(Enquanto) Não Estamos Juntos escrita por CarolHust


Capítulo 3
Apenas uma vez.


Notas iniciais do capítulo

Música do dia: Viva la vida.



Muito obrigada a todos que comentaram, estão acompanhando ou favoritaram. Adorei escrever esse capítulo, e espero que gostem.


Ah, e para quem gosta de Gruvia, eu tenho uma fanfic, chamada Somebody To You. Há uma shortfic Jerza inserida também. HEHE Tinha que fazer a propaganda, né?




Boa leitura ;)



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Aquele dia tinha sido terrível para ele.

Bem, não que ele não estivesse acostumado com alguns dias horríveis. Normalmente, no entanto, eles não passavam de ruins ou meio melancólicos. E aquele fora, inicialmente, o pior em um grande período.

Viver com Meredy e Ultear o alegrava imensamente, e isso o impedia de entristecer-se por completo. Definitivamente, a vida com elas era bem melhor para Jellal do que ficar isolado naquela cela de prisão − lá, não tinha como fugir dos seus pensamentos, muito menos como começar a pagar por seus pecados.

A cadeia não iria tirar o peso que tinha em suas costas. Ele refletiria, refletiria − sabia que agira erroneamente desde o momento em que recuperara suas lembranças. Se sentiria culpado, diferente da maioria dos detentos, que estimulavam brigas e criavam baderna. Ali dentro, ele nunca conseguiria se perdoar. Caso não tivesse fugido com elas, provavelmente passaria a vida inteira se lamentando.

O problema era que seus pesadelos vinham se tornando cada vez mais vívidos. Naquela noite, eles não haviam sido sobre Erza e tudo de ruim que poderia ocorrer a ela, como de costume. Em uma experiência inédita, ele se visualizara matando Simon de cada modo e ângulo possível. O que piorou tudo fato da cena que mais se repetiu foi a que realmente ocorrera.

Ele se afastou furtivamente do monte humano que era o interior da tenda que dividiam. Não havendo mais de uma, eles alegremente (ou por falta de opção) dormiam juntos. Quase todo o constrangimento entre os três tinha se extinguido com o passar dos anos.

No início, ele simplesmente se mantinha calado, escolhendo o silêncio como forma de expressar seu desejo de ficar sozinho. Quando elas conseguiram o fazer acreditar que havia uma mínima chance de Erza estar viva após o acidente na ilha, ele resolveu se abrir. Já era grato demais a elas por terem lhe apresentado à ideia de que se destruir internamente pelo resto da vida não era o suficiente para conseguir o perdão que tanto queriam. Ele nunca dissera, mas estivera solitário demais por tempo demais. Tinha esquecido um pouco a respeito de convivência social, até.

Em certos momentos, no entanto, cada um deles optava pela privacidade. Tiveram vidas complicadas demais para conseguirem contar tudo. Bem, claro que havia pessoas que conheciam tudo sobre eles e suas histórias. Esses eram aqueles que os faziam continuar lutando, os motivaram, aqueles que eles desejavam que fossem tão felizes quanto a Crime Socière poderia ter sido.

Para Meredy, essa pessoa era a própria Ultear. Para Ultear, esse era Gray Fullbuster, aprendiz da sua falecida mãe e quem a ajudara e enxergar o quão errada estava. E para ele...

Obviamente, era Erza Scarlet.

Mas eles quase nunca se encontravam, por escolha dele. E naquela manhã (apenas naquela), resolveu abrir uma pequena exceção. Poderia não falar com Erza, mas a visitaria à luz do dia pela primeira vez em anos. Precisava ficar perto da mulher. A memória de Simon o assombrava, e ele se sentia perdido.

Antes que pudesse mudar de ideia, correu para Magnólia. Eles nem estavam tão longe assim da cidade, afinal.

Quando alcançou a Fairy Hills, era o horário de almoço, e espiou a garota comendo através da janela. Sentia-se um stalker, envergonhado da sua insegurança em interagir com ela. Por que tinha medo de chegar perto demais.

Ficou ali por alguns minutos, apenas olhando para os seus cabelos, seu rosto, e sorrindo ao notar uma foto sua mal escondida atrás de uma caixa de joias. Quando acabou de almoçar, ela descansou, pintou, e então começou a folhear um caderno antigo.

Ele só pensava em como seria conversar com ela. Contar-lhe o que vinha fazendo, suas preocupações, e escutar tudo a respeito dela. Logo, o desejo de ouvir a sua voz se tornou forte demais, e ele se preparou para partir.

