O girassol que vi aquele dia escrita por Camelia


Capítulo 1
Indesejado Recomeço




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Foi no meio de um dos invernos mais frios de toda a minha vida, a chuva forte parecia refletir a tempestade que se passava dentro de mim em relação a minha situação atual. Eu estava saindo de minha cidade natal, para morar junto com meu irmão e minha mãe, numa cidade abandonada por deus e sabe-se lá quando eu iria ver civilização de novo.
- Aria, está tudo bem? - Meu pai perguntava enquanto dirigia, abaixando o volume do rádio.
- Fora o fato de o carro parecer um freezer, eu estar indo para um lugar abandonado por deus e pior, o lugar deve ter uma internet horrível, o que eu vou fazer o dia inteiro? - Eu dizia ironicamente.
- Estudar para entrar em uma faculdade me parece uma ótima ideia. - Ele respondia, sério. - Você sabe o porque de você estar indo pra lá. Eu adoro a sua companhia, mas você precisa se afastar da sua antiga vidinha, encare isso como um novo começo e não aborreça muito a sua mãe.
Eu suspirei e concordei com ele. Essa mudança estava sendo discutida a meses e eu sabia que independente do que eu dissesse ela iria acontecer. Minha mãe e irmão estavam ambos ansiosos para me ver de novo, de acordo com o meu pai. Fazia anos que eu não via os dois, desde o divorcio dos meus pais quando ficou decidido a separação dos bens, incluindo pelo visto os próprios filhos.
Para falar a verdade, eu não lembrava muito bem dos dois, as vezes eu recebia telefonemas da minha mãe mas sempre me pareceu algo tão... distante, como se fosse mais uma obrigação por parte dela. É, talvez seja apenas rancor meu por ela nunca ter vindo me ver, mas até ai eu admito que eu tenho uma parcela de culpa, ofertas para ir vê-la não faltaram, só faltou vontade mesmo.
Era de se imaginar que eu estava nervosa, e muito.
- Estamos chegando já, é bom ir se preparando ai. - Meu pai me alertava.
Coloquei meu cachecol e luvas, enquanto jogava as minhas coisas que estavam espalhadas no banco de trás do carro dentro da mochila: fones de ouvido, celular, chocolate e balas.
Todas as casas pareciam meio iguais e as ruas meio vazias, fora uma ou duas pessoas. Eventualmente aparecia algum bar, alguma mercearia ou algo do gênero, mas não era dificil notar de que esse era um bairro completamente residencial.
- Chegamos. - Ele dizia enquanto parava não só o carro como o meu coração. Eu sentia o nervosismo me afetando como nunca havia me afetado antes agora.
Meu pai abria a porta do carro e saia, andando até a entrada de uma das casas e tocando a campainha. Depois de alguns minutos uma mulher saia, usando um avental e o cabelo preso em um rabo de cavalo, parecendo uma verdadeira dona de casa.
Ambos trocaram algumas palavras e vinham na direção do carro e pior, na minha direção. Havia chegado a hora. A porta do carro abria e lá estava eu, para todos verem. Eu saia do carro aos poucos, tentando evitar que o nervosismo ficasse pior.
- Aria! - Minha mãe me abraçava. - Faz tanto tempo que eu não te vejo, eu mal acredito que vamos viver juntas de agora em diante. - Ela beijava meu rosto e sorria para mim. - Entre, entre! Seu irmão está lá dentro. Quer entrar também, David?
- Posso tomar uma xícara de café? - Ele sorria para a minha mãe.
- Claro, eu preparo um para nós, entre.
Minha garganta estava tão seca que eu não conseguia nem pensar em falar que já me sentia um pouco mal.
A casa tinha cheiro de doce, um cheiro forte de canela, por assim dizer. A sala era extremamente decorada, com diversos quadros, tapete e até umas esculturazinhas, me lembrando a casa de minha avó.
Meu irmão estava sentado no sofá, bebendo uma lata de refrigerante enquanto assistia TV. Assim que eu entrei na casa seus olhos saltaram e ele parecia até ter engasgado.
- Drake! - Minha mãe falava em alto tom. - Pode parar de assistir TV e falar com o seu pai e sua irmã, por favor? Eu avisei que eles estavam chegando, não avisei?
Ele suspirou enquanto colocava a lata de refrigerante na mesa de centro e se levantava. O rapaz se aproximava de nós e eu mal conseguia o reconhecer, ele parecia tão diferente do que eu imaginava.
