Projeto Eligio. escrita por P B Souza


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores e leitoras! Bem-vindos a mais uma história.
Caso tenham vindo de A Era da Opressão (outra história minha) vão perceber algumas semelhanças, como nome da cidade, alguns eventos e informações totalmente irrelevantes para a trama em si, mas que ligam as duas fics no mesmo universo.
Caso não tenha vindo de A Era da Opressão, não tem problema, não precisa ler uma para entender a outra!
Desejo uma boa leitura!



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Nova Rochandelly – 7h44min 5/04/2831

*

O Prefeito de Rochandelly ajeitou seu traje se olhando no espelho ainda antes de entrar na sacada para o grande dia. Seus olhos brilhavam, sua pele estava clara e seus cabelos penteado fio por fio. O traje, um típico gibão sofisticado descia dos seus ombros rumo aos cotovelos em um verde musgo intenso junto dos desenhos em linhas douradas por todo o tecido. Por baixo do gibão a roupa era negra, afinal, a ocasião seria seguida por luto e tristeza nacional.

Ele respirou fundo garantindo que tudo estava como deveria estar, então confiante deu um passo à frente se virando, encarava a saída do corredor para a sacada da praça do palácio do governo. O fervor era intenso e ele podia imaginar a visão que o aguardava.

As cortinas de um vermelho escuro foram puxadas pelos serventes, um de cada lado do corredor. A luz do sol matutino invadiu o corredor batendo contra o corpo do Prefeito, o dourado da roupa brilhou. Ele pode ver na sacada alguns homens já em pé em sinal de respeito.

Cruzou o portal de concreto e mármore branco do palácio ouvindo as trombetas, o povo se esticando, levantando braços ao céu, pulando, berrando e fazendo alvoroço. De queixo erguido olhando em linha reta para um prédio qualquer do outro lado da enorme praça o Prefeito acenou, para ninguém em especial o que tornou seu aceno voltado para todos!

A multidão festejou com mais força e o escândalo era enorme, tão grande que falar se tornava algo complicado. Aquilo era o amor, o amor que o povo nutria por ele, e esse amor possuía uma igual parte em respeito.

A praça estava tomada por pessoas, milhares, no centro da construção um palanque erguido em ferro e granito a dois metros do chão com uma ponte ligando o palanque até o prédio do lado leste da praça que era na verdade uma delegacia dividida com prisão e centro de justiça social.

O Prefeito considerou o que estava prestes a fazer e como aquilo, aquele ato, marcaria sua vida, sua carreira e a história do mundo como nunca nada conseguiu marcar. Ele seria lembrado por gerações e gerações, seu nome seria dito toda vez que falassem de justiça. Aquele dia a humanidade concertaria o erro, arrumaria o que eles próprios fizeram de errado, criar a arma perfeita, naquele dia eles garantiriam a paz!

Ainda em pé o Prefeito se virou para um dos homens, apertou sua mão em um cumprimento, virou-se para o outro lado e repetiu o gesto com o outro homem, atrás deles colados as paredes estavam dois guardas usando mantos como capas e armaduras brilhantes segurando lanças com foices curvas e pontas metálicas no corpo de metal da arma medieval, o que não impedia e na cintura um revolver existir do outro lado dois pentes de munição.

Então o Prefeito levantou os dois braços fazendo um sinal ao cruzar as mãos e as descruzar em um gesto delicado, toda a praça se calou.

Como se combinado o silêncio surgiu e era como se algo tivesse atingido o lugar e todo dormissem. Rostos curiosos olhavam para cima enquanto o Prefeito olhava para baixo no meio da praça no palanque ainda vazio. Foi quando ouviu o homem a sua direita chamar alguém pelos rádios.

Ele limpou a garganta e enfiou uma mão no bolso ligando o microfone preso ao seu gibão de luxo no interior do tecido.

– Hoje – ele bradou alto, sua voz reverberou por todos os cantos atingindo cada um dos milhares de pessoas, era uma voz forte e respeitável que condizia perfeitamente com a aparência daquele homem. – é com imenso desprazer e tristeza – Colocava ênfase nas palavras de forma a dramatizar seu texto o qual ele fazia o possível para não parecer decorado – que nos despedimos do primeiro Herói, tal como por muito tempo foi chamado.

