Nostalgia escrita por Aislyn


Capítulo 1
Uma cena de drama


Notas iniciais do capítulo

Acabei empolgando com a história... se eu tivesse mais tempo para desenvolver, ela teria vários capítulos.

Espero mais a frente poder escrever a história desse casal na íntegra.

Boa leitura!



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Mikaru olhava perdido para a paisagem que passava rápida através da janela do carro, mas sem realmente prestar atenção no que via. As lágrimas ainda caíam silenciosas, mesmo depois de horas, deixando seus olhos avermelhados... A mesma cor dos cabelos dele… o vermelho que tanto combinava com Takeo.

Agora que já estava longe, a vários quilômetros de distância e sem nenhuma possibilidade de retorno, depois de todo o tempo de viagem que teve para pensar, sabia que fizera uma idiotice sem fim. Dissera-lhe palavras cruéis. E não só para alguém que considerava seu namorado, porque antes disso, Shiroyama era seu melhor amigo. Seu primeiro amigo de verdade e também seu primeiro amor.

Ele não queria que seus pais ou os de Shiro descobrissem sobre o namoro, mas por um descuido seu, isso havia acontecido. Não pensou nas consequências que um simples beijo na porta da casa do namorado traria.

Primeiro, Takeo ficou de castigo por mais de uma semana, uma decisão infantil do pai, pensando que isso os afastaria. Depois contou aos seus pais sobre sua opção sexual e como isso era repugnante. O senhor Shiroyama não queria seu filho mais novo sendo influenciado por um garoto que viera da cidade grande, com manias e gostos estranhos. Eles eram uma família tradicional do interior e o filho ia manter os costumes até o fim. Iria estudar e se tornar um bom médico, assim como o irmão mais velho. Teria uma boa esposa e um filho forte e saudável.

Isso era o correto! Namorar com outro garoto era uma aberração! Uma vergonha para a sociedade! Ele não ia admitir que nada estragasse seus planos.

Ah, se aquele velho idiota soubesse quais eram os reais planos e vontades do filho... Aí sim, ele morreria de desgosto. Takeo era uma alma livre, que não se deixava levar ou influenciar por nada nem ninguém. Ele fazia o que queria, o que achava certo, tinha sua maneira de pensar e agir. Mikaru duvidava muito da capacidade daquele senhor em colocá-lo no caminho que desejava, pois Takeo já estava traçando seu próprio destino.

Diferente do namorado, Mikaru era facilmente influenciável. E, levado sob a pressão de seus pais, ouvindo várias vezes que ainda era novo, que teria outros amores, que tinha muito o que ver e aprender, e que simplesmente não podia se prender a uma única pessoa àquela altura da vida, Mikaru se viu obrigado a terminar o relacionamento, com a ameaça de ser mandado para um colégio interno pesando sobre seus ombros.

Naquela hora, não cogitou a ideia de ter outra saída. Afinal de contas, seria mais fácil terminar o namoro, mesmo que de fachada e continuar namorando escondido no colégio, do que tentar passar pela segurança de um colégio interno, em sabe-se lá que outra cidade do Japão.

O que Mikaru não contava é que seu pai fosse se antecipar e manipular a situação, esperando que ele saísse para o colégio e contratando o serviço de um caminhão de mudanças. Todos os móveis e objetos da casa foram encaixotados rapidamente, ficando para trás apenas o carro em que a família partiria naquela tarde. O pai havia quebrado a promessa que fizera à mulher no ano passado, de não se mudar novamente enquanto o filho não terminasse o colegial, já que ele fizera isso durante toda a infância do garoto, quase prejudicando sua vida estudantil. Mais uma vez, ele arrastaria a mulher e o filho para alguma cidade distante dali.

Quando o garoto chegou do colégio, notou que o mal estar que sentiu durante todo o dia não foi sem motivos. Takeo estava escondido atrás de uma árvore e acenou quando o viu, pedindo que se aproximasse. Olhou de relance para sua casa enquanto andava até o ruivo, notando as janelas fechadas e a porta completamente aberta, quando o normal seria ver o contrário.

– Não devia estar aqui… – Mikaru talhou baixinho, indo para trás da árvore, com medo que alguém os visse.

– Por que não me contou que ia embora? – a voz de Takeo saiu baixa e deprimida, como o loiro nunca havia escutado antes.

– Do que está falando? Eu não vou pra lugar nenhum!

– Eles levaram tudo… – contou, cabisbaixo – Passei aqui pela manhã, queria te encontrar antes de você ir pro colégio, mas me enrolei na hora de pular a janela. – sorriu sem graça, mostrando as mãos arranhadas – Quando cheguei, tinha um pessoal colocando um monte de caixa num caminhão.