Tinha ficado mais tempo do que pensara. O sol já estava se pondo, e, provavelmente, Ultear e Meredy tinham passado a tarde procurando-o. Por mais essa razão, virou-se para pular do segundo andar do prédio.

Quando seu braço direito foi agarrado e ele forçado a se manter no lugar.

− Não vai entrar? – Erza perguntou, o deixando constrangido.

Ele sorriu, encarou a garota. Não havia saída.

Pulou por cima da grade da janela e entrou no quarto. Era estranho não apenas observar, e sim estar dentro do local. Erza, já tendo o soltado, o observava com as bochechas coradas.

− Não acredito que você ia fugir de novo. Acha que eu não sei?

− Não sabe do que? – ele estava confuso.

− Que você vive me observando?

Jellal arregalou os olhos e enrubesceu violentamente. Erza tinha sido irônica, como se tivesse notado aquilo há muito tempo. Pensando bem, ele não duvidava da possibilidade dela tê-lo sentido por perto desde o início.

Afinal, eles tinham uma certa habilidade: podiam sentir a presença e vida um do outro. Era por isso que ele passara meses se achando maluco enquanto estava na preso. Nunca conseguira convencer naturalmente da morte dela em Tenroujima, porque ainda sentia resquícios da sua existência. Encoberta, mas ela ainda estava lá. A informação fora algo que ele tivera que forçar-se a crer.

− O que faz aqui? É incomum vir em horários tão... Normais.

A Scarlet se sentou na grande poltrona de couro que havia no canto do cômodo.

− Eu... Venho sonhando com Simon.

Jellal tinha parado à frente dela.

− E...

− O que?

− Tem que ser uma coisa mais importante do que isso para você ficar assim.

Ele desistiu de dar voltas no assunto. Fazia isso o tempo todo com os outros, mas com Erza isso simplesmente não dava certo. Eles se conheciam demais. Desabou no chão à sua frente, de joelhos. Ela o encarou nos olhos com a severidade costumeira, e ele relembrou como era incrível ela se manter calma e justa na maioria das situações.

− Não sei se... – ele tentou se articular. – Eu venho fazendo tudo isso, salvando gente, mas... Não acho que isso algum dia vá apagar o que já aconteceu. Você é forte, Erza. Tremendamente. Mas só não sei se isso tudo vale à pena para mim. Se eu simplesmente...

− Morresse? – ela indagou raivosa. – Se suicidasse?

Os olhos dela estavam semicerrados, e ele podia notar que não faltava muito para que chorasse.

− O que eu quero dizer é que... Eu lembro como eu me senti quando matei Simon. Eu... – Jellal encarou as próprias mãos. – Eu gostei daquilo. Não vou conseguir apagar esse sentimento.

Erza segurou duas mãos com força.

− Você tem uma missão importante, lembra?

Jellal franziu as sobrancelhas. Ele não tinha exata certeza do que ela falava.

− Você vai achar Zeref e destruí-lo. Foi por isso que escapou. Você não vai apagar o que fez, vai se culpar por aquilo para sempre. – ela tentava ser o mais sincera possível. – O que importa é que você vai perceber que está fazendo a coisa certa, que você é uma pessoa boa. E é assim que vai se redimir. Você estava possuído, Jellal. E, se a opinião de todos não importa, saiba ao menos que eu não acho você um caso perdido. Nunca foi.

Ela afagou os cabelos do homem, com mais carinho do que ele costumava receber. Jellal já tinha se esquecido de todos os limites aos quais se impunha, por isso deixou-a continuar. A fala dela tinha dado a ele tudo o que precisava.

Ele se sentiu desprezível quando notou uma coisa: o motivo de ter ido ali foi porque ela sempre o fazia se sentir como se estivesse tudo bem, como se ele não fosse tão mal. Isso era incrível ao ponto de fazê-lo esquecer dos problemas.

Imediatamente, lembrou-se do porque ficava longe dela. Era tentador demais assumir a posição de frágil e deixar que ela o confortasse para sempre. Sua companhia, assim como o consumo de uma droga, tinha que vir acompanhada da moderação.

Os dois se encararam seriamente. A conexão era tão forte que apenas ao ficarem daquele jeito eles compreendiam um ao outro.

− Você não vai ser fraco! Tem algo a fazer, e, quando acabar, pode apostar que se não...!

