Walzer escrita por Aislyn


Capítulo 1
Uma cena de amor




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Katsuya chegou animado à casa de Mikaru, se convidando para verem juntos um filme que havia escolhido. Contrariando sua vontade de chutar o garoto para longe dali e lembrá-lo que precisava trabalhar, mesmo sendo fim de semana, Mikaru acabou aceitando, dizendo a si mesmo que seria a boa ação do mês.

 

Pouco mais de dez minutos depois, Mikaru notou que havia algo de errado. O filme era chato, entediante, e isso explicava a sua falta de concentração, porém, não explicava os olhares que Katsuya lançava para si e depois para um ponto qualquer na sala. O namorado não era do tipo que perdia o interesse fácil e estarem juntos era uma prova disso.

 

— Qual o problema, garoto?

 

— Ah… nada! – fingiu um pequeno sobressalto, passando os dedos nervosamente pelos fios longos – Não tem problema nenhum, Mikaru-san.

 

— Aprendeu a mentir? – Mikaru encarou-o desconfiado, dando de ombros e se levantando do sofá, olhando com pouco caso para a televisão – Se quiser continuar vendo o filme, fique a vontade. Eu preciso trabalhar.

 

— Não menti… – mas a acusação foi o suficiente para deixá-lo envergonhado. Ele sabia que não estava realmente falando toda a verdade – Não gostou do filme?

 

— Não. – respondeu secamente, sem se importar se iria magoar o namorado. Não gostava de rodeios – Vou trabalhar lá no quarto.

 

— Espera! – Katsuya estendeu a mão com intenção de puxar o loirinho de volta, mas se conteve no último instante. Talvez devesse procurar outra pessoa…

 

— O que houve? – Mikaru virou-se para encará-lo, os braços cruzados à frente do corpo, a paciência se esvaindo mais um pouco.

 

— E-eu… preciso de ajuda…

 

— Com o que, garoto? – Mikaru voltou a se aproximar, sentando ao seu lado e pegando sua mão, entrelaçando os dedos num gesto tão raro entre eles.

 

— Bom… o colégio da Mayu, minha irmãzinha, vai fazer um evento cultural, envolvendo alguns costumes e danças de outros países e… bom… – Katsuya engoliu em seco, olhando de soslaio para o namorado e depois voltando a encarar suas mãos unidas. Ainda não acreditava que estava falando sobre aquilo com Mikaru. Era tão idiota e ao mesmo tempo estava tão nervoso, que não sabia com quem mais poderia conversar.

 

— Por que está tão nervoso em me contar seu problema? – Mikaru segurou a face de Katsuya entre suas mãos, obrigando o rapaz a encará-lo – Eu fiz alguma coisa pra não confiar em mim?

 

— Não! Claro que não! Você anda sendo tão carinhoso comigo… – Katsuya se inclinou à frente, apoiando o rosto contra o ombro de Mikaru, sentindo-o ficar tenso. Sabia que havia deixado o namorado com vergonha. Ele devia estar corado.

 

— Me conte… – a voz de Mikaru saiu baixa, enquanto sua mão pousava na cabeça do moreno, acariciando seus longos fios.

 

— Eu tenho duas semanas pra aprender a dançar valsa.

 

E o que eu tenho a ver com isso?” foi o primeiro pensamento que cruzou a mente de Mikaru, mas ele nada disse. Era seu namorado pedindo sua ajuda, afinal de contas…

 

Ajuda pra aprender a dançar…

 

Fora de cogitação!

 

— Boa sorte. – Mikaru deu alguns tapinhas nos ombros de Katsuya, atraindo um olhar confuso do rapaz.

 

— Não vai me ajudar? – Katsuya tentou não parecer desesperado, mas o tremor em sua voz o denunciou.

 

— Eu não danço.

 

— Mas… você já morou fora, não é? Deve conhecer alguns costumes de outros países… ou alguém que pode me ajudar!

 

— Não.

 

Katsuya abriu a boca para revidar, mas desistiu. Já havia pensado na possibilidade de Mikaru não saber dançar, então não devia ficar tão decepcionado. Esperava que ele conhecesse alguém que pudesse ajudá-lo, mas agora parecia uma ideia estranha, afinal não seria o tipo de pessoa com quem o executivo teria contato.

 

Suspirou longamente, encarando o chão por um instante. Teria que dizer a irmã que não participaria da apresentação com ela.

