.

—Mas você ainda ama Henrique. —Meu pai fala a verdade.

—O amor fez Fabiana cometer loucuras. O amor matou Amara. E o amor fez com que Fernando apontasse aquele revólver para matar me matar, para matar Leandro e para matar o meu filho. —Minhas palavras fazem com que meus pais se olhem assustados. Eu pensei em nunca contar que foi Fernando quem atirou em mim e em Leandro. Mas ao saber que quase perdi um filho, todo o carinho que senti por ele se foi. —Fernando apareceu minutos depois que fui até a casa de Leandro saber sobre o resultado do exame de DNA de Angélica. —Falo me lembrando de cada momento. —Eu me atirei em suas frente para evitar que o pior acontecesse, mas tudo foi tão rápido...

—Fernando iria matar Leandro. —Minha mãe fala assustada ao imaginar tudo. —Por quê?

—Fernando odeia Leandro por quê ele teve a oportunidade de amar Amara. —Meu pai assimila tudo. —Eu não posso acreditar em tudo isso...

—Eu também não. —Falo ao me lembrar do dia em que Amara e Fernando se esbarraram pela primeira vez e nós três nos tornamos amigos. Meu lembro deste dia como se fosse hoje, me lembro da forma que os dois se olharam, principalmente Fernando. Ele observava cada detalhe do rosto de Amara, e eu presenciei a mais bela cena de amor de toda essa história. Talvez se Amara não tivesse morrido, ela estivesse casada com Fernando hoje.

Eu não entendo por que toda a nossa felicidade foi roubada, não entendo a morte de Amara e não consigo aceitar o fato de que Fernando atentou contra a minha vida e a de Leandro. Tudo poderia ter sido tão diferente, tudo isso poderia ter levado outro rumo, um novo fim, um ponto final ao invés de reticências.

—O que eu vou fazer agora? —Pergunto pensativa.

—Se reconciliar com Henrique. —Minha mãe aconselha.

—Fernando me disse que ele me odeia agora...

—Fernando não estava bem, ele estava fora de si... —Meu pai fala. —Pelo menos você e a criança estão bem.

—E Leandro? —Pergunto assustada. —O que aconteceu com ele?

—Leandro está morrendo, Daniela. —As palavras da minha mãe foram o suficiente para meu coração quase sair pela boca. Leandro Santisteban está morrendo?

(...)

Esperei meus pais irem embora para ir até o quarto onde Leandro está. Tirei o soro que estava em minha veia e caminhei em passos calmos e pesados, fui até o quarto ao lado, onde Leandro está. Ao entrar percebo que não tem ninguém além de Leandro, seus pais devem estar conversando com o médico.

—Aqui estamos nós. —Falo firme e me assusto ao ver Leandro abrir os olhos.

—Pensei que iríamos morrer. —Leandro fala rouco. —A morte seria menos dolorosa para nós dois.

—Três. —Falo com calma e me alegro com a expressão curiosa de Leandro. —Estou grávida. —A notícia fez Leandro sorrir. —Eu queria que soubesse antes de...

—Morrer. —Leandro finaliza e eu sinto meu corpo arrepiar dos pés a cabeça. —Eu sei que estou indo até Amara.

—Não acredita que Angélica seja Amara? —Pergunto.

—E se for? Ela vai me amar de um dia para o outro? —Leandro pergunta com ironia. —Ela vai se casar com Fernando...

—Ela vai se casar com o homem que atentou contra nossas vidas? —Pergunto incrédula. —Ela não vai fazer isso.

—Nunca sabemos o que pode acontecer. —Leandro fala e em seguida tem uma crise de tosse. —Se Angélica for Amara... —Ele tenta falar, mas começa a tossir novamente. —Ela irá se casar com ele.

—Por quê diz isso?

—Por que eu morrerei e Amara terá Fernando como única opção. —Leandro fala a verdade e me deixa espantada. —Você irá voltar para a Itália para ter a criança longe de Henrique?

—Eu não pensei nisso. Mas já que você deu a idéia... —Falo irônica. —Ainda não sei o que irei fazer com essa criança.

—Você vai dar aos nossos pais o que eles tanto esperam. —Leandro fala pensativo e sorri para mim. —Amara não deu, e eu não darei também...

—Está dizendo que...

—É por você que , a descendência de Regina Gutiérrez , terá continuação. —Leandro fala sobre a nossa avó e eu sinto um pouco de ironia ao lembrar que Amara foi batizada com o nome da minha avó. —Eu sinto pena de Angélica...

—Pelo o que exatamente? —Pergunto assustada.

—Se ela for Amara... Ela irá se lembrar de tantas coisas... —Leandro fala pensativo. —Se você soubesse...

—Me conte. —Peço.

—Não... —Leandro sussurra e sorri. —Você vai saber na hora certa.