– Eu não acredito…

– Pensei que seu pais fossem te pegar no colégio e te levar direto de lá… mas quis passar aqui de novo, pra ver se ainda tinha um pouco de sorte… Queria me despedir antes…

O peso daquelas palavras fez Mikaru duvidar da sua veracidade. Não queria ir embora, não queria deixar Takeo pra trás. Sabia o quanto ia sofrer sem o namorado por perto pois, se ainda estava ali, vivo, era graças a ele, que o apoiou nos momentos difíceis, que o ensinou a se divertir e que também confiou em si quando precisou de apoio e um ombro amigo pra chorar.

E agora estavam sendo separados…

Não queria que Takeo sofresse. Não por sua causa. Não valia a pena. Devia ter imaginado que, mais cedo ou mais tarde, partiriam novamente. Sempre foi arrastado pra todo lado pelo pai durante a infância, haviam permanecido muito em Mie na sua adolescência, mas era uma ilusão pensar que poderia criar raízes.

E, pensando que era a melhor escolha, Mikaru mais uma vez fez algo sem pensar no resultado que isso traria. Ele terminou com Takeo, mas não sem antes humilhá-lo da pior forma que imaginou, dizendo que foi divertido, mas que os pais tinham razão, aquele relacionamento não ia pra frente, pois dois homens não deviam ficar juntos. No final das contas, o que tiveram não passou daquilo, uma distração, um momento de curiosidade causado pelos hormônios da idade, uma brincadeira.

Ele preferia machucar o ruivo de uma vez do que alimentar suas esperanças, dizendo que encontrariam uma maneira de contornar o problema.

Porém, contrariando suas expectativas, Shiroyama sorriu travesso, dizendo que havia pensado em uma solução para os dois: podiam fugir juntos. Era idiota, coisa de adolescente rebelde, mas o ruivo era esperto e realmente havia pensado em tudo. Ficariam na casa de seu irmão em Tóquio, terminariam os estudos e começariam a trabalhar para viverem sozinhos. Eles eram inteligentes, iam conseguir se virar! E o irmão tinha dinheiro para ajudá-los naquele começo.

– Você não ouviu nada do que eu falei, não é? – Mikaru retrucou a proposta com uma careta de desgosto, mesmo que seu coração tivesse começado a bater mais forte – Seu pai estava certo… você é uma aberração, sabia? Devia procurar uma namorada, pra casar e ter filhos. Tente dar um pouco de orgulho pra ele!

– Você está corado. – Takeo estendeu a mão para acariciar a face de Mikaru, sorrindo como se tivesse recebido um elogio e não uma ofensa – Vem, vamos tentar! Eu prometo que vou cuidar de você.

– Claro que vai… uma criança cuidando de outra… Devia amadurecer, Shiroyama!

– Por você, eu posso tentar. Vai vir comigo? – Takeo aproximou um passo, prendendo Mikaru entre seu corpo e a árvore, sorrindo mais ao vê-lo desviar o olhar.

– Não dá, Shiro... não posso… – e junto com a primeira lágrima, caiu também a máscara de indiferença. Ele queria ter coragem para ir com o namorado.

– Por que não? Eu já deixei minha mochila pronta, tenho um dinheiro guardado, ligamos pro meu irmão no caminho e pronto! Depois que sairmos de casa, eles não vão poder nos impedir de nada!

– Idiota… você não devia sonhar tão alto… – abraçou o ruivo pela cintura, puxando-o para mais perto e escondendo o rosto em seu ombro. E ali começou o choro sem hora para acabar.

– Eu não aguento mais isso aqui, Mikaru… Não aguento o que aquele velho impõe. – Takeo acariciava os fios loiros, tentando acalmá-lo como já fez tantas vezes – Já pensei em fugir antes, mas essa semana foi o estopim.

Mikaru ergueu o rosto, notando a seriedade naquelas palavras. Queria ser corajoso como o rapaz a sua frente.

– Você pensou em tudo, não é? – sorriu orgulhoso, dando-lhe um selinho e se afastando, secando as lágrimas que teimavam em continuar caindo – Vou ter que estragar seus planos, Shiro. Eu não vou…

– Por quê?

– Eu não sei…

– Mikaru! – o rapaz se sobressaltou ao ouvir a voz do pai, olhando para trás para encontrá-lo caminhando na direção do carro, a mãe trancando a porta de casa e seguindo o mesmo caminho a seguir.

– Então… adeus…

– Até logo… – Takeo prensou o rapaz contra a árvore, tomando seus lábios num beijo, mas se afastando rapidamente ao ouvir o pai do garoto se aproximando e xingando todas as suas gerações.

E agora estava ali, dentro do carro e chegando em uma nova cidade que não se importou em perguntar o nome, com a imagem do ruivo correndo para longe de seu pai, sorrindo e acenando em despedida.


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