Diamond: A história de uma loba escrita por meriesha


Capítulo 27
Arrependimentos


Notas iniciais do capítulo

Heya! Se você visitou o Nyah! nessa madrugada, lá pra meia-noite, ou simplesmente recebeu notificação de novo capítulo, SORRY! ;w; Eu havia postado esse capítulo na madrugada, mas excluí pois resolvi adicionar mais coisas.
Sei lá, a fic parece que está se estendendo muito. Vocês acham que ela está longa demais? ): Enfim, tentei agilizar o que pude, e modifiquei algumas coisas que estariam num outro capítulo, no POV da Diamond, e agora estão neste, no POV do Shadow.

Lembrando que esse capítulo remete ao episódio 4 da série. Se você não assistiu, NÃO ASSISTA AGORA! >:C Aí você vai perder a emoção u-u
Well, aproveite a leitura!


[capítulo revisado e editado em 17/02/2018]



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Shadow

 

Uma brisa calma batia em meus pelos, trazendo consigo uma sensação de tranquilidade. Eu me encontrava na Floresta das Violetas, nome dado por Diamond à uma das florestas mais próximas ao território Slough. A mesma floresta onde conheci Julie pela primeira vez. E por este exato motivo eu estava ali, sentado, refletindo sobre coisas aleatórias — e importantes — que buscavam espaço em minha mente. Aquela floresta me trazia boas lembranças, e por isso eu ia lá quando estava de cabeça cheia, como era o caso. Eu sempre conseguia me sentir sossegado ali, tal como se uma aura me envolvesse e me deixasse naquele estado.

Contudo, minhas orelhas começaram a se mover de modo quase frenético, denunciando a presença de alguém, o que era estranho; a região era quase sempre vazia. Apenas pássaros e lebres tendiam a permanecer por aqui. Porém, os sons que eu ouvia eram de patas largas. Um animal grande demais para ser um coiote, todavia, pequeno demais para ser um urso. Lobo.

Eis que ouço um uivo alto e de timbre... diferente. Virei minha cabeça para meu lado esquerdo, e me deparo com a figura a qual eu simplesmente menos queria ver hoje. Ou nunca. O lobo com pelo cor de canela: Radius. Apenas pensar em seu nome me dava uma leve sensação de desgosto. O que diabos aquele lobo pensava fazer aqui?

Para minha surpresa, ele me encarou. Permaneceu parado por alguns instantes, me observando. Seu olhar não demonstrava confiança, no entanto. Ri um pouco em meus pensamentos devido a isso. Surpreendendo-me novamente, ele começou a se aproximar.

— Olá, Shadow. — sua voz falhou um pouco, mas ele fingiu não se importar.

Eu não tinha a menor e ideia do que aquele lobo queria, e realmente não queria saber. Eu não me importava em saber. Mas, por alguma razão, ele parecia querer uma conversa?

— O que faz aqui? — perguntei, ignorando seus cumprimentos. Rosnei de leve. Queria fazer com que Radius simplesmente dissesse que não estava fazendo nada, se desculpasse por me incomodar, e se retirasse daqui.

Radius respirou fundo enquanto encarava o chão de terra.

— Eu queria muito ver a Diamond. — o lobo disse num tom baixo e submisso, embora eu percebesse que ele estava detestando fazer isso.

Me encontrei numa confusão de pensamentos. Ele estava se submetendo a condições que nenhum lobo orgulhoso de si se submeteria, tudo para tentar ver Diamond. Parte de mim queria simplesmente deixar. Mas a outra parte — a parte mais insegura e que preferia prevenir quaisquer acontecimentos — tomou o controle da situação:

— Pedido negado. — disse com rispidez.

O semblante de Radius revelava uma possível incredulidade.

— Eu nunca fiz nada a você. O que você tem contra mim? — aquilo parecia uma súplica. Era fácil perceber nas entrelinhas. Mas meu lado protetor e inseguro, novamente, dominava o mais racional, impedindo-me de pensar com cuidado.

— Tudo.

As pupilas de seus olhos se mexiam velozmente, buscando uma solução. Minha mente estava inundada de inúmeros pensamentos, relacionados a diversas coisas. Radius me pegou num momento desprevenido, onde eu tentava pôr minha consciência em ordem. E agora, minha cabeça estava num desalinho total. Eu não conseguia pensar direito.

— Não faça isso, por favor. — Radius voltou a suplicar. — Não nos separe dessa forma. Eu amo sua filha, e ela me ama.

