Infame escrita por Apiolho


Capítulo 30
Capítulo 30 - Não se trata apenas de amor


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos!

Último capítulo. Realmente me dará saudades, espero que gostem, pois faço para vocês. Principalmente de vocês leitores, que muito me motivaram e apoiaram.

Agradeço a Alethea por comentar. Vou tentar responder a todos o mais rápido possível. Muito obrigada a Clara e Ana Paula Melo por acompanharem. Significam muito para mim toda a opinião e por saber que estão dando crédito a fic e seguindo, de coração.

Esse episódio é em homenagem a suellencraft, pelo seu aniversário, que é hoje (27/02). Meus parabéns, tudo de bom hoje e sempre, felicidades, espero que possa ser um presente que aproveite.



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Capítulo trinta

Não se trata apenas de amor

“Eu gosto tanto de você

Que até prefiro esconder

Deixo assim ficar

Subentendido

Como uma ideia que existe na cabeça

E não tem a menor obrigação de acontecer”

(Apenas mais uma de amor - Lulu Santos)

— Fico grata por me acompanharem, porém a partir desse instante preciso enfrentar essa situação sozinha. — comentei ao esperar que o portão abrisse, justo depois de seu reconhecimento.

As duas se entreolharam, tentando transpassar em silêncio se iam se unir para me ajudar. Contudo nunca se trataria de aceitarem ou não, a minha decisão já estava feita.

— Tem certeza? — questionou a Charlie, que ainda me enlaçava.

— O problema é apenas meu e dele. — revidei, colocando as mãos no bolso do cardigã para me aquecer. Era noite, por isso o frio ameaça aparecer, mostrando-me, como se fosse uma mãe, que deveria ter providenciado um casaco mais grosso.

— Somos suas amigas, por isso não precisa fazer tudo por conta própria. — devolveu, sorrindo em minha direção.

— Eu sei, irei contar o que aconteceu amanhã para vocês. — finalmente convenci-me que existia uma amizade entre nós, que não havia mais ódio ou alguma relutância de minha parte.

— Sim, devemos ir. — concordou comigo a Anabelle, levando-a consigo a força. Via em seus semblantes que não desejavam me deixar só, apesar de obedecerem a ordem.

O portão estava aberto desde antes de encerrarmos a conversa, todavia apenas entrei quando escutei o som do carro ligando e as luzes do farol não estarem mais me iluminando. Preferi nem olhar para trás e vê-las se despedindo, até porque a mente apenas se concentrava em como seria quando pisasse dentro daquela casa.

O coração batendo forte, garganta seca. Era um nervosismo sentido em cada parte do meu corpo, provando que ainda me importava com a nossa relação. As lembranças de quando brincava comigo, víamos um filme de terror e comíamos estavam tão frescas que me deixavam embasbacada.

— Essa é a minha esposa, Miriam. — apresentou-nos quando pisei na sala.

Seu sorriso era grande ao ver-me tão de perto. Os olhos castanhos e o rosto davam um ar mais meigo para ela, as mechas da cor loira, que notava ser pintado, assim como trajava algo formal, camiseta e calça jeans. Já meu pai ainda tinha os meus olhos azuis que lembrava, fitando-me com tanta devoção quanto antes, que combinavam também com seu cabelo.

— Fabio me contou tantas coisas sobre ti, que é como se nos conhecessemos há anos. — declarou, tentando me agradar ao me abraçar e beijar-me na bochecha.

Sabia que não era a mulher que havia estragado a nossa vida, no entanto não parava de pensar na separação. Tudo o que ocorreu quando tinha uns doze anos, a volta da escola e a realidade de que não voltaria mais.

— Eu mudei. — foi apenas o que comentei.

— Vai me dizer agora que não gosta mais de bolo de chocolate com granulado? Ela preparou para você, e posso afirmar que é um dos melhores. — revidou meu pai, apontando para um cômodo com mesa, xicaras, talhes e uma toalha por cima de algumas comidas. E dentre elas deve ter a minha torta preferida.

