Olhar para ele... Poder vê-lo de novo depois daquele longo e solitário ano... Seus olhos pegando fogo e enfrentando os meus... Era como encher meus vazios pulmões de ar... Sua voz alegre pronunciando meu nome... Lucy... Soava como um poema aos meus ouvidos... Os cabelos estranhamente rosados mais compridos do que nunca adornando seu sorridente rosto... Aquilo... Ele... Meu coração simplesmente não aguentava, quando dei por mim, minhas pernas corriam com toda sua força, corriam como se minha vida dependesse daquilo, como se o mundo fosse se desmanchar abaixo de mim, como se nada mais existisse... Era de mais para minha cabeça, eu não conseguia raciocinar, o rosto dele estava marcado em minha visão e eu irracionalmente não enxergava nada mais a minha frente, o nó em minha garganta pulsava, minhas cordas vocais só conseguiam formar uma palavra... Seu nome... Natsu...

Meu corpo sabia muito bem o que queria, queria chegar até ele... Mas o medo, por um momento me dominou, e quando finalmente consegui descer aquelas intermináveis escadas, simplesmente não consegui abrir aquela porta, era apavorante... E se fosse apenas mais uma pegadinha de minha mente deturpada? Mais um dos pesadelos diários? Os mesmos que sempre acabavam com toda a minha esperança pela manha... E se fosse real? Isso talvez, era o que mais me apavorava... Se fosse real... como seria? Como eu olharia em seus olhos depois daquele longo ano? Como ele olharia para os meus? Eu tinha medo, muito medo de que tudo fosse diferente... Mas tinha medo, ainda mais medo, de que fosse tudo igual... Não... Eu não aguentaria que tudo fosse exatamente igual... Não depois daquele ano, não depois de finalmente aceitar o sentimento que habitava meu coração, não depois de ser deixada para trás tão facilmente... Não depois de perceber o tamanho da falta que sua presença me fazia...

O aterrorizante barulho das portas se abrindo a minha frente... La estava ele, parado diante de meus olhos... Estonteantemente lindo como sempre... Aqueles olhos que brilhavam com intensa alegria de me ver novamente... Aquele olhar totalmente direcionado a mim levou todo o medo embora, levou todo o tremor, todo o espanto, toda a agonia que me consumiu por todo aquele tempo...

Um pequeno passo foi o máximo que eu consegui dar, e ao esticar o braço em sua direção, e tocar sua pele... Tocar seu ombro... Aquela marca que nos uniu por tanto tempo... A ponta de meus dedos tocando sua pele foi o suficiente para absorver todo o calor de seu corpo e me preencher novamente com uma alegria que a muito tempo havia se esvaído... Como fui boba... como se aquele simples toque fosse ser o suficiente para ele.

Segurou firme o meu pulso, forte o suficiente para não me deixar escapar por entre seus dedos, e com a mesma força ele me puxou em sua direção, cobrindo-me com seus braços e cercando-me com seu calor... O cheiro dele me anestesiando lentamente, o costumeiro ar quente ao seu redor, sua pele pegando fogo e a respiração ofegante em meu pescoço... Aquele abraço... Aquele gesto que eu tanto desejei, que eu tanto ansiei por todo aquele tempo... A sensação de estar em seus braços novamente... Era ridículo como eu me sentia em casa quando meu rosto descansava em seu peito... Tudo ao meu redor desapareceu, tudo sumiu, virou pó... Meus sentidos se apagaram, minha voz me abandonou, a força em minhas pernas me deixou... Tudo que eu conseguia sentir era seu toque em minha pele, me apertando mais e mais, carinhosamente mais, constantemente mais... E então, tudo sumiu!

