Gotta Be You escrita por obnxslyth


Capítulo 1
It ain't over 'til it's over


Notas iniciais do capítulo

Música tema: Gotta Be You - 2NE1
Boa leitura!



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“Você é um babaca”. Aquelas palavras ecoavam na cabeça de Francis repetidamente, e chegavam a doer mais do que o tapa que lhe fora desferido em sua face.

Novamente, havia pisado na bola com Arthur. Aquele fato já se repetira tantas vezes que já tinha até perdido as contas, e para ser sincero, não tinha lá muita vontade realmente de se lembrar. O pior de tudo era que o inglês tinha razão. Enquanto cuspia aquelas palavras com uma raiva que já lhe era costumeira, não via nenhum traço de simpatia ou alegria nos orbes verdes daquele que tanto amava.

Talvez aquele fosse um dos motivos de Francis ter terminado.

Não era como se simplesmente não doesse, mas sabia o mal que fazia ao inglês. Sabia que, mesmo que tivesse aceitado aquele compromisso há alguns anos, depois de muitas transas sem obrigação e brigas dos dois, não era capaz de cumprir com o que lhe havia prometido; felicidade. Paz. Um lugar para onde Arthur poderia correr e esconder-se quando o mundo voltasse a lhe atribular; os braços de Francis. Não, o francês jamais poderia ser aquilo para Arthur, e mesmo que pudesse, já não tinha como voltar atrás. Ele certamente já estava em um voo para Londres, e era melhor que ele ficasse assim. Eram perigosos um para o outro.

–x-

“Eu não vou me cadastrar nesses sites de namoro ridículos, git. Preciso desenhar para você entender?”, Arthur sibilou, seu olhar finalmente encarando Alfred, que mais parecia entretido com seu pacote de batata frita do que com qualquer coisa que o mais velho tivesse contra sua engenhosa ideia.

Era perfeito! Arthur se cadastrava naquele site que haviam passado para ele, arranjava um namorado novo e finalmente pararia de ficar com aquela cara fechada todos os dias, sem falar do fim da bebedeira e lamentos do inglês. Irritado com a falta de atenção do seu colega de quarto, Arthur jogou seu travesseiro nele, acabando por derrubar o pacote de batatas e, assim, finalmente ganhando a atenção do garoto.

“Hey, minhas batatas!”, Alfred gritou, olhando para Arthur como se o outro estivesse a torturar um filhotinho bem na sua frente. “Artie, todo esse seu estresse precisa acabar. Sério, você ‘tá deixando todo mundo maluco, ninguém te aguenta mais.”

Oh, thanks. Isso me faz sentir muito melhor”, o inglês bufou, deitando-se na sua cama. Por mais que seu amigo tivesse razão, não tinha coragem de encarar outra pessoa da mesma forma que fazia com Francis. Por que, mesmo se aparecesse alguém atraente ou que conseguisse a atenção do inglês, ou até se chegasse a se envolver com alguém, tinha certeza que não daria em lugar algum.

Francis não fora seu primeiro amor, não mesmo. Tivera um caso rápido com um japonês alguns anos atrás, e ainda saíra com algumas garotas em seu passado, mas podia dizer, com toda certeza, que Francis era o mais... marcante. Especial. Na verdade, era como se, mesmo em países diferentes, pudesse senti-lo ali. O perfume forte do francês – típico de seu país – sempre parecia estar em suas roupas, a sensação de quando se beijavam e sentia a barba por fazer dele roçar em sua pele, a forma que as mãos do loiro o seguravam pouco acima do cotovelo, com firmeza, como se não quisesse deixá-lo escapar...

Céus. Mesmo com os olhos fechados, o inglês ainda podia imaginá-lo. E sentia sua falta, loucamente. Não podia trair seus sentimentos cadastrando-se em um daqueles sites idiotas que Alfred falara, não podia se atrever a encontrar-se com outras pessoas. Odiava Francis por não conseguir tirá-lo da cabeça nem por um minuto sequer desde aquele término idiota – não, desde que o conhecera!–, e mesmo assim, não conseguia seguir em frente.

