Projeto Eligio. escrita por P B Souza


Capítulo 3
Capítulo 3.


Notas iniciais do capítulo

Olá leitor! Espero que goste...



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Montanhas Tatras – 14h21min 9/04/2631

Anur apoiou o pé em uma pedra, olhou para cima e esticou o braço, mas quando o fez e os dedos se agarraram na rocha a pedra se soltou da montanha, ele despencou.

Rolou pela parede de rocha descendo mais onze metros até o patamar abaixo deles.

Salazar ouviu o som de rocha se soltando e do corpo rolando por ela, olhou para baixo vendo Anur caído em um dos patamares da montanha.

– Está bem? – Perguntou olhando para o corpo parado a baixo com os braços abertos, um dos braços balançando no ar para fora do patamar, se aquele pedaço de rocha fosse inclinado Anur despencaria rolando para a morte.

Não obteve resposta, então soltou as duas mãos da parede de rocha íngreme na qual se agarrava e caiu. Salazar se virou no ar durante a queda de três segundos até bater os pés contra a rocha do patamar e flexionar os joelhos absorvendo o impacto, quase não fez barulho. Anu estava deitado aos seus pés com os olhos fechados e uma risada surgindo em seu rosto.

– Precisava ter visto sua cara de preocupação. – Anur sorriu estendendo a mão, Salazar o puxou para cima enquanto a rocha onde estavam ia trincando.

– Vamos achar uma abertura, nem que seja para passar o resto do dia, o tempo está se fechando.

Os dois olharam para cima, nuvens negras como a noite tampavam o sol e um vento gelado e úmido soprava do leste para o norte, como de costume.

Salazar olhou para Anur e fez sinal para que ele subisse, Anur esticou as mãos novamente para as pedras e voltou a escalar, não que tivesse vontade, mas era o caminho mais rápido em meio a tantos outros.

Os dois estavam exaustos, a viagem de Rochandelly até ali levou dias, tomou tempo e usou de vários meios. Eles eram caçados não importava o caminho que fizessem, eram caçados simplesmente por serem quem eram, não importava se estavam no leste ou no sul, no oeste ou no norte, todo canto dos quatro reinos tinha pessoas dispostas a captura-los, vivos ou mortos.

Mas ali eles estavam livres, ou não. O quinto reino ou a antiga Eslováquia era uma pequena parcela de terra na vasta Europa dividida em quatro, aquela parte anos atrás era usada como solo neutro em discussões e em trocas, acordos ou alianças entre os quatro reinos.

Salazar fincou os dedos em uma rocha e olhou para seu lado, Anur não entendeu, mas Salazar usou ar pernas para saltar impulsionando o corpo com os braços e subindo no ar deixando as rochas para trás se inclinando para frente girando no ar, Anur fez o mesmo logo em seguida.

Os dois subiram três dezenas de metros no ar e despencaram metros acima de onde estavam e metros à frente de onde estavam. Agora vendo uma cratera enorme que se estendia por centenas de metros à frente deles com troncos de enormes arvores caídas na ruina que se abateu aquela montanha.

– Jardins Tatras. – Salazar balbuciou olhando a destruição na superfície da montanha que anos atrás era plana e cheia de vida, um jardim com lago e construções de arquitetura típica do século XII e XIII.

– O que restou deles! – Anur disse tremendo.

Os dois continuaram parados ali por alguns instantes, tinham conseguido subir antes da chuva. Agora o medo de entrar naquele buraco onde as trevas reinavam os inundava de uma forma que a água jamais conseguiria.

– O que viemos fazer aqui? – Anur perguntou incrédulo.

Salazar começou a andar até chegar na beirada de uma das rochas coberta por musgo, um raio cruzou os céus iluminando a tarde que parecia noite cerrada, eles podiam ver todo o quinto reino dali de cima mas nem mesmo davam atenção a isso. Anur olhou para o breu que as rochas de forma irregulares encaixadas ao acaso formavam deixando aberturas, ora grande o bastante para um exército passar ora estreitas de mais para um único homem atravessar.

– Terminar aquilo que começamos. – Foi a resposta de Salazar antes de tirar os pés da base de rocha e despencar na escuridão desaparecendo em silêncio indo ao coração da montanha pela segunda vez.

Dia da traição – 22/07/2603

Anur rodopiou com as barras de ferro como armas se defendendo do ataque contra suas costas. Era um de seus irmãos.

Salazar estava na beirada de um precipício de onde o som metálico das engrenagens funcionando subia. Um pouco mais acima outros Eligios brigavam, ou contra Eligios traidores ou contra os homens de Centinel.

A guerra na caverna dentro da montanha Tatras estava armada.

No âmago da montanha alguma coisa colapsava causando ruído e destruição.