Aquelas palavras, ditas com tamanha firmeza, me atingiram. Amor. Era simplesmente angustiante imaginar que eu estava privando minha própria filha disso. Mas havia algo naquele lobo. Algo em seus olhos, em seu pelo, em seu cheiro. Algo que me fazia recordar de minhas piores lembranças. Por algum motivo, quando eu o olhava, lembrava-me de meus irmãos, Koda e Ayame, agora já mortos. Então, fiz uma pergunta a qual eu provavelmente me arrependeria de ter feito logo depois.

— Você lutaria pela Diamond?

Radius estranhou, mas respondeu mesmo assim:

— Mas é claro. — seus olhos estavam semicerrados, e seus pelos da nuca um tanto eriçados. Era engraçado. A simples palavra "luta" despertava em alguns lobos, assim como eu, um desejo momentâneo de atacar. Essa vontade durava em torno de alguns segundos, mas nosso corpo automaticamente correspondia a ela.

— Lutaria comigo pela Diamond?

Novamente, ele estranhou a pergunta. Mas parecia entender em que ponto eu estava querendo chegar.

— Acho que não... — ele colocou a cauda entre as pernas, relutantemente, e se afastou um pouco.

Meus caninos estavam para fora. Meu corpo já estava perfeitamente pronto para um movimento hostil. E era exatamente isso que eu faria.

— Mas eu luto com você. — vociferei e saltei em cima do lobo, agora pequeno sob meu corpo, já que havia o derrubado no chão.

Todavia, com suas garras um tanto grandes, ele deu várias patadas no meu focinho, me deixando desnorteado. Dessa forma, ele encontrou uma brecha e se desvencilhou de meu golpe.

Senti algumas gotas de sangue escorrerem, mas pouco me importava. Agora era tudo uma mera questão de honra. Ser o perdedor estava fora de cogitação.

Radius soltou um rosnado furioso, e partiu para cima de mim, deixando inúmeros arranhões em quase todo o meu corpo. Eu sentia uma forte ardência, mas iria prevalecer.

— Ainda podemos deixar tudo isso de lado. — ele disse, mesmo que mostrasse os caninos. Sua língua para fora indicava cansaço, o que me motivou ainda mais a atacá-lo.

Mordi suas patas, deixando-o abalado. Ainda assim, ele continuou lutando. Dando-me mordidas e arranhões, estes que provavelmente deixariam cicatrizes.

Estávamos nos rodeando a alguns instantes, e notei que Radius mantinha suas costas um tanto curvadas, o que permitiria um ataque neste local. Sendo assim, abocanhei a região da sua nuca com facilidade, e, com o restante de força que possuía, joguei o lobo de lado. O gosto forte do sangue descia pela minha garganta. Mas não era suculento como o sangue de uma presa.

Olhei o lobo caído. Ele não se levantara até agora. Comecei a me preocupar. Dei poucos passos até Radius, que parecia não respirar.

Não. Não. Não. Não.

Farejei-o, temeroso. Ele não podia estar morto. Não era isso o que eu queria. Por que eu lutei com ele? Por quê? Um turbilhão de pensamentos voltou a invadir minha cabeça, agora mais transtornada do que nunca. Eu me sentia péssimo, tanto física quanto emocionalmente. Minha respiração estava desregulada. Meu coração batia mais rápido do que deveria.

Fechei meus olhos por bons segundos. Radius precisava se levantar. E eu pediria desculpas. Tudo ficaria bem.

Abri meus olhos, mas a realidade na qual me encontrava era a mesma. Eu me sentia sujo. Sujo de um sangue inocente. Senti um gosto salgado na minha boca se misturar com o sabor sangrento de antes. Era o gosto da melancolia. Um sabor que, para minha infelicidade, eu já conhecia perfeitamente.

Eu não conseguiria pedir desculpas.

Nada ficaria bem.

Radius estava morto.

 Eu não sabia o que fazer. Não sabia o que sentir. Eu havia matado um lobo, sem nenhum motivo maior. Pânico preenchia minhas veias.

Dei uma última olhadela no lobo estirado na terra. Sangue vermelho escuro escorria lentamente de seu pescoço; era como se, aos poucos, a vida estivesse enfim esvaindo-se de seu corpo cansado.

Então, corri. Corri feito um covarde, como um ignorante, como um criminoso. Corri feito um assassino.