“Me sinto miserável”, o inglês sussurrou, abrindo os olhos e fitando desinteressadamente o teto do quarto.

“Você está miserável”, Alfred o respondeu, sua voz mais séria que o normal. Arthur desviou os olhos para ele momentaneamente, percebendo que, tal como sua voz, o semblante do rosto do garoto também era sério, parecendo pedir a atenção alheia. “Já que não quer fazer o que eu lhe disse, vou arranjar um encontro para você, Artie. E você vai”, fim de papo. Não iria tentar convencer o americano do contrário, então apenas suspirou, voltando a fechar os olhos e assentindo com a cabeça.

Bloody hell. Aquilo parecia ficar pior a cada minuto que passava.

–x-

“Eu te amo”, o inglês fora o primeiro a dizer.

Os dois se encontravam deitados na cama do mais velho, em seu pequeno apartamento, nus, seus peitos se tocando, graças ao fato de metade do corpo de Arthur ainda estar por cima do outro.

De início aquela declaração pegara Francis de surpresa. Não que ele não sentisse o mesmo – seu coração, desde a primeira vez que vira Arthur, pertencia a ele -, mas não pensou que ele sentisse o mesmo por si. Não graças a uma péssima autoestima ou algo do tipo – algumas vezes, o francês chegava até a ser extremamente convencido -, porém, Arthur jamais demonstrava. Quando não estavam se tocando, estavam discutindo. A relação dos dois era feita de extremos, ele sabia disso, e jamais esperava que os extremos fossem chegar naquele ponto.

O silêncio durou por poucos minutos. Arthur sentia que seria dispensado, afinal, tinha certeza que o francês tinha outros amantes, mas não poderia correr o risco de voltar para seu país sem se declarar. Certo, ainda faltavam alguns meses para que seu intercâmbio acabasse, mas não podia correr o risco. Aquele ano que passara na França fora intenso, e dava os créditos somente a Francis, que virara sua cabeça em pouco mais de duzentos dias.

A certeza de sua dispensa durou até o momento em que Francis sorriu, acariciando-lhe o rosto com o polegar da destra, usando de um carinho que, até então, lhe era desconhecido. Odiava a França, odiava francês, seu orgulho patriota o fazia odiar quase todas as coisas que vinham daquele país. Mas naquele final de tarde, descobriu que havia uma frase em francês que simplesmente amava, pois a mesma ficou gravada em seu coração e mente.

“Je t’aime aussi”. E ele tinha certeza daquilo.

–x-

“Você errou mais um pedido, Francis”, a garota reclamou ao entrar na cozinha, largando o prato em cima da pia. “Pelo menos, dessa vez, o cliente ainda relevou e acabou comendo. O que está acontecendo?” Todos na cozinha desviaram o olhar para o loiro, que sequer olhava para a morena que falava com ele. O silêncio durou pouco mais de trinta segundos, até que Michelle, perdendo a paciência, gritou o nome do mais velho, finalmente atraindo a atenção alheia. “Você não está escutando, certo?”

“O que você falou?”, algumas risadinhas baixas foram ouvidas com aquela pergunta. Não, ele não estava ouvindo. Novamente, Francis deixava Michelle falando sozinha, e isso estava deixando a garota seriamente irritada. Porém, apesar de sua irritação, ela não voltou a dirigir a palavra para ele, isso até que o turno deles acabasse.

Já anoitecia quando Francis tirou seu avental, guardando-o no armário dos empregados, e jogando sua touca no lixo. Antes, porém, que pudesse escapar de lá sem que ninguém o notasse, Michelle já estava na sua frente, braços cruzados na altura do peito, e o seu rosto não tinha uma expressão muito amigável. Desde que terminara com Arthur, aquela expressão no rosto da garota era frequente; já perdera as contas de quantas vezes havia se esquecido dos seus compromissos com sua melhor amiga, ou apenas fingia estar escutando o que ela falava. Como das outras vezes, ele suspirou, apenas assentindo com a cabeça.

