I'm Not The Only One escrita por Mayra B


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Eu me inspirei na música linda e triste do Sam Smith: I'm not the only one, com a gostosa da Lady Di, então se vocês quiserem ler ouvindo a música vai ser uma boa combinação :3

Só pra ficar claro, tudo aquilo que estiver em itálico são lembranças, os diálogos, frases, absolutamente tudo em itálico.

É isso, espero que gostem.



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– Kurt, eu vou chegar tarde hoje. - Blaine dizia ao telefone e ouvira um suspiro de tristeza como resposta - Amor, eu tenho uma reunião importante hoje. Também queria estar com você.

– Tudo bem, não tem problema. - Kurt parecia conformado - Não é como se você tivesse marcado essa reunião. - o castanho dava de ombros como se o marido pudesse vê-lo, sentindo um nó apoderar-se de sua garganta.

– Eu te amo, amor. - Blaine se despediu carinhosamente, fazendo com que o nó apenas aumentasse.

– Apenas volte pros meus braços essa noite, está bem? - Kurt pedia, implorando internamente para que sua voz não tivesse saído tão suplicante quanto ouvira.

– Sempre. - e o marido desligara. O castanho ficara ouvindo o barulho do telefone por bons dois minutos antes de finalmente colocá-lo no gancho. As coisas ficavam mais complicadas com o nascer de cada dia e o cair de cada noite.

O homem olhava ao redor, o relógio não marcava mais que 18 horas, a mesa estava posta para dois. Passara tanto tempo cozinhando, perdera boa parte da manhã vendo vídeos de culinária para que o marido pudesse provar uma nova receita, para que eles pudessem comemorar o primeiro mês na casa nova. Mas tudo agora parecia tão em vão, tão sem sentido que o castanho se sentia bobo por pensar que seria diferente. Era quinta feira afinal. As coisas não mudariam.

Prendendo um suspiro ele se concentrou em desfazer a arrumação da mesa. Juntou os copos, guardou os pratos, jogou as velas em um canto qualquer da gaveta. Não precisaria de nenhuma daquelas coisas essa noite. Sabe-se lá quando precisaria.

Sentou-se junto à lareira e acendeu o fogo, aproveitou o fato de ter iniciado brando para que pudesse acender o cigarro. Um vício que tinha adquirido de todas as noites de quinta-feira, e algumas terças ocasionais, que passava sozinho. Guardava os cigarros como se fossem um ente querido, os queria como tal. E cada tragada o fazia sentir aquecido, mais até do que se instalar frente às chamas. Provavelmente tinha algo a ver com a tal dependência de nicotina que os jornais tanto falavam e que deixava qualquer professor de ensino médio com os cabelos em pé.

Enquanto soltava a fumaça, pensava em como tinha chegado a essa situação. Blaine e ele estavam casados há pouco mais de 4 anos e se todas as apostas que seus amigos fizeram se cumprissem, seriam o casal mais feliz e mais afortunado de todo o planeta.

Tinham se conhecido ainda no colégio quando Kurt fora espionar a concorrência para o coral. Se viram e se apaixonaram imediatamente. "Suas almas sabiam disso, mesmo que suas mentes e corpos ainda não tivessem se dado conta", Blaine dissera ao pedi-lo em casamento 2 anos depois.

Ele fora pra Nova York primeiro, já que era um ano mais velho. Tivera que se adaptar a não ter seu companheiro sempre que necessitava, os dois tiveram que aprender o que era suprir suas carências via Skype ou telefone. Talvez fosse possível dizer que a masturbação nunca fora tão utilizada por um casal de jovens adultos na história do mundo e esse pensamento nostálgico fazia Hummel sorrir.

Hummel-Anderson, ele se corrigia mentalmente. Estava orgulhoso de ter se casado com Blaine, mas ainda não conseguia se sentir um Anderson. Não sabia se era por prezar tanto o sobrenome de seu pai ou por não conseguir manter uma boa relação com a família do marido, excluindo Cooper dessa equação.

O cunhado era como um presente de Deus em sua vida, sempre preocupado com o bem estar do casal. Mas não importava o fato de não se sentir um Anderson, não precisava daquele nome a mais estampado agora em sua carteira de identidade para ter certeza de que pertencia ao moreno, em todos os termos que essa palavra implicava.

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E era por pertencer de uma maneira tão profunda àquele homem que se manteve firme quando as primeiras quintas aconteceram.

– Blaine, já é a sexta quinta feira que você chega tarde. Não são segundas, não são sextas, são sempre quintas. Você pode, por Deus, me dizer o que está acontecendo? - Kurt explodira quando vira o marido chegar em casa depois da meia noite. Considerando que seu trabalho terminava no máximo as 20 horas, alguma coisa estava errada.

– Achei que não acreditasse em Deus, Kurt. - Blaine retrucou, com a voz cansada, mas irônica. Ele viu o marido girar seus olhos descontente e completou - o que você acha que está acontecendo? - seus olhos estavam fixos nos azuis, buscando qualquer pista do que se passava em sua cabeça.