 

***

 

Desnorteado e sem saber o que fazer, apenas chamei Diamond. Não tinha a menor ideia de como contaria isso a ela, ou de como ela olharia para mim deste dia em diante, mas precisava ser feito. Não esconderia algo dessa grandeza.

Algumas gotas de chuva haviam começado a cair. O céu estava totalmente cinzento, o vento uivava enlouquecidamente, então imaginei que uma tempestade estava se formando.

— Oi, pai. — tomei um leve susto. Mal tinha percebido a chegada de Diamond. — O que quer comigo?

Em seus olhos, era perceptível um pequeno brilho. Talvez a esperança de que hoje eu a livraria de seu castigo. Inferno. A dor estava me corroendo.

— Pai... Você está... machucado? — ela arqueou uma sobrancelha, encarando meus ombros.

— Apenas alguns arranhões. — disse. — Bem... Preciso falar sobre Radius.

Um sorriso discreto surgiu no focinho de Diamond. E, novamente, a culpa acabava comigo. Outra vez, o gosto da melancolia pôde ser sentido em minha boca. E o sorriso singelo da loba, então, desapareceu.

— O que aconteceu...? — sua voz saiu baixa e trêmula. Lágrimas insistiam em brotar em seus olhos azuis. Tudo o que eu mais queria naquele momento era dizer que tudo estava perfeitamente bem.

— Diamond, eu... — tentei escolher as palavras. Era difícil. Minha garganta estava começando a queimar, enquanto ela me olhava, impaciente.

— Fale. — ela pediu, apesar de seu tom ser irritadiço, com os olhos fechados.

— Radius... está morto... Por minha causa. — revelei, quase que de forma inaudível. As palavras não queriam sair de minha boca. Mas apesar de toda a dor que eu sentia, ver a expressão de Diamond foi o pior de tudo.

Seus olhos azuis perderam seu brilho de alguns minutos atrás. As tão insistentes lágrimas, por fim, saíram. Seus soluços eram altos e dolorosos. Era insuportável vê-la daquele jeito. Por minha causa.

— C-como você pôde? — ela perguntou, em meio aos soluços, com sua voz baixa e fina. Ela me encarava de um jeito frio, exigindo uma resposta; que eu não possuía.

— Filha, me perdoe! Não foi minha intenção! — tentei me explicar. — Estávamos lutando, eu acabei não medindo minha força.

— Então foi assim que conseguiu esses ferimentos? — um sorriso de dor preenchia seu focinho, enquanto as lágrimas se misturavam com a chuva.

— Diamond, eu... Eu sinto muito. — encolhi minhas orelhas.

Ela me observou por longos instantes. Segundos, que mais pareciam horas. Havia finalmente parado de soluçar.

Eu não sei como sou parte de você! — ela berrou com todas as suas forças e saiu correndo logo em seguida.

Não me dei ao trabalho de gritar. Eu sabia que não adiantaria. Eu me sentia um monstro, e provavelmente era assim que deveria ser. As palavras de Diamond me remoíam por dentro. O dia havia sido terrível, e nem mesmo a água da chuva poderia limpar meus pecados.

Me... desculpe..— lamentei, sozinho, enquanto minhas lágrimas me impediam de ver qualquer coisa.


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Notas finais do capítulo

Capítulo tenso ;-; Foi bem dramático tentar escrever na visão do Shadow no final, pois ele estava se sentindo infeliz e miserável, o que não combina com sua personalidade. Soooo, foi complicado. :c

Pra escrever esse capítulo, eu fiquei ouvindo Obstacles (Soundtrack de Life is Strange), para escrever as partes mais calmas. Depois as versões instrumentais de Cosmic Love e Howl.
Após o trecho "Radius estava morto", foi o que eu escrevi hoje, e acabei não ouvindo nada. Apenas estar no meu quarto, e ver a chuva do lado de fora da janela me deu inspiração suficiente.

*Curiosidades bobinhas*
— A parte em que Shadow agarra Radius pela nuca e o joga, seria como isso aqui: https://www.youtube.com/watch?v=aB5EFe65nPQ (1:10 até 1:12)
— O trecho "Eu não sei como sou parte de você!" foi inspirado na Kiara, quando ela diz a Simba "Você jamais será Mufasa!". Vocês podem ver a cena aqui: https://www.youtube.com/watch?v=OX4QA7cHPQk

Até o próximo capítulo! ♥