Lucy se sentou e respirou fundo, tentando assim manter a calma. O papel ainda caído no chão agora era o menor de seus problemas, afinal... O que exatamente deveria fazer? Sentar e esperar? E ver Natsu e Happy indo embora?

Ela disse a ele, disse para que ouvisse e seguisse seu coração, e era isso o que Natsu estava fazendo, certo? Estava se curando... Sem ela?

Por que será que doía tanto?

Ela ia mostrar a ele um motivo para sorrir novamente! Iria criar dias felizes, muitos dias felizes, e daria a ele um motivo para agradecer por estar vivo. Um motivo para rir todos os dias, agradecer e festejar. Um motivo para que as coisas fossem como antes...

Natsu saíra em busca da felicidade, e sozinho ele encontraria um motivo para celebrar a vida. Engoliu em seco, tentando lutar contra seus sentimentos egoístas. Como estava escrito na carta, ele fora treinar e se fortalecer fisicamente — e quem sabe em seu coração também — e voltaria para vê-la em pelo menos um ano.

É isso, decidiu. Não podia, não devia ficar triste e ser egoísta. Se não pudesse se livrar desse sentimento horrível no meio-tempo, então teria que aprender a lidar com ele.

Lucy com certeza esperaria pelo retorno de Natsu.

~*~

Um ano pareceu passar mais devagar do que deveria. Após o anúncio do fim da Fairy Tail, Lucy realmente não sabia o que deveria fazer com sua vida. Sem seus pais, sem sua guilda e seu emprego, sem seus amigos, que se espalharam pelo continente tão rápido quanto podiam, o que mais ela teria sobrando?

Mais de uma vez sentou-se sozinha em seu quarto, releu a carta de Natsu e Happy e chorou. Sentia-se egoísta, abandonada e com medo. Lucy havia passado um ano viajando sozinha após fugir da casa de sua família, então por que não parecia saber lidar com aquele tipo de solidão? Parecia que aos poucos todos os seus amigos a estavam deixando de lado. Até mesmo invocar Loki, ex membro da Fairy Tail, parecia difícil agora...

Quando finalmente conseguiu um emprego, pouco depois do fim da guilda, parou de usar magia durante a maior parte do tempo. Não precisava lutar, então não tinha sentido incomodar seus espíritos durante o tempo livre deles. Plue fazia companhia a ela na maior parte das vezes em que estava em casa e era isso: mais ninguém com quem conversar, mais ninguém para saber o quanto ela era egoísta — e sinceramente, assim era bem melhor. Não queria mostrar aos outros esse seu lado ridículo: que não conseguia deixá-los irem e seguir em frente.

Como não foi capaz de se livrar desses sentimentos de criança egoísta, levou-os consigo durante aquele longo ano.

E sua maturidade cresceu um pouco, assim como seu cabelo.

E o de Natsu, que balançava para todos os lados quando ela o viu novamente.

Era seu trabalho, afinal, como repórter da revista Weekly Sorcerer, cobrir os jogos mágicos. Só de ver as lutas, já se sentia desconfortavelmente nostálgica, e pensar no resultado fazia com que preferisse mil vezes voltar para sua casa, em Magnólia, não em Crocus, e chorar sozinha.

Não havia realmente nada para ela lá, a felicidade tinha um nome e seu paradeiro era distante, ou ao menos era o que imaginava, afinal, ao final dos jogos, lá estava aquele desconhecido vestido de preto, de pé na porta da arena, agindo todo metido e começando a atacar a guilda vencedora.

Rapidamente reviu todas as possibilidades em sua mente. Tinha de juntar alguns magos na arena e tentar enfrentar aquele homem antes que ele usasse todo aquele calor que de repente começou a emanar para destruir o cenário!

Antes que sequer tivesse tempo de procurar, algo estalou em sua mente.

Calor?

E aquilo eram cabelos rosa?

A arena foi abaixo, assim como suas roupas e seu mundo, e tudo o que Lucy conseguia fazer era arregalar os olhos e encarar surpresa as madeixas dançantes, que pareciam em chamas, assim como aquelas mãos grandes que, Deus, ela ainda podia se lembrar tocando sua coxa, seus cabelos, seu queixo. Aqueles lábios quentes que uma vez a beijaram na testa sorriam de modo resoluto e obstinado, como se nada no mundo pudesse perturbar aquela felicidade e aquela loucura.

E nada as pararia.

Aquele era o sorriso verdadeiro.

Um fluxo de emoções encheu o peito da maga estelar e ela sentiu uma insana vontade de tremer, mesmo estando cercada por aquele calor arrebatador. A dor do último ano, a solidão, todos os sentimentos egoístas passaram como um rio por seu coração, mas o que colocou as lágrimas em seus olhos foi a felicidade.

Não podiam ser apenas as notas tristes da música aquelas a serem ouvidas, e ao som das próprias batidas de seu coração, Lucy se reergueu.

Quando ele a viu, o rosado sorriu, a cumprimentou e continuou a ser exatamente quem ele era.

E enquanto seu coração gritava bem vindo com todas as forças, Lucy sorriu de volta.