O clima de Paris estava agradável, não tão quente, mas blusas de frio e casacos eram desnecessários, exceto para o loiro. Francis devia estar usando a mesma blusa de frio há dias e ele não havia notado, e considerando como o francês era ligado na moda, aquilo preocupava ainda mais a garota. Se ele ainda era tão apaixonado pelo inglês, porque havia terminado? Ela não conseguia entender, mesmo que ele já tivesse lhe explicado inúmeras vezes.

“Você devia ligar para ele”, ela sussurrou, sua voz soando mais triste do que o esperado. Aquela afirmação rendeu uma risadinha baixa do maior, que desviou o olhar para o chão, fitando a calçada escura. “Você sabe que ele sente sua falta, e você também sente a falta dele.”

“Não tenho tanta certeza, Mimi. Não tenho notícias do Arthur desde aquele dia. Ele não ligou, não mandou mensagem... Simplesmente não se importou”, e como se um surto de raiva tivesse tomado posse de si subitamente, o loiro olhou para a garota, a revolta claramente presente em seu olhar, parando de andar na mesma hora. “Quer dizer, eu... Eu olhei nos olhos dele. Eu não vi o que tinha antes. Não tinha amor, não tinha paixão, não tinha droga nenhuma! Só... Raiva”, a última palavra saíra sussurrada, sua voz embargada no choro que estava ali, guardado, mas que não ousava deixar sair. “Michelle, ele me odeia.”

A garota tinha as palavras na ponta da língua para respondê-lo, mas não teve coragem. Já era deveras triste ver o seu melhor amigo, seu grand frère, naquele estado, e ela tinha certeza que pioraria tudo. Ele não precisava de repreensão, mas sim, de conforto. Por isso, a garota não pensou duas vezes antes de abraçá-lo ali mesmo, no meio da rua.

Mais tarde, quase pela madrugada, Francis pareceu ouvir as palavras que a garota não falara, e mesmo com medo da resposta, enviou uma mensagem para Arthur. E ao acordar na manhã seguinte, o inglês tinha as bochechas vermelhas e olhos arregalados em surpresa. Não era grande coisa, apenas um trecho de música: “Through the storm, we reach the shore; you gave it all, but I want more. And I’m waiting for you.”

–x-

O primeiro encontro dos dois foi como se tudo estivesse planejado. Michelle já havia conhecido o irmão de seu namorado, e havia adorado o mesmo. Se deram muito bem logo de cara, e ao descobrir que ele tinha um amigo que estava solteiro, logo pensou em apresentá-lo a Francis. Já passava da hora dele se endireitar com alguém, e alguma coisa a dizia que eles acabariam se dando bem. Para a sorte dos dois “cupidos”, o irmão de Matthew estava na cidade com seu amigo, e poderiam colocar o plano em prática. Marcaram de se encontrarem em um dos poucos pubs franceses que tinham um ar inglês – extremamente antipatriota, falava Francis -, às oito horas.

Não poderia ter dado tão errado.

Logo de cara, os dois se detestaram. Ambos eram extremamente patriotas, e não era desconhecido para ninguém como a rivalidade entre franceses e ingleses era acirrada. Os dois passaram o tempo todo discutindo. Os problemas começaram quando resolveram pedir o tira-gosto, de uma forma bem... inusitada.

“Acho que podemos comer algo, não? Beber com o estômago vazio não é muito bom”, comentou Michelle, olhando as opções do cardápio.

Fish and chips é uma boa opção”, Arthur respondeu, não tendo a mínima ideia que aquilo causaria uma extensa discussão. Francis, irônico, apenas deu uma risadinha baixa, mantendo o sorriso de escárnio em seu rosto enquanto olhava o cardápio. E aquilo não passou despercebido para Arthur, que agora, o olhava com irritação. “O que foi?”

“Você está na França, não em um boteco de esquina como os ingleses. Aqui comemos comida de verdade. Como eles costumam falar... ‘Franch fries’?” Aquelas duas palavras – uma delas, dita errado propositalmente pelo francês – soaram como uma ofensa ao loiro.

Arthur, que se considerava um gentleman e não queria perder a compostura, respondeu ao sorriso irônico do outro da mesma forma, alteando uma de suas grossas sobrancelhas.

