Just Girls escrita por Imagination


Capítulo 1
Annelise — Little Me.


Notas iniciais do capítulo

Me inspirei um pouco nessa música para escrever sobre essa ruivinha linda, se quiserem ouvir, está aqui: https://www.youtube.com/watch?v=vYCQz4gg5oY



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"Ela vive na sombra de uma garota sozinha

Voz tão silenciosa que você não ouve uma palavra

Sempre falando, mas ela não consegue ser ouvida

Você pode ver se prestar atenção nos olhos dela

Sei que ela é corajosa, mas é uma prisioneira por dentro

Com medo de falar, mas ela não sabe o por quê"

Annelise — Little Me.

Sempre tinha sido assim. Ela era a garota que orgulhava os pais, tirava as melhores notas da turma e sorria para qualquer provocação, nunca revidava, nunca abria a boca para falar coisas impróprias ou ficava infeliz. Tudo era verdade, menos uma coisa que todos achavam, eles acreditavam que uma garota com a vida feita não poderia chorar. Ora, ela também era humana e era apenas uma adolescente, uma garota frágil e com o destino feito, mas não por ela.

Como ninguém percebia?

No quarto bem decorado, cheio de enfeites meigos colados com cuidado nas paredes corais, havia uma estante. Cheia de prêmios estudantis e medalhas por olimpíadas tanto de matemática como de português. E dentro da mente havia outra estante, uma de cicatrizes, perdas, crises...

A cidade toda sabia que ela era ótima escrevendo, principalmente os dramas. Todos achavam que era talento ou imaginação, mas não, era o que ela realmente sentia e o que ninguém sabia era que as melhores histórias — as que ela fazia questão de esconder — eram sobre garotas frágeis, suicidas, sem coragem e sem rumo, cheias de medo que viviam pelos outros e se dependessem delas, elas nem teriam nascido, na imaginação das personagens, morrer era a melhor saída e isso se concretizava, sempre acabava em morte.

Suicídio.

A palavra martelava na cabeça como uma melodia lenta e tediosa, os olhos dela sempre viraram para os lados e achavam qualquer coisa que pudesse ajudar e quando o sentimento chegava até a garganta, lhe sufocando, ela olhava para uma foto que colora na parede. Os pais sorriam para a câmera e seguravam as mãos, pareciam realmente apaixonados, enquanto o irmão mais novo tinha um sorriso bem largo e as vestes estavam especáveis como sempre, os cabelos castanho-avermelhados brilhavam, poderia ser pelo flash ou até pela luz do sol, sinceramente ela não queria saber.

E então havia duas garotas. Gêmeas. Ruivas e sorridentes, postas lado a lado fazendo parecer a mesma pessoa, a única coisa que as diferenciavas eram os olhos e claro, os vestidos. Anne usava um vestido branco de rendas que iam até o calcanhar, cobriam seus braços completamente fazendo a menina parecer um belo anjo, puro e inocente, os cabelos estavam em um coque alto e firme, os olhos azuis brilhavam como o cabelo do irmão e ao seu lado, Antônia parecia uma estrela de filme mesmo com um vestido que sua mãe desaprovava, era preto e cobria parte das coxas grossas, colado ao corpo, parecia uma depravada como sua mãe disse, mas na visão da irmã ela parecia linda, sexy e o rosto delicado como de boneca e idêntico ao seu — a fazia parecer uma Barbie, só que ruiva e de olhos verdes intensos e provocantes.

As lágrimas rolavam pelo rosto, grossas, quentes e salgadas, os olhos azuis se destacam em meio à maquiagem que desmanchava pelo rosto. Ela adorava ser a garota certinha e de bom coração, só não aguentava pensar no dia que sua irmã fugirá. Definitivamente a garota não combinava nada com o ambiente, mas ela não precisa sumir completamente e não mandar nenhuma mensagem; sentia tanta falta, um pedaço dela tinha ido embora e pior, feito tudo ao seu redor desmoronar aos poucos.