Meus olhos se abriram lentamente... O teto de meu antigo apartamento, aquele teto que eu via todas as manhas, fechei os olhos novamente, e virei-me, agarrando com toda a força que tinha aquele travesseiro que me assistia todas as manhas e amparava minhas lagrimas por horas sem fim... Mais um de meus sonhos...? O ar que puxei em minhas narinas encheram meu peito de alegria novamente... O cheiro de meus lençóis, misturando-se com aquele cheiro forte, o cheiro que emanava da pele dele... Lentamente, abri meus olhos mais uma vez, e deparei-me com aquele par me encarando, tão de perto, que me deixava sem ar...

_Lucy, você está doente?

Sua voz preocupada e desorientada ecoando naquele quarto triste, afoguei meu rosto nos lençóis, impedindo-o de ver o sorriso que brotava incontrolavelmente em meus lábios, e sua voz mais uma vez soou no vazio daquele lugar “Happy, rápido, vá trazer algum remédio”. O barulho da janela batendo logo depois do contagiante “aye sir” fez meu coração palpitar de alegria...

Ao me sentar na cama, ainda com os olhos baixos, eu pude sentir ele se aproximar e sentar-se a meu lado. Bom, essa era a hora, em algum momento eu teria que encará-lo afinal... Mas assim que levantei o rosto e o mirei, percebi que tão de perto, ele poderia ver minhas bochechas corarem, bobo... Era tão fácil distrai-lo, e decidi colocar isso em pratica, me poupando de ter seus olhos vidrados nos meus por mais algum tempo...

_Você me abandonou! - A resposta que veio a seguir, com certeza não era a que eu estava esperando.

_Nunca. Eu jamais abandonaria você Lucy. - Seus olhos eram extremamente confiantes naquele momento, e logo, aquela alegria tão contagiante tomou conta de seu tom de voz novamente... - Eu até lhe deixei uma carta. Por acaso você não sabe ler? Você queria ser escritora afinal, eu imaginei que sabia ler.

Oh, droga... Era o suficiente para mim, aquele era o meu limite, afinal, um ano havia se passado desde a ultima vez que havia colocado meus olhos nele, um longo ano desejando ardentemente vê-lo... tocá-lo... Um impulso sim, mas não involuntário, com certeza não, aquilo era o que eu desejava a muito tempo... Me joguei em seus braços e selei seus lábios, mesmo de olhos fechados, eu pude ver em minha mente o espanto em seu rosto... Mas logo isso sumiu, logo tudo sumiu, no momento que senti sua mão em minhas costas e a brecha em seus lábios foi gradativamente se abrindo, me deixando entrar, me permitindo explorar aquilo que eu a muito desejava, me deixando sentir seu gosto, me tirando o ar... Me deixando matar aquela saudade que tanto me consumia viva...

Agora estava justo, seu rosto tão vermelho quanto o meu, sua respiração tão ofegante quanto a minha, e seus olhos incrédulos, sem acreditar em minha ação, ele ficou parado, calado, por alguns momentos e eu mentalmente agradeci por isso, por me dar a chance de recobrar minha consciência e preparar alguma desculpa... Um pequeno sorriso se fez em seus lábios finos, e a voz que saiu como um sussurro era provocante mente sexy...

_Lucy virou uma pervertida.

Natsu não me deu chances de responder, retrucar, rebater... Ele me puxou novamente e invadiu meus lábios com tanto desejo quanto eu o fiz, apertando-me entre seus braços e puxando-me para seu colo, tomando-me para si como uma criança ao seu maior sonho, ou um rei ao seu maior tesouro... Preenchendo o vazio que havia tomado conta de mim naquele ano.

Desde que aquela marca nos unia, eu tive que enfrentar muita coisa, perder muita coisa, desistir de muita coisa... Mas naquele momento, com seus braços fortes adornando meu corpo e seu cheiro misturando-se ao meu, eu pude perceber, que mesmo que ele tivesse demorado dez anos para voltar, eu ainda assim o teria esperado, mesmo que tivesse que esperar a vida inteira por ele eu ainda assim o teria esperado... Naquele momento, em que ele me tomava para si com todo o fogo de seu peito, eu percebi que poderia desistir de qualquer coisa nessa vida... Exceto dele.