“Comida de verdade, uh? Palavras muito bonitas, ditas por alguém que caça o almoço em um pântano. Pobres sapos”, respondeu o inglês, seus olhos atentos ao cardápio. Ao desviar os olhos do mesmo para encarar o francês, porém, o rubor em seu rosto teve outros motivos. Francis o olhava fixamente, o azul cristalino de seus olhos, misturado à intensidade do olhar, deixaram-no constrangido. Havia decidido, naquela mesma hora, que não gostava de Francis, enquanto o outro decidira que gostava dele.

O seu único conforto, no momento, era a música que tocava no fundo; With or Without You, do U2, uma de suas bandas favoritas.

–x-

Um sorriso bobo tomava conta dos lábios do inglês enquanto ele olhava para a tela do seu celular. Após a surpresa passar, a felicidade tomara conta do mesmo, que apenas competia com sua raiva. Acabara de descobrir que, sim, era possível estar feliz e irritado ao mesmo tempo; por mais que estivesse feliz pelo francês se lembrar daquela música e de como ela era especial para os dois, não deixava de se censurar. Não devia estar feliz por ter a atenção dele. E também, encontrava-se confuso; quais eram os motivos daquela mensagem?

Lembrou-se, então, daquela noite em que se conheceram. Após duas horas de discussão, os dois saíram para fumar nos fundos do pub, o único momento em que se deram bem. Francis, que havia usado seu último fósforo, teve que unir as pontas de seus cigarros para acender a do inglês, e foi quando seus rostos se mantiveram a poucos centímetros. O primeiro beijo deles teve gosto de cigarro e bebida, algo que viria a se tornar marca dos dois durante os anos; isso é, antes de largarem seu vício no cigarro. Depois que se viciaram um no outro, decidiram que aquele era um vício mais saudável que nicotina. Talvez fosse a hora certa de voltar com seus antigos vícios e hábitos.

Concordava e discordava disso, agora que se lembrava. De fato, Francis era o melhor vício para Arthur. Apesar de todas as discussões e alfinetadas – não era porque se amavam que as diferenças deixaram de existir, ou que passaram a amar o país um do outro -, não se cansava daquele homem. E só percebia isso agora, quando se encontrava longe dele, tanto fisicamente quando emocionalmente.

Durante aqueles anos em que estiveram juntos, os dois conseguiram lidar muito bem com a idéia de um relacionamento à distância. Desdobravam-se entre viagens, tanto para seus devidos países quanto para outros, e era algo que os dois gostavam. Lembrava-se perfeitamente de suas férias em Moscou com o francês, ou a passagem de ano que tiveram em Copenhague no ano anterior. Mas, apesar da felicidade do casal, as brigas estavam se tornando cada vez mais freqüentes. Arthur se culpava por isso. Não deixava passar um atraso de Francis, e se o visse conversando com qualquer pessoa, fosse homem ou mulher, simplesmente tinha um acesso de ciúmes. Não conseguia se controlar, e fora por isso que perdeu o francês.

Talvez tudo seria mais fácil se morassem juntos, ele pensava. Mas nenhum dos dois parecia ter coragem de deixar seu país para morar em um que simplesmente odiava. Francis gostava da língua que era falada lá, gostava da comida, da moda, das estações, das ruas em que caminhava, do restaurante em que trabalhava. E Arthur gostava dos tons desbotados de sua terra, da constante garoa, do inglês seco e formal que era falado, de seus chás da tarde e o patriotismo das pessoas dali. Não tinha certeza se poderia abrir mão da sua vida ali.

Ele estava cansado de pensar em Francis. Sua felicidade momentânea deixou que a raiva tomasse posse de si, e sem pensar duas vezes, o inglês mandou uma mensagem para seu colega de quarto, falando que realmente aceitava a ideia de um encontro às cegas, e que não iria faltar de novo. Estava na hora de seguir em frente.

