Fui para minha casa e fiz meu dever de casa. Estava tentando não pensar em tudo o que vinha acontecido nesses dois últimos dias. Mas quando minha mãe chegou, já de noite, foi inevitável.

— Mãe, preciso falar com você sobre uma coisa — chamei-a.

— Tudo bem, Will. O que é? — Desliguei a televisão. Percebendo que o assunto ia ser no mínimo sério, ela guardou a maleta do hospital e sentou do meu lado, com a mão na minha perna.

— Você acha que ele realmente morreu? — Interroguei sem citar nomes.

— Eu não sei... É... É muito complicado, sabe? Ele sumiu sem deixar uma pista do que aconteceu ou se iria para algum lugar. E depois o sangue, e-eu... Não sei. — Minha mãe respondeu, percebi que ela estava quase chorando, então a abracei, enterrei meu rosto nos seus cabelos loiros. Ficamos ali por um bom tempo. — Eu sonho com o dia em que ele entre por aquela porta e diga que está tudo bem, que não aconteceu nada de ruim, mas... Deus, William, já faz três anos!

— Você ainda o ama, não?

— Sim, o amo muito. — Minha mãe respondeu, limpando as lágrimas do rosto.

— Me desculpe, eu não deveria ter perguntado. — lamentei.

— Pelo contrário, foi bom — Ela se recompunha e enxugava as lágrimas. — Mas e você, o que acha?

— A mesma coisa, ainda não encontraram nem uma pista ou algo que seja dele. — Meu olhou começou a arder, mas eu tinha que me mostrar forte para minha mãe, e não deixei as lágrimas caírem.

— Eu entendo. Agora vá tomar um banho e durma cedo que amanhã você tem aula. — Mandou ela, sorrindo.

— Está bem, já estou indo, Capitã Natalie! — Sorri também.

Lembrei-me de como fiquei depois do acidente: com muita raiva, na maior parte do tempo. Meio que isolei todo mundo, inclusive minha mãe. Não estava presente quando ela mais precisava de mim, ocupado sentindo raiva do mundo, raiva dos repórteres, raiva das pessoas dizendo que sentiam muito, e raiva por ele ter desaparecido sem nos dizer nada.

Foi difícil me reconectar com Natalie. Na verdade, precisei primeiro me conectar comigo mesmo, que foi a parte mais dura. Eu não estou mais com raiva, o que eu sinto é saudade, e só.

P.O.V. Edward

— Alice mandou uma mensagem. Emmett e Jasper tentaram seguir o rastro. Mas não pode seguir o que não existe — falei para Bella, logo depois de Will ter saído.

— Como assim não tem um rastro? É possível? — questionou ela.

— Sim, é possível. Algumas criaturas sobrenaturais, bastantes poderosas, por sinal, conseguem reprimir o seu cheiro, e assim não deixam nenhum rastro. Só não sabemos por que não conseguimos sentir o de Charlie também. — expliquei.

— Algumas criaturas sobrenaturais? Edward, você está usando o plural.

— Eu não queria te dizer para não te preocupar. Depois que chegamos aqui, Carlisle andou pesquisando, e o que ele descobriu chocou a todos nós. Bella, as espécies que sempre conhecemos... Não somos as únicas raças sobrenaturais na terra. Há várias espécies de nós, cada uma com características diferentes. Vampiros que queimam na luz do sol, lobisomens que não se transformam completamente em lobos. E até criaturas como fadas e feiticeiros. A coisa que mais impactou Carlisle foi a existência de Caçadores de Sombras e demônios de outras dimensões.

— Pare, é demais para absorver. Fadas, feiticeiros, demônios e Caçadores de...? — Bella levantou uma sobrancelha.

— Caçadores de Sombras; eles usam runas que dão habilidades, velocidade, força, resistência, mas não são rápidos, fortes e resistentes como os “não humanos”. Eles são guerreiros, que mantêm a paz entre humanos e criaturas do Submundo. Ah, e esqueci de mencionar. Eles são metade humanos e metade anjos.

— Anjos existem? Por acaso os Volturi sabem disso? — perguntou ela.

— Provavelmente não. As espécies coexistem, sem saber uma das outras. Se isso fosse revelado, haveria uma guerra no mundo inteiro. Mil vezes pior que a guerra entre clãs de vampiros com os exércitos de recém-criados. E Will seria o único que pode uni-las para trazer paz. Ele é mais poderoso do que sequer imagina. Eu quase consegui ler os pensamentos dele, são confusos, como se algo estivesse impedindo.

P.O.V. William

Era quase quatro horas da manhã quando meu celular vibrou. Uma mensagem. Ainda sonolento, desbloqueei o celular para lê-la:

Oi, Will. Desculpa por termos sidos tão rudes com você. Edward pediu desculpas. Que tal irmos ao parque amanhã à tarde? –Bella

Respondi:

Claro, que tal ás 14:30?

Um minuto depois, a resposta dela chegou:

Parece ótimo. Até amanhã. (Acho que não vou à escola, Edward vai ficar comigo).

Até mais, fique bem!

Caí no sono e só acordei quando era de manhã.

+++

Na entrada escola, eu estava com Clary, Jace, Izzy, Simon e Alec. Faltavam uns 10 minutos para bater o sinal. Uma menina veio até nós, eu a reconheci como sendo da minha aula de biologia, seu nome era Lydia Martin. Ela tinha os cabelos louros acobreados e olhos verdes, era muito bonita, pra falar a verdade.

— Olá pessoal, eu vou dar uma festa na minha casa do lago, no sábado à noite, pra comemorar à volta ás aulas. — disse ela fazendo um gesto de aspas quando falou “comemorar”. — Vocês estão todos convidados! — e entregou um convite roxo para cada um de nós.

— Claro, vamos estar lá. — Izzy apressou-se a dizer, confirmamos com a cabeça, sorrindo para Lydia, que foi para outro canto do pátio.

— Não acredito que fomos convidados! Ela dá as melhores festas da cidade! — exclamou Izzy.

— Hum, só acho que ela está convidando quase o colégio inteiro. — falou Jace. Apontando para outro grupo de amigos que também estavam sendo convidados por Lydia.

— Cala a boca, Jace! — Clary disse brincando. Eu e Alec começamos a rir.

O restante da manhã ocorreu normalmente.

+++

Já estava pronto para ir ao parque. Pedi uma carona para minha mãe:

— Você vai aonde? — perguntou ela.

— Vou comprar alguns livros e depois encontrarei Bella e Edward lá. — respondi.

— Bella e Edward de novo?

— Eles foram meio que... Um pouco rudes comigo ontem, então eles marcaram de me encontrar hoje para me pedirem desculpas e começar do zero. — expliquei.

— Ah, sim. Então está bem. Vamos. — entramos no carro.

Despedi-me da minha mãe, que foi para o trabalho, e fui para a livraria, fiquei uns 15 minutos tentando decidir quais livros eu ia levar. Acabei comprando “Extraordinário” e “Quem é você, Alasca?”.

Sentei em um banco e comecei a ler o primeiro livro, enquanto Bella e Edward não chegavam. O céu estava acinzentado, sem nenhum sinal de sol. Parecia que ia chover logo.

Já estava na página 40 quando avistei o Volvo de Edward dobrando a esquina. Fiquei imaginando como era andar com aquele carro, comparando-o com a van do Simon. Eles vieram conversando alegremente até mim, guardei o livro e cheguei mais para o lado, deixando espaço para eles sentarem.

— Preferimos os clássicos, Morro dos Ventos Uivantes, por exemplo, já leu? — foi a primeira coisa que Edward disse quando chegou.

— Ainda não. — respondi.

— Então, Will, queríamos pedir desculpa por não ter deixado você falar ontem, eu estava abalada por causa do meu pai e acabei esquecendo que você também já tinha passado por isso e... — Bella começou.

— Está tudo bem, eu entendo. Quando meu pai se foi, — preferi não usar a palavra “morreu”, poderia deixá-la magoada — eu fiquei sem falar com ninguém por pelo menos uma semana.

— Obrigado por nos entender — falou Edward — poderia contar o que você pretendia dizer ontem?

— Bem, para isso, eu vou precisar que vocês tenham a cabeça aberta.

— Tudo bem, o que é? — disse Bella, dando uma olhar, um pouco nervosa, para Edward.

— Vocês acreditam em coisas sobrenaturais?