— Infelizmente estou cheia por causa da festa de aniversário, mas quem sabe depois? Ainda temos a noite toda, talvez o dia também. — tentei ser educada, querendo mostrar que nada me abalava. Apesar de desmoronar por dentro, segurando-me para não chorar como fiz naquele dia. Tinha prometido não fazê-lo mais por ele, apesar de ter derramado algumas lágrimas depois que conheci as garotas da lista e o Joshua.

O brilho em seus olhos me fazia crer que em seu pensamento passava apenas uma coisa. Pegou-me pela mão e abraçou-me, mesmo que ainda estivesse em pé e nem sequer tivesse visto o resto da residência.

— Vai dormir aqui? — a alegria era evidente.

— Por que acha que estou com essa mochila enorme? Se necessitamos mesmo conversar, tenho certeza que umas horas jamais serviria para isso. Ou, dependendo, talvez terei de ir antes. — confessei para não dar esperança de que o perdoei, pois apenas coloquei bastante roupa por precaução.

A pessoa que me criou não sabia disso.

— Desculpe, vou te mostrar o quarto! — exclamou, pegando a minha “mala” com rapidez e subindo as escadas.

A decoração do local era bem bonita, mas nada tão chique. Não existia fotos no corredor, bichos de pelúcia, bonecos de porcelana, o que era ótimo, já que um lar cheio de tralhas basta o meu. Minha mãe vivia guardando coisas velhas, da época que era bem nova, móveis e objetos de nossos avôs, que moravam em outro Estado.

Entrei num ambiente com as paredes brancas, mas tinha uma parte diferente, a cama estava pronta. Em cima dela continha um pacote fechado, com um laço o prendendo, e grande demais para eu compreender o conteúdo.

— De quem é esse lugar? E esse presente? — quis saber ao achar que nunca poderia ser meu.

— Sempre tive esperança que um dia pudéssemos conversarmos de novo, fazermos a pazes. Por isso resolvi construir um quarto só para você, quem sabe assim poderia me visitar muitas vezes por morarmos em cidade próximas. — em seus olhos enxergava que encontrava-se a ponto de chorar, estavam vermelhos e molhados. A emoção aflorava nele com mais felicidade desde que o conhecera. — Abre. É o seu presente de aniversário. — pediu, a voz embargada, ao apontar a caixa em minha direção.

Peguei-o rapidamente em mãos e rasguei pela minha curiosidade. Riu de meu gesto, talvez recordando que sempre comportei-me desta maneira. O que foi revelado fez meu queixo cair, pouco me importando se não tinha mais idade para isso. Coloquei no pé e comecei a andar, desfilando na frente dele, que se divertia com a situação.

— É o que estou pensando? — sussurrei.

— Sim, te deixei dois dias antes de completar treze anos e já havia o comprado. Lembro que sempre me pedia quando íamos ao centro. Guardei para quando voltasse, pois não poderia ser de outra pessoa, se não seu. — estava tão diferente, sentia isso, parecia dizer todos os seus sentimentos sem medo.

Um tênis rosa que brilha ao caminhar. Era o suficiente para me deixar agitada.

— Queria ter visto. Parece mesmo uma estrela como comentava. — disse alguém na porta, e ao virar notei que se tratava da madrasta. Parei de pular e fitei-a com seriedade.

— Por acaso tem tomada? Estou sem bateria no celular. — eu sei, deveria trata-la melhor, mas não conseguia. Conhecer que haveria alguém entre nós, que não seja a mãe, parecia tão estranho e difícil de aceitar para mim.

— Claro. — confirmou, deixando-nos a sós. Depois que deixei o meu aparelho na parte indicada, flagrei meu pai me mirando de um jeito admirado.

— Que tal ver seu novo irmão antes de conversarmos? — propôs, possivelmente por ser covarde o suficiente para querer adiar a briga entre a gente, igual a mim.

— Tem um filho juntos? — o horror na voz era evidente.

— Não, é apenas dela. — tratou logo de explicar o mal entendido que me aliviou.

Nem foi essencial falar para apoiar o seu questionamento, seguindo para o outro canto. Deixou-me abandonada para encarar um membro da família que desconhecia há pouco tempo. Bati uma, duas vezes, antes de me permitirem invadir o território. Principalmente por saber que era de algum garoto, o segundo quarto que ia visitar.