–x-

Aquela decisão não fora nem um pouco simples ou fácil para Francis. Enquanto estava sentado em sua poltrona na primeira classe, procurava a coragem que sequer sabia possuir para continuar com sua idéia. Não podia desistir... Não quando já estava no avião para Londres, a dez mil pés do chão. Não estava indo atrás de Arthur, como Michelle havia o acusado de fazer, mas sim, esforçando-se para que as coisas dessem certo. E acima de tudo, seguindo os conselhos que dava aos outros, mas jamais seguia.

Francis não era o tipo de cara de gostava de estar em um relacionamento sério. Tinha uma alma libertina, não gostava de se prender, tinha, em sua mente, a idéia de que a vida era curta demais para que a gastasse com uma pessoa apenas. Isso, é claro, até conhecer aquele inglês, que não só mexera com seu coração, mas também com tudo que julgava ser certo. Será que realmente queria uma vida daquele tipo? Aquele questionamento tomou conta da cabeça do francês durante os primeiros meses da relação dos dois, e no final das contas, não teve dúvidas se deveria ou não ficar com Arthur.

Durante os anos em que se relacionaram, Francis não estivera com nenhuma outra pessoa além de Arthur. Não que ele estivesse deixando de sair ou aproveitar sua vida, pois continuava se encontrando com seus amigos e indo aos mesmos lugares que ele, porém, as pessoas se tornaram chatas. Mesmo que fossem atraentes e, por milésimos de segundos, conseguissem a atenção do loiro, ao se lembrar do jeito irritadiço e deveras adorável do inglês, Francis simplesmente não conseguia continuar. Seu coração pertencia a ele.

Porém, apesar dos seus sentimentos, estava decidido a não ir atrás de Arthur, tampouco queria que ele fosse atrás de si. De alguma forma, sabia que, se fosse para os dois ficarem juntos, aconteceria. Simplesmente aconteceria.

–x-

O tempo, talvez, seja a melhor cura para qualquer dor, qualquer doença. Seja ela do corpo, seja da alma, há algumas feridas que apenas o tempo pode dizer se irão cicatrizar, se irão se curar. O tempo não trazia apenas a cura, porém, o amadurecimento das pessoas e sentimentos; é com o passar do tempo que as crianças se tornam adultos, as árvores crescem, uma paisagem muda. O que, no início, parecia ser uma tortura, com o passar dos tempos, foi se tornando apenas uma falta corriqueira, e ambos os amantes deixavam de pensar um no outro o tempo todo, e agora, apenas se lembravam quando viam algo específico.

Isto, porém, não queria dizer que não se amavam mais. Apenas que estavam aprendendo a lidar com seus próprios sentimentos, e esperando que o tempo fizesse a sua mágica. Arthur saiu com alguns amigos e amigas de seu colega de quarto, Alfred, mas nenhum deles o interessou. Fosse pelo papo, beijo ou sexo, sempre tinha algo neles que o fazia pensar “não é o Francis”. Seu erro, talvez, fosse tentar substituir o que não poderia ser substituível, ele apenas não tinha consciência de tal fato.

O mesmo acontecera com Francis. No novo restaurante em que trabalhava, saiu com algumas de suas colegas de trabalho, mas não se interessou por nenhuma delas. O que, antes, poderia significar o paraíso para ele – mulheres bonitas, homens interessantes, pessoas que não queriam compromisso e apenas uma transa no final da noite –, agora, havia se tornado uma lamúria, um desgosto para si.

No final das contas, os dois desistiram de encontrar outra pessoa. O tempo não fora o bastante para que crianças crescessem ou um rio secasse, porém, fizera algo muito mais complicado e demorado; fez com que toda a dor, sofrimento e paixão se tornassem amor. O mais puro amor.

E só quando o sentimento estava lapidado é que o destino agiu, seis meses após a separação do inglês e do francês.

Final de tarde, Francis estava indo para casa mais cedo, pois não precisaria trabalhar naquela noite; um dos amigos que fizera em seu trabalho, um espanhol chamado Antonio, iria cobri-lo. Por algum motivo, ele não conseguia ficar no restaurante, sentindo-se incomodado não só com as pessoas à sua volta, mas até com o cheiro da comida que preparava. Saiu mais cedo, tomando o caminho mais longo para sua casa; um pequeno parque, que ficava apenas duas quadras acima de onde morava.

