Elevator escrita por Kass


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo


Enjoy!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/591321/chapter/1

Milo estava agoniado. Fizera de tudo, TUDO para que o evento não atrasasse e as coisas corressem dentro do tempo previsto, mas, por todos os deuses, por que Kanon tinha que ser tão desorganizado?! Não que ele próprio fosse um primor da organização, mas Kanon extrapolava! Era o único ser humano capaz de marcar a viagem de volta do principal palestrante do maldito festiva de literatura para UMA HORA ANTES DO FIM DA PALESTRA! E era exatamente o que o loiro se controlava para não berrar no telefone, pois estava no meio do maldito corredor da empresa. Do outro lado da linha, um pobre geminiano tentava se explicar.

– Mas, Milo, veja: aqui, na minha frente, está aberto o cronograma, o horário do vôo está certo, quem foi o idiota que mudou...

– Kanon. O idiota que mudou o cronograma foi VOCÊ, SEU... – os instintos gregos de Milo ameaçavam imperar e, a qualquer momento, o loiro começaria a gesticular como um louco ali mesmo, se não suspirasse fundo, fechando os olhos. Shaka, seu amigo indiano, dissera que funcionava. Chamou o elevador enquanto tentava não gritar. – qual é a data do documento que está aberto na sua frente, Kanon?

– 18 de Novembro.

– E quando foi a última reunião, Kanon?

– ... Eita, porra...

– Você é um imbecil, cara! – O elevador chegara e Milo já tinha posto um pé para dentro quando ouviu o outro devolver:

– Imbecil é você!

– Ah, foda-se, Kanon, você tem um dia pra tentar consertar essa merda!

– Não dá! O único vôo depois desse está completamente lotado, ele teria que esperar uma desistência!

– Não quero saber se o vôo está lotado, não quero saber se o avião vai explodir, sei, lá resolve!

– Tá bom, vou resolver, mas depois eu vou na sua casa, QUEBRAR A SUA CARA por falar assim comigo, seu merdinha!

– Você e mais quantos, retardado? – De tão distraído que estava com a briga infantil, nem percebera que ainda estava meio dentro e meio fora do elevador, e que um ruivo o observava, abismado com a conversa. – Você sabe que eu desço o braço em você e naquele clone que você chama de irmão a hora que eu quiser!

O homem dentro do elevador viu que aquilo estava indo longe demais. Que extrema falta de consideração! Tudo bem, era compreensível que aquele loiro meio amalucado à sua frente estava aflito por algum motivo, mas assim também era demais! Pigarreou alto, chamando a atenção do outro.

– Monsieur... pardon, mas eu preciso, de fato, que esse elevador se mova...

Milo olhou para si mesmo, chocado. Como assim, não tinha sequer se movido!? Deu um passo à frente, deixando a porta do elevador fechar-se e desligou o telefone na cara do amigo. Olhou para o homem ao seu lado, que estava impassível.

– Escute... erhm, mil perdões.

Silêncio.

– Moço?

Nada. Estava quase desistindo, quando notou um fio preto por entre os cabelos ruivos tão longos quanto os dele próprio. O rapaz estava ouvindo música! Sorriu levemente e tocou seu ombro, no que o ruivo virou a cabeça para o lado interrogativamente. Tirou o fone do ouvindo, falando novamente numa voz cheia e, ao mesmo tempo, ligeiramente rouca.

– Sim?

– Eu só queria pedir desculpas, sinceramente. Não percebi que o estava atrasando, de verdade...

– Uhm... Uhum! – E o ruivo tornou a pôr o fone no ouvido, se isolando de todo. Era impressão de Milo, ou fora completamente descartado? Não que esperasse um sorriso e um “não foi nada”, mas... o homem estava atrasado, devia estar pelo menos irritado! Esquisito...

Antes que pudesse pensar mais qualquer outra coisa, sentiu o elevador parar e preparou-se para sair. Mas a porta não abria!
O ruivo arregalou os olhos, desesperado. Estavam no vigésimo andar e o elevador tinha parado! Estamos presos! ele pensou e começou, involuntariamente a suar e tentar folgar o nó da gravata, fato que não escapou a Milo, que se adiantou e apertou o botão do elevador, tentando abri-lo.