— Quem é? — o tom era rouco, evidenciando que estava dormindo. Uma calça larga apenas vestia, com a barriga de fora, que não tinha nenhum músculo. Reconhecia demais, por isso mesmo fiz uma carranca ao encara-lo. — Amie? — novamente uma pergunta.

— Não vá achando que escapou daquele dia, James. — fingi ser por outro motivo que estava ali, por conta de vê-lo no cemitério.

— Veio ver seu pai. — lançou a verdade na minha cara.

— Também, nem imaginava que seria você. Não vai me convidar para entrar? — quis saber, apoiando meu peso em uma perna ao flexionar um dos joelhos.

Quando percebi estava em cima de sua cama, pegando um travesseiro e me encostando no colchão, cruzando as pernas para me sentir confortável no chão. Ele me acompanhou, tateando o celular por conta da vergonha. Eu via pela vermelhidão em seu rosto, no entanto a possibilidade de ser por nervosismo era igualmente real.

— Pensei que ia me bater. — confidenciou.

— O seu sofrimento já é o bastante para pagar pelo que fez.

— Não queria tê-la rejeitado tanto, se eu pudesse voltar atrás teria feito diferente. Teria dado flores a ela, mas agora só posso fazê-lo para enfeitar o seu túmulo. Levaria para jantar e diria o quanto era linda. — no meio da frase vi seus olhos ficando molhados, para em seguida transbordarem por entre a face.

— Você a amava? — pelo jeito que falou parecia.

— Infelizmente não. — o importante foi ter sido sincero.

Sequer o toquei, apenas suspirei antes de continuar a conversa. Tinha algo que me chateava demais, e foi por isso que disse sobre ter errado. Vim aqui para discutir e brigar com outra pessoa, tanto que tinha de me preparar.

— Então continuo com a minha opinião, que não teve culpa. Na verdade era sobre ter me beijado que estava se referindo antes. — toquei no assunto.

— Foi impulso, tristeza, tantos sentimentos misturados. Sentia-me tão mal que se me batesse talvez ficaria melhor, porém não foi o que aconteceu. Nem o soco que recebi do Joshua me ajudou. — declarou.

— É só isso? — o tom irado por esquecer do mais necessário.

— Quer que te peça desculpa, p-

Um barulho muito alto foi o que parou a sua fala, pensei ser lá embaixo, porém ao ver alguém pulando a janela do quarto dele meu queixo caiu. Estava surpresa e com horror por imaginar que era um ladrão.

— E a missão de empatar foda foi realizada com sucesso! — exclamou a pessoa em animação, antes de sequer se ajeitar, nem dando de ver seu rosto, mas essa voz era praticamente inesquecível.

— Nate, não é hora para isso. Estávamos fazendo as pazes. — brigou, fazendo-me notar que realmente era a pessoa que achava ser. Quando levantou-se e me fitou que verificou que cometeu o maior equívoco de todos.

— Se sair agora ainda pode dar tempo, talvez não seja jogado do segundo andar. — conseguia dizer de uma maneira que era mais aterrorizante que alguns filmes sobrenaturais, ao ponto de ver a reação desesperada dele.

Pegou-me pelo braço e virou-se para perto dele, fazendo-me gritar, todavia o outro berro foi parado por ter tapado com sua mão. Sentou-se onde o meu “irmão” adormecia, prendendo-me na frente dele ao me segurar forte demais para que conseguisse escapar.

— Então quero participar dessa conversa. Temos muito a resolver também, não é? — declarou, mexendo a cabeça para o lado.

— Desembuche, nem posso sair daqui mesmo. — satirizei.

— É melhor soltá-la, trata-la deste jeito só vai piorar a situação. — aconselhou o que tirou o meu BV.

Não fugi, apenas me posicionei no local que me encontrava antes de invadir o nosso território. O chiclete foi colocado em minha boca para que me sentisse mais calma, fazendo bolinhas e mastigando de maneira lenta. Estavam cada um de um lado, esperando por algo que nem eu sabia.

— Desculpar-me pelo que disse seria pouco, porém afirmo que tudo não passou de uma brincadeira. Falei apenas sobre fazer sexo contigo para ver sua reação, pois sempre parecia tão intocável, como se nada a abalasse. Seu desespero teria sido o bastante, mas não esperava pelo beijo. — explicou-se.