– Eu não sei, qualquer coisa pode estar acontecendo. - sentou-se na cama, descansando a cabeça entre as mãos, focalizando apenas na mancha do assoalho - Você chega tarde, não temos conversado muito e anda guardando seus problemas pra você. Eu tive que saber pela Rachel que vocês estavam tendo problemas com o novo cantor, Stefan eu acho. - suspirou pesadamente.

– Sebastian - o moreno corrigiu rapidamente e piscou contendo suas emoções, o que não passou despercebido por Hummel que levantara a cabeça notando a mudança no tom de voz do marido. Ele apenas deixou passar. E Blaine se ajoelhou frente a ele, tomando suas mãos entre as suas, fazendo com que seus olhos estivessem conectados. - Eu não sei o que você está pensando, mas está ficando louco. - disse deixando escapar uma risada fraca - Eu amo você, amor.

E ele selou seus lábios dando início a mais uma noite de prazer. Os toques, roces de mãos, olhares e suspiros. Eles se amaram. Bom, pelo menos Kurt o fez e o faria novamente quantas vezes fosse necessário, não importando quanto àquela frase piscasse em sua mente. "Está ficando louco".

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"Louco", ele dizia. E Hummel não pode deixar de rir amargamente ao acender outro cigarro, tragando logo em seguida. Quantas vezes ele não tinha se considerado assim durante o último ano de casamento? Quantos cigarros ele já não tinha tragado esperando que a tal loucura que se instalara em seu corpo fosse dissipada no ar assim como a fumaça que soltava pela boca?

Mas aquilo não era suficiente, nada seria suficiente para que aquela maldita dor cessasse. Por muito tempo ele apenas pensou que as coisas não eram realidade, ele entrara em uma espécie de universo paralelo, onde a realidade era uma mera capa que cismava em arruinar toda a sua pintura de vida feliz e sem desconfianças.

Kurt se deitou no chão e apenas chorou um choro que beirava a histeria. Ao mesmo tempo em que rogava aos céus que nada daquilo estivesse acontecendo, se arrependia por ter entregado seu coração sem nem pensar duas vezes ao mais incrível garoto de Ohio.

Seus ombros balançavam com tanta força pela quantidade de lágrimas que escapavam de seus olhos. Respirar parecia uma tarefa árdua nesses momentos, mas ele já tinha se acostumado. Era a sua rotina durante esses dias e ele não se importava mais, só se enrolava em si mesmo e tentava, ao abraçar o corpo, se manter inteiro.

O cigarro já havia sido esquecido no cinzeiro e o choro não parecia que teria fim, enquanto ele balbuciava algumas palavras sem sentido, fechando os olhos e lembrando-se da primeira vez em que todas as suas suspeitas tinham se confirmado.

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Era mais uma dessas quintas infernais que não o deixavam parar de olhar o relógio, quando ele chegou. O terno intacto, a pasta entre as mãos e um sorriso duvidoso nos lábios. Kurt estava sentado no sofá, apenas fingindo que estava assistindo ao documentário que passava, sabe-se lá Deus sobre o que.

Blaine se sentou ao seu lado e repousou a cabeça nas pernas do marido, deitando e esperando ser agraciado com algumas carícias. Como um cachorrinho.

E Kurt assim fez, passava os dedos entre os cabelos do moreno, notando que os cachos já estavam perto de aparecer. O que indicava que não era o primeiro a tocar naqueles fios, mas isso era apenas coisa de sua cabeça. Blaine sempre mexia no cabelo quando ficava nervoso.

Inspirou profundamente, balançando a cabeça e tentando fazer esse pensamento sumir. Mas foi nesse momento que sentiu uma fragrância desconhecida. Não era seu perfume e muito menos o do homem deitado em suas pernas. Era de alguém estranho.

Ele costumava guardar o perfume das pessoas, um hábito certamente questionável, porém que tinha virado corriqueiro. Já tinha se habituado a reconhecer cada quem por seu perfume e não mudaria isso agora. Por essa razão ele podia afirmar que aquele perfume pertencia a alguém que não conhecia.

Mas com certeza Blaine tinha parado pra visitar algum amigo no caminho de volta pra casa e por essa razão exalava mais de um cheiro. Completamente explicável e compreensível. “Como estava sendo bobo”, se repreendia.

E parou para observar o rosto do homem que jurara amar até o fim de seus dias. Ele tinha os olhos fechados e o bendito sorriso não deixara sua boca desde que entrara, como se estivesse lembrando algo que o fazia feliz.

E Kurt sorriu junto, porque tudo o que ele pedia quando fechava os olhos antes de dormir era que Blaine fosse feliz, que ele pudesse ter a honra de fazer com que o moreno sentisse pelo menos um terço do que ele próprio sentia.