– Ahm, acho que estamos presos aqui... Ei, ei, ei! – O escorpiano bendisse seus bons reflexos ao amparar o homem, que acabava de desmaiar. – Moço? Moço! – As batidinhas no rosto não estavam sendo efetivas. O elevador não abria e estava, de fato, ficando quente ali dentro. Sem ter mais o que fazer, Milo acomodou-se como pôde no chão, com o ruivo colo e suspirou, murmurando baixinho.

– Merda...

– Ah, merda, MERDA COMO É QUE ESSAS COISAS SÓ VÃO ACONTECER COMIGO? – O loiro se estapeava e gritava mentalmente, embora não tivesse culpa de o elevador ter parado. Imediatamente ergueu uma das pernas, deixando assim as pernas do ruivo desconhecido mais altas. Sabia que ajudava a oxigenar o cérebro. Afrouxou também a gravata do moço, abrindo os primeiros botões da camisa. É, as horas ouvindo sobre o aprendizado médico de Shaka acabaram sendo mesmo lucrativas. Mas agora, vejamos pensava Milo, virando o rosto do desmaiado para si. Era uma das técnicas a ser usadas em caso de desmaio, mas também era por curiosidade. Queria ver melhor o rosto élfico daquele serzinho desligado que lhe falara com sotaque francês, mas que na verdade parecia um irlandês, com aqueles cabelos. São ruivos de verdade, pensou enquanto ia imiscuindo seus dedos por entre os fios escandalosamente vermelhos. O rosto era pálido, típico de pessoas brancas que nunca tomavam sol, mas mesmo assim percebeu três sardas na ponta do nariz e mais algumas nas maçãs do rosto. Lindo, na verdade...


Os pensamentos escorpianos foram interrompidos pelos olhos castanho-avermelhados que se abriram em sua direção. O ruivo estava confuso, afinal por que diabos estaria deitado no colo de um homem que estava quase beijando seu nariz? Enrubescendo imediatamente, ele limpou a garganta, sentando-se de uma vez e vendo-se um pouco tonto.

– Ei, ei, vá com calma! Você estava desmaiado até agora, não levante assim! – Milo apoiou o outro, impedindo-o de se levantar.

– Onde estou?

– Erhm, no elevador, lembra... ficamos presos... ei, ei!!

À menor menção do elevador, o ruivo tinha começado a arquejar, como se alguém estivesse deixando-o sem ar. Os olhos iridescentes arregalados como duas bolas de gude. Milo ficou meio desesperado, mas algo tinha que ser feito!

– Ei, olhe pra mim. Olhe pra mim, porra! – Colocou as duas mãos no rosto do desconhecido e fê-lo encarar seus olhos. – Respire. Isso... com calma... daqui a pouco consertam, deve ter sido um defeito de nada.

– Não... tem... ar.. Não tem- a-ar... – Ele já estava arfando de novo.

– Calma! Concentra! Como é seu nome? – A cara confusa do outro não ajudava. – Me diz seu nome, anda!

– C-camus Alroy [1] Tenant

Ahá, Irlandês, não falei? A cabeça do escorpiano sempre se dividia em duas, nessas horas, e a metade que assistia de camarote exultava com a descoberta, soubesse Deus por quê – Onde você mora?

– Avenue Victor Hugo, sixième arrondissement [2]... – O ruivo sacudiu a cabeça. – Pra que esse interrogatório?

– Pra você ficar calmo, Camus. – Milo sorriu, vitorioso. Encontrara o primeiro claustrófobo da sua vida, e domara sua claustrofobia! Há!

– Bom... estou bastante calmo neste momento, merci... Qual seu nome mesmo?

– Milo Komninos. – O loiro estendeu a mão, que foi prontamente aceita. Antes que pudessem dizer qualquer coisa, porém, a luz veio abaixo. Camus instintivamente apertou em demasia a mão de Milo, que só conseguia pensar no ruivo à sua frente. Não conseguia ficar indiferente, sabendo que Camus estava passando mal!

– Milo! – A voz estava falha, Camus odiava estar nesse estado! Logo ele, tão contido... mas não havia espaço, não havia ar, não havia luz... sua respiração falhava, o que ia fazer? Desmaiar de novo? Não resolveria! Ficou nessa agonia até que sentiu a mão de Milo no seu rosto.

– Camus? Camus? Eu estou aqui, calma, calma! – Não adiantava. O que quer que estivesse deixando o ruivo em pânico, ele manteria para si. Só que o aperto em sua mão direita estava cada vez mais forte e a respiração do ruivo cada vez mais difícil. Como não sabia mais o que fazer, Milo o beijou. Assim. Do nada.