—Pare com isso e me conte logo! —Exijo uma explicação.

—Amara não se casaria com o homem que quase nos matou, Daniela. E mesmo que Fernando fosse o homem mais honrado de toda a face da terra...

—Você fala isso por quê ama Amara. —Falo ao me dar conta de que Leandro está brincando comigo. —Você acha que eu devo ter a criança longe daqui? —Pergunto em relação ao filho que carrego.

—Sinceramente? —Leandro pergunta. —Faça exatamente o que vou lhe dizer agora...
Com
POV Estevão

—Daniela e Leandro foram baleados? —Maria indaga assustada e eu concordo.

—Lorenzo me deu a notícia de que Leandro está a beira da morte. —Falo.

—E Daniela?

—Está bem. Mas no meio de tudo isso, Daniela descobriu que está grávida. —Revelo.

—Mas ela e Henrique...

—A situação é complicada, eu sei. —Falo. —Não faço a mínima ideia do que vai ser de Daniela agora.

—E o que vai ser de Leandro? Estevão, o que vai ser dele? —Maria me pergunta amedrontada. —Eu não sei se Maite e Lorenzo terão forças para suportar a morte de Leandro.

—Eu sei bem o que é isso. —Falo em relação a Amara. —Mas ainda tenho dúvidas sobre a morte de Amara. —O que faremos se Angélica não for Amara?

—Escrevemos uma nova história pela a qual possamos nos orgulhar. —Maria fala e em seguida me abraça. —Temos que aceitar a morte de Amara...

—E o que iremos fazer com Angélica? —Pergunto preocupado.

—Eu não sei, Estevão. Eu não sei...

POV Maite

—Para quê enfrentei tudo isso? —Pergunto com tristeza. —Para no final ver Leandro morrer?

—Ele vai ficar bem. —Letícia fala com uma certa frieza. Ela me encara, sem falar absolutamente nada.

—Por quê me olha assim? —Pergunto sem paciência.

—Estamos sozinhas, não estamos? —Letícia pergunta e se aproxima aos poucos. —Você já pode me contar como foi...

—Como foi o que? —Minha pergunta faz Letícia sorrir. Era o mesmo sorriso que Fabiana dava quando estava sendo irônica.

—Como foi rasgar o coração de Fabiana com a ajuda de Dálila. —Suas palavras fizeram meu coração bater ainda mais forte. —Eu ouvi uma de suas conversas com Dálila. Por quê matou Fabiana?

—Ainda me pergunta por quê matei sua mãe? —Foi minha vez de surpreender Letícia. —Por que era isso o que Fabiana era sua, Letícia Santisteban. Você é sim uma Santisteban! Filha daquela maldita que arrancou o meu filho de meus braços, te colocou no lugar de minha filha morta e fez com que eu perdesse meu outro filho que nem nascer nasceu!

—Isso é mentira! —Letícia rebate.

—Fabiana te deixou como única herdeira, Letícia. Tinha profunda admiração por você! —Falo alterada. —Antes de matá-la, eu soube de toda a verdade. Você é filha de Fabiana, Henrique é neto dela.

—Eu sou prima de Leandro... —Letícia fala em choque.

—Foi ótimo sentir o meu punhal atravessar o coração dela, sabia? Saber que todo o seu sangue já não circulava mais em suas veias e que o ar já não...

—CALE-SE! —Letícia grita enfurecida. —Você não é ninguém para chamar ela de maldita!

—Sou a mulher que teve o filho arrancado dos braços pela a sua mãe! —Esbravejo. —Não acha isso suficiente?

—Você matou Fabiana, Maite. Sujou suas mãos com o sangue da mulher que me deu a vida, ainda acha que posso te defender ou sentir pena?

—Você é mãe e sabe o que é ver o filho em perigo e não poder fazer nada, Letícia. Eu perdi Leandro uma vez, e agora vou perder ele novamente só que para a morte!

—Isso é castigo por ter matado Fabiana! —Letícia fala descontrolada. —Espero que sofra pelo resto da sua vida!

—Eu te criei com tanto amor, passei meses te amamentando enquanto sua mãe fazia o mal pelo o mundo. Eu sei que as muita coisa mudou depois que você soube que não era minha filha, mas essa verdade não muda tudo o que vivemos. —Falo ao me lembrar de cada momento que passei ao lado de Letícia. —Foi eu quem te dei um nome, quem te deu um sobrenome, quem te deu educação. Eu te defendi das pessoas que te olhavam estranho por ser mãe solteira! Eu não matei Fabiana somente por ela ter tirado Leandro de mim. Eu também a matei por saber que ela quem te deu a vida, quem te gerou, que ela era tua mãe!

—Mas você a matou mesmo assim...