Houve silêncio quando lá em baixo na ponte do palanque as portas do prédio se abriram, primeiro um homem inteiro vestido de negro carregando uma foice do tamanho de uma espada montante saiu, depois dois guardas, mais três guardas em fila e um deles empurrando um prisioneiro e mais dois guardas por último.

– É trazido até você para que vejam que aqui está sendo encerrada mais uma parte do projeto que transformou a vida de todos no que é hoje, essa prisão a céu aberto onde temos medo e pavor do que nos pode acontecer apenas porque homens como este ainda existem. Hoje, é trazido a vocês o primeiro a ser criado, e o primeiro a ser executado. – O Prefeito disse abaixando sua voz de um grito estrondoso para um tom calmo e triste. Então estendeu o braço dando lugar para o homem a sua esquerda.

O Juiz deu um passo à frente se apoiando na balaustrada da sacada e imaginando quantas pessoas existiam ali. Então voltou a si e começou a desempenhar seu papel.

– Tal como estipulado há quarenta e sete anos atrás a lei de prisão e execução de Eligios remanescentes permitida pela cúpula da rosa será hoje executada pela primeira vez na cidade de Nova Rochandelly com o objetivo eliminar um dos males que afligi está terra, e assim, torna-la um lugar melhor! – Sua voz era esganiçada e mal desenhada falhando em certas partes saindo mais aguda em outras, um terror aos ouvidos.

O Prefeito voltou a frente enquanto o Juiz dava um passo para trás.

– Tomando todas as leis para o julgamento do réu não existe direitos que conceda a este, liberdade, redução de pena, objeção ou tentativa de defesa. O réu será executado de acordo com a lei. – Foram as palavras do Prefeito, e elas soaram sombrias. No mesmo instante o carrasco vestido de negro com a foice, os guardas e o prisioneiro surgiram no meio do palanque. – Coloquem o prisioneiro no meio do palanque onde ele pagará pelos seus crimes.

Lá no palanque o homem, um homem forte de aparência rústica e resistente foi empurrado para frente e ajoelhado. Ele, claro, só se ajoelhou porque quis, mesmo sendo prisioneiro e notavelmente estando em péssimo estado o homem mantinha músculos e físico fortes o bastante para resistir a qualquer empurrão, desse modo a única coisa que parecia razoável era o fato do homem ter se entregado e não capturado.

O Prefeito se calou por alguns instantes enquanto os preparativos eram feitos, o homem se ajoelhou, seus cabelos sujos caiam até o ombro e os fios grudavam um no outro formando vários ramos diferentes separados um do outro, o rosto era quadrado e queixo não era fino a barba crescia irregular como se estivesse preso a mais de um mês privado de se barbear. Os olhos eram azuis e a pele branca levemente bronzeada pelo sol, não possuía cicatrizes embora tivesse estado em várias guerras, mas como poderia ter cicatrizes? Usava um traje de prisioneiro, camisa e calças cinzas de flanela, uma sandália velha que provavelmente já tinha sido usada por muitos.

Então para a surpresa de muitos ele falou.

– Do que estou sendo acusado? – Havia sido posicionado de joelhos e cabeça baixa virado para o lado do palácio do governo. Então sem levantar a cabeça ele apenas levantou os olhos enxergando por entre os fios de cabelo grudados a sacada.

Ele e o Prefeito mesmo a distância trocaram um olhar frio, nenhum deles hesitou, ninguém tinha ouvido o prisioneiro além daqueles próximos a ele e do Prefeito e o Juiz que possuíam fones repassando o som dos microfones dos guardas no palanque.

– Assassinato, tortura, espancamento, desacato, invasão, ameaça, perturbação da paz, violação de conduta, traição... – O Juiz parou, talvez só aquilo bastasse, a lista era enorme. Dessa vez sua voz não desrespeitou o réu ou foi esganiçada como anteriormente.

– Juiz, como bom conhecedor da história, que eu creio que seja, – O homem de cabelos sujos e barba mal feita ajoelhado a sombra da foice disse. – deve saber com que motivo eu fui criado.

– Com o motivo de salvar vidas, não de destruí-las. – O Prefeito objetou impaciente como se aquilo chegasse a ser um abuso, uma afronta a sua autoridade, sua voz estava aumentada e ele perdia os eixos.

– Cada homem e mulher que matei mataria o dobro por dinheiro. – O prisioneiro disse com sua voz ainda calma e tranquila, como se não quisesse discutir, mas era justamente isso que estava causando a discussão e prolongando sua vida.