Camus afastou-se, um tanto atordoado. Aquele loiro maluco o tinha acabado de... beijar...? e que beijo! Aliás, avaliando bem... QUE LOIRO

– Melhor? – Perguntou Milo em condições não muito melhores. Que lábios tinha o ruivo!

– Seus métodos são bastante... heterodoxos. Geralmente é com um tapa que as pessoas "acalmam" umas às outras. – Camus tentava, enquanto falava, recuperar-se. Tateando, desligou o mp3 e guardou os fones de ouvido, que pendiam da camisa aberta, na pasta executiva. Em tudo isso era acompanhado pelo olhar interessado do loiro, que, depois dos olhos acostumados à escuridão, tentava ver o rosto do outro. Estava, na verdade, fazendo os cálculos necessários para beijá-lo novamente, sem agonias, dessa vez.

– Você teria preferido o tapa?

– Bien Sur que non! [3]

– Sua pele é tão branquinha... achei mesmo que não preferiria – Milo correu as pontas dos dedos pelo rosto do francesinho, acariciando a pele que mal enxergava, no escuro do elevador. Camus, entretido, quase inclinou-se ao toque, mas recuperou o bom senso a tempo.

– Desculpe ter dado tanto trabalho. Como percebeu, tenho certa... claustrofobia. Espaços muito apertados ou qualquer lugar de onde eu não possa sair me deixam... desconfortável.

O grego riu, cruzando os braços.

– Você é um homem bem comedido, não? Cioso de sua imagem, também, creio eu...

– Por que diz isso?

– Porque, quem o vê falando agora, jamais imaginaria que você entrou em pânico e desmaiou, agora há pouco.

– Bien...

– Ou que você seria tão... passional, num beijo...
Se houvesse luz, Milo certamente veria o rosto corado do francês, que estava meio indignado e meio excitado ao lembrar do beijo recente. E, na verdade, o ruivo não sabia se estava contrariado ou não com o acontecido. O beijo tinha sido... surpreendentemente quente! Disposto a rebater e ver aonde aquilo o levaria, Camus pigarreou e riu baixinho.

– Bien, quem o vê rusgando desordenadamente pelos corredores não o imagina tão competente num beijo...

– Ah, então me julga competente nesta matéria?

– Très compétent, vraiment... [4]

– Sabe, meu pai sempre dizia que devemos aproveitar e valorizar as pessoas competentes!

– Então, permita-me...

O beijo deixou Milo sem fôlego. Primeiro pela atitude do ruivo, mas muito mais pelo verdadeiro ataque que estava sofrendo. Pois Camus não se contentara em beija-lo, não...pelo visto, o rapaz levara bem a sério o que ouvira sobre aproveitar gente competente. Ele era um furacão! O grego mal conseguia acompanha-lo, marcando malignamente aquela pele branquinha com chupões que só seriam notados mais tarde, viajando com as mãos até as nádegas firmes e apertando-o contra si, roçando os corpos...

Os gemidos aumentaram quando roupas foram abertas, corpos se esfregaram e o ar ficou mais rarefeito. Terminaram nas mãos um do outro... e a luz se acendeu bem a tempo de surpreender Milo lambendo a mão, um ar meio sonhador no rosto...

Arrumaram-se sorrindo um para o outro e esperaram – tranquilamente dessa vez – que o elevador voltasse a funcionar, mantendo uma distância educada. Quando o elevador começou a descer, Camus foi agarrado pelo braço e puxado para outro beijo, urgente e profundo. Ao chegar no térreo, o ruivo simplesmente saiu, murmurando um “bon jour” descuidado. Milo, por sua vez, saiu e pegou o celular, vendo quatro chamadas perdidas de Kanon. Ia retornar, quando o número de Saga brilhou na tela.

– Oi, Saga...

– Quer dizer que você desce o braço a hora que quiser no meu irmão e no clone, que sou eu, é?

– Ah, Saga, vá à merda...




FIM


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

[1] -Alroy é um nome Irlandês. Porque, gente, na minha cabeça tem que ter uma ascendência irlandesa, pela fé!

[2] Camus é rÿca! A sixième é o trecho mais caro pra se morar em Paris, bjs.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Elevator" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.