O clima entre os dois em sua despedida estava tenso, o ar pesado com as palavras não ditas.

Eles estavam se encontrando escondidos, é claro: O propósito de Bill ao fazer Rick se alistar no exército era separá-lo de Kieren, e ele não estaria nada feliz em saber que seu filho estava se encontrando com “o putinho”, como ele gostava de colocar, antes de partir. As paredes ásperas ouviam seus segredos uma última vez, banhada pela luz escarlate. Kieren o encarou, os grandes olhos cheios de lágrimas que ele, teimosamente, não deixava escapar.

— Você não pode ir, Rick! — Kieren exclamou, e imediatamente estremeceu ao ouvir o som de sua própria voz ecoar num grito sem sentido na caverna. — Não pode. — Repetiu, um pouco mais baixo, desviando os olhos marejados, a tristeza evidente em sua voz.

— Ren… — Rick pediu, se sentindo impotente diante da situação. Ele amava Kieren, embora a palavra, tão forte e definitiva, ainda o assustasse. Mas não havia nada que ele podia fazer. — Eu tenho que ir. Meu pai…

— Você vai escolher seu pai sobre mim, Rick? De verdade? — Gritou, se sentindo frustrado, e se arrependeu no momento em que as palavras saíram de sua boca, vendo Rick dar um passo para trás, mágoa em seus olhos. Por mais que Bill Macy fosse um dos piores homens que Kieren já conhecera, ele ainda era o pai de Rick, e Ren sabia que tinha jogado baixo ao trazer isso entre eles. — Me desculpe. — Falou, suspirando. — Não foi certo de mim dizer isso.

— Está tudo bem. — Rick replicou, quase sem pensar. — Eu sei que Bill não vai exatamente ganhar o prêmio de pai do ano, Ren, mas ele ainda é meu pai. — Rick disse, embora esse não fosse o motivo pelo qual ele obedecia o seu pai em se juntar ao exército.

Longe disso, na verdade. Oh, é claro que Rick amava o seu pai, amava de verdade. Mas ele sempre escolheria Kieren, num piscar de olhos. E ele estava escolhendo ele agora, embora Ren não soubesse. Se Rick não fosse para o exército, se não obedecesse seu pai… Ele não temia por si mesmo, porque sabia que poderia aguentar qualquer coisa que seu pai poderia fazer com ele, mas se Bill voltasse seu raiva para Kieren… Rick nunca poderia se perdoar se algo acontecesse com ele, seu melhor amigo, o pequeno punk que se atreveu a amá-lo.

— Nós poderíamos fugir. — Disse Kieren subitamente, os olhos ganhando um brilho súbito. — Ir para a América ou talvez até para Paris. Você poderia se tornar veterinário como queria e eu iria pintar e vender meus quadros na ponte do rio Sena. Poderíamos fazer tudo que sempre sonhamos, juntos. — Embora a esperança já enchesse sua voz, ela foi quebrada ao ver Rick balançando a cabeça. Com as lágrimas borrando sua visão, não percebeu que Rick chorava também.

Porque Rick… Rick queria aceitar a oferta mais do que tudo. Abandonar todas as coisas que ele conhecia e partir para o mundo junto da pessoa que ele amava, tentar conseguir um pouco de felicidade na vida. Rick queria todas essas coisas, e saber que não poderia tê-las doía mais do que se a oportunidade nunca lhe fosse oferecida. Pois Bill Macy era determinado, e capaz de armazenar raiva e rancor por muito tempo. Ele, acima de tudo, não deixava o que ele achava que lhe pertencia ir embora contra sua vontade — Janet era uma prova viva disso. Um dia, Bill alcançaria os dois, tanto por ter experiência no exército quanto por sua própria força de vontade, e esse dia não seria bonito. Rick não sabia o que Bill seria capaz de fazer com Kieren por ter tirado seu filho dele.

Rick não disse nada sobre isso, no entanto. Sabia que suas chances de sobrevivência no exército eram muito baixas e, mesmo se conseguisse ficar vivo, os intervalos de tempo passados em casa eram extremamente curtos. Uma parte dele que era tão abnegada quanto estúpida lhe dizia que era melhor deixar Kieren pensar que ele tinha ido, ao menos em parte, por sua própria vontade. Seria mais fácil, assim, para ele seguir em frente e encontrar outra pessoa.

— Me desculpe, Ren. — Rick finalmente disse, e a dor e sinceridade em suas palavras eram tão grandes que Kieren não conseguia ficar com raiva dele por ter recusado a proposta, ao invés disso se jogando em seus braços e enterrando a cabeça em seu peito. Ele chorou por um bom tempo. Rick, acariciando seu cabelo, não estava muito atrás.

Quando eles finalmente se separaram, não disseram mais nada. Rick beijou a testa de Kieren, observando seu nariz e olhos vermelhos, antes de alcançar sua boa num beijo terno, carinhoso, parando alguns poucos segundos antes de tocar os lábios dele e olhando fundo em seus olhos castanhos. Ele esperava que Kieren pudesse ver ali todo o amor que ele sentia.

— Adeus, Ren. Eu te amo. — Falou, e disse as três palavras como uma promessa que, por mais fútil que fosse, dizia que tudo iria ficar bem.

Rick partiu na van do exército com uma dor no coração que se recusava a ir embora, não inteiramente convencido de que tinha feito a escolha certa.