— Mentiroso, só está falando isso para voltar com a Charlie. — revidei.

— Não sabia o que pedir para ti em troca do meu segredo, só aquilo passou por minha mente. Jamais achei que ia acreditar ou se deixar levar pelo que disse, muito menos pelos boatos. Apenas queria me divertir um pouco contigo. — declarou.

— E por que continuou confirmando que ia contar que divulguei a lista?

— Pelo Phil, ele não merecia mais um dia apanhando por conta de algo que não teve culpa. Não acha o mesmo? — declarou.   

— Tem razão, mas ainda não creio em ti. Minha opinião sobre apenas falar algo assim para se reconciliar com sua ex ainda está de pé. — o meu jeito teimoso o incomodou ao ponto do silêncio ressurgir.

James olhava de um para o outro, pouco sabendo no que poderia se meter.

— Eu a amo, contei tudo para ela, porém tinha quase certeza que falar contigo não é como ser perdoado. É difícil, então esse não seria o meu plano A.

— Espero que a esqueça, vocês não foram feitos para ficarem juntos. — a minha honestidade jamais serviria para tranquilizar, sim consolar, mesmo que doesse para isso. Esquecendo as confusões que tive com ele.

— Sabe de algo? — aquele olhar 43 em minha direção, analisando-me. Só que sou imune a essas provações, não tremendo nenhum um pouco por conta disso.

— Pode ser minha amiga, porém não significa que aceito o fato de que te traiu. — o segredo de dois meses finalmente saiu, como um peso sendo arrancado das costas.

Ficou inerte ao colocar as mãos na cabeça, numa forma de descrença ou chateação. Não sei o que seria. Fiquei de pé e passei a mão em seus cabelos, o que o fez me mirar.

— Não esquece que também colocou um par de chifres nela, e ainda me ameaçou. — comentei antes de deixá-los papear a sós. Colocar os assuntos de amigos em dia, apesar de não saber que eram vizinhos.

Fui para o meu cômodo para pegar meu celular, no entanto meu pai ainda continuava lá. O sorriso penetrou seu rosto, talvez desde que entrei nessa casa. Por isso pouco o motivo pelo que me abandonou, ligou-me ou simplesmente me procurou. Talvez naquela época eu perdoaria qualquer coisa para ficarmos unidos novamente.

— Vejo que hoje é um dia para reconciliação. — sussurrei.

— Pois é, meu enteado contou o que aconteceu com vocês. Ter um primeiro beijo forçado com ele não deve ter sido nada legal, porém recebeu um belo sermão meu e da sua mãe.

— A morte da Molly já é castigo suficiente, apesar de ter vontade de dar uns tapas nele quando me lembro do que fez. — sentei-me na cama, perto dele, ouvindo-o suspirar e respirar fundo.

— E qual penitência mereço?

Fitei-o intensamente, observando cada parte sua, desde o semblante até como se portava. Notei que se arrependia, contudo nada disso seria o bastante para me fazer correr para seus braços igual fazia quando criança.

— Para isso preciso de uma explicação. — como um padre que recebe uma confissão antes de dizer se apenas uma ave maria e pai nosso ou várias caberia no caso.

— Já disse, trai sua mãe e ela não deixou-me te ver. Nem sequer quis me dar seu número novo, tinha mudado de escola na oitava série, só consegui ter contato quando o James conseguiu para mim. — estava sem graça.

— Não se envergonha por ter estragado um casamento? O amor não foi o suficiente? Tratar-me como se fosse especial, para depois me abandonar igual uma pessoa qualquer, deveria ter brigado ou ido outro momento. Pelo menos mostrar que se importava! A nossa casa ainda é a mesma, e eu ficava todos as tardes esperando você voltar do trabalho pela janela, para entender que jamais entraria por aquela porta. Se eu mudei, a culpa é sua. — contei o que sentia, batendo o dedo indicador em seu peito enquanto a ira me consumia ao recordar todo o mal que nos fez.