As pessoas na praça não entendiam nada, só podiam ouvir a voz do Prefeito e ocasionalmente o Juiz que abria a boca para falar, mas o prefeito se precipitou nos balaústres com fúria.

– E mataste-os por que? – O Prefeito rugiu em sua fúria e o homem lá em baixo abriu um sorriso silencioso, seus dentes eram perfeitos e brancos, ele não estava contente, mas tinha chegado onde queria.

– Para que o senhor continuasse vivo! – Foi a resposta. Ele queria que a praça inteira tivesse ouvido, viu o prefeito lá em cima perder as palavras. – Por isso os matei. Foi para isso que fui criado.

Então em um minuto de silêncio o Prefeito ainda não possuía resposta, o Juiz tomou a frente percebendo que aquilo já havia passado dos limites.

– Últimas palavras? – Perguntou, não queria, mas era a lei.

Lá em baixo o prisioneiro levantou a cabeça desobedecendo as regras.

- Minhas últimas palavras não serão ditas hoje. – Disse em tom de ameaça.

Um dos guardas colocou a mão na sua cabeça o empurrando para baixo, ele não abaixou a cabeça, o guarda depositou mais força na mão.

O prisioneiro se girou puxando a cabeça para o lado e se levantando, o guarda que fazia força caiu perdendo o apoio e se estatelou no chão. Foi um único segundo e todos os guardas que estavam em cima do palanque avançaram contra ele, o prisioneiro porem não tinha intenções de ficar ali ou lutar contra nenhum deles, flexionou os joelhos e saltou esticando os braços no ar e subindo.

O palanque vibrou e os guardas foram jogados para trás ciando de costas no chão do palanque com o impacto causado pela “partida” do prisioneiro.

Do outro lado o Prefeito viu um risco subir no céu e se virou para fugir, mas o prisioneiro caiu no meio da sacada.

O Juiz foi o mais lento e ainda se virava quando viu o Prefeito rendido pelo prisioneiro que o segurava como um escudo humano, o Prefeito não parecia resistir, sabia que era inútil tentar.

– Solte-o. – O Juiz berrou com sua voz mal feita. – Guardas...

Chamou por ajuda, mas não tinha mais nenhum guarda consciente ali, dois que estavam de sentinela na sacada tinham sido nocauteados em um silêncio duvidoso.

– Quem sou eu? – Ele perguntou com o rosto colado ao ouvido do prefeito, as palavras roucas soaram como as de um fantasma.

– Salazar, o traidor. – O Prefeito respondeu.

– Eu sou uma arma viva! Meu propósito é eliminar um inimigo e depois que isto for feito podem me matar, até lá não tem me achar, não vão conseguir.

– Já lhe peguei uma vez não será...

– Não! – Salazar disse soltando o Prefeito que cambaleou para frente girando para poder encarar o prisioneiro, guardas vinham do corredor. – Eu deixei que me prendessem.

Por um momento o Prefeito encarou Salazar nos olhos, tudo que via era marcas de dor, ódio, fúria, raiva e fracasso, não conseguia ver a traição, mas sabia que ela estava lá. A única coisa que existia naquele homem era a missão, não existia amor, compaixão, amizade ou condescendência, apenas a missão. Então Salazar se inclinou para trás quando a parede ao seu lado estourou com um tiro que teria o matado.

Sem nenhuma outra palavra Salazar se abaixou e pulou novamente subindo ainda mais alto no céu, o Prefeito olhou para o homem desaparecendo no horizonte dos prédios enquanto caia do seu salto. Ouviu o concreto e o mármore se rachando em seus pés, aquele homem tinha uma força indescritível, não apenas física mas força de vontade, o que é muito mais importante.

O Prefeito viu o homem desaparecer, incapaz de impedir, incapaz como sempre foi entendendo que aquilo só acabaria quando aqueles seres humanos excepcionais decidissem que era hora de acabar.


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Notas finais do capítulo

Eu ia começar com um prólogo explicando detalhadamente como essa cena aconteceu, como que Salazar foi preso e como que ele ganhou essas habilidades. Mas mudei de ideia, no decorrer do livro vou ir explicando e deixar que vocês juntem as peças no final! Obrigado por ler e espero que tenham gostado.
Se puder, deixem um comentário falando sobre o que gostou e o que acha que pode ser melhorado, críticas sugestões e correções... O que mais quiserem.
Até o próximo capítulo!