Anjo De Cristal escrita por Maria Fernanda Beorlegui


Capítulo 34
Seda




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"Eu tenho um que bate por você todos os dias. Mas resta saber do que o seu coração é feito..." —Coração de Seda

POV Daniela

A taça foi de encontro ao rosto de Leandro. A mão delicada de minha mãe soltou a rosa sobre o caixão de Amara. Eu e Leandro brigamos no corredor do hospital. Leandro, Amara e eu estávamos na piscina. A nossa chegada ao México. O dia em que eu e Amara conhecemos Fernando. O dia em que colocamos os pés na mansão San Román. Todas essas memórias cravam a minha mente, rasgam o meu coração e fazem meus olhos sangrarem pequenas cutículas, lágrimas.

Flash Back On

—Essa é a nossa avó? —Daniela pergunta amedrontada ao ver a mulher do retrato.

—Sim. Ela não é linda? —Amara pergunta ao se admirar com o retrato de Regina, mãe de Francisco.

—Não é a toa que você tem o nome dela. —Francisco fala ao colocar sua mão no ombro de Amara. —Você, Regina, vai ser uma pessoa melhor que ela.

—Melhor que a avó Regina do quadro? —Daniela pergunta admirada. Mal sabe a menina que Regina foi uma mulher ambiciosa e fútil.

—Bem melhor...

Flash Back Off

Minha mãe me falava sobre alguma coisa sem importância enquanto eu olhava para vaso de planta que estava bem na minha frente. Meus dedos tremiam assim como a minha mãe. Mas o tremor que sinto por fora não é nada comparado ao tremor que sinto por dentro.

—Ele está na sala. —Ouço minha mãe falar. Não resolvo perguntar quem ou que está na sala, apenas vou até a sala.

—Você? —Pergunto brava ao ver Leandro novamente. —O que veio fazer aqui?

—Amara não morreu. —Leandro fala. Eu olho para a minha mãe procurando uma explicação óbvia, mas nada obtenho. —Fernando está com ela.

—Você está louco, Leandro. —Falo o deixando impaciente. —Como Amara não pode ter morrido? Quer falar isso para Maria? Talvez ela vá gostar do seu momento de insanidade.

—Não é insanidade, Daniela. Você precisa confiar em mim. —Leandro pede, mas recebe o meu sorriso como resposta.

—Vá embora. —Falo ao lhe dar as costas.

—Você se lembra de terem aberto o caixão de Amara no funeral? —Leandro pergunta e me deixa intrigada.

—Isso é apenas ilusão da sua cabeça, Leandro. Por que Amara forjaria a própria morte? —Pergunto. Ele se aproxima de mim com toda a cautela precisa e segura a minha mão.

—Alguém fez isso com ela, Daniela. A mulher que eu vi ao lado de Fernando é Amara. Fizeram algo de ruim com Amara, Daniela. Por isso ela não sabe sobre a familia, de onde veio... —Leandro fala. Sua voz estava sendo travada e seus olhos estavam marejados. —Você precisa ver Angélica e falar que ela é Amara.

—Você tem certeza disso, Leandro? —Minha mãe se manisfesta. — Essa tal de Angélica é Amara?

—É ela, mãe. Eu não estou louco. —Leandro fala e vai até a minha mãe. —Alguém fez com que Amara perdesse a memória, mãe. Aquela mulher é Amara!

—Me leve até ela... —Minha mãe sussurra. —Onde ela está?

—Está com Fernando. Ele deve ter ido para a casa de Lúcia. —Sinto a última frase se jogada sobre mim.

—Por que está fazendo isso? —Pergunto brava ao sentir a dor que é causada pela saudade. —Amara está morta, Leandro. Você não precisa inventar uma loucura desse tipo para chamar atenção.

—Não quero chamar a atenção, Daniela. Eu quero que sejamos o que um dia fomos. —Leandro fala. —Se lembra como nós três éramos? —Ele pergunta nostálgico. —Eramos unidos. Enquanto estávamos na Itália, eramos intocáveis. Nós éramos maior que todos os outros.