 — Não se refere apenas a paixão. A infidelidade foi demais para ela suportar, quem sabe queria esconder de ti o motivo para não estragar a visão que tinha. — remexia-se no lugar, como se estivesse desconfortável com a nossa discussão.

— Mais do que a sua imagem está denegrida seria impossível, porém saber que foi sujo ao ponto de estragar uma família me deixa aliviada. Sei agora que não foi por minha razão. — declarei.

— Jamais seria, você é o nosso tesouro! — gritou, o rosto vermelho de tanto que choramingava no meio do processo. A sua alegria tinha sumido desde o momento que demonstrei o quão ruim fiquei com sua ausência.

 — Que tal comermos o bolo? Essa conversa já se estendeu demais para o meu gosto para aguentar, com o tempo talvez possamos nos entender. Porém nesse momento só o que sinto é raiva. — não poderia ser falsa com ele, apesar de vê-lo abaixar a cabeça, o semblante triste e decaído. Apenas concordou com um sussurro, saindo sozinho e descendo as escadas sem nem me esperar.

Aproveitei para ligar o aparelho, tentando encontrar se tinha alguma mensagem.

“33 chamadas perdidas de mãe”

E isso foi o tanto para me arrepiar, arregalar meus olhos em medo. Pior do que um filme do terror só isso, talvez nesse instante a polícia federal já estava atrás de mim, achando que fui sequestrada. Nada como um pedaço de chocolate para me acalmar, contudo nem sequer dei uma bocada para ouvir uma alta buzina.

— Amie, sei que está ai. — três batidas fortes na porta da frente para entender que Jordan viera me buscar. Como ele sabia? Só se as fofoqueiras resolveram contar.

— Embrulha metade para eu levar? — pedi para a minha madrasta, escutando umas risadas por parte do Nate. Que pela maneira como conversamos entendia que poderia ter solução a nossa relação. O meu exagero deveria ser o culpado. 

Peguei correndo os meus pertences e guardei na bolsa com rapidez. Escutei aquele estronde enquanto descia os degraus, sorrindo de maneira irônica, a maldade transbordando.

— É assim que trata seu futuro sogro? — questionei, pegando o bote com o doce dentro. Confessava que era maravilhoso, contudo não significava que ia contar para a atual mulher do senhor que nos traiu.

— Desculpa, é um prazer conhece-lo e seria uma honra namorar sua filha, mas infelizmente resolveu vir com suas piadas. Nem vai achando que enrolará por muito tempo.

— Quero ir embora, só temo quando chegar em casa. — confidenciei, vendo o meu pai concordar em silêncio, ainda com aquela expressão de quando me largou no quarto.

Neste momento notei uma pessoa próximo a ele: Phil. Simplesmente despedi-me deles rapidamente e na mesma velocidade empurrei-os para fora. Entrei no veículo que tinha, sem nenhum outro pessoal e acompanhei o meu ex colega de intervalo atrás.

— É sério que vou ficar como chofer? — declarou.

— Nem sei porque está dirigindo se ainda é menor de idade, mas apenas desejo que bote esse pé no acelerador e me leve para a casa. — comentei, vendo-o sair quase que voando do lugar.

“Aceita dividir salgadinhos mofados e suco quente de novo?” — Emo.

Olhei e tentei abrir a boca para confirmar, contudo fez um gesto para que me calasse. Obedeci e fiz joia com as mãos, compreendendo minha resposta. Por isso comecei a digitar.

“Por que estamos em silêncio? Perdoou-me?” — Amie.

Apenas os sons de que as mensagens vinham eram ouvidos por nós, já que nem música tinham colocado para tocar. O riso logo seguiu, percebendo ser ele, ao iniciar a escrita.

“O quanto te ignoram é o suficiente para mim, mas ainda tem amigas. Já eu depois daquele dia senti-me tão solitário sem ti. Não quero ficar sozinho.” — Emo.

Mesmo que fosse apenas por carência fizemos as pazes, tanto que nos acompanhava. Percebi que a noite trazia um céu bem estrelado, a lua apesar de pequena em nada diminuía a beleza.

“Quer dividir essa paisagem comigo?” — Joshua Deboni.