Salazar empurrou sua lança que tinha quase o dobro de seu tamanho contra Crisfim, o som da madeira contra o metal da espada de Crisfim nem pode ser ouvido, os dois dançaram entre golpes e ataques sem nunca acertar um ao outro. A guerra continuava e Salazar quando girava para se defender ou esquivar via corpos caindo para o coração da montanha.

A montanha estava oca, uma enorme estrutura metálica construída do lado de dentro para suportar suas paredes de rocha, o vazio interno era apenas trevas, pontes ligando um lado ao outro e cabos de energia pendurados... O cenário se repetia do cume até o meio, então piorava ficando totalmente sem luz imergindo nas profundezas da terra, Salazar não fazia a menor ideia de quão fundo aquele buraco era.

Em outro lugar Anur se defendi de Takano que era incrivelmente rápido. Os dois corriam de um lado para o outro, Anur tentando fugir e Takano tentando o matar.

Do lado de fora da montanha a dois quilômetros de distância Alanor se ajoelhava na frente de Isaquias e Poleom.

– Mate ele agora enquanto ainda podemos...

– Escutemos o que ele tem a dizer primeiro. – Poleom argumentou, os dois olharam para Alanor de joelhos na frente do exército dos dois líderes de seus Reinos. Para aquela batalha O Sul e o Leste se uniram, mas o Norte e o Oeste se ausentaram de qualquer responsabilidade. – Diga o que veio fazer aqui.

– E porque dobrou os joelhos! – Isaquias acrescentou com sua voz áspera, nessa época eles ainda eram jovens.

Alanor era um dos Eligios, e coube a ele tentar dialogar, tentar evitar o que estava prestes a acontecer, eles não sabiam o que era, mas o céu estava coberto de uma energia densa e negra, a luz estava sendo erradicada, não eram nuvens escuras, era treva, indistinguível e indescritível, de alguma forma Centinel estava cobrindo as montanhas Tatras com trevas, e os outros quatro decidiram parar aquilo de uma vez por todas.

– Estamos cuidando do exército de Centinel, não precisam disparar, vão matar os outros...

– Acha que pode nos enganar? – Isaquias questionou dando um passo e parando na frente de Poleom. – Nossos soldados já disseram da traição...

– Seus homens estão mortos, massacrados por um exército, pelo exército de Centinel. – Alanor pareceu se zangar, as sobrancelhas se espremeram e os olhos se transformaram em fendas. – Não traímos vocês, não todos.

Aquilo era em parte verdade, Centinel disse algo para alguns dos Eligios, e essa informação fez com que eles deixassem de apoiar os quatro reis, os quatro líderes, os quatro mestres... Cada hora chamados de um jeito.

– Então existe traidores, e se não podemos contra vocês em campo temos que aproveitar o elemento surpresa. – Isaquias disse como se aquilo fosse o bastante para satisfaze-lo. – Liguem...

– Não. – Poleom interferiu. Atrás de quatro fileiras de cem soldados estava um carro militar enorme com um lança-míssil acoplado chiou se preparando para lançar ignorando o protesto de Poleom. Alanor estava alarmado. – Devemos achar outro jeito. Evitar a perca de vidas...

– Isaquias, meus irmãos...

– Olhem. – Isaquias apontou para seu exército, ele tinha trazido vinte e dois mil homens, Poleom trazia consigo mais dez mil. Os relatos eram que Centinel possuía vinte mil. – Esses homens estão dispostos a morrer porque eu os pedi, e se para salvar a vida deles é necessário que seus irmãos morram, então assim será. Preparem os misseis de impacto, vou ai dar as coordenadas.

Poleom olhou para Alanor e fez um sinal com a mão. Alanor parou, então Poleom se virou para Isaquias.

– É realmente isso que vai fazer? Nem sabemos o que tem dentro daquela montanha.

Isaquias olhou para o céu de onde luz alguma emanava, um manto de escuridão se estendia aumentando de tamanho a cada segundo, a montanha, estava vindo de lá, aquela máquina em seu interior estava gerando aquilo.

– Esse poder não deve ser usado por Centinel ou por ninguém. Sim, é isso que eu farei. – Isaquias disse com um dispositivo nas mãos calibrando o canhão.

Alanor olhou para o céu escuro, aquela massa negra subindo no ar cobrindo o azul do céu expulsava até mesmo as nuvens, embora não saísse da montanha era lá a única possível origem daquele evento, Centinel a dez anos havia enlouquecido e decidido que ninguém mais pisaria no seu reino, começou a tentar expandir com guerras fracassadas que custavam muitas vidas, então os Eligios foram criados para acabar com essa guerra de uma vez por todas, mas nunca conseguiam achar Centinel. Então essa máquina surgiu, capaz de cobrir os céus e acabar com a vida, os quatro líderes do norte do sul do leste e do oeste chegaram a um consenso, Centinel tinha que morrer, mas só Isaquias e Poleom estava disposto a fazer o necessário, e apenas Isaquias estava disposto a fazer tudo o que fosse necessário.