Seus pais mal se encaravam e quando o faziam o clima ficava tenso, faíscas voavam entre as fitadas frias e cheias de ódio, ela já não gostava mais de fazer parte das refeições, sentia o seu irmão segurar as lágrimas todos os dias e ninguém se atrevia a trocar uma única palavra. A ruiva se pegava fitando o lugar da irmã como se ela fosse aparecer a qualquer momento, como se aquilo fosse só um sonho estúpido, ou melhor, um pesadelo.

O pior era quando se olhava no espelho. Tudo que ela via lembrava da irmã, mesmo elas não sendo completamente idênticas, tinham muito em comum na aparência, os cabelos principalmente. E tinha outra coisa que odiava quando se olhava no espelho: os cortes. Espalhados pelo corpo, deixando de fora um pedaço dos braços e das pernas, as únicas coisas que podia mostrar a qualquer hora.

Sua irmã era forte, corajosa, independente. Ela não. Se fosse teria ido embora há muito tempo, teria procurado um belo marido e arranjado um emprego maravilhoso.

Ela queria saber como a família perfeita poderia estar tão quebrada e como ninguém percebia. Como os seus pais não percebiam como ela precisava deles? Queria alguém para abraçar e mentir dizendo que iria passar e tudo ia ficar bem, porque ninguém se preocupava com ela? Todos não a amavam?

Falsos. Malditas pessoas faltas! Soluçou se entregando ao choro profundo, sentou ao chão e abraçou as pernas com força, as unhas apertavam a pele pedindo para sofrer; ela queria sofrer, queria que o corpo tirasse tudo da sua mente e sim, ela queria que fosse do pior jeito. Sofrer era bom, ela não entendia porque gostava de ver o sangue pingando na pia do banheiro, ela só sabia que era estranha e estava bem confusa.

Chorava assim que terminava de lavar as novas cicatrizes, sabia que ela era doente. Uma viciada em dor, talvez. Isso existe? Ela não sabia e não queria saber. Estava cansada de ver todos encarando com pena, ela não precisava desse sentimentalismo, odiava que olhasse para ela com outros olhos e também sabia que todos que viam ela na escola lembravam-se da menina alegre e animada que passava ali todas as manhãs.

Definitivamente eu não sou como ela. Pensou ao enfiar comprimidos na garganta que doeu em negação. Eu não preciso ser como ela. Mais e mais remédios entravam pela boca da menina que sorria sentindo o corpo amolecer, estava somente de lingerie e sentia o frio entrar pela janela, o vento bagunçava os seus cabelos vermelhos ou laranjas, ela gargalhou ao perceber que não sabia qual era a cor deles. Estava acontecendo.

Deitou na banheira cheia e fechou os olhos. Ao sono chegar ela foi afundando aos poucos, o corpo encostou-se ao fundo da banheira e a menina sentiu a água queimar a pele recém-cortada e entrando pelas narinas, num estalo quis voltar para cima, porém não tinha forças.

Uma luz chegou e ela perdeu todos os sentidos, a respiração tinha enfraquecido assim como o coração que batia lentamente a procura de ar. Deu uma gargalhada doentia ao sentir algo lhe puxando para outro lugar. Apagou. Acabou. Seus pais haviam perdido mais uma filha, seu irmão outra irmã e a cidade mais uma querida cidadã. "Venha, minha amiga" ela sorriu, depois de dezessete anos, ela finalmente tinha uma amiga, mesmo que não soubesse quem era. Nos seus devaneios loucos ela achou ser a morte, mas não poderia ser, poderia? Talv

{...}

Na noite anterior Annelise Bruckner foi encontrada pelo irmão Anthony; a menina estava morta, afogada na banheira do próprio quarto, cortes profundos foram encontrados no corpo e não há sinais de combate, acreditam em suicídio. Qualquer informação ligue para a polícia de Bristol. E agora voltando ás músicas...


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Notas finais do capítulo

Me digam, devo continuar?



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