 

— Hm? – Katsuya ergueu o rosto, curioso com a mão que lhe era estendida.

 

— Levanta.

 

— O que…

 

— Anda logo, garoto!

 

Katsuya achou melhor não contrariar, pegando a mão do namorado e se levantando como fora ordenado. Mikaru guiou-os até o centro da sala, parando de frente para o namorado, colocando a mão esquerda dele em sua cintura, enquanto segurava a direita estendida.

 

— Pé direito a frente. Dois passos. – o loiro instruiu, puxando Katsuya na direção indicada – Pé direito para o lado. Dois passos. Ergua a cabeça! – e demonstrou novamente, levando-os naquela direção – Agora pé esquerdo. Dois passos atrás. – empurrou o rapaz na outra direção, puxando-o quando ele fez menção de dar um passo a mais – Eu disse dois! Agora dois para o lado esquerdo. Isso.

 

Ficaram parados no lugar por um instante. Katsuya assombrado demais para demonstrar qualquer reação. Havia visto um video, comentando dos passos básicos, mas tentar sozinho em casa e ali com o namorado foram coisas completamente diferentes. Mikaru fez parecer tão simples…

 

— Agora tente guiar. – o loiro tirou-o de seus devaneios, recebendo um olhar surpreso.

 

— Aprendeu a mentir? – repetiu as palavras ditas pelo namorado minutos atrás, sorrindo-lhe abertamente. Mikaru era cheio dos segredos. Só precisava saber onde procurar e encontraria muitas surpresas – Pensei que não soubesse dançar.

 

— E não sei. Agora tente guiar.

 

Katsuya riu baixinho, acenando em concordância e repetindo os passos que haviam dançado antes. Cada vez que olhava para os pés, Mikaru ralhava consigo. Aos poucos, foram dando alguns giros e ele foi conseguindo se mover com mais confiança, notando que os passos do namorado eram leves e ao mesmo tempo firmes. Ele sabia onde estava pisando, sem precisar olhar para o chão, mantendo aquela pose altiva.

 

— Obrigado, Mikaru-san. – Katsuya parou um passo no meio da dança, puxando o namorado para um abraço, tomando seus lábios num beijo.

 

Os dedos subiram pelas costas de Mikaru, encontrando um caminho até sua nuca, onde foi segurado firmemente, arrancando-lhe um gemido abafado pelos lábios de Katsuya. Talvez fosse consciente, talvez não, mas Katsuya retomou a dança, andando e girando com calma, até chegar ao sofá e cair por cima de Mikaru no móvel.

 

— Obrigado mesmo… – distribuiu vários beijos leves pela face de Mikaru, ignorando seus resmungos e protestos, sugando seus lábios para calar qualquer palavra, mas sem aprofundar o beijo, provocando o rapaz e obrigando-o a tomar a iniciativa em um beijo de verdade.

 

— Não é muito, mas espero ter ajudado…

 

— Claro que ajudou! – riu baixinho, mordendo-lhe a bochecha e depois o pescoço, fazendo-o ofegar e ganhando um tapa no braço de volta.

 

— Pare com isso… – Mikaru pediu, desviando o olhar, constrangido. Sabia que era uma atitude idiota e que só estavam os dois ali, mas alguns gestos ainda o pegavam desprevenido. E talvez fosse isso que tornasse o garoto tão especial em sua vida, essas pequenas surpresas e gestos inesperados.

 

— Eu amo você. – Katsuya declarou do nada, atraindo novamente o olhar de Mikaru para sua direção, dessa vez conseguindo ver o rubor tomar a face clara.

 

Mikaru abriu e fechou os lábios algumas vezes, sem conseguir pronunciar palavra alguma. Ele deveria responder da mesma forma, não é? Parecia tão estranho se imaginar dizendo aquelas palavras. Havia parado de acreditar no amor há tantos anos atrás…

 

— Shiii não precisa falar nada… – Katsuya cobriu-lhe novamente os lábios com um beijo, acariciando a face corada – Eu sei que você gosta de mim, isso já é suficiente. Você demonstra a sua maneira.

 

— E-eu… t-também… – veio a resposta baixa e tremida, carregada de insegura e sentimentos.

Mikaru tinha medo de não dar certo e um dia acabar, mas tinha mais medo de não aproveitar o momento e perder o garoto em seus braços por um erro seu.


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