Isso é verdade. Gutiérrez é um sobrenome de peso na Itália. Nós três sempre fomos mimados e tínhamos tudo o que as outras crianças queriam, eramos o que os adolescentes queriam ser.

—Você tem razão. —A revolta é jogada jogada junto as palavras. —Éramos tudo isso. Mas agora apenas eu sou assim, Leandro. —Minha mãe fecha os olhos para não me ver brigar com Leandro novamente.

—O que? —Leandro pergunta desentendido.

—Eu consegui, sozinha, dar o dobro de tudo o que tínhamos e fomos no passado. Eu não precisei esquecer ninguém, não precisei humilhar ninguém... —Falo próxima dele. —Agora você é menor que eu, Leandro. —Ao falar, Leandro abaixa a cabeça. —Você é apenas mais um nesse país, enquanto eu sou maior que todos.

—Quando foi que você se tornou uma mulher ambiciosa? —Leandro pergunta ao se aproximar ainda mais de mim. Agora é olho no olho, não tem como escapar.

—Quando foi que você se tornou um homem de palavra? —Pergunto. Seu olhar mostrava o quanto ele estava perdido com minhas palavras. —Faça de minha resposta a sua...

POV Estevão

Flash Back On

Estevão estava na porta de sua casa esperando Heitor chegar. Ele acabava de reconhecer o corpo de Amara no hospital. A chuva lhe impedia de ver Heitor e Estrella, mas ele sabia que o homem alto estava com algo nos braços, ou melhor alguém

—Heitor? —Estevão pergunta assustado. A chuva começa a lhe molhar, mas ele não se importa.

Heitor trazia Estrella em seus braços. A mulher estava exausta, magoada, infeliz pela morte da irmã mais nova. Estrella foi quem viu Amara desmaiar, foi quem prestou auxílio e sentiu o medo de ver a irmã morrer no corredor da mansão. Nem seus filhos, nem seu irmão, nem mesmo a sua própria mãe fizeram com que Estrella tentasse esquecer o fato de que, foi ela, a irmã mais velha, a qual devia zelar pela irmã mais nova, ela quem viu Amara cair leve como uma pluma no chão e fechar os olhos.

Aquilo para Estrella foi como se uma grande nação perdesse a força, como se um império tivesse ido de encontro à ruína. Era como um jogo de xadrez, o qual Amara era a peça mais importante, a rainha. Sua queda foi leve, mas para Estrella foi um peso muito maior que o mundo. Uma vida, uma irmã, um futuro roubado acabava de ser levado pelo sopro da morte.

Amara foi Regina, Regina Gutiérrez, a filha de Francisco e Ana Rita. Foi a irmã idolatra e mais velha de Daniela, o primeiro amor e grande amor da vida de Leandro. Amara carregava um nome que não lhe pertencia, mas ela o carregou.

—Heitor. —Estevão falou ao ver Estrella inconsciente nos braços de Heitor.

"Ela morreu? Ela morreu. "

Foi o primeiro pensamento de Estevão ao ver sua filha mais velha ser carregada por Heitor. Estevão se permaneceu parado até Heitor se aproximar com Estrella nos braços. As lágrimas de Heitor tomavam o mesmo destino que as gotas da água de chuva, sua voz não veio, ele apenas entregou Estrella para o pai. Nenhuma palavra foi dia, eles apenas se olharam.

Um momento de dor, agonia, desesperança, angústia, fardo, incômodo, desespero e profunda revolta era tomado na familia San Román. Até quando eles não vão alcançar a felicidade definitiva?

Dentro da mansão, no quarto que deveria ser de Amara, estava Maria. De um lado ainda estava o berço de Amara, do outro a cama em que ela iria repousar todas a noites. Na mente de Maria se passou o dia em que Amara nasceu, o dia em que ela foi sequestrada e até mesmo o dia em que Maria atentou contra a própria vida.