Ela desviou o olhar, corada. Tinha falado demais.

− Erza?

Toda vez que ele buscava seus olhos, ela encarava um novo objeto. Jellal segurou seu rosto, forçando-a a encará-lo.

− Que quando você derrotasse Zeref, você tem que... Você vai... – ela suspirou pesadamente. – Desistir dessa vida, e... Viver aqui? S-sabe, a Fairy Tail tem as portas sempre abertas a novos magos, e seria ótimo. S-se você não tivesse onde ficar, eu...

Eu sorriso involuntário brotou nos lábios dele.

− Eu achava que era p-parte do motivo para você se motivar. Sabe, não se sentiria culpado ao ficar.

Os olhos dela brilhavam enquanto o encarava com esperança. Mesmo que não tivesse dito tudo claramente, ele sabia do que ela falava perfeitamente. Por que era o mesmo que ele sonhava. Quando duvidava, muitas vezes, se iria realmente atingir seu objetivo, aquilo era uma ótima razão para se seguir em frente.

− Mas eu entendo se...

Jellal não queria se lembrar do porque ficar longe. Eles tinham passado tanto tempo afastados, e ele queria esquecer os sentimentos ruins. Porque, verdadeiramente, para ele nada importava vencer Zeref, possivelmente ser glorificado, perdoado, e se vingar se ela não estivesse lá como seu grande prêmio.

Ele percebera isso desde que fora preso. Lembrara-se de como, ao Ultear parar de controla-lo na Torre do Paraíso, ele se sentiu um lixo por machucá-la e que governar o maior dos impérios não faria sentido sem ela. Por isso morreu: para salvá-la.

Ou achou que tinha morrido. Quando a pequena Wendy o acordou, Erza o tratou como o antigo Jellal, sabendo que ele nunca quisera fazer nada daquilo. Ao ser preso e ouvir que ela morrera, entrou em desespero. Não fazia sentido ele se punir, ao invés de morrer, se ele nunca tivesse como alcança-la.

Ela era o seu escudo contra a raiva que ele tinha de si mesmo. Ela o impedia de se destruir.

E tudo o que ele queria era tê-la em seus braços por um instante.

Ela não resistiu quando ele a abraçou de súbito. Demorou um pouco para reagir, mas logo eles estavam cara a cara, cada um encarando de perto e sentindo o cheiro do outro. A respiração de ambos estava pesada, e ele resolveu se aproximar. Precisava daquilo. Precisava de um pouco dela.

O beijo não foi violento, com língua, ou qualquer coisa que se esperasse de dois jovens que se amavam havia mais tempo do que podiam lembrar. Seus lábios mal se tocavam, deslizando um sobre o outro, e, então, se afastando. Para que tudo começasse outra vez.

Ao olhar de outro, poderia não parecer intenso, mas como era. Pela primeira vez, ambos agiam apenas de acordo com os seus desejos, sem pensar muito nas consequências.

Ela começou a chorar no meio de tudo aquilo. Era o alívio por saber que não estava sozinha, que ele sentia toda a saudade que ela também sentia. Por que seus braços a apertavam como se ele tivesse medo que ela pudesse fugir.

Jellal, relutantemente, a afastou depois de alguns minutos. Como ele queria que tivesse durado mais. Mas tinha que voltar à realidade. Como ela mesma dissera, não podia ser fraco. Erza acreditava nele.

Ele encostou sua testa na dela.

− Espere por mim. Por favor.

Ela riu de leve, e roubou-lhe mais um beijo estalado. Ambos desejavam voltar no tempo para começar tudo aquilo outra vez.

− Eu vou.

O garoto foi dando passos para trás, chegando até a cama dela, onde estava sua capa. Rapidamente a vestiu e se direcionou para a janela. Erza o observava apoiada no batente da porta do quarto, e estava evidente que quando ele saísse, ela iria chorar mais uma vez.

Só que de solidão.

− Eu vou voltar.

O Fernandes pulou pela janela para dentro da noite. Correu para longe, até seu acampamento.

Pelo menos, daquela vez, ele estava com uma lembrança recente do motivo para o qual tinha que viver. Conseguiria aguentar um bom tempo distante antes que tivesse que voltar para vê-la.

Sorriu ao lembrar-se do gosto de morango nos lábios dela.

− Tenho certeza de que vai.

Erza fechou a janela antes que, instintivamente, começasse a procurar por ele pelas ruas. Também tinha que ter paciência.


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Notas finais do capítulo

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