Blaine virava o rosto, se escondendo e se aconchegando mais as pernas do castanho, fazendo uma leve carícia em seu joelho. Mas deixando seu pescoço exposto, mostrando uma marquinha roxa perto da gola da camisa que fez Kurt perder a respiração por um segundo e seu coração acelerar como as asas de um pássaro. Ele sabia o que aquilo significava e não tinha nenhuma desculpa para acobertar aquela prova que acendia ainda mais as desconfianças e trazia certeza a elas.

Com um suspiro resignado, não fez nada. Apenas continuou fazendo e recebendo carinhos, mesmo que pequenos de seu marido. Se antes ele tinha comparado Blaine a um cachorrinho, agora deveria ser ele a ser tachado assim. Tudo o que fazia era seguir seu dono, fazendo tudo o que fosse possível para garantir um lugar, mesmo o menor de todos, no coração de Anderson.

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O homem não sabia quanto tempo tinha se mantido no chão, mas decidiu levantar. O aparelho da Tv a cabo já indicava que passava das 23 horas e ele sabia que o marido logo estaria em casa, mas não estava com pressa. Jogou as cinzas no lixo da cozinha e caminhou para o quarto, abrindo o armário e pegando uma mala para repousá-la em cima da cama.

Todas as roupas da parte direita do armário foram agrupadas ali sem o menor cuidado, por sorte a mala era grande o bastante e se não fosse, ele não estava dando à mínima.

Depois de alguns minutos de tentativas conseguiu fechar o zíper e colocou a bagagem na sala, enquanto ia no banheiro pra lavar o rosto e juntar o que mais tivesse ali em uma mochila. Se olhando no espelho arrumou o penteado e mirou bem os olhos que o encaravam. Azul no vermelho. Respirou fundo molhando o rosto novamente antes de deixar o lugar com o que tinha separado em mãos.

Sentou no sofá e depois de fazer uma ligação com o celular, esperou. Cruzou as pernas, com a coragem fraquejando a cada movimento do ponteiro. Mas a voz de sua mãe ressoava baixinho em seus ouvidos. "Seja valente, Kurt. Porque apenas meninos valentes conseguem o que querem." Claro que na época ela falava sobre conseguir amiguinhos, já que ele sempre fora um garoto tímido. Porém o ensinamento que ouvira aos 7 anos de idade antes de entrar na escola servia muito bem agora e o fazia manter a compostura.

O barulho da fechadura o assustou, mas ele logo se endireitou no sofá esperando por quem chegava.

– Ei amor, desculpe a demora, mas você sabe como são essas reuniões e como Rachel gosta de fala .. - Blaine interrompeu o discurso quando deu de cara com um Kurt sério e uma mala no centro da sala. - K-kurt? O que é isso? - suas mãos gelavam e o suor começava a descer por sua espinha. - Por que essa mala?

– Você vive dizendo que eu estou ficando louco - Kurt levantou e começou a andar em direção ao marido, o moreno seguindo com os olhos cada movimento, escutando atentamente cada palavra. - Provavelmente, muito provavelmente, eu esteja - o castanho deu de ombros e deixou seu rosto a milímetros de distância do outro homem - Por continuar aqui depois de tudo - uma lágrima tinha escapado e Blaine tinha levantado a mão inconscientemente para secá-la, como fizera tantas outras vezes. Hummel aproveitou a carícia e fechou os olhos, ronronando como um gatinho.

Mas não demorou mais que um segundo para que abrisse os olhos e segurasse nas mãos de Blaine. Não demoraria nem mais um segundo pra fazer o que tinha de ser feito.

– Talvez meu coração sempre lhe pertença, mas o seu não é mais meu faz um tempo. - Anderson o olhava como se o visse pela primeira vez, não acreditando na cena pacífica e arrasadora que estava se desenhando na sua frente - Talvez eu não fosse suficiente, talvez eu tenha sido o culpado. - Kurt se afastou e pegou a mala e a mochila que o esperavam, andando lentamente até a porta, dando chance para um possível pedido de desculpas.

– Mas nós fizemos votos. - a voz embargada de Blaine o surpreendeu quando ele estava a ponto de girar a maçaneta. - Você não pode ignorar isso. - os soluços dele estavam ficando cada vez mais fortes e Kurt teve de segurar com muita força a vontade de soltar tudo e correr para os braços do marido como sempre fez.

– Nós fizemos - o castanho disse abrindo a porta e visualizando o táxi que o esperava na calçada, ainda sem se virar - E um deles foi fidelidade - disse enquanto virava e cravava o olhar no outro - Mas eu sei que não era o único.

E dizendo isso se foi, deixou a porta aberta para que Blaine o visse partir e tivesse em mente que não voltaria. Entrou no táxi, pedindo ao motorista que se dirigisse ao aeroporto. Podia ouvir os gritos do homem correndo atrás do carro, gritando seu nome e ignorando os vizinhos.

Deu uma última olhada pra trás e viu Blaine de joelhos na rua, chorando e gritando por ele. Seu coração suplicava para que ele desse meia volta, para que reconsiderasse, mas ele sabia que não era o único na vida de Anderson. E de agora pra frente não desejava ser mais nada, nada além de uma lembrança.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? Me digam, me digam :3



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