O parque era longo, e após dez minutos de caminhada, os olhos de Francis captaram uma figura que conhecia muito bem. Usava um suéter azul por cima da blusa social, e um sobretudo. Sua calça era escura, e ao notar aquele picotado usual dos cabelos loiros, o francês teve certeza de que era ele. O inglês estava distraído com o jornal que segurava, e apenas fingia ler; seus olhos não se mexiam, e Francis sabia que ele costumava fazer isso para evitar socialização desnecessária.

Um riso muito baixo escapou pelos lábios do francês, porém, tal riso pareceu chamar a atenção do inglês, que desviou o olhar do pedaço de papel pouco antes de cruzar com Francis. Surpreso, Arthur alteou as grossas sobrancelhas, parando de caminhar na mesma hora. Estava mais do que claro que se encontrava chocado, e até nervoso, vários sentimentos tomando conta do inglês; aliás, não apenas dele, mas também de Francis, que apertava suas mãos em punhos dentro do bolso de seu casaco, ansioso.

Apesar da ansiedade, Francis foi o primeiro a se manifestar.

“Arthur”, o nome do inglês fora pronunciado como se em um ofego. “Quanto tempo.”

“Francis... O que faz aqui?”, aquela pergunta fora feita sem nenhum indício de irritação ou escárnio na voz alheia. Apenas curiosidade.

“Eu me mudei há alguns meses”, e aquela frase rendeu mais uma expressão de surpresa. “Estou trabalhando em um restaurante aqui perto.”

“E está gostando daqui?” Aquela pergunta fez o francês morder a língua. Até que a Inglaterra não era um país tão ruim assim, mas nada se comparava com a capital de seu país. Pensou em falar daquela forma com o inglês, porém, decidiu que não o faria. Podia controlar sua língua afiada, pelo menos, daquela vez.

“É um país bonito. Então, sim, eu estou gostando”, a resposta foi imediata.

No momento, muitas coisas cruzaram suas mentes. Francis queria perguntar se ele já tinha formado – havia se esquecido de qual período em que ele estava na faculdade –, desde quando gostava de sobretudos e porque nunca cortava o cabelo em um salão que acertasse o corte. Arthur, por outro lado, queria perguntar se aquele era algum tipo de brincadeira, de seu cabelo estava mais curto e desde quando ele era tão bonito. Porém, nenhum dos dois ousou se manifestar.

Por alguns instantes, o contato visual era a única comunicação entre eles. Um par de orbes verdes encarando um par azul cristalino, procurando entender o que ambos faziam ali. Seria o destino que, mais uma vez, os colocava frente a frente? Naquele momento, Arthur entendeu que o que acontecera há meses atrás não foi o ponto final de ambos, e sim, apenas uma mera vírgula.

“Por que não vamos tomar um chá? Podemos conversar um pouco”, o inglês finalmente quebrou o silêncio, um sorriso genuinamente alegre tomando conta de seu rosto. Dessa vez, Francis que ficou surpreso; mas logo tratou de respondê-lo, com medo de que Arthur mudasse de idéia.

“Vamos. Precisamos conversar sobre muitas coisas, oui?”, aquela foi mais uma afirmação do que uma pergunta. Uma afirmação, esta, que guardava promessas, e ambos sabiam de tal fato. Arthur assentiu com a cabeça, pondo-se a andar enquanto Francis dava meia volta, seguindo ao lado dele.

E o que, há muito, os jovens pensavam ser o fim, tornou-se um novo começo. Velhos sentimentos, porém, renovados. E as pessoas, sempre seriam a mesma. Porque no final das contas... Tinha que ser eles.

Even if your love destroys me and hurts me
You’re the only one for me
My love starts and ends with you
And I am waiting for you

It’s gotta be you, my one and only, oh!


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Notas finais do capítulo

Depois de duas horas pra conseguir recuperar minha conta, consegui postar! Aleluia. Enfim... Espero que tenham gostado. Comentários sempre são bem-vindos.