- Drake. - Meu pai estendia a mão.
- Pai. - Meu irmão respondia o gesto de meu pai com um aperto de mão.
- É bom ver você de novo. - Meu pai o puxava para um abraço, que foi aceito de maneira meio desengonçada.
Assim que os dois se afastaram, eu jurei que achei que meu pai ia chorar, mas talvez havia sido apenas impressão minha.
Drake olhou pra mim, sorriu e me abraçou, o que havia me assustado um pouco de inicio mas depois de alguns segundos meu nervosismo sumia um pouco.
- É bom ver você de novo. - Ele dizia sorrindo olhando para mim.
Fiz que sim com a cabeça, sem saber muito bem o que dizer.
- Drake, pegue as coisas dela no carro, seu pai viajou por um longo tempo então vá lá ajudar um pouquinhos. - Ela falava fazendo um gesto com a mão.
- Okay, Senhora. - Debochava.
Fui junto com o meu irmão no carro, pois além de eu estar bem desconfortável perto da minha mãe, eu não queria ver meu pai e ela conversando sobre o que havia acontecido a alguns meses atrás.
Meu irmão abria o porta malas do carro e tirava minhas duas malas, fechando o porta malas logo em seguida e olhando pra mim.
- Você não é muito de falar, né? - Ele ria.
- Ah, ahn... - Eu me enrolava com as palavras. - Desculpa, eu estou... meio nervosa... - Minha voz falhava.
- Calma, não precisa se esforçar pra conversar comigo, quero dizer, vamos ter um milhão de oportunidades pra fazer isso a partir de hoje. Eu só quero que você fique tranquila, okay? Deve ser bem estranho sair da capital e vir pra cá. - Ele pegava as malas e ia em direção da casa. - Você pode não acreditar, mas eu estou super feliz que você está aqui, quero compensar os anos que nós ficamos longe um do outro, sabe, aproveitar o restinho de adolescência que você tem para ser o irmão mais velho bacana.
Eu ri um pouco. Drake ao me ver com um sorriso no rosto parecia aliviado, acho que eu não era a única nervosa com essa coisa de mudança.
Entramos dentro da casa e podíamos ouvir nossos pais rindo na cozinha e o cheiro de café tomava a casa, um cheiro estranhamente confortante.
Subi para o segundo andar, Drake ia apresentar meu quarto. Aparentemente no andar de cima havia três quartos, o que me surpreendeu um pouco e me deixou com um sentimento de culpa, pois minha mãe podia ter esperado que eu viesse para cá o tempo todo.
Ele abriu a porta para o quarto no final do corredor, entrou e colocou minhas malas no chão. O quarto tinha paredes de um azul claro, havia uma cama perto da janela e uma mesa no canto do quarto, fora isso, havia algumas caixas fechadas em um canto.
- Desculpa pelas caixas, é que o quarto estava vago então... você entende, né? - Ele dizia sem jeito.
Sentei na cama e olhei pela janela, podia ver uma praça não muito longe daqui. Cheia de árvores, uma padaria, floricultura, entre outras lojas. Eu me pergunto se é muito longe daqui.
- Crianças!!! Venham se despedir do seu pai. - Minha mãe gritava do andar de baixo.
Desci as escadas com um aperto no coração, cada passo parecia que era uma estaca atravessando meu peito.
Olhei uma última vez para o meu pai, era tão estranho a sensação de que não ia acordar e achar os bilhetes dele pela casa, ver o dinheiro do almoço na mesa da cozinha ou as roupas largadas pela casa de vez em quando.
- Ei, eu vou vir te visitar, sabe disso né? - Ele suspirava enquanto me abraçava. - Não encare isso como uma despedida.
- Eu sei. - Eu sentia algumas lágrimas teimosas escorrendo pelo meu rosto. - Não vá ficar completamente perdido sem mim lá, okay? - Forcei um sorriso.
- Okay. - Ele beijava minha testa e sorria.
Depois disso, eu não pensei muito mais sobre o que estava acontecendo a minha volta. Meu pai se despediu dos outros dois e com um sorriso entrou no carro. Fiquei olhando o carro se afastar até não enxergá-lo mais, meu rosto encharcado de lágrimas. Ele não era o melhor pai do mundo, mas eu sentiria muita falta dele.
E esse iria ser o primeiro dia da minha nova vida.


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