"Amara era uma menina encantadora, Maria. Desde muito pequena ela começou a chamar atenção, ela sabia que chamava a atenção de todos. Ela tinha o andar mais leve do que uma pena, um semblante de puro carisma...
No seu aniversário de quinze anos eu mandei fazer uma coroa, não me importei se ela fosse achar inadequado ou não, e coloquei em sua cabeça com muita dor. A dor de saber que você não iria presenciar um dos momentos mais grandiosos da vida dela..."

A declaração de Ana Rita não se passou apenas na mente de Maria, se passou na mente de Estevão também. Ele se lembrou desta declaração assim que Estrella abriu os olhos e se deparou com a chuva. Estevão ainda tenha Heitor e Estrella, eles estavam do lado dele.

Flash Back Off

—Eu nunca entendi a sua morte. —Falo após me lembrar da noite terrível que Estrella passou após a morte de Amara. —Mas eu entendi a sua vida. —Falo ao olhar Maria repousar. —Você é um pedaço nosso, Amara. Você existiu, e nenhuma doença pode apagar a sua existência...

POV Fernando

"O médico que atendeu Amara morreu há cerca de três meses."

Essa frase gira como uma roda gigante em minha mente. Não pode ser! Como assim ele morreu? Ele era o único que podia explicar o fato de Angélica ser a "sósia" de Amara. Angélica passou exatamente a mesma quantidade de anos em que Amara morreu: Quatro anos.
Por alguns minutos em pensei Amara tivesse forjado a própria morte, mas por quê ela faria Isso?

—Ele morreu? —Angélica pergunta assustada. A enfermeira começa a preparar o soro de Angélica enquanto conversamos.

—Eu não entendo... —Falo. —Eu não soube nada sobre a morte dele.

—Você acha mesmo que eu sou Amara? Por isso não consigo me lembrar quem eu sou? —Angélica pergunta assustada. —Quem poderia fazer isso comigo?

—Não faço a mínima ideia. —Falo assim que Dalila entra no quarto. A enfermeira se retira e o silêncio se estabelece no ar.

A França é um país vizinho à Itália, país onde Amara cresceu ao lado de Leandro e Daniela. Daniela tinha em Amara a irmã mais velha que sempre a protegeria, mas Leandro tinha nela a imagem do primeiro grande amor de sua vida. Ana Rita aceitou muito fácil o fato de Amara morar com os pais biológicos, sempre me falava que tudo um dia iria dar certo, mesmo sabendo que Amara estava morta. Só pode ser isso...

—Foi ela... —Falo e olho para Dalila. Ela se assusta e olha para Angélica. —Ana Rita fez isso com você.

—Ana Rita? Ana Rita Gutiérrez? —Dalila pergunta tentando evitar o riso.

—Por que ela faria isso comigo? —Angélica pergunta confusa. —Com Amara...—Ela ressalta. —Não faz sentido.

—Mas é claro que faz. —Dalila me apoia. —Ela não aceitou o fato de Maria ter Amara de volta e por isso forjou a morte de Amara.

—E trancou a filha em uma clínica e esqueceu ela por quatro anos? —Angélica pergunta com ironia. —Não faz sentido! Alguém que tinha muito aprecio por alguma pessoa que estava dando atenção para mim deve ter feito isso. Melhor dizendo, dando muita atenção para Amara.

—Você e Leandro. —Dalila fala me olhando de uma maneira diferente.

—Sim. —É a única coisa que sai da boca de Angélica. —Rastro de mulher...

—Isso é impossível. Pelo menos da minha parte. —Falo.

—Tem razão. —Angélica fala e ao olhar para Dalila. —Me leve até a família de Amara. —O pedido de Angélica me surpreende. —Quero conhecer cada um deles e tentar desvendar esse enigma que é a minha semelhança com Amara San Román...


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