—Matei. Matei por vingança, mas também matei por amor. —Falo. —E não me arrependo disso.

—E Dálila foi a única a te ajudar? —Letícia pergunta friamente.

—Somente ela poderia me ajudar. Eu sabia que Fernando e Lúcia Helena Montenegro nunca iriam se sujar com isso. —Revelo. —Eles são nobres...

—Preciso conversar com você. —Lúcia aparece de repente e me assusta. —Eu sei quem atirou em Daniela e em Henrique.

—Como? —Letícia pergunta assustada.

—Eu ouvi você falar que eu e Fernando somos nobres... —Lúcia fala, mas eu a interrompo.

—Diferente de Dálila. —Falo e faço Letícia se assustar. —Ela me ajudou a matar Fabiana sem deixar vestígios.

—O que? —Lúcia pergunta abismada. —Dálila foi capaz de trair toda a corporação?

—Foi. —Falo, mas rapidamente resolvo dar atenção ao motivo de Lúcia ter vindo até aqui. —Quem atirou em Leandro, Lúcia? —Pergunto sem paciência. —Fale de uma vez!

—Quem foi, Lúcia? —Letícia pergunta curiosa.

—Foi... —Lúcia teme em contar a verdade e começa a chorar. —Eu não acredito que o menino que criei ainda pequeno, com medo, sem a ajuda de meus pais foi capaz de fazer isso...

—Fernando. —Balbucio nervosa e surpresa. —Fernando queria matar o meu filho?

—Fernando mataria Daniela e a criança que ela espera. —Letícia revela para Lúcia. —Eu não acredito que Fernando foi capaz disso.

—Ele está louco por saber que Angélica não é Amara. —Lúcia revela emocionada. —Isso mesmo que você ouviu, Maite. Amara está morta, Angélica é apenas sua sósia.

—E o que Leandro tem haver com isso? —Pergunto indignada.

—Ele odeia o odeia por quê amou Amara. —Letícia fala.

—E o que Amara é, para Fernando cometer tamanha loucura? Quer dizer, o que ela foi! Por quê aquela garota era uma San Román, todos deviam guerrear entre si? —Pergunto irada ao me lembrar de quando conheci Maria e Estevão. —Eu fui muito amiga de Estevão, mas não permitir que meu filho morra nas mãos de Fernando por causa de Amara.

—Até por quê você estará presa. —Letícia fala mostrando o gravador em sua mão. —Alem de ter o áudio onde você confessa que matou Fabiana, agora tenho Lúcia como testemunha.

—É o seu fim. —Lúcia fala me olhando com pena.

—O do seu irmão também...

POV Fernando

—Angélica? —Falo.

—O que você quer? —Angélica pergunta rude como sempre. Eu sentia a sua raiva vindo do outro lado da ligação.

—Eu vou fugir. —Revelo. Angélica permanece calada até eu chamar sua atenção novamente. —Angélica?

—Por quê você vai fugir? —Ela pergunta assustada. —O que aconteceu?

—Eu matei Leandro. Não soube que ele sofreu um atentado? —Pergunto e ela dá uma risada irônica.

—Leandro está vivo, Fernando. Todos os três estão vivos.

—Três? —Pergunto sem compreender.

—Daniela está grávida e por pouco você não matou ela e o bebê. —Angélica fala me fazendo desabar no chão. —Você não matou ninguém.

—Mas eu com certeza serei intimidado. —Falo ainda assustado. Daniela terá um filho? —Eu tenho que fugir!

—Para onde? —Angélica pergunta preocupada. —Fernando, por quê fez isso com Leandro e Daniela?

—Por quê eu finalmente descobri que você não é Amara San Román.

—Isso é alguma novidade? —Angélica pergunta irônica como sempre. —Você adiantou os meus planos. Agora que Leandro está quase morrendo eu posso tomar tudo o que deixar...

—Você vai mesmo deixar os Santisteban sem nada? —Pergunto incrédulo com a eficiência de Angélica.

—O filho de Daniela é um Santisteban, mas ele tem a mãe, não vai precisar do dinheiro do pai. Letícia é herdeira de Fabiana, sua herança não será afetada. Mas eu quero tudo o que for predestinado á Leandro. —Angélica fala com determinação. —Eu vou te encontrar um dia Fernando, e então teremos...

—Você não é Amara, Angélica. Eu prometi para ela que nunca amaria outra mulher se ela morresse. E Amara está morta, você é apenas a sósia dela. —Deixo bem claro que não posso amá-la como amei Amara. —Eu sinto muito, mas não posso te amar. —Não obtive resposta ela tinha desligado o telefone deixando bem claro o quanto estava amargurada e desapontada comigo. —Me desculpe, Angélica. Mas você não é Amara...


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Notas finais do capítulo

Fernandão arrasou



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