A Orquestra escrita por Winston


Capítulo 22
Má notícia




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No momento em que abriu os olhos, dessa vez realmente acordando, estava enrolada em várias cobertas, assim como um Gabriel que estava no sono mais profundo ao seu lado e jogava os braços para todos os lados. O motivo de ter acordado fora o barulho de chaves abrindo a porta, e logo uma tentativa de não fazer barulho ao fechá-la. Era quase impossível fazer isso com aquela porta barulhenta. Maria passou as mãos sobre os olhos fechados, bocejando longamente antes de começar a finalmente se sentar, olhando para a pessoa que entrava no apartamento.

– JOANA! – gritou, não tendo consideração nenhuma com a outra pessoa dormindo no recinto, tratando de se livrar das cobertas para sair do sofá e correr até a outra.

Joana havia se assustado com o grito repentino e olhava com os olhos arregalados para a garota descabelada que vinha correndo em sua direção, com os braços abertos. Não teve tempo para pensar que seria melhor sair correndo na outra direção, já que no instante seguinte tinha uma Maria enroscada em seu pescoço dando um abraço de urso na pobre médica que quase a deixou sem ar.

– Taaaaaaanta saudade! – Maria continuava animada, mas finalmente soltou Joana do abraço apertado, para olhá-la.

– Percebo que acordou animada, um milagre pra essa hora da manhã. – ela parecia não estar animada com a vida, separou-se totalmente de Maria com um sorriso amarelo e deu meia volta. – Vou tomar um banho, já venho.

– Tá bem...

A falta de animação de Joana tinha feito Maria perder a empolgação que tinha, deixando os ombros caírem ao ver a amiga caminhar até o banheiro e se fechar lá dentro, sem nem olhar para trás. Teria ficado ali parada tentando entender a garota, mas um resmungo vindo do sofá a tirou do momento tristeza.

– Barulhenta demais. – Gabriel, que tinha rolado para todos os lados e agora ocupava quase todo o sofá-cama, se esforçava a ter os olhos abertos.

– Para de reclamar, já dormiu demais. Você pelo menos chegou a ver o filme inteiro? – perguntou ela, jogando-se sentada no braço do sofá.

– Que nada, quando percebi que você já tava no quinto sono acabei desistindo de ver também. – bocejou, soltando mais alguns resmungos ao passar as mãos sobre o rosto, esforçando-se para sentar.

– A gente vê outro dia. – voltara a ter os olhos pregados na porta do banheiro fechada.

– Que foi? – perguntou Gabriel, acompanhando o olhar dela, mas não achando nada, era estranho ver Maria tão séria.

– Sei lá, Joana chegou tão estranha e não o estranha que ela é normalmente, nem pareceu feliz em me ver. – reclamou Maria com a voz baixa e faltando pouco pra fazer bico.

– Não me estranha, você mal chegou e olha só o estado da sala. – apontou para o redor deles, estava mesmo uma bagunça.

Assim que terminou de falar, Gabriel recebeu uma almofadada no rosto que, mesmo que ele não quisesse, o acordara de vez do pouco de sono que ainda continuava em seu corpo.

– Agressiva. – reclamou, pegando o travesseiro antes de se jogar deitado outra vez.

– Eu to falando sério, ela parecia chateada. – falou mais para ela mesma do que para continuar a conversa. – Enfim, levanta aí e vamos ajeitar esse lugar, então. Nada de resmungos, você mesmo reclamou aí da bagunça e eu to com energia. – começou a puxar as cobertas que estavam envolta de Gabriel.

– Eu não reclamei, só comentei.

Apesar das reclamações de ser praticamente jogado para fora do sofá-cama, Gabriel se livrou das cobertas e começou a dobrá-las junto à Maria, e enquanto ela as levava em direção ao seu querido quarto, o garoto ficou para trás para fazer o sofá voltar a ser um sofá, tirando as sujeiras de pizza e os copos de refrigerante do chão. Quando finalmente tinham a sala apresentável, Joana já tinha saído do banheiro, entrado no próprio quarto e se trancado lá dentro, deixando os dois sem entender nada do que estava acontecendo. Tudo bem que Joana era normalmente assim, mas Maria tinha acabado de chegar de viagem e mesmo estando cansada sempre parava para conversar com os dois um pouco.

– Admito, alguma coisa está errada. – Gabriel cruzou os braços, olhando para o espaço que levava até o quarto de Joana.

– Eu te disse. – Maria também não tirava os olhos de lá, quem visse de longe acharia no mínimo estranho duas pessoas olhando para o vazio tão seriamente.

– Vamos lá? – virou-se para olhar a ruiva ao seu lado, já começando a andar na direção do quarto, com uma Maria logo atrás.

– Joana? – chamou a garota, batendo na porta fechada com a voz mais calma e amável que podia fazer. – A gente pode entrar? – perguntou, dessa vez colocando a mão na maçaneta da porta.

Estava pronta para girar quando Gabriel a parou, avisando, com o olhar, que era melhor esperar por uma resposta de Joana lá dentro. Não que pensasse que ela já estivesse dormindo, mas não era uma boa ideia sair entrando de repente sem ouvir uma resposta dela antes. Ouviram um suspiro antes de realmente obter uma resposta.

– Entra.

Antes mesmo da pequena palavra terminar de sair da boca de Joana, os dois já estavam entrando no quarto e correndo na direção dela, vendo-a sentada no meio da cama, olhando paralisada para a almofada sobre as pernas cruzadas. Maria se jogou na frente da garota, enquanto Gabriel se limitou a sentar na beirada da cama, ao lado da ruiva, nenhum dos dois tiravam os olhos de Joana. Um momento de silêncio se estendeu por tempo o bastante para começar a ser incômodo, mas foi antes de Maria resolver abrir a boca, para acabar com aquela situação silenciosa, que viu que Joana não olhava para a almofada em suas pernas, e sim para um papel sobre ela. Gabriel também pareceu notar aquilo, já que acabou por esticar a mão para pegar o papel antes que Maria tivesse a chance.

– Ah, não... – murmurou ele, arregalando os olhos antes de entregar o papel para Maria com os olhos arregalados.

– Que? – perguntou ela, antes de finalmente dar uma olhada de perto no papel.

Parecia apenas mais um laudo médico, tinha visto muitas dessas coisas pelo apartamento durante todo o último semestre de Joana na faculdade e sempre que ela trazia alguma coisa para fazer em casa do hospital. Mas esse era diferente, dava para perceber que era apenas uma cópia, mas uma cópia de um relatório sobre um paciente que tinha morrido no dia anterior, na madrugada.

Os olhos de Maria ficaram do tamanho dos de Gabriel ao entender o que aquilo significava. Joana tinha perdido um paciente, e pelo que dizia o papel havia sido um garoto ainda mais novo que as duas.

– Joana... – a voz mal saiu, e antes que pudesse se conter já havia jogado os braços ao redor da amiga outra vez, mas dessa vez para consolá-la e não para comemorar.

Gabriel ficou meio perdido na situação, não era o melhor para esse tipo de situação, mas pegou uma das mãos de Joana e a apertou contra a sua, se sentindo mal pela jovem médica. Pouco depois ela já se encontrava em prantos, escondendo o rosto no ombro de Maria enquanto tremia o corpo inteiro. Era difícil ver Joana demonstrando sentimentos assim tão desesperadamente, era sempre fechada e a única coisa que não conseguia segurar era a impaciência com Maria e Gabriel e a falta de responsabilidade dos dois. Vê-la daquele jeito acabou por fazer Maria chorar também, mas com bem menos intensidade.

– Vou pegar uma água. – a voz calma de Gabriel anunciou, finalmente soltando a mão de Joana lentamente, saindo do quarto.

Maria aproveitou para se separar da garota, esticando o lençol da cama para que ela limpasse as lágrimas, mas ao ver que isso não funcionava agradeceu quando viu que Gabriel voltava para o quarto com alguns papéis de cozinha para que ela limpasse melhor as lágrimas que não paravam de sair, assim como um copo com água com açúcar.

– Tá melhor? – perguntou ele, voltando a se sentar na cama.

Joana apenas moveu a cabeça positivamente, antes de soltar mais um soluço.

Eles sabiam que ela não queria falar sobre o assunto e que provavelmente agora estaria mais do que cansava, tanto por chorar quanto pelo trabalho que fizera durante toda a madrugada. Maria a fez deitar-se na cama, enquanto Gabriel ajeitava as cobertas e fechava as cortinas da janela do quarto. Como esperavam, não demorou a que Joana caísse no sono, ainda soltando lágrimas que não deixavam de demonstrar que ela estava mais do que triste e se sentindo derrotada por não conseguir fazer o próprio trabalho bem. Pelo menos, era o que ela pensava naquela situação, mas no fundo sabia que nem sempre se podia salvar a todos.

Gabriel e Maria saíram do quarto tentando fazer pouquíssimo barulho, até porque estavam também tristes demais para serem barulhentos. Toda atmosfera do apartamento havia mudado completamente e a única vontade que eles tinham era encarar a televisão ligada em um canal qualquer, em silêncio, pelo resto do dia.


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