A arma, aquele canhão sobre rodas carregava quatro disparos, e agora estava pronto para atacar. Alanor não sabia o que era ou o que aquela arma fazia, mas sabia que seria catastrófico para Centinel e para os Eligios traidores, no entanto, seria catastrófico para os Eligios também, para seus irmãos.

De repente a mão de Poleom tocou seu ombro.

– Vá atrás deles, vou atrasar Isaquias mas ele está certo. Isso tem que acabar aqui, e com Eligios ao lado de Centinel... Ache seus irmãos e tire-os de lá, dez minutos, não garanto... Vá!

Alano fez que sim com a cabeça se virando, os pés rápidos iniciaram uma corrida levantando poeira. Poleom se virou para os soldados e começou a avançar passando pelas tropas indo até o carro militar.

– Precisa parar essa loucura. – Disse em tom de ordem.

– E irei, acabarei com a loucura de Centinel de uma vez por todas

– Criar aqueles Eligios custou uma fortuna Isaquias, destruí-los assim é burrice, ouviu o que Alanor disse...

– Que nos traíram. E eu disse que vão morrer. – Então Isaquias pegou o rádio preso ao colete em seu peito, ouviu a mensagem cheia de chiado e encarou Poleom com um olhar de decepção. – Mandou seu filhinho para tirar os outros da montanha?

– Como? – Poleom arregalou os olhou olhando para trás, olhando para a montanha, os soldados repassaram a conversa de Poleom para Isaquias, estava acabado, nem mesmo Alanor sobreviveria.

– Obrigado Rei do Leste – Isaquias disse abrindo um sorriso, então olhou para o operador do carro militar. – Pode disparar.

Alanor pulou mais uma vez quando ouviu duas explosões e olhou para os campos abaixo dele. Dois projeteis, dois misseis foram disparados contra a montanha, ele fechou os olhos sem ter para onde ir ou o que fazer, Poleom tinha o traído. Era seu fim, era o fim da guerra, era o fim de Centinel mas o que fez a lágrima escorrer no rosto de Alanor antes que tudo explodisse foi o fato de ser o fim de seus irmãos.

Salazar lá dentro caiu no chão deixando a lança rolar para longe de sua mão, tentou rastejar se empurrando com sua força, mas os braços de Crisfim agarraram sua perna e o puxaram de volta, então ele se virou de barriga para cima quando viu a espada de Crisfim descendo contra seu peito...

Uma explosão... Outra.

A montanha toda tremeu mais do que já tremia e as aberturas em seu cume se despedaçaram, Crisfim não terminou de fincar a lâmina, no peito de Salazar, caiu com o tremo, Salazar já caído conseguiu tempo para se levantar, mas apenas o bastante para escorregar novamente quando toda a montanha se desfez sob seus pés e ele caiu no breu que temia.

Lá no fundo a máquina de Centinel rugia como se falhasse, e focos de incêndio surgirão. Salazar despencava no ar junto de pedras pequenas, rochas enormes e corpos, alguns mortos, outros vivos gritando mas suas vozes não podiam ser ouvidas no meio de tanta destruição.

Ele não tinha como diminuir sua velocidade, a queda seria seu fim, assim como o de todos ali, subitamente se viu descansando em paz, e se lembrou de Alanor, imaginando sua cabeça separada de seu corpo por tentar a paz. A morte talvez fosse o melhor destino.

Montanhas Tatras – 19h58min 9/04/2631

– Não gosto de lembrar, lembrar daquela noite, ou dia. – Anur disse entre os tuneis que eles vasculhavam, tinham descido mais de mil metros, o caminho para o coração da montanha era outro, formado pelos destroços.

Tatras tinha sido palco de uma guerra rápida e cruel, agora era o cemitério de mais de vinte mil homens, todos os corpos podiam ser encontrados, corpos desfeitos, alguns já estavam decompostos com as roupas rasgadas sob os ossos cobertos pela pouca carne, os tuneis fediam em geral. As vezes encontravam armas, armações de colunas de sustentação e vigas, pedaços de pontes e passarelas.

– Então vamos terminar o serviço, assim nunca mais teremos que nos lembrar de nada.

Anur não saberia dizer se a resposta de Salazar o ajudou ou não, ele não estava disposto a entregar sua vida como Salazar estava, não queria morrer, tinha sobrevivido a muita coisa e vívido muitos anos, mais do que qualquer ser humano já sobreviveu ou viveu, sua vida não era apenas mais uma, ele não queria se entregar a morte no final de tudo.


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Notas finais do capítulo

Se gostou, comente! Se não gostou, comenta também :)
Poxa, você já gastou tempo lendo, gasta mais dois minutinhos escrevendo um Review pra ajudar o escritor do outro lado dessa tela de PC/celular.
Até o próximo!!!



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