E mostrou-me uma foto da piscina do colégio e do espaço iluminada por corpos celestes e um satélite que tinha seu charme. Pela janela notei que estava perto do local indicado por ele.

— Pare o carro! — pedi, obedecendo-me prontamente pelo susto.

— Preciso te levar em segurança. — declarou.

— Não, necessito é viver uma loucura! E acho que você também deveria, quem sabe convidando a Anabelle para jantar? — disse, abrindo a porta com um supetão ao dar um beijo no rosto. Pouco me importava com seus gritos, mas algo o parou ao ponto de seguir do lado contrário do meu.

Eram nove horas, todavia nem me preocupava. Apesar de arranjar confusão, bater nos outros, xingar aos montes, nada me dava mais emoção e adrenalina do que estaria realizando agora. Pulei o muro, que já sabia muito bem como era, e atravessei o pátio ao notar que o guarda não se encontrava ali.

— Pensei que nunca chegaria. — pronunciou quando cheguei.

— Me surpreendeu. — o folego quase acabando de tanto que corri, sentando-me ao seu lado na piscina. Não calçava o sapato mais, sentindo a água correndo até o meu tornozelo.

— É só o começo. — fitava acima de nós.

— Não dá de ver as estrelas daqui. — constatei, vendo-o rir e me puxar pelas mãos com delicadeza, aproximando seu corpo. Apesar de estar molhada, o chão nem era escorregadio.

— Poderia dizer que estou vendo uma bem na minha frente, mas tenho outros planos para hoje.

Esperou-me calçar o tênis, caminhando pelo piso, grama e todo o tipo de solo. Fazia questão de fechar os olhos, apenas experimentando a sensação que era ter seus dedos entrelaçados ao meu.

— Lembra-me daquele dia no banheiro. — interrompeu meus pensamentos.

— O quê? — ainda sentia-me tonta com a situação.

— Seu sapato, parecido com o que vi. — declarou, apontando para baixo.

— Verdade. Mas para onde está me levando? — quis saber.

Preferiu pela surpresa, apenas me deixando subir as escadas primeiro, todavia quem abriu a entrada foi ele. A chave em suas mãos deu acesso a um dos melhores lugares para observar o céu. Um terraço com banco e jardim superficial, apenas servindo para decorar.

O frio pegou-me com força.

— Não precisa tirar o casaco. — pedi ao vê-lo mexer no zíper.

Pelo menos ter levado um cobertor pequeno para pôr na bolsa servia para algo, pois poderia aquecer aos dois. Aproximamos por não ser tão grande, já que era de solteiro. Nossos braços se encostavam, sem falar dos rostos que quase se batiam quando nos virávamos para olhar-nos. Deitados perto da ponta do prédio, não no assento, enlaçados um ao outro, sentindo a mão apertando minha cintura. Virou-se de lado, seguindo-o, mesmo que para isso tivéssemos de nos afastar.

— Quero ficar contigo. — sussurrou próximo ao meu ouvido, de uma maneira seria o suficiente para me fazer entender. Essa frase simbolizava nossa relação, mesmo no começo quando me obrigava a estar com ele no intervalo, ao me largar no dia que confessei ser culpada da divulgação da lista, e o principal era o momento da piscina. Mesmo em silêncio na festa era isso que transmitia.

— Pensei que era melhor que isso. — testei-o.

Aquele silêncio, nossas respirações, cada vez mais junto de mim. Mão no rosto, focando seu olhar para que não houvesse desentendimentos. Tocou em minha bochecha com seus lábios de forma delicada, mas que remexeu em tudo por dentro. Uma mistura de encantamento, vergonha e muito desejo.

Droga, sou mesmo apaixonada por ele.

— Valentina me pediu uns dias em nome da Valerie, para contar tudo o que aconteceu e pudéssemos encerrar esse assunto. A traição, drogas foram erros que ela cometeu, mas que também foi por não dar atenção. — rolei os olhos com a sua fala.

— Mesmo ausentes gostam de nos atrapalhar, parece que veio para terminar comigo. Chamou-me para falar de quem? — briguei, olhando para a imensidão tão brilhosa que me enfeitiçou ao virar-me para cima.

— Acho mais bonitas as garotas que gostam de observar a lua. — informou. Usando de brincadeira para o clima tornar-se mais leve, tentativa em vão por ter ocasionado o efeito contrário em mim.

— Quando começa com elogio algo ruim tem! — ainda teve a audácia de gargalhar da insegurança.

— Se preocupar é inútil, principalmente quando tudo termina em você, tratando-se de mim. Já disse que quero ficar contigo. — escutei novamente essas palavras.

— Por acaso contei que não quero namorar? Seria suficiente sermos amigos por enquanto? — recordei-o do momento da comemoração por ter ganhado o jogo, sendo que soube dias antes que tinha vencido a segunda partida das estaduais, ausentando-se um por conta disso.

Levantou-se e ficou por cima de mim, tampando a minha visão do céu. O sorriso de sua boca passava para os olhos, um brilho em sua íris que não perdiam para a paisagem estrelada que existia para admirarmos.

— Posso aguentar, porque eu te amo. Seria muito pouco para você? — questionou, demonstrando se tudo o que sentia em seu coração era pequeno para eu aceitar.

“Não se refere apenas a paixão”. Pai, desculpa em confirmar que estava errado, é o suficiente para encher-me de emoção, completando-me tanto ao ponto de transbordar.

— E você? Suportaria o meu amor? — confessei com verdade, sentindo a visão turva por estarem molhados. Ameaçando derramar por entre minha face. Notando que também encontrava-se abalado.

— É o que mais quero. — declarou antes de tomar-me em um beijo.

Sentamo-nos para apreciar um bolo de chocolate, permitindo-nos sermos infantis e bobos ao alimentarmos um ao outro. Apenas roubando selinhos enquanto todo o universo se apresentava para nós. Amizade colorida, quase namoro, o que tínhamos? Não, nem precisávamos de rótulo.

Com o nascer do sol quase anunciando mandamos mensagem para todas as pessoas do nosso grupo. Liguei para minha mãe para tranquiliza-la, durando um bom tempo de sermão e brigas. Algumas pessoas chegaram, como Charlie e Phil. Jordan e Belle nem nos responderam, talvez por estarem aproveitando. Quando viram que estávamos muito juntos ficaram surpresos e perguntando o que ocorria.

— Que foi? Até beijo já damos outro dia. — respondeu o Joshua, contando o meu maior segredo.

— O quê? — A Florewce berrou com a sua informação.

Ela ficou indo atrás de mim, tentando obter mais fofocas. Paramos quando a claridade resolveu sair, abraçados e conversando sobre outra coisa que não fosse a nossa relação indefinida. A minha mudança não se tratava apenas de amor, mas sim de bastante amizade. E se dissesse para a antiga eu riria, todavia estava gostando dessa vida de água com açúcar.   


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Notas finais do capítulo

Algumas curiosidades:

1 - Nesse capitulo Charlotte se encontraria com Nate, mas resolvi deixar subentendido que não ficariam mesmo juntos;
2 - Amie é uma pessoa que não se expressa muito bem, então resolvi não detalhar tanto o que sentia. Desculpe se acharem superficial;
3 - Decidi por o pai no 23 capitulo, quando lembrei o quanto ele foi importante.
4 - Deixei o lance do Josh e ela indefinido, até porque Amie não seria aquela que namoraria e seria romântica tão fácil;
5 - Nate e James vizinhos, pensei isso no penúltimo capitulo. Até para se defenderam. Amie não virou amiga deles, mas pensa na situação, assim como o pai. Até porque nem tudo poderia estar arrumadinho no final. Nossa vida não é assim.

O que acharam da conversa com o pai? Nate e James? Tudo isso, e do final com o Joshua, claro!

Quero muito, muito mesmo, saber a opinião de vocês. Se quiseram comentar com o que pensaram dos capítulos. A conversa, palpites sobre a conversa.

A imagem não é minha. Se tiver erros podem avisar.

Comentar me ajuda muito, ainda mais agora que chegou ao fim. Assim como quem quiser recomendar que nem as outras três divas me deixaria mega contente. Um presente e tanto, se acharem que mereço. Uma motivação com toda a certeza.

Até a próxima ficou, espero que possamos nos ver em outro momento. Muito obrigada a todos. Beijos.