A Orquestra escrita por Winston


Capítulo 13
Noite de meteoros




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Maria saiu do teatro, estava cansada, seus braços doíam de tanto tempo que tinha ficado tocando durante a manhã e boa parte da tarde, só parando para almoçar. Agora já tinha mais controle do instrumento e não ficava batendo tanto com ele em Paola, que parecia agradecida e aliviada com esse fato, o que era normal. Estava passando as costas das mãos nos olhos, tentando se manter acordada, quando ouviu alguém chamar seu nome atrás dela e virou-se para ver Paola ali, com seu próprio violino e um sorriso animado demais para quem tinha ensaiado o mesmo tanto que ela, ou mais.

– Que cara de morte, garota! – comentou Paola com seu sotaque italiano, começando a andar ao lado de Maria em direção ao hotel.

– To cansada, meus braços doendo, minha barriga tá roncando. – soltou um gemido que resumia que não estava nem um pouco animada com a vida.

– Pois se anime, porque vamos sair hoje depois do jantar.

– Sair? Pra onde? Por que? Não quero. – falava igual criança mimada, faltava pouco bater o pé no chão.

– Sim, sair. O lugar é surpresa, e vai sim me acompanhar senão te levo pelos cabelos e de pijama. – Paola levantou as sobrancelhas, não dando espaço para mais reclamações ou negações de Maria, que soltou outro resmungo e assentiu com a cabeça. – Ótimo.

Poucos passos depois e já se encontravam na porta do hotel, o sol já estava tão baixo que Maria nem acreditava que tinha ficado tanto tempo tocando seu violino. Tudo bem que gostava bastante dele, mas até seus músculos tinham um limite, e dessa vez tinha passado deles. Despediu-se de Paola assim que chegou ao seu andar, e a outra a fuzilou com o olhar como a lembrando que deveria estar arrumada depois que terminasse de comer. Maria fez cara de sofrida, mas o elevador fechou antes que pudesse convencer Paola.

Ao chegar a hora da janta comeu tão devagar que Albert, recém melhorado da gripe, quase enfiou a comida pela goela abaixo da garota, mas conteve o próprio ímpeto por ela estar mesmo com uma expressão miserável no rosto.

– Aconteceu alguma coisa? – perguntou ele, monótono como sempre ao beber o que restava de seu suco, estava enrolando para esperar a lentidão de Maria.

– É a Paola, quer sair hoje depois da janta, mas to tão cansada. – pegou o resto do arroz com o garfo e comeu em mordidas lentas e preguiçosas.

– Ah... – Albert não parecia muito interessado, de repente.

Mas Maria não deu importância ao que ele dizia, preocupada demais com a própria miséria para notar qualquer coisa além disso. Acabou por finalmente terminar o jantar, voltando ao quarto para passar uma escova no cabelo, lavar o rosto para parecer apresentável antes que Paola aparecesse ali quase que literalmente a arrancando do quarto em direção a saída.

– Pode me falar pra onde a gente vai agora? – perguntou pouco antes de entrarem em um taxi.

– Pra um parque onde vai dar pra ver a chuva de meteoros de hoje.

Chuva de meteoros? Maria nem ao menos se lembrava de ter ouvido falar que teria uma, mas se bem que era normal, não se lembrava de ter ligado a TV ou mesmo procurado por essas coisas na internet. Na verdade mal ficava mexendo nela fazia um tempo, só para falar com seus pais e Gabriel.

– A gente devia ter chamado a Alba e o Albert então, eles iam gostar. – comentou já dentro do taxi, olhando pela janela distraída.

Paola não respondeu nada, apesar de uma chuva de meteoros ser sim divertida, a amiga estava bastante estranha desde que a chamara mais cedo, começava a pensar que tinha alguma coisa acontecendo com ela e por isso não voltou a falar até que finalmente pararam perto de um parque com uma pequena subida que dava de frente para um grande lago. Paola pagou ao taxi e começou a subir, com uma Maria ainda preguiçosa atrás, mas já que estava ali não valia a pena recomeçar a resmungar e reclamar.

Só voltaram a falar quando já estavam sentadas na grama, Maria apoiando as mãos atrás do corpo e as pernas esticadas, enquanto Paola estava encolhida abraçando as pernas. A chuva de meteoros ainda não tinha começado.

– Daqui dá pra ver mais as estrelas. – Paola cortou o silencio, mas sua voz era baixa.

– Pois é, e a vista é bonita. Devia ter me trazido aqui antes, é tranquilo. – Maria respirou fundo, fechando os olhos enquanto o vento de verão passava por elas.

Passaram-se mais alguns longos minutos antes que a amiga falasse outra vez, sem tirar os olhos do horizonte.

– Queria falar contigo sobre uma coisa. – começou, e Maria esperou a que continuasse sem fazer nenhum comentário irônico, porque era o que fazia normalmente. – Na verdade é mais um pedido.

Esperou mais um pouco, mas ao ver que ela não ia falar coisa alguma, soltou um suspiro e soprou os fios que lhe caíam sobre os olhos.

– E o que é?

– Queria que parasse de me chamar para fazer as coisas com o Albert. – o pedido veio depois de um demorado suspiro.

Maria franziu as sobrancelhas, finalmente tirando os olhos do céu e olhando estranho para Paola, que estava ali parada ainda sem mover nenhum músculo.

– Mas que? Por que? Ele não é tão chato assim, é até divertido quando inventa de fazer piadinhas. Falar nisso quase chamei ele hoje também, o zé ia gostar de ver a chuva de meteoros e você não... – foi cortada em meio a sua chuva de palavras.

– Ta vendo, é por isso! Você nem percebe as coisas. Por isso te trouxe aqui, precisava te explicar o que você não tá conseguindo perceber. – passou as mãos sobre os cabelos, finalmente soltando as pernas, mas mesmo assim não se virou para olhar Maria, que por sinal estava boquiaberta.

– Do que você tá falando?- encontrava-se mais do que confusa.

– Resumindo toda a história, Albert e eu tivemos... como eu digo isso? Caso? Não sei bem se foi um namoro, foi mais uma coisa de momento. Nem bem sabíamos o que sentíamos, se é que a gente sentia alguma coisa. – Paola atropelava as palavras. – Enfim, a coisa é que não terminou muito bem. Não que a gente tenha brigado ou coisa assim, mas não foi um final feliz. Não nos falávamos até você aparecer nos chamando pra fazer coisas juntos.

Maria piscou várias vezes, faltava pouco entrar um mosquito em sua boca aberta. Não sabia bem o que dizer, porque o que se dizia numa hora dessas? Tinha dado tanta lerdeza que sentia vergonha de si mesma, como podia ter obrigado a duas pessoas com problemas entre elas a conversarem alegremente? Sinceramente, quase conseguia sentir Gabriel lhe dando um tapa na cabeça chamando-a de lerda.

Abriu e fechou a boca várias vezes, pensando no que falar, por fim franziu as sobrancelhas e soltou um suspiro que mais pareceu um resmungo de pena de si mesma e vergonha, se é que isso existia.

– Desculpa. – murmurou envergonhada.

– Não fique tão triste assim, foi meio minha culpa também. Nossa culpa, quero dizer, nenhum dos dois falou nada com você, não tinha como você ter adivinhado.

A verdade era que tinha sim como ela ter pelo menos percebido que algo não estava bem entre os dois, Paola estava tentando era ser legal com ela depois de ter jogado em sua cara que era uma lerda para reparar nas coisas que importavam. Lembrou-se, porém, do dia em que Albert passara tanto mal e ela aparecera para ajudar, foi um dos únicos dias que a viu chegar perto dele. Tinha até dado um beijo na testa do garoto, mas talvez fosse porque ele estivesse meio que inconsciente, talvez não, com certeza era por isso.

– Olha lá, parecem várias estrelas caindo. – comentou Paola de repente, chamando a atenção de Maria, que levantou os olhos para olhar o céu.

Tinha abaixado a cabeça para pensar nos seus erros como pessoa, mas quando finalmente deu de cara com aquele céu estrelado, com a chuva de meteoros tão perfeitamente visível, esqueceu que tinha sido um desastre como amiga e deixou que os olhos brilhassem como uma criança pequena que vê um truque de mágica pela primeira vez. Paola não demorou a apontar algumas constelações e em poucos minutos a conversa mudou para horóscopos e tudo que tinha a ver com astronomia, pelo menos tudo que as duas sabiam sobre o assunto.

Assim que a chuva terminou ainda continuaram ali, olhando o céu como se esperassem que caíssem mais meteoros, mas não aconteceu. Maria usou o tempo para pensar como se desculparia com Albert, como contaria sua burrice para um Gabriel que provavelmente riria da sua cara e decidindo que não mais chamaria os dois para algo juntos. Era triste, gostava de ter seus três amigos perto sempre, o que era difícil considerando que Alba não era assim tão saideira, mas enquanto eles não se resolvessem não tinha como obrigá-